24 dezembro 2008

O mundo nas nossas vozes



A pequena Joana diz que quer «bolinhas de sabão» para brincar… mas não sei se resistem ao frio… talvez lhe sugira as bolas de neve… depois de a equipar toda para o gelo que está lá fora.
É um manto branco de tranquilidade invernal… o que avisto…
Da janela, a paisagem é serena… Floco por floco a “colori-la”... Afinal o branco é capaz de colorir… Ninguém diria…
Tenho uma imagem muito poética desta época… Pena circunscrever-se apenas a um fraco fragmento temporal…
Sinto uma paz no coração e, curiosamente, um ligeiro e vertiginoso desassossego impotente…
Será possível o amor a longo prazo, sempre seguindo o mesmo ritmo, a mesma violência?
Seremos capazes de preservar o que nos aquece o coração e liberta a alma das amarras inconsistentes?
Seremos capazes de fingir sentimentos, dissociando-nos do plano meramente representativo ou, viveremos num constante e contínuo plano de representação?
E por falar nas representações, que significado atribuiremos às imagens, cores e odores do Natal?
O presépio será uma encenação ou um símbolo?
Fantasmas, deuses, assombrações, mágicas ou anjos?
Como alguém disse: “Tudo o que existe faz falta.” E não é que faz mesmo???
Talvez a proximidade com o final de mais um ciclo me convença que tudo muda…
Ao mesmo tempo que crescemos, apercebemo-nos que as esperanças que depositam, em nós (crianças), não se coadunam com a realidade que vamos sustentando e alcançando… Como um “toc na cuca”, o 28 da Avenida da Estrela trazia estampado uma frase sui generis, que me paralisou e concentrou toda a atenção. Retive a ideia. “Só existimos nos dias em que fazemos, nos dias em que não fazemos, apenas duramos”…
Fazer perdurar uma existência exige biliões de minutos que se esperam, no mínimo, únicos. Estaremos à altura de os atingir na perfeição e sem desvelo? A tentação entre a vontade e a verdade será promíscua?
Quero minutos, quero momentos, quero vidas, quero extremos, quero exceder-me, quero atropelar o meu ser de vivências que me façam sentir… Se errar, se encontrar dificuldades, se toda uma existência se esvair, acreditarei no meu poder de renovação. Somos seres faseados, cíclicos, mas sempre perenes nos nossos pequenos mundos. No seu último livro, Rodrigo Guedes de Carvalho, questiona: “Para onde vão os amores que foram um dia?” Sejam eles quais forem, se são ou foram amores, não morrem, poderão eventualmente ficar mais apagados, a chama pode até ter diminuído a sua intensidade, mas enquanto o pavio se mantiver presente, muitas emoções soprarão o coração com o rigor com que chega e parte um furacão. Aquela luz não se apaga com um gentil sopro, somente com um vendaval. Para quê esquecer como castigo, o que um dia nos facultou um grande sorriso? Não faz sentido ser-se severo com o tempo, nem com o sentimento. Se é que não me contradigo…!?
Vejo a alegria estampada no rosto da Joana, ao ver as luzes da quadra. Ela vibra com os vários rostos de Pai Natal, acompanhados pelas suas barbinhas… ela quer abraçar todos… Eu não resisto a deixá-la, mas sem lhe tirar a vista de cima… Quero reter cada momento de felicidade dela… mesmo que com o brilho ao canto do olho.
Sinto-me a sonhar… apesar de estar tão perto… transporto-me à distância que trará a felicidade destes momentos… Surreal e única.
“Um sonho é apenas um sonho, mas uma vida é tudo o que sonhamos...” Será que a vida será assim tão linear? Passará pelo o que sonhamos ou pelo o que escolhemos?
Estaremos fadados a reconhecer a ilusão de que escolhemos o traço do nosso caminho?
Perseguiremos a nossa própria estrela guia?
De braços abertos, a menina corre na minha direcção como se não houvesse amanhã.
Eis que a desafio ao encontro com o novo. Ela nunca viu nevar.
Estará pronta para mais uma descoberta?
Nestas idades tudo parece ter mais encanto. Nem o frio, nem nada… os detém.
Mais do mesmo?
Certamente. Novidades atrás de novidades, o importante é provar o maior número de sabores na vida. E ter a capacidade de sair dela, muito próximo da perfeição existencial por nós proposta. Alugando algumas palavras proferidas por alguém, a vida pode não ser a festa que se espera, mas enquanto estivermos nela, deveremos aproveitar para dançar, para festejar cada instante, cada respirar… Afinal será isso que nos fará sobreviver da selva que nos acolhe a cada dia que passa.
Navego num eterno diálogo contigo, meu anjo… Para quê fugir do tempo? Isto de ficar sem ti, faz-me acreditar que sempre vamos querer uma vida só para nós, independentemente de nos multiplicarmos e resistirmos a provações assoladoras.
Que amor é este que suporta tanta contrariedade? Tenho muito amor para dar, por isso sempre terás o melhor de mim. Se a palavra “amor” é mesmo universal, deixemo-nos contagiar por ela, este Natal.
- Boa noite querida Joana. Dorme bem.
Sussurro, sabendo que já vagueia no mundo pequenino dos sonhos. Amanhã nascerá mais um dia alegre, sei que a sua vivacidade e alegria me farão eternamente feliz…
A propósito, o que pedirá ela ao Pai Natal este ano?

26 novembro 2008

Viva la vita colorata...


Estou desfasada desta fase da vida. Boa aliteração!
É mesmo isso.
Uma repetição intensa dos meus ritmos em “efeito sonoro significativo”…
Efeitos sonoros?
Ouço um silêncio: o das lágrimas a verter…
Ao corar… envergonho-me de veres que a tristeza me preenche e me invade…
Deixem-me viver estes fragmentos severos renovadores.
As ruas exalam aquele suave perfume a lenha queimada….
Preciso do calor duma lareira… que a minha existência anda arrefecida.
E tu? Continuas frio, invernal… esfumado como as cinzas e faúlhas que caem soltas das chaminés no fim do Outono?
E no baú das recordações, ainda guardas as doces jornadas junto do fogo que se ateava em tom de brincadeira? Aqueles em que aquecíamos o ambiente e o coração?...
Na verdade, enchíamos o mundo de cores tão quentes, quanto o manto da alegria nos preenchia o espírito.
Lembro-me que numa dessas noites, acordei febril. Balbuciava palavras… que já não lembro… se tivesse um papel tê-las-ia anotado. Eram palavras com vida própria como todas as que as minhas mãos escrevem.
É um imediato irreflectido, que posteriormente absorvo como verdades irrefutáveis.
Como se explica o inexplicável?
Como se aplica o desconhecimento nas palavras que (d)escrevo?
Como falo do que nunca existiu como se fosse a minha circunstância?
Porque se cruzam pensamentos demasiadamente reais que me confundem?
Aquilo que fica gravado além da retina é o que dificilmente se esquece.
Que doces memórias vou construindo da vida.
Vi com «estes» olhos a paixão… ela existe tão exacerbada… Tão franca…
Que nem sei para onde fugir com o olhar…
Esse tão feroz e involuntário instinto distintivo.
E por mais que tente desviar, vai sempre ter à direcção incorrecta.
Que mania de andar com os olhos em contra-mão.
É por isso que digo que o «não ter» é relativo e o «querer» decisivo.
Vou parar…
Vou adormecer e esquecer-me de mim…
E… por instantes desmaio na letargia do sonho…
Preciso sonhar pra me manter acordada…
(Quiçá… Viva)…

17 novembro 2008

Um juízo a(final)!


Farto-me de conviver com as palavras “Vivemos de Momentos” e também as vivo.
Têm um gosto suave, intenso e cristalino…
Atenuo as minhas fraquezas vencendo-as. Valendo-me da coragem que reconheço de vez em quando em mim…
À medida que o ontem deixou de ser presente, converto-me numa voz mais sumida que o habitual e deleito-me, saboreando cada instante passado.
Sou demasiadamente agarrada ao passado e não sei qual vai ser o meu paradeiro.
O mais garantido é ser “Nada”.
Estou ansiosa por conhecer novos passados… Como? Vivendo cada vez mais, vestindo a minha pele a cada passo. Se sou nada ou não, não tenho bem a certeza, vou-me certificando que sou tudo o que tenho podido fazer de mim… O que por si só já significa uma tarefa árdua.
A ventura da aventura…
Lançar-me aos imprevistos do previsto, mas desconhecido…
Por que não acreditar naquela linha insegura: Destino.
Sentidos sempre serão guardados sentidamente como momentos relativos de experiência.
Vale a pena viver, nem que seja justamente num último e dilacerante suspiro.
Eu não existo apenas. Eu vivo! Bem ou menos bem… pouco importa.
Ninguém é absoluto juiz.

