11 agosto 2011

Por outras palavras...


«Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo pra mim é grande, não entendo como moro em um planeta que gira sem parar, nem como funciona um fax. Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, os dias passam rápido demais, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, ninguém sabe ao certo quem descobriu a cor. (Têm coisas que não precisam ser explicadas. Pelo menos não para mim). Tenho um coração maior do que eu, nunca sei minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada).
Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de Jornal Nacional, de lagartixa branca, de maionese vencida, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos dormem e acordam, nunca sei a hora certa. Mas uma coisa eu digo: eu não paro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei onde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre questiono se você está feliz, se eu estou bonita, se eu vou ganhar estrelinha, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim. Não gosto de meias – palavras, de gente morna, nem de amar em silêncio. Aprendi que palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força. E força não há de faltar porque – aqui dentro – eu carrego o meu mundo. Sou menina levada, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu… Escrevo escondido, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. E eu amo. Amo igual criança. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A-M-O. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Sem censura. Quer me entender? Não precisa. Quer me fazer feliz? Me dê um chocolate, um bilhete, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa. Todo dia é dia de ser criança e criança não liga pra preço, pra laço de fita e cartão com relevo. Criança gosta mesmo é de beijo, abraço e surpresa!»

Por: Fernanda Mello

02 agosto 2011

Feridas Expostas [VII]


A história repetia-se. Vezes e vezes sem conta. Como se o fio condutor de uma vida fosse mais viciante, que as dependências que teimam em seduzir os humanos…
Os avanços e os consecutivos recuos eram a marca ténue de oportunidades vencidas por prazos indeterminados.
Helena era irresponsável por natureza, achava que viver no limite era sinónimo de sorte, mas largas vezes se esquecia que estava a perder pontos no caminho da felicidade.
Uma vez perguntaram-lhe se ela era feliz, e o silêncio fez-se ouvir em ecos sucessivos.
Talvez nessa altura ela se tenha apercebido que as escolhas que tem feito, a têm manifestamente atirado para um beco sem saída, onde nem tempo há para conviver com a felicidade.
À medida que o silêncio subsistia, Helena soltava uma lágrima e outra, e outra, instalando-se um mar, num rosto que se afunda.
Aquela aventura de parar para reflectir sobre si, já não tinha piada. Nem sempre as pessoas se dão conta que os vazios, os desaires são provocados ironicamente por quem os pratica involuntariamente.
Todos querem a felicidade e se se observar a realidade, sabe-se que a felicidade existe sempre, só que com picos e frequências. Há alturas em que o sentimento se recolhe, mas porque também ele necessita de se abstrair do que provoca…
Aquele mar que lhe escorria pelo rosto era de um dia tempestuoso, bravio, aterrador. São necessárias efemérides imprevistas para que se acorde dos sonhos, que afinal se tratam de simples pesadelos mascarados de ilusões…
Poucos são os que se deixam tocar pelas verdades da vida. É mais fácil escapar-lhes a sete pés...!
O auto-domínio prevalece imune a qualquer inversão de movimentações ou estilos de vida.
Mas, até quando? Até ao dia em que as ignóbeis verdades se desfizerem diante dos olhos e, por vezes, já sem salvação possível.
Helena ancorou-se no caos de vida que promovera. Aliás, é recorrente o facto das pessoas se agarrarem a qualquer coisa, por mais minúscula que seja…
O conceito de felicidade atinge desproporcionais variações…
Não obstante, há momentos de felicidade que se destacam da facilidade de existir…
Daí que se coloque muitas vezes a sorte em pé de igualdade com a felicidade…

Imagem: Pensamento de Fernando Pessoa

01 agosto 2011

6º Aniversário [2005 - 2011]


A 31 de Julho de 2011, o VIVEMOS DE MOMENTOS cumpriu o seu 6º Aniversário!!
Para mim é quase, um caso improvável de longevidade!
Agradeço a passagem de todos os visitantes, desejando, claro, boas leituras... Seja nos textos já publicados, quer nos que hão-de vir...
Passem os melhores momentos neste aconchego de palavras.
E, apreciem a evolução 2005 - 2011...
[Podem acreditar que até a mim me surpreende!]

Um forte abraço,

Até sempre!