15 fevereiro 2010

Escritos intemporais

A Pessoa Errada

Pensando bem
Em tudo o que a gente vê e vivência e ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa para nós
Existe uma pessoa que se você for parar para pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é para na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa
Essa pessoa vai-te fazer chorar
Mas uma hora depois vais estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar teu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer para todo o mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo é que temos que viver
Cada momento
Cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo
É só assim.
É possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: “Graças a Deus deu tudo certo”
Quando na verdade
Tudo o que ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Para que as coisas comecem realmente a funcionar direito para nós…

Luís Fernando Veríssimo


É quando nos encontramos com o passado que encontramos respostas. Se é que é suposto encontrá-las… Encontrei este texto impresso porque na altura, quando gostava imprimia as coisas… tempos idos que deixam recordações… além das palavras, dos textos… os sentimentos são intemporais…

Tolerância Zero


Permitam-me que me manifeste acerca do tema eliminação da Mutilação Genital Feminina (MGF).

Conhecida por excisão dos genitais femininos, operação sunna, circuncisão feminina, corte dos genitais femininos, fanado, excisão, circuncisão faraónica, prática tradicional nefasta, ou seja, consiste na realização de diferentes tipos de cortes da vagina da menina, rapariga e/ou mulher, motivados pela religião, tradição e/ou cultura que lhes estão associadas.
Não quis ter vontade de conhecer esta transparente realidade. Não quis pensar ser possível a sua existência.
Melindrou-me ouvir de viva voz testemunhos densos, sofridos, ensombrados, acabrunhados, testemunhos denunciando uma tragédia pessoal, com acento tónico no género feminino, e quem me dera que o número fosse singular. Quem me dera ainda que a poesia da gramática fosse um adjectivo comparativo de igualdade e deixasse para trás superioridades e inferioridades, sem superlativos ocos.
140 milhões de mulheres por todo o mundo retraem-se, submetem-se a práticas seculares, a rituais intempestivos, subversivos, sem que a Carta dos Direitos Humanos seja tida em conta. Possivelmente, se lhes chegasse às mãos, também não a saberiam interpretar, quiçá por não a saberem ler.
Prosperam os monossílabos, tipificam-se as atrocidades, encolhe-se a perversidade das tenras idades, desprotegendo desde cedo as meninas mulheres. Prolongam-se práticas nefastas à saúde da mulher, bem como da criança.
Preciso de substantivos colectivos neste manifesto, adiando para sempre os irritantemente comuns, sem utopias concretas, absolutistas, quero substantivos derivados do esforço e dedicação pela erradicação deste flagelo humano.
Exijo pronomes possessivos, na tomada de posição pessoal. Pouco importa se os artigos são definidos ou indefinidos, se os sujeitos são determinados ou indeterminados, se os verbos são impessoais… Basta que existam.
Defendo a tolerância zero. Basta de reticências, impõem-se os pontos finais, sem admirações, sem prolongamentos e sem interrogações. Há que fraccionar os números, em numerais multiplicativos de vontades de assistir… apoiar… auxiliar… e denunciar…
Em Portugal, segundo o Código Penal – Artigo 144.º - Ofensa à Integridade Física Grave, é crime.
A mutilação genital feminina é uma ofensa punida pela lei portuguesa, com a particularidade de o ser mesmo quando praticada fora do território nacional.
Há que proteger destes perigos, há que denunciar numa sensibilização veloz e altamente altruísta.
Não importa o dialecto, o credo ou prática. Se é uma questão de formação, apenas importa o fim à sua privação.
Sou mulher. Sou jornalista. E deixo desta forma aqui o meu grito de indignação, o meu mero contributo.
Não se trata de recusar origens, mas de acabar com o sofrimento nefasto. Se ser-se feminista é proclamar o fim desta injustiça, assim seja, mas salvem-se estas mulheres de cicatrizes surreais de um qualquer imaginário…