12 novembro 2008

Estás tão perto e tão longe...


É preciso estar longe para ter a certeza de quem queremos por perto. Por certo que a pessoa com quem estava não era de todo uma dessas.
Adoro perder-me em culturas diferentes da minha para saber como é coabitar com pessoas iguais, mas que falam diferente.
Não sei se deva renunciar a falar como eles ou se aprendo a falar o mesmo dialecto.
O conhecimento fascina-me.
Na aventura, na descoberta, apercebo-me que lá longe apenas mudam rostos, porque os estilos de vida estão enraizados e sendo assim, parece-me que as fotocópias se multiplicam.
Imagens e mais imagens coloridas ou mais cinzentas que demarcam a realidade mais ou menos próxima da minha. O "estrangeiro" não é assim tão distinto...

21 outubro 2008

Blind Prison...


São modestas as palavras que tenho de ti.
Cada pensamento é como um arco-íris, que não se esgota a cada cor que em ti vislumbro…
Densos são os movimentos de cada gesto… De cada expressão…
Que as saudades já me impedem de suster.
Beijo-te os lábios em memórias afastadas pelo tempo que corre em desespero…
Esbarro-me frequentemente contra fragmentos teus.
Que satisfação perniciosa.
O que era nosso não morreu.
Simplesmente deixou de o ser.
Qual a chama que morre sem ser apagada?
Aquela que apenas desapareceu para ti…
E em mim se vai esfumando…
Já sinto as nuvens a aproximarem-se numa negritude pronta a desfazer-se em lágrimas.
Chorar faz bem. Desassossega a visibilidade, mas torna-a mais nítida e objectiva.
Estou preparada para tudo o que vem de ti, tendo em conta tudo o que já veio.
Não te desconheço, mas também não reconheço muito dos teus passos…
Ia dizer que caminhávamos na mesma direcção…
Que demente ilusão…
Ia dizer que existíamos…
Pois, as nossas almas ainda vagueiam dançando interpostas…
Porque convivemos com fantasmas e não enxergamos a presença física de alguém que está tão exageradamente próximo?
Cegueira ou pura distracção?

15 outubro 2008

Till it's over... if there's an end



Já não sentia este frenesim em mim há tanto tempo, que já me tinha esquecido do que é esperar ansiosamente, criar as mais altas expectativas e voar sem asas em momentos de magia díspar extasiada.
Vou provar (novamente) o meu fascínio da adolescência.
Que suave embriaguez feita de delírio.
Que violento sabor acre de desejo constrangido.
Quando não há oportunidades, há que criá-las!
Que dependentes somos da vontade!
Que vontade maior e insensata de poder.
Mudam os personagens, mantém-se o tema.
Misturo-me com a multidão.
Que é como quem diz… não há barreiras para o desconhecido irreflectido.
Que saudades tinha deste sabor agridoce da aventura.
I just keep a sentence to myself:
“All of my life
Where have you been?
I’m wonder if I’ll ever see you again…” (Lenny Kravitz – Again)
Dualidades, verdades, meras hipóteses dissolvidas…
O futuro começa hoje.
A minha felicidade caminha sempre em tempo presente, onde género e número pouco importam:

“It ain’t over, till it’s over!” (Lenny Kravitz)

08 outubro 2008

It's Black.... it's White...


Era uma vez a vida veloz de um tempo que incessante não se cansa de passar. (Bem… cá para mim cansou-se porque o raio do tempo hoje não há meio de se pôr a mexer.)
Temo ser nada mais que um pedaço de história.
O que em questão de tamanho resulta pouco.
Os meus olhos vão recolhendo imagens coloridas da estória em que me incluo.
A minha história não tem as cores de conformidade directa, mas não deixa de ser uma.
Mais uma? É possível.
A minha saturação é a mesma que transponho para as fotos, se na vida real o negro poderá ser sinal de desgraça ou infortúnio, nas fotografias, a colecção de cinzas em contrastes mais ou menos discretos recriam a beleza de algo que parece nada mais dar à história, mas que desta forma se eterniza uma vez mais.
O fosso da minha realidade é austero, incapaz.
Os monstros, meros figurantes dos meus pensamentos mais íntimos.
O romance com a vida, delinquente.
Mas basta um olhar, um vago e imediato olhar teu.
Quando me olhas com esse olhar, apetece-me ser selvagem.
Violentamente selvagem. (Pronto. Conseguiste arrancar-me a transcrição do meu pensamento e, não era suposto!)
Estou transparente de tão clara.
Ou, a propósito, sinto-me a preto e branco em contraste atrevido, mas devido.
Estes cinzas fazem-me renascer.
Enunciam o melhor de mim.
Hoje a Fénix sou Eu.

30 setembro 2008

Desvelo


Está prestes a terminar mais um mês, mais um dia, mais uma hora, mais um ciclo.
Um vício que já me é familiar.
É por isso que adoro colocar os finais nos seus sítios e passar do passado ao presente, a cada instante.
Esticar-me no Outono do meu Inverno… e deleitar-me ao sabor da violência de momentos de Verão, adormecendo na serenidade da Primavera.
Tenho saudades, profundas saudades de tanto que já não existe e que parece ter-se extinto. Esqueci-me de dizer adeus ao passado. Por isso vou acenando-lhe de vez em quando… Até partir sem olhar para trás e ver aquela luz ao fim de túnel que se vai tornando longínqua, ausente, finda.
Talvez não volte mais ali.
Talvez não queira voltar.
Talvez regresse e inverta a beleza ou a deixe imune das minhas intenções…
Tantas presunções assumo como válidas…
Saudosas palavras, gestos, expressões, esgares maliciosos e divertidos, olhares puros e demasiado expressivos.
Sinto um leve desajuste temporal nas minhas memórias, no meu actual estado.
Que é feito desses beijos mudos e gritantes?
Do encontro à tua pele?
De te ter perto mesmo quando estás longe?
Como é que alguém é capaz de não se envolver nas teias das paixões?
Conseguirei esquecer-te sem te beijar?
Transcendo-me a cada pensamento inútil que tenho de ti.
Tudo resulta em esquecimento (mais cedo ou mais tarde, com maior ou menor intensidade).
E logo, logo se vai perdendo a força e a energia da fúria do ‘nunca’ pois esse ‘nunca’, nunca será absoluto.
Desvelo.
Permaneço num desvelo lúcido e atento.
Concentro em mim as sentenças dos meus actos.
Pode parecer ridículo, mas já não há lugar para mais nada.
Por isso mergulho no meu íntimo.
E mantenho-me por lá.

07 setembro 2008

"The Show Must Go On"


É pacata a minha existência de revoluções.
Confesso: tem sido.
Prevejo-me cercada de pequenos nadas passados, mas relevantes.
Por estes mares tem andado tudo pacífico. Nem parece que furacões têm acercado terras longínquas… (O “Reino do bué bué longe” afinal também tem dessas coisas! Nada é perfeito como parece.)
Mal reconheço a minha existência. A minha sede de desbravar o ‘teu’ mundo. (Partindo do pressuposto de que tudo o que desconheço não seja meu.)
Hoje vi várias histórias contando histórias (bizarro!), identifiquei-me em tantas delas por exíguos momentos…
A ficção ou cinema de animação tem sempre aquele poder de nos deixar com aquele delicioso prazer de felicidade e aquela satisfação do ‘brilhozinho nos olhos’. Irresistível. Obrigada Sr. Tim Burton! (“It’s a Kind of Magic”)
Do quadro de animação virei para um ‘nowadays movie’. Se eu acho que esta vida já me trocou as voltas, então aguardo pelas próximas… Os finais felizes, após momentos conturbados são possíveis, tudo não passa de pequenas (grandes) fases… No fim, ao que parece, tudo é possível. Basta parar e olhar para os sentimentos, sem a cegueira incapaz do costume. Os sentimentos existem em nós, só que passamos a vida a fugir deles, quando apenas basta realizá-los! Irónico.
As minhas leituras, não passam de meras interpretações e por isso mesmo valem o que valem. Talvez me precipite ao acreditar nelas. Bem, mas pelo menos faço-o sem ‘pressões’ e não “under pressure”. “I Want It All” (isto vai parecer um post inspirado no extinto Freddy Mercury, parece que a música com a sua tonalidade universal se, e, o tornou imortal (After all, “Who wants to live forever?”). É o que fica desse grande compositor, acima de tudo. Sim, estou a ouvir um álbum dele. Imperdível! São as artes, música e cinema a deixarem as suas mensagens e eu a usufruí-las à minha maneira, é um direito, quiçá uma partilha.)
Nostalgia. Compassivas recordações. “The Show Must Go On”!

