O Zezinho cresceu com o
encantamento da presença do Pai Natal e, chegada a proximidade da época
festiva, e vendo-se os seus pais na iminência de não conseguir corresponder com
os tradicionais desejos embrulhados pela idade, serenamente chamaram-no e
tentaram explicar-lhe quem verdadeiramente era o ‘Pai Natal’ que, ano após ano,
acertava nos presentes que tanto desejava receber.
Para aqueles e outros pais, o
dinheiro era pouco na carteira e os desejos dos miúdos são cada vez mais
grotescos. O valor que dão a um qualquer objecto é instantâneo e o que é certo,
é que mais dia, menos dia resultará obsoleto e/ou disfuncional.
Já lá vai o tempo em que se podia
comprar uma oferta a custo controlado ou até mesmo por uma ‘bagatela’…
Lembro-me do pai que dizia que recebia de presente de natal, uma laranja na
meia que deixava junto à lareira da cozinha. Hoje, é o avô que não percebe nada
