23 junho 2010

Verto sons de água...


Acredito nos sinais desesperados que se atropelam no meu (in)consciente.
É na vã esperança que um dia o BEM dê tréguas ao MAL, ou vice-versa, que já se me ultrapassa o que julgo serem as verdades universais…
Um simbólico aperto de mão, tenho a leve impressão que bastaria!
Atrapalha-me a presunção desconexa com a realidade, pela qual criaturas seduzidas por desfechos oportunos se deixam perverter…
Os excessos maltratam qualquer dissidente convicto.
No dilúvio de hipóteses que se me depredam, apregoam-se-me gritos abafados de vozes que de tão menores já não conseguem chegar a lado nenhum.
Longe, aumenta-se a voz dum piano rouco que me converte os sentidos em lágrimas…
A cada nota o entusiasmo envolve-me num estado letárgico em que alcanço o silêncio, mesmo entre notas de uma gravidade efémera…
O mesmo silêncio que desejaria não recuperar enquanto o mundo estivesse tão desavindo.
A meio de um processo criativo a filosofia das minhas estirpes são tão díspares, que me interrogo sobre a identidade do meu ser...
Já não sei se sou, sendo…
Se respiro, se vivo… vivendo…
Ou se alguma vez fui…
(emendo).

19 junho 2010

Adeus amigo das palavras soltas!



Se me lançasse a um ‘convento’ escreveria um ‘memorial’…
Nele constaria uma viagem, onde pegaria numa ‘jangada de pedra’ e partiria a Lanzarote… para viver o silêncio e não o vazio de uma vida que por ‘intermitências da morte’… deixou de respirar…

Partiu com a poesia das palavras incompleta…
Encontrava-se traduzido em 45 línguas…
Num ‘ensaio sobre a cegueira’ (portuguesa)…
Fez da palavra portuguesa Prémio Nobel de Literatura.
Limitava-se apenas a deixar a pontuação para o leitor aplicar na sua liberdade criativa…

87 anos chegaram para encontrar a paz…
Ou talvez para percorrer ‘a viagem do elefante’…
2010 não é ‘O ano da morte de Ricardo Reis’... mas da sua voz - José Saramago…

No último romance Caim, a amizade escreveu-me: «Lembra-te que a leitura de um bom livro é um diálogo constante em que o livro fala e alma responde…»
É nesta analogia que te escrevo e que me deixo entranhar na tua obra.
É da ‘caverna’ que presto esta singela homenagem ao ‘homem duplicado’…

E ‘Levantad(a) do chão’…
Digo-te: Até sempre amigo das palavras!

14 junho 2010

Mortes de alma...


E o tempo passou, mais célere que o habitual.
Bem longe das promessas que um dia foram proferidas…
Mataste a minha oportunidade de brilhar a teu lado e sermos um porto de luz…
Quem não morre, mata. Mas tu morreste e mataste a certeza que um dia apenas tu construíste.
Estava longe dum desfecho destes… Passando da vida real, à ficção…
São os filmes mais enigmáticos, aqueles que realçam as dúvidas que questionamos em silêncio.
E tu serás uma eterna dúvida, porque ao que parece alcançaste a vida eterna…
A chama imensa… E queimaste o amor que trazias no peito…
A ambição tem desses constrangimentos… Pode ser mulher…
Morres por um ser feminino sem vida, indiferente, triste, demente… com um rigor desmedido.
Poucas são as vezes que acerto no horário do amor.
O meu fuso horário está cada vez mais ultrapassado.
O ‘tic’ e o ‘tac’ já não dão as mesmas pancadas taxativas e pragmáticas.
É um badalo seco. Cansado. Abafado.
Morreste feliz ou contrafeito?
Será possível averiguar esse estado a instantes do fim?
Morrer é morrer. É o mais coerente ponto final incalculado.
É preciso morrer primeiro para te matar de vez.
Como se fosse preciso morrer para matar.
Entre enterrar um defunto e deixá-lo definhar-se até carcomer-se de vermes…
Prefiro queimar-me noutros fogos…
E renascer das cinzas…

08 junho 2010

Clã de amores da Lua


Oh Lua… que te fizeste mãe e mulher de todas as noites…
Oh lua… cheia… de graça…
Traz-me de volta o calor e a explosão de metamorfoses de mim…
Calibra-me as energias que de tão desfeitas não têm qualquer lado… positivo ou negativo…
Que a minha vida se ainda o é, é um ninho de nada…
(Gosto do dramatismo destas desconexas palavras trôpegas e autodestrutivas.)
Gostos dos eixos enquanto extremos latentes duma personalidade infame e desproporcional, filha da demência dum dia-a-dia, sem dia, sem noite, sem fio de claridade diurna de tão adormecidas que andam as pupilas… por trás de uma invisibilidade qualquer que visa aumentar a qualidade da visão.
- Mas de que visão falas?
- Daquela que conquantas vezes nada se enxerga… e a que a argúcia de um cego não falha…
Lua cheia de mim…
Lua cheia de vaidade…
Que as tuas fases não mais me dominem as vontades…
Que a culpa tem que pertencer a alguém.
Se mingas… minguo eu também… nas forças que se perdem de mim…
Se és nova… renovas-te… a cada dia, como se fosses capaz de renascer… todos os meses… cada vez mais bela… e intensa…
Esse ritual não te incomoda? Vens e vais… e voltas sempre…
És imensamente fiel…
Tens a tua fase crescente, resplandecente…
Em que a cada proporção te inundas de perfeição.
Quanta luz irradias?
Quantos incapazes acompanhas?
(Ooops… Acho que pensei um pouco alto ou a voz transformou-se em palavras gritadas…)
Quanta clarividência trazes às mentes mais despertas pela solidão da noite?
Quantas almofadas percorres, num transtorno de insónias?
Será que dormes à noite comigo ou te deixas conspurcar por todos os leitos…?
O meu ciúme será por ti contabilizado?
Acho que a nossa cumplicidade se perdeu…
Devolve-ma… Na omnipotência que te preenche de luz…
Que se faz escorrer pela escuridão de tantas noites densas…
Já vai alta a noite.
Já não tenho horas que se assemelhem a uma noite bem dormida…
Vou viajar pelos sonhos… se ainda tiver alguns por sonhar…
Espero encontrar a graça ou a desgraça de uma lua cheia de sonhos ou de um sonho singular desconcertante... (mas no bom sentido!)

07 junho 2010

Rostos caídos...


São rostos caídos.
Rebaixados.
Encolhendo a vergonha dum passado presente.
Como dar a volta por cima desta tentação que se julgou superior à vida?
Quando já se chora sem lágrimas, indagando o auxílio voluntário de quem vendeu a alma por troca de nada.
Passa-se por privações e provações mesmo quando a única liberdade se chama prisão.
Como reaver a dignidade e a força para viver?
Como encarar de novo um mundo que julga apenas em crucifixo os erros humanos?
Como elevar um ego destroçado?
Precisamos sempre de alguém para encontrarmos as nossas verdades e as nossas realidades.
Valorizando o amor de quem nos cuida e nos serve de suporte à alma.
O reencontro dum amor imprevisto e cuidado:
O amor próprio.
Afastando os vazios, recuperando as perdas e reabilitando o ser com a coragem da força de acreditar…
Mãos nas mãos, a esperança de um recomeço.
Em liberdade?
Em cativeiro?
Há que promover o ser, numa cooperação de vidas livres, numa integração plena de autonomia.