“Who wants to live forever?”


Theres no time for us
Theres no place for us
What is this thing that builds our dreams yet slips away
From us

Who wants to live forever
Who wants to live forever....?

Theres no chance for us
Its all decided for us
This world has only one sweet moment set aside for us

Who wants to live forever
Who wants to live forever?

Who dares to love forever?
When love must die

But touch my tears with your lips
Touch my world with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is our today
Who wants to live forever
Who wants to live forever?
Forever is our today

Who waits forever anyway?

QUEEN (Words and music by Brian May)

26 agosto 2008

Fim de tarde...


Era um fim de tarde vulgar à beira-mar. Presentes estavam: eu, o sol, a praia e o mar. O tempo de Verão estava a acabar… E naquela cadeira à beira-mar, deleitava-me com aquele aroma e aqueles raios de sol que trespassavam a minha pálida pele. Àquela hora, o sol ainda aquecia os corpos que acordavam duma letargia cerrada…
Os minutos iam passando, mas aquele era um momento mágico em que me excedia para o endeusamento, perante tal fenómeno de relaxamento cristalino.
Realmente, nestes momentos de prazer… Não é preciso mais nada… A comunhão com a Natureza é autónoma, assertiva e, porque não, perfeita.
Cada momento deve ser vivido até ao limite chegar… É uma certeza.
Quando esse limite é por nós imposto, bem, aí podemos abusar… e saciar a nossa fome de vida e de prazer.
A cada movimento do ponteiro do relógio, soava um batimento tranquilo do coração… E o fim da beleza daquele dia estava a chegar ao fim… à semelhança das flores, os dias morrem bastante jovens. A mãe Natureza é justa ao conceder-lhes o dom da renovação. Até os seres inanimados precisam de uma nova oportunidade, para se reerguerem.
Do dia para a noite, também a noite é demasiado bela para ser ignorada, mas tantas vezes o é… e tantas vezes nos esquecemos da sua proeminente existência, que ela semicerra-se de vergonha, num nevoeiro zangado que nos dilacera a visão de tudo.
O sono acerca-nos como hipnose calculista… Que veloz e ao mesmo tempo efémero é essa morte consciente do inconsciente sem aparente explicação…
Conduzo a magnitude de cada passo que dou, como se cada um deles me levasse ao mundo das respostas dos porquês que me esqueci de responder ou de procurar resposta. Caminho sem direcção, mas em linha recta. Até onde? Até cruzar-me com o quê?
Cruzar-me-ei sempre com os momentos graciosos dum tempo que passou pois são esses que me inspiram o presente estagnado. Aguardo o futuro manchado de dias, de noites, para recordar…

07 agosto 2008

Caminhos por percorrer...

Estávamos no meio do mundo.
Pessoas que nunca vi, umas quantas conhecidas, outras que era suposto conhecer, Tu e Eu.
Os nossos olhos já se tinham encontrado ao longe.
Seria o frente a frente evitável ou inevitável?
Seria evitável se não acontecesse o inevitável.
A luz apagou-se, ficou noite cerrada.
Vultos de gente deambulavam por todo o lado.
Sorrisos, tropeções, vozes sumidas cuja conversa não acompanhava, nem fazia questão de acompanhar.
Deu-me vontade de aproveitar o momento, em filosofia carpe diem…
Quantas vezes acontece, não vivermos por receios presentes... Passados... Futuros?
As represálias podiam ser infrutíferas. E são-no muitas vezes, apesar de as escolhermos como opção primeira.
Será assim tão difícil que nos deixemos guiar pela prisão da liberdade de escolha?
Eu e tu.
A escuridão.
Os (a)braços.
Os olhos fechados pela escuridão que não se avistaram…
Os lábios que se aproximaram sem se tocar…
Que impasses são estes?
Serão sinónimo de vida?
Já não se vive vivendo.
Já não se consome devidamente a vida.
Passaremos assim tão despercebidos dela?
Ou até dela não queremos saber?
Bizarro!
A multidão dispersou…
Poucos restaram naquele lugar…
Tu e eu murmurámos alguns monossílabos distantes.
Trocámos palavras parcas…
Seguimos separados… o nosso caminho…
Todos temos um.

31 julho 2008

Talvez...


Palavras.
Imagens.
Palavras de imagens.
Imagens de palavras.
Conjuntos subordinados de palavras, estigmatizados por adversativas suspensas nas reticências que buscam alvos de hipóteses profundas, que talvez uma imagem possa caracterizar…
São conjuntos complementares de imagem e palavra.
Afinal a complementaridade em algum caso havia de ser possível.
Talvez a vida se assuma derrotista e amargurada.
Talvez a vida se erga da mais intensa penumbra.
O escuro, a claridade.
A noite, o dia.
O silêncio, o ruído.
O abismo, o solo firme.
O vazio, o atestado.
São estes reveses, estas pequenas (grandes) dualidades da vida que nos encontram singulares, nos transformam e nos fazem adoptar uma postura plural.
E aquando plurais, tantas vezes nos voltamos singulares…
(Quando tudo se perde.)
Quando isso não acontece, tornamo-nos um só. Tal como nas fábulas que nos habituamos a escutar sem questionar.
Estórias eternas, que já não se provocam, nem tão-pouco se intensificam.
Resvalam-se com o tempo. Têm um fim antecipado e tremendamente impetuoso. São fenómenos intransponíveis. Quem os entenderá?
Provavelmente, ninguém. Talvez nem sequer seja suposto.
O termo ‘fenómeno’ avança consistente enquanto resposta.
O nosso ciclo de vida é um vício. Ou, por outro lado, um vicioso círculo.
Debatemo-nos com o vazio e a multidão.
O uno, o duo, o nada…
Somos um.
Somos dois.
Somos vários.
Somos um real nada. E assim nos transformamos (em nada), tal como no princípio tudo.
São admiráveis os (re)começos.
Começar tudo de novo dá-nos o poder da renovação.
A cada dia que passa renovamo-nos…
É esse dom que nos permite evoluir enquanto seres
(que somos, sem ser…)
É essa suave ilusão que nos torna reclusos da vida.
Talvez seja mais importante existir desmedidamente do que ser alguém…


A PROPÓSITO... FAZ HOJE 3 ANOS QUE O «VIVEMOS DE MOMENTOS» NASCEU!

