12 outubro 2009

Palavras minhas...

Há quem reaja às minhas palavras.
Dizem que para a minha ‘idade’… não devia escrever estas coisas, mas no fundo será que sabem que não serei bem eu quem escreve estas coisas?
Vejamos… Era incapaz de reescrever o que quer que fosse que para aqui anda…
O conjunto de palavras reunidas vertem almas, forças, rigorosamente autónomas.
Outro dia li que uma escritora da nossa praça a partir dos 9 anos lia coisas que não seriam de acordo com a sua idade e depois começa um percurso literário irrepreensível e não menos invejável…
Não penso que seja diferente ou tenha que ser diferente. Ou que porventura haja uma única via que caracterize quem escreve. Escreve-se e ponto! E quantos anónimos passam pela vida anónimos?
Sei que transmito uma impaciência interior, a tal ‘agonia’… que ‘alguém’ apelidou…
Gosto de traduzir essas interpretações por meros ‘sentimentos’… Sentir as minhas palavras e viajar junto delas… É como se elas fugissem de mim, em ordem a entranhar e incluir quem as lê… Uma partilha à qual está subjacente uma identificação…
Acham que falo da minha tristeza, das minhas fatalidades, das minhas misérias, dos meus descréditos, das minhas tormentas…
É certo que algo virá de mim… Mas quem escreve tem um processo de composição tão complexo quanto íntimo com a imaginação…
Como explicar palavras tão profundas? Mensagens tão eclécticas ou o ponto final que brilha certeiro?
São questões inexplicáveis. Garanto.
A todos quantos ‘me’ visitam deixo um agradecimento sentido…
Quero dizer-vos que todos temos um fado…
E sentimo-lo vida fora… é a nossa raiz mais profunda… E se do nosso fado passarmos ao fado música, sabemos o quanto este canto nos afaga o coração… E o quanto liga a nação… a todos quantos partem deste recanto tão nosso…
Além-fronteiras todos se rendem a esta sonoridade que alterna a alegria vivaz, à tristeza voraz…
Afinal o desespero das melancólicas dores da alma também se manifesta positivamente em forma de arte…
E se quiserem uma resposta para ser assim?
Também existe.
Sou Portuguesa.

02 outubro 2009

Vidas de luto...


Já não somos duas almas caídas… somos alguém que não faz sentido longe.
Demos o passo da independência múltiplas vezes e voltamos sempre a insistir na teimosia exacerbada dos egos tolos…
Já não sei que nome lhe atribuir…
Pois de tanto coleccionar vontades,
Tornei-me mendiga.
E de tanto chorar,
Fiquei sumida…
Já esqueci a felicidade de escrever histórias de amor…
As próprias letras já não se reúnem, concorrem umas com as outras avidamente.
Estou num conflito pesaroso…
E, nem os filhos da escravidão penam tanto…
Sei que são palavras sem nome… sem sentido…
Sei que sinto a solidão no meu braço esquerdo…
Porque o direito te estende sempre a mão…
Quero-te infinitamente…
E não apenas o diário de ti, que escreves superficialmente…
Morreria por ti…
Saltaria dum penhasco para te libertar a alma…
Libertaria as amarras e os laços fortes que plenamente me possuem.
Porque sempre acreditei na força que não tenho, mas que se oferece ao meu chamamento…
Acredito no gelo que me congela os gestos mais incomuns na hora certa.
Sem que o negro da noite e o escarlate do pôr-do-sol me vistam os sentidos.
Dispo-me do que não gosto em mim, visto-me num quadrante de harmonia e sensibilidade…
E apenas sinto saudades das franjas da idade…
Das orlas que para trás ficaram…
E das ondas que vieram ao meu encontro e partiram, sem nenhum revés.
O que calço… o que visto…
Apenas distrai a tristeza…
O que vejo… o que ouço…
Pouco capta a minha atenção…
Com quem falo?
Contigo… comigo?!
Talvez comigo e contigo em dialecto translúcido…
E se bebêssemos da mesma fonte de prazer…?
O meu filme abandonaria o terror e cairia na quimera do final feliz…
Seria seduzida a cada dia do ano…
E não de vez em quando…
Queria o meu inverno de calor e de amor…
Para espantar o gelo impetuoso deste verão…
Será que é preciso achar alguém para amar?
Destruir todas as fotografias?
Arrancar as memórias e as frases feitas?
Reencontrar no verde qualquer tipo de esperança?
Recusar-me a ver as barbaridades deste mundo que não escolhi para viver?
Ir para longe para saber (re)conhecer vida diferente?
Em desatino…
Em desalinho…
Em desajuste…
Conviverei comigo que é o mesmo que dizer que convivo connosco…