28 julho 2008

Fases de mim


Reconheço o som dos passos ao longo do caminho.
Acostumei-me a ouvir os meus, os teus e os dos seres que não sabia que pudessem ser vida…
Entre passos mais ou menos alinhados e despreocupados, caminhava feliz.
Se sigo um caminho, outros ficam para trás, mas não me importo de encontrar o imprevisto.
A luz que me guia é forte demais para não ser seguida.
Ela aquece os dias mais tortuosos e insólitos.
Percorri horas e horas o mesmo caminho, ou os mesmos caminhos. Não me cansava de existir ali. A brisa do mar beijava-me o rosto vagarosamente.
O sol iluminava os meus dias…
O vento encrespava os cabelos rebeldes…
A convivência era amena e desperta.
A amizade toldada.
E a solidão verdadeira.
É dessa surrealidade tão pura que falo.
Encontro poucas palavras para expressar as minhas utopias revoltas.
Apenas me ocorre oferecer as minhas memórias.
Memórias dum manto verde emergido do profundo azul do oceano.
Cada ser que me rodeava era assumidamente tranquilo, apesar do ruído que isso possa representar.
O tempo para… era sempre depois.
Ainda hoje acho que não me enquadrei no fuso horário correspondente à minha presença evidente aqui.
Devo ter amado (n)esse recanto encantado…
A simplicidade evidente, pode constituir motivo pertinente, bem sei.
Será a simplicidade mais ou menos (des)valorizada?
Quem a condena?
Quem é capaz de a subtrair?
Existirá, a perversa?
O convívio com ela tornou-se banal e desfasado.
É uma hipótese.
Era capaz de me adulterar para voltar a esse ninho caprichoso.
Que vício, esse meu, de me torturar e de me fazer perder junto das minhas paixões…
Sou fruto delas.
Sou filha delas, ainda que, inadvertidamente.
Que inconsequente, sou.
Um dia vai parar esta existência mendiga, esta existência menina mulher.

22 julho 2008

Vens?

Já não encontro o tempo que devia existir entre nós.
A distância vulnerabiliza-me os sentidos.
Inviabiliza os meus pensamentos e prende os meus movimentos.
É de prisão que falo, uma prisão voluntária.
Sou prisioneira duma devassa vontade de te viver.
Do teu toque pouco recordo.
Foi acanhado, quiçá contrafeito...
Parece que a hora de visita, desta vez é mais dolorosa de ultrapassar.
Vens? Vens mesmo?
Por mais que te tenha por dúvida, por mais passageira que seja a tua demora, agarro-me ao sentir desses braços que me enlaçam a alma docemente.
A tua postura é ausente, escrava da tua vida.
Aí, já nem eu sei quem realmente precisa soltar-se das amarras, das algemas impunes e inquisidoras da vontade de ser.
Ser alguma coisa.
Quero ser fantasma, quero ser levada até ti.
Percorrer-te a vida sem limitações, sem demoras.
Sonho-te minha autoridade divina.
Faz-me deusa dos teus intentos.
Acha-me, vã esperança,
Que o esgar latente do meu rosto apenas tu tens o dom de decifrar com clareza.

21 julho 2008

"Lembro-me bem do seu olhar"


Lembro-me bem do seu olhar.
Ele atravessa ainda a minha alma,
Como um risco de fogo na noite.
Lembro-me bem do seu olhar. O resto…
Sim o resto parece-se apenas com a vida.

Ontem, passei nas ruas como qualquer pessoa.
Olhei para as mostras despreocupadamente
E não encontrei amigos com quem falar.
De repente vi que estava triste, mortalmente triste,
Tão triste que me pareceu que me seria impossível
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.

Fumo, sonho, recostado na poltrona. Dói-me viver como uma posição incómoda.
Deve haver ilhas para o sul das coisas
Onde sofrer seja uma coisa mais suave,
Onde viver custe menos ao pensamento,
E onde a gente possa fechar os olhos e adormecer ao sol
E acordar sem ter que pensar em responsabilidades sociais
Nem no dia do mês ou da semana que é hoje.

Abrigo no peito, como a um inimigo que temo ofender,
Um coração exageradamente espontâneo,
Que sente tudo o que eu sonho como se fosse real,
Que bate com o pé a melodia das canções que o meu pensamento canta,
Canções tristes, como as ruas estreitas quando chove.

Álvaro de Campos heterónimo de Fernando Pessoa

Musical(idades)...

Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente
Preciso conduzir um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir no último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento e bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer, até o amor cair doente
Doente
Prefiro então partir a tempo de poder
A gente se desenvencilhar da gente.

Depois de te perder, te encontro com certeza
Talvez no tempo da delicadeza
Onde não diremos nada, nada aconteceu
Apenas seguirei como encantado ao teu lado.

Cristóvão Bastos / Chico Buarque

09 julho 2008

Curta-metragem


Digam-me que estou no meio de uma plateia dum filme.
Digam-me que este é um filme de comédia, salpicada de momentos de drama.
Digam-me que esta personagem principal não sou eu.
Digam-me que esta é uma personagem dramática e subversiva desenquadrada da realidade.
A ficção bate à porta alternadamente.
Qual o modelo de desfasamento entre a realidade e o imaginário?
O terror socorre-me a expressão facial, do mesmo modo que a vida me é tirada.
É apenas uma história peremptória e preambular a que vivencio.

Serei uma estória efémera e inconclusiva?

08 julho 2008

Aglomerado de emoções


O tempo contigo tem sido severo.
E inexistente fisicamente.
A cumplicidade que temos é determinada.
Beijo-te a pele quente cuja temperatura se deve à proximidade que imiscuímos.
Não sei desejar-te sem loucura.
Não sei pensar-te sem ternura.
Enquadro-te num imaginário surrealista.
Pois é assim que em mim te represento.
És filho dum sonho para sempre inacabado...
Intuo-te perfeitamente.
Estás num deserto de vida.
Coordenas o teu respirar no balanço da brisa marítima.
Os rochedos que te encontram são inibidores da tua força hérculea.
Retraem-te da proximidade difusa do mar.
Queres voar, mas não tens asas...
Nadas, mas não podes ir longe.
Cruzas os braços em sinal de misericórdia e redenção.
O teu espaço circunscreve-se à redundância de vontade.
Agarro-te ferozmente a boca e já não largo o teu pescoço e o teu cabelo.
Céus... como me faz sentir...?!
Num delírio vão e persistente...
Delicio-me.
A minha língua desmaia na tua.
São os teus lábios que a reanimam...
Que lhe dão vida...
Registas réstias impacientes de desejo e cedes aos espasmos eléctricos dum corpo que autónomo te obedece.
Palavras para quê?
Castiga-me.
Obriga-me a não te esquecer.
Recupera a vida que me espera.
Verbaliza-me a alma...
Ostraciza-me o pudor...
Negligencia o meu poder.
E espera-me sempre...
Grata por te ter encontrado.
Realeza divina.
Ouve o meu sentir através do meu olhar.
Permite-me carregar-te no colo voluptuoso que alimentas.
Excede a minha fúria sinistra carnal.
Mata-me lentamente.
E, vagarosamente entrega-me o teu céu.

07 julho 2008

Nada de nada...


- Nada. Simplesmente nada.
- O que é que se passa?
- Exactamente isso: Nada. Já disse.
- Isso é bom, mau ou assim-assim?
- Assim-assim a cair ora para o bom, ora para o mau.
- Convives bem com o nada?
- Sim.
- Mas não é o que parece…
- O nada é isso mesmo. Não parece, porque não existe.
- O que é que não existe?
- Muita coisa.
- Então o ‘muita coisa’ também pode ser nada?
- Há múltiplos de ‘nadas’, que para muitos são tudo.
- Não seria mais fácil?
- Seria pois, mas não consigo viver de aparências.
- Opção?
- Não. Essência.
- Vives de nada?
- Não. Vivo de pedaços de nada.
- Como por exemplo?
- Solidão, silêncios, olhares, sorrisos, pausas, o simples respirar…
- Não te amedronta viveres em constante solidão?
- Não. É dado adquirido. Nada mais me pode acontecer abaixo disso.
- És feliz?
- Não. Tenho momentos de felicidade.
- És do contra?
- Quando considero ser apropriado.
- Nunca mudas de opinião?
- Apenas se outras visões do assunto me fizerem concordar que são possibilidades a admitir.
- Quanto pedirias por ti?
- Nada.
- Porquê?
- Porque não estou à venda.
- És sempre assim?
- Sempre.
- Isso é bom ou mau?
- Bolas… não sei.
- Obrigada pelos esclarecimentos.
- De NADA.

27 junho 2008

Inversão...


Ainda sinto o calor do toque da tua mão na minha.
Parece que não a querias largar.
Deixa lá. Eu também não queria largar a tua...
Estavas irremediavelmente distraído.
Não fazias nada que jeito tivesse.
Eu estava ali a observar-te divertida, esboçando um sorriso malicioso.
Folheava o livro que tentava ler, ou melhor, que tentava assimilar, 15 páginas num par de horas…
Que inconsequente diversão pra passar o tempo.
Divertes-me, sabes?
Tanta gargalhada minha ouvi, dedicada a ti…
Não me admira que saibas de cor cada momento que apelido de ‘presente’.
Porque decoras a expressividade dos meus movimentos, das minhas palavras, do meu sentir?
Tens poder sobre mim.
Tens-me.
Perde o norte, como quem diz: desequilibra-te…
Gosto de te ver destrambelhado… desequilibrado…
Sê o que és quando estás comigo:
Único.

24 junho 2008

Sodade...*




Faz precisamente hoje quatro anos.
Tenho saudades.
Dos risos cúmplices.
Tenho saudades.
Das madrugadas.
Tenho saudades.
Das directas.
Tenho saudades.
Das noites bem passadas
Tenho saudades.
Do amor.
Tenho saudades.
Da amizade.
Tenho saudades.
Do carinho.
Tenho saudades.
Das cábulas que não olhei por as ter assimilado.
Tenho saudades.
Das aulas que faltei.
Tenho saudades.
Das aulas que perdi.
Tenho saudades.
Das aulas que sorri.
Tenho saudades.
Dos trabalhos que sofri.
Tenho saudades.
Dos exames que passei.
Tenho saudades.
De ser ESTUDANTE.
Tenho saudades.
E só esta minha faceta saudosista me faz lembrar que o que é bom, acaba sempre por chegar ao fim.

Bolas... tenho mesmo saudades!

*(Cesária Évora)

23 junho 2008

Até onde?




Devassa
Essa vida que não passa
Mas sinto que se ultrapassa…

Esforço-me
Forço-me
Movo-me…

Encontro-me…
Perco-me…
Reencontro-me…

Longe
Perto
A descoberto…

Corro
Escorro
E morro…

19 junho 2008

'Prison Break'


A clausura tomou conta da minha vida.
A cadeia dos sentidos, cada vez menos deixa ver os raios de sol.
‘O sol quando nasce é para todos, mas nem todos o aproveitam.’
Eu deixei de o aproveitar.
Estou farta da sua luz.
A ténue penumbra avista-se delicada e sincera.
Estou com fome de vida e sequiosa de existir.
Antevejo-me como um nada vivo, com membros que se movimentam desleixados e sem energia.
As minhas mãos estão imobilizadas.
De tanto perderem, já nada agarram.
Antes garras, hoje mão cheia de areia a esvair-se por entre os dedos.
Apoio-me no sabor do nada.
Salvaguardo-me no silêncio.
Aproximo-me da minha escura solidão.
Algemaram-me a esperança.
Cumpro pena perpétua.
Não tenho forças para abranger a condicional.
Ou de ver-me na sua liberdade.
Presa, amarrada, acorrentada ao passado.
Espraio-me na sombra que me sofre.
É sempre preciso um passado, para cair na prisão do presente.

18 junho 2008

Ready to fly...


Acordei com o calor do verão a trespassar a minha pele
O termómetro fazia jus àquela temperatura.
Os lençóis misturavam-se com o edredon a meus pés.
Para trás tinha ficado uma noite de sonhos de paixão.
Esboçava o sorriso terno com os olhos entreabertos.
Espreguiçava-me, esticava os músculos descansados e relaxados…
Precisava dum banho para esfriar o calor do tempo.
A espera de ti.
Faltava pouco para estar junto a ti, mas essa espera parecia vinda para durar.
No duche, a água acordava os restantes sinais vitais.
A água não estava quente, nem fria, mas para esta última se encaminhava.
Se pudesse paralisava o momento e fazia-o perdurar pela sensação de bem-estar.
Desligava-me do mundo, mas não me desprendia de ti.
Éramos um só mesmo na distância.
Era fatigante viver aguardando-te na surpresa de te voltar a encontrar.
Essa espera apesar de impaciente era mútua.
Valia, pois, passá-la e ultrapassá-la…
No reencontro.
Imaginar-te a pensar em mim é presunção minha.
Ou se calhar nem tanto… Porque gosto de ti.
Perdoas-me?
A água continuava a escorregar sobre o meu corpo, parecia beijar-me a pele.
Serias tu?
Presumi que sim. Estás vivo em tudo que toco, em tudo o que me toca os sentidos.
Enrolei-me na toalha com a mesma suavidade do teu abraço.
Estava pronta para viver mais um dia.
Assumidamente confiante pelo o que me trouxesse.

11 junho 2008

Falando (te) através de Música


CARTA Toranja

Accidentally in love Counting Crews
Do you love me? The Contours

Slow Kylie Minogue
Eu te devoro Djavan

Touch me Rui da Silva
Let me entertain You Robbie Williams
My Immortal Evanescence
Entre dos tierras Heroes del silencio

Passion Rodrigo Leão
I really am such a fool EzSpecial
Lua Pedro Abrunhosa
Eu não sei quem te perdeu Pedro Abrunhosa
The reason? Hoobastank
Diabo no Corpo. Pedro Abrunhosa

Sempre vieste INOX
Cavaleiro Andante Rita Guerra e Beto
De volta pró aconchego Elba Ramalho
Come away with me Norah Jones
If you give up Hands on Approach
This love? Maroon 5
- Problema de expressão. Clã

Sometimes you can’t make it on your own. U2
If I ain’t got you Alicia Keys

Born to try Delta Goodrem
Incomplete Backstreet Boys
Guilty Blue
Obsession Aventura
From this moment on Shania Twain
La tortura Shakira y Alejandro Sanz

Breath easy Blue
Agarra-me esta noite Pedro Abrunhosa
Take my breath away Berlin
We belong together Mariah Carey

Kiss Prince

Nothing compares to you Sinéad O’Connor

Força Nelly Furtado

One U2 Last Kiss Pearl Jam

P.S.: "Fotografia Juanes e Nelly Furtado"

Instrumento


Vejo-te chegar em tudo o que passa.
Persigo-te com a vontade de te ter…
Sou psicopata de ti.
Sodomizo-me de pressentir-te perto demais.
Qual entrega será mais verdadeira e automaticamente real, para não ser vivida?
Será despeito o que se avulta e se acumula em mim?

Sou harpa dos teus dedos que me tocam em vários sons e tons melódicos.
Fios nevrálgicos que me descontrolam, descompassam e te intensificam…
Passo a ser covil… de notas musicais não delineadas, autónomas…
Habilmente caio nos teus dedilhados…
A brisa que respiras é o meu apanágio acústico…
Deixo-me escorregar em ti…
Deixo-me levar por ti…
És a minha pauta, meu músico e meu maestro…
Numa arrojada overdose de música, vislumbro-te nesse calor que pesa sobre os corpos, sobre mim…
Está quente, estupidamente quente, chego a sentir-me nas mãos do inferno.
Miseravelmente, desmaio em ti.
Julgo que estarei no auge da loucura.
Da minha loucura de (te) sentir.

05 junho 2008

Fantasma de TI


É na sombra entoada dum piano que te escrevo…
Palavras ou notas soltas…
Fragmentos de nós.
Caiei frases que sentia anteriormente…
Despertas-me lágrimas em sorrisos quando me leio em ti.
Transcendes o meu corpo com a tua alma desenfreada.
Acendes a minha fogueira sem sequer me tocar…
As pontas dos teus dedos coordenam e condenam o meu respirar.
Olho-te nas memórias que tenho de ti:
- Terrivelmente vivas.
O relógio tem contado horas que me envergonharia… confessar.
Forço-me a este lugar, entre a precisão do realismo e a carência da ilusão.
Tens-me avassalado os sentimentos que não mais julgara sentir…
Forço-me a este limbo, não para me sentir certa ou em equilíbrio, mas sim porque nem sempre consigo estar sozinha.
Depois de te penetrar o olhar, efusivo …
Forço-me a desviar-me da solidão, mas nela permaneço.
Sozinha estou, sempre que penso, sempre que o redijo… sempre que me sinto.
Real! Será real o que pressinto?
A surrealidade que te contemplo e designo é uma homenagem que te presto:
- Deus de mim.

01 junho 2008

A(guardo-te)...


Parei o carro desajeitadamente.
Alguns rochedos e pouco areal separavam-me das ondas do mar e do seu carpir voluptuoso aliado do do vento…
Conduzi-me àquele sítio.
A meu lado erguia-se um símbolo que me habituei a suportar: - Uma cruz.
Juntamente, uma minúscula ermida.
As rochas afastavam-na do mar, que quando feroz, a salpica.
A noite já vai acometida… de horas…
Procuro estrelas, mas poucas alcanço no imenso céu.
Na rádio, um concerto em directo, duma banda dos anos 80: e “I’ll be there for You”, soava.
Ao passo que a melodia avançava, uma imensa solidão caiada de tristeza apoderou-se de mim levando-me às lágrimas.
Vários pensamentos díspares, se confundiam na minha cabeça.
A maquilhagem, posta estrategicamente, não sobreviveu ao pranto escorreito.
Também, ninguém avistava o meu rosto, cercado pela vaga de penumbra e da triste escuridão.
Em algum lugar estará alguém à minha espera, mas ali e naquele momento, estava personificado o vazio, juntamente de várias vozes difusas e mescladas, que me recordavam a beleza e a relevância que a música me ocupa.
O tempo passou… vulgar e demoníaco.
Encontrei alguma paz e parti.
Próxima paragem?
- O sono e os sonhos.

Aguardavam-me.

25 maio 2008

Pontos

Precisava marcar pontos.
Não aqueles que se ganham nos campeonatos, mas aqueles que suturam os cortes da vida ou até mesmo da alma.
Mais do que pontos, eram finais.
Pontos finais.
Só com eles suturados cicatrizados podia ter uma vida melhor e paz interior.
Comecei, assim, a somar pontos, tais quais reticências indefinidas…
Acho que o que faltava mesmo era um pontapé de saída.
E esse, parece-me que foi dado.

“A grandeza de um ideal não está em atingi-lo, mas em lutar por ele.”
Juan José Medina

21 maio 2008

ENCONTRO


Porque mal conheces o meu nome, mas conheces o meu olhar…?
Avistar a esperança com os olhos do coração é gratificante.
Igual ou maior que a solidariedade que somos capazes de oferecer!
Longe ou perto, o que interessa é o que representamos de igual para igual.
Passei uma tarde de domingo num encontro. Encontro entre mim e as palavras, não as que digo, nem as que escrevo, mas as que alguém escreveu para mim. Para todo o universo.
Retive um pensamento simpático: “Tenha a serenidade para aceitar o que não pode mudar, a coragem de mudar o que pode e, sobretudo, a sabedoria de conhecer a diferença.” pp.144 in voltar a encontrar-te, do francês Marc Levy
Acho que vai de encontro a algo, que outro dia me ocorreu, em relação à desistência de lutar pelos sonhos. “Desistir dos sonhos nunca, mas enquanto eles não chegam à noite… o próprio dia tem que (es)correr…” afirmei.
Nem que seja, ao arrancar uma página do calendário e avistar a próxima, tentando escrevê-la da maneira mais sincera.
Posso colocar também a questão, porque vou dormir se não tenho que acordar?
Se a motivação for assim tão grande, perco tempo só a pensar. Gasto palavras, que articuladas, não se gostam de encontrar.
Da estória, achei bonito identificar uma pessoa com um local.
Torna-a dona dele… e todas as recordações se afiguram mais doces… e menos voláteis…
Acontece-me várias vezes identificar, pessoas, locais, perfumes, palavras, gestos, rostos, expressões, no baú das recordações…
São essas que encontro. Sorrio. E é como se as vivesse novamente.
Quando ‘acordo’ e volto a mim sei que estive longe, mas tremendamente perto.
O meu ar pensativo demonstra a longevidade do momento.
Senti tudo como na primeira vez…
Não é à toa que Massilon escreve que “a inocência está sempre rodeada do seu próprio brilho.” Ou que: “a alegria é a coisa mais séria da vida.” (Almada Negreiros)
Se a inocência tem brilho e a alegria é séria, também a seriedade da inocência não deve ser posta em causa, assim como a alegria tem imenso brilho…

“Acreditar em algo e não o viver é desonesto.”
Gandhi

Há dúvidas?
Deste lado não.

28 abril 2008

ODE À ELENTARI

SE EU PUDESSE

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...

21 abril 2008

stretno moj prijatelj *


Apetecia-me desenhar.
Não almejava uma obra de arte, apenas um pedaço de imaginação, ou um ‘eu’ distorcido.
Comecei o esboço e um rosto tomava contornos.
Eram contornos a preto e branco, talvez cinza, para ser mais precisa, devido ao carvão.
O avanço era pouco cromático por imprecisão da expressão que queria criar no retrato.
A paleta de cores, que ainda não tinha usado estava ali para colorir…
O cavalete segurava o meu retrato, inibido de cor.
A cada traço que delineava, ia encontrando uma imagem familiar.
Eram, na verdade, os riscos que corria.
A anulação de cor era vestígio dos dias cinzentos e macambúzios que me socorriam, quando mais ninguém tinha essa capacidade.
E de repente surgia novamente a omissão da paleta:
A paleta de cores estava ali para colorir…
Optei por deixar o rosto em primeiro plano, não ousei que os cabelos encobrissem a personalidade do desenho.
A sobrancelha, esguia, alinhava-se pelo olhar; vasto, incisivo, num toque indeciso ou longínquo. Definitivamente profundo.
As horas tinham passado em flecha, ainda que sem alvo e anoitecera.
A luz da lua iluminava o meu retrato. O foco da lua cheia era suficiente para me alumiar as ideias. Faltava pouco ou provavelmente muito, para terminá-lo.
As dúvidas atormentavam-me a composição da expressão e definição dos lábios. Estava disposta a rasgar um sorriso. Podia entreabri-los para confirmar o olhar. Queria eternizar o que a morte vai levar de mim.
Mais uma vez a indefinição abeirou-se-me, pela falta de cor.
Seria um desenho inacabado?
Ou uma manifestação cinzenta duma imagem que recriei.
Não estava a ser original.
(Re) conhecia-me, não na plenitude, mas na forma.
“A paleta de cores estava ali para colorir…”
Esse alcance fazia-me contrariar a vontade de avivar, aquele ser apagado e sem vida.
E tantas vezes passamos pela vida sem pegarmos nas cores, para a colorirmos, que subitamente encontrei alguma coragem e parti, na sua direcção. (pensei: se a coragem é gratuita porque é que estamos sucessivamente a escutar a frase: “Não tenho coragem”? ou mais errado ainda, a proferi-la?)
As tintas da paleta tinham secado, por isso refresquei-a com a textura e o odor, a fresco, a renovado.
Ostracizei a minha vontade, porque nem sempre ela me cumpre.
Dei-lhe cor, como se lhe tivesse dado vida.
Deleguei ao desenho o poder de transformação que me pertence.
Era um retrato de mulher.
Único.
Meu.
A sombra desapareceu.
E, o mundo das cores reproduziu-se. Uma única paleta não admitia tamanha diversidade cromática.
Se da noite brotam estrelas, nem ela gosta do vazio, da solidão, da escuridão.
A luz que erradia a vida é, por vezes, encoberta.
Destapo-a e ela toma o meu rumo.
Enquanto vaticínio, aceito-a.
Afinal, sobejamente, dizem que ‘há sempre uma luz ao fim do túnel’.

“Se não conseguimos encontrar contentamento em nós próprios, é inútil procurá-lo noutro lado.” (La Rouchefoucauld)


stretno moj prijatelj *


* “boa sorte” em Croata

12 abril 2008

Ideias ou ideais?

A Ideia

Força é pois ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe – e um alto monte
Aonde se abra à luz o nosso ninho.

Se nos negam aqui o pão e o vinho,
Avante! é largo, imenso, esse horizonte…
Não, não se fecha o Mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!

Avante! os mortos ficarão sepultos…
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!

Doce e brando era o seio de Jesus…
Que importa? havemos de passar, seguindo,
Se além do seio dele houver mais luz!


Antero de Quental
N: Ponta Delgada (Açores), 18-04-1842;
M: Ponta Delgada, 11-09-1891


(A ‘ideia’ até que é boa!)

03 abril 2008

Whatever...


Não corre brisa de vento.
Acho-me no sítio onde troquei o meu primeiro beijo.
O rapaz amava-me.
Eu, queria apenas sentir um beijo, o primeiro.
Foi uma sensação estranha, mas inclassificável.
Hoje estou aqui. Sozinha.
Não há lua bonita, nem estrelas. Apenas o areal, o mar e as lufadas quentes de verão, mas fora de época.
Acabara de vir duma sala de cinema. As mensagens do filme ainda entoavam na minha cabeça, talvez tenha transposto a minha vida naquela história de aproximadamente duas horas. Já é costume.
Quando um capítulo termina, há muitos outros para viver, retive.
Os meus pensamentos conspiravam contra a minha razão dedutiva, pois por mais pontos finais que coloque, a pontuação não corresponde ao que o coração sente.
A noite já pesava, as luzes alumiavam as ruas desertas, as músicas que trazia no rádio lembravam-me fantasmas e almas penadas, como quem recorda cada momento que a saudade alcança. A cada tema calmo e melodioso, imbuía-me na paz do mar bravo ali do lado com a passividade da areia e o ardor daquele termómetro nocturno. Brotava o querer desmesurado, num ponto da vista em que sai um líquido meio apurado de sal que não posso antever se algum dia fez sentido. Sem querer, elas caíam. Uma a uma, em queda livre abismal.
Das poucas certezas que tinha, uma era vital e certeira: os pontos finais não podem ser interrogações.
Tudo passa pelo ponto da vista em que nos concentramos. Não dizem que o amor é cego?
Se formos por aí eu quero isso a que chamamos amor. A vida tratará de amalgamar os outros sentidos.
Às vezes não precisamos mais nada.
Apenas alguém que nos faça companhia e leve embora a solidão e a isso também se chama amizade…
A compreensão da simplicidade desta constatação é clara, mas de tão subtil é quase sempre errada. Como diz Lavoisier: "nada se perde tudo se transforma", e desta feita esta compreensão não foge à regra.
É por isso que a cada dia que passa enalteço o meu sofázinho, porque ele é um bom amigo! Digo-o sem ter medo de represálias. Ele tem a capacidade de perceber que uma mulher tem sentimentos, estendendo-se de imediato de braços abertos para me acolher, sem reservas e sem pensar com a ‘consciência’ que me afasta. Sim. É uma indirecta perceptível à incompreensão deliberada de qualquer ser humano de sexo masculino.
Estou a ser sexista?!
Whatever.

02 abril 2008

Mentiras no dia delas... (1 de Abril)


Quero mentiras doces.
Mentiras de amor feroz e inexplicável.
Mentiras em que o meu corpo fica despido e no teu envolvido, recrio imagens do desejo.
Mentiras pragmáticas em que renego a verdade.
Mentiras em que crucifico a minha paz pelo sabor a ti.
“A vida é curta, é sonho de um momento.” (Bernardo Guimarães)
Os sonhos acordam em mim a pessoa que sou.
Apenas existo em sonhos,
Apenas existo em momentos…
Sinto este murmúrio falacioso a cruzar-se com a minha sombra exasperada.
Quero chamar Viver a cada sonho que cumpro.
A vida é realmente curta, para quem não sonha num único momento dela.
“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.” (Fernando Pessoa)
Por isso é que os sonhos têm um tamanho incomensurável.
Correspondem à identidade e à mais fútil proximidade que temos connosco.
“Para ser grande sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa.“ (Fernando Pessoa)
Ser-se Único. Todos os dias da nossa vida… Sem temermos que cada atitude, gesto ou palavra tenha sido em vão… somente assim nos cumpriremos na íntegra.
“Integridade é fazer-se aquilo que está certo, mesmo que ninguém esteja a ver.” (Jim Stovall)
E, a humildade pode chegar a este ponto.
No fundo, a mensagem a transmitir fala de amor:
“Que eu tenha peso e medida em tudo… menos no amor.” (Balaguer)
Até porque: “A pior das prisões é um coração fechado.” (João Paulo II)
Subscrevo.
E se for mentira, dar-lhe-ei todo o crédito.

24 março 2008

One side of the story...


Chorei cada imagem que via…
E chorava compulsivamente…
Cada fragmento levava-me ao sufoco, à tortura de ver destruído o cenário do nosso amor…
Onde tantas vezes adormecemos embalados pelo som das ondas.
Era o teu ‘cantinho’…
E partilhava-lo comigo…
Vivemos o desejo…
Transpiramos o calor do nosso fogo…
Que ardia…
Fomos cúmplices do bater das ondas…
Que nos embalava na busca da entrega total àquele momento…
Gemíamos estridentemente e as nossas almas fundiam-se num só corpo…
Formara-se um eco na noite…
O eco do nosso amor…
A noite acompanha os amantes abrigando-nos…
Entregávamo-nos única e exclusivamente ao poder sobrenatural que nos unia…
Estávamos sob o capricho da paixão e do desejo…
A cada beijo que roubávamos um do outro.
Causa natural é o diagnóstico daquele avanço do mar…
Daquele óbito anunciado…
Os vários recantos onde tudo aconteceu…
Onde adormecemos…
Acordamos…
Amamos…
Nem as intempéries estão a meu favor.
Era exactamente ali…
E agora tudo ficou destruído…
O nosso ninho de amor está prestes a desaparecer…
Parece que não sobram réstias do nosso amor…
Todo o meu amor foi levado com fúria, a fúria da dissolução… de tudo.
Do amor que se fez,
Do amor que se teve e que se consumou na rebelião do calor de dois corpos mitigados de prazer… Gosto-te…
Hoje mais, amanhã mais e depois de amanhã ainda mais…
Aumentará sempre o meu sentimento por ti…
Perdi-te…eu sei…
Talvez um dia desses redescubra o amor noutros olhos e noutro sorriso…
(Aguardo que sejas Tu…)

20 março 2008

A(ti)ngida pelas palavras...


Encaro as palavras como um pedaço de mim. A interpretação que delas faço vai muito mais além daquilo que o seu significado pobre e frágil transmite a ouvidos ou olhos desatentos.
Já me proibi de escrever ou tentar representar em meras palavras imbuídas de trejeitos, sensações compensatórias que em mim se desvanecem por senti-las tão veementemente.
Chamo de lúgubres, as imagens que povoam a solidão de um corpo. Fazem-me lembrar as paisagens submersas num inconsciente denso, meticuloso e escuro de incompreensão.
Uma penumbra obsessiva.
Um abismo pessoal constante.
Um absolutismo que, macambúzio, vagueia só no narcisismo inconsequente do desejo.
Tatuo máscaras duma personalidade não assumida por falta da energia e da luminosidade dum existencialismo profícuo, com tendência ao retrocesso cultivado.
Não se pode exigir o que nunca se teve.
Gosto de apagar-me a cada dia que passa para renascer entusiasticamente de seguida.
É gratificante ouvir este silêncio em tom de melodia que tem tanto de discrepante como de obtuso…
Parece que a nossa ténue existência é em vão quando o paradoxo se transforma na questão do desaparecimento.
Quais as formas da minha ausência, do meu fim?
A água cai e faz uma visita guiada pelo meu rosto perdendo-se, sem rasto, no infinito de dúvidas expiatórias.
Regresso, tolerante aos vocábulos que dou vida e que são excepcionalmente usados.
Descrevo, por exemplo, a imagem dum arco-íris prostrado num verde genuíno e eloquente…
O trivial não me interessa. Está absorto de mim…
Atinges-me?

15 março 2008

(Re)petição...


Fui aproveitar o sol e o calor que trouxe comigo.
Caminhei com a saudade, respirei a tristeza, alberguei em mim a piedade em tom de compaixão enlouquecida a vaporizar as minhas vísceras...
Não sei onde anda a força que costumava habitar-me.
O sofrimento tem-me batido à porta.
Deixo-o entrar, mas recuso-me que ele se instale confortavelmente.

Cada passo parecia um reencontro com as minhas origens.
Conhecia de cor a brisa que me batia no rosto. Era um perfume que sempre vivera junto a mim pela frequência que me levava até ele.
Do lado de lá do muro, a areia escondia-se no rastejo das réstias de ondas do mar…
Ele perdia-se na areia, submisso…
Tal como a avestruz, o mar enterrava-se na areia de cabeça e sem vacilar…
E eu? Se me escondesse como a avestruz, se me enterrasse evaporando como acontece ao mar, teria resolvido as tormentas?
A simplicidade de um ‘sim’ ou dum ‘não’ em discurso directo corrói-me os pensamentos que não quero ter, mas que sinto não poder resolver no imediato.
Que o tempo resolva por mim…
Se a chuva vier, que percorra todo o meu corpo.
Um raio de sol ou uma forte rajada de vento puros… encarregar-se-ão de me devolver à normalidade… mesmo que tenha atravessado uma revolução.
O meu corpo vai libertar os suores de enfermidade e nele submergirá a conquista.
Voltarei ao plano de Fénix.
A renovação e a revolução são uma constante em mim.

Cheguei junto do carro.
Pus o cinto. Parti.
Sentia-me atordoada, mas revigorada.
Por mais que quisesse definir o que acabara de acontecer, não conseguia.
Estava longe de pensar que os finais são como o tempo: imprevisíveis, mas necessários.

20 fevereiro 2008

Hora de embarque...




Esta noite sonhei muito. Sonhei contigo, com os amigos, com os desconhecidos que me povoam a mente…
Sonhei que os meus desejos, não passam de desejos porque ainda não foram materializados…
Sonhei que o tempo é muito curto para tudo acontecer e isso acontece tanto nos sonhos como na vida real.
Tenho bastantes insights ou dejá vus… acho que já os recriei em sonhos.
Tantos sonhos… e a realidade permanece estática.
Depois de sonhar acordo e lembro-me de todos os sonhos que não passam disso: sonhos.
Às vezes acho que não vivo num mundo real;
Que as coisas demoram tempo demasiado a acontecer.
O tempo real deve ser diferente do meu…
Páro um segundo e adormeço…
Estou prestes a embarcar no mundo dos sonhos! Espero que apanhes o mesmo barco…
Quem sabe não se iniciará a NOSSA viagem…

“O tempo é o melhor Autor. Encontra sempre o final perfeito.”

(Charles Chaplin, na interpretação da sua própria personagem "Calvero" em "Luzes da Ribalta")

Que o Sol esteja sempre presente para aquecer o meu Coração


Para que serve o coração?
Até onde é que ele nos leva?

Ele bate leve e solto…
Alegre e compassado e no sobressalto das emoções que bata sempre com fervor…
Que seja preenchido de força para continuar a viver o amor…
Que não se esgota, não se cala, não se comporta…
Não se esquece…
Mas se o coração aquece…
O nosso sorriso permanece… estampado no rosto… no sabor e no gosto de exalar a felicidade…É bom senti-la dentro do peito e murmurá-la no brilho do olhar…

Empty space...

Além, quatro paredes vazias… caiadas num branco, amarelecido pelo tempo.
A humidade também marca presença escorrendo pequenas gotas pelas paredes em dias de chuva. O tecto e o chão são revestidos de madeira. Uma janela forrada de madeira ilumina este pequeno espaço cheio de nada. Terá o passado preenchido estas quatro paredes?
Terá a lâmpada que cai do tecto alumiado réstias de vida?
Fecho a porta. E aquele sítio tão vazio já não me incomoda.
Não quero entrar no vazio… pois talvez já nele viva.

12 fevereiro 2008

A minha história


Como acreditar em mim, como acredito em ti?
Sei que todos os sonhos são realizáveis, pois já provei um pouco do seu sabor.
Muito tempo passa para cortarmos as metas que nós traçamos…
O tempo que fica para trás parece uma eternidade e tudo o que alcançamos parece longínquo, distante e sem valor… mas sinto que no fundo não estive inerte… que vivi.
É uma espera tenebrosa. Na mala já levo a saudade e na viagem sei que vou percorrer o caminho dos sonhos, que é como quem diz: o caminho da felicidade.
É a minha vida.
É a única certeza que tenho.
As oportunidades falam-me em partidas, em chegadas e eu apenas sei que vou a caminho de construir uma história:
- A minha.
Os laços impedem os meus movimentos, mas a verdade é que ninguém é de ninguém, apesar de eu desejar que assim não fosse para poder achar mais rapidamente o sentido do Tu e do Eu.
Custa-me dar um passo.
Quando até passo pela vida a correr…
Dizem que para tudo há um tempo certo…
Mesmo para aquilo que não vai acontecer.
Talvez por isso, me sinta feliz, me sinta bem e tenha toda a paz de espírito necessária.
Obrigada.

04 fevereiro 2008

Deriva...


São lágrimas de ausência de paz.
Não mando em nada.
Nem em mim, nem na minha alma que vagueia…
Longe do meu querer…
Porque é que a tristeza me acompanha?
Sinto-a como uma sombra que não vai embora.
É uma dor corrosiva em que a melancolia trespassa os meus dias…
O meu viver…
Queria que os pontos de intercepção fossem mais claros.
Que a distância que não tenho entre os sentidos não me asfixiasse o pensamento.
Que a intensidade de acreditar fosse gradual aos meus desejos de ser...
O que vou sendo sem ser…

31 janeiro 2008

Esquecer...


Sei que tinha que vir.
Sei que era isso o que a minha intuição me dizia para fazer…
Mas estou cansada de esperar.
Cada hora,
Cada minuto,
Tornaram-se insuportáveis…
Sei que preciso de tempo.
E que convivo com o seu desespero de passar.
Não consigo pôr as mãos no fogo, porque já tenho a alma enregelada.
Desfaleço a cada dia pela angústia que teima em me destruir.
Não domino este impasse.
Não domino esta vida.
E é tudo isso o que não quero:
Esquecer-me de mim.

24 janeiro 2008

Quem és tu?


Quantas lágrimas chorarei mais por ti?
Que também me pertences.
Quantas lágrimas se largaram e largarão daqueles rostos cada vez mais frágeis e débeis?
Que apenas tu não reparas.
Quantas vezes terei que te dizer que estás errada?
Sem que tu o percebas.
Quantos erros sucessivos cometerás sem que os que ficaram para trás te tenham servido de exemplo?
Que exemplo darás a alguém se não o és para ninguém?
O que te custa ser honesta com o teu coração?
Porque o moldas à intransigência?
O que te faz ser tão cruel?
Se nunca ninguém o foi para ti.
Porque não deixas entrar no teu coração o afecto livre e sincero?
Porquê essa pedra, em vez dum bom coração?

Quem és tu?
Desconheço-te…

17 janeiro 2008

Paz

Tantas páginas escrevi no livro da vida… sem contar as que estão para a frente, nem querer rever as que ficaram para trás…
Identifico-me com o ambiente que me rodeia e a minha circunstância.
É o que acontece quando o coração nos governa o corpo e a alma.
Desejo encontrar a tranquilidade que começa a habitar-me e pensar que cada dia pode ser sereno e pleno de sentido…
Estou mais calma, o risco vale a pena e é isso que deixa viver o meu espírito em paz.

11 janeiro 2008

Choro D'alma


Tenho procurado portas que convidem à entrada…
Tenho entrado nas portas que me deixam espreitar…
Neste entra e sai… Tenho conhecido vultos de almas desconhecidas…
Tenho-as apanhado desprevenidas…
Assim como as ondas do mar…

Correndo o risco de ser inconveniente…
Passeio e quase que vagueio pelos caminhos que também são meus por pisá-los diariamente.

Respiro o mesmo ar saudável em que esvoaçam as aves e, os salpicos do mar vêm até mim num Inverno terno, quente e delicado…

Há fins que proporcionam recomeços.
Há meios que justificam a passagem.
Longe de certos endereços…
A cada dia transito na minha viagem…

Longe de tempos de gritos,
Perto dos meus silêncios…
Percorro essa estrada…
No meio, a encruzilhada…
Em que resolvo cada nó…
Vivendo só…

Acompanhada pela vaga alma que eu deixo viver…
As tormentas… Procuro esquecer…
Porque a vida tem o sabor suave de veneno…
Que torna o mundo mais pequeno…
Que o deixa desfalecer…

Ajustando memórias,
Conto as minhas histórias…
Que sussurram ao meu pensamento
Que cada lamento,
É o peso da hora,
É o peso da demora…
Duma alma que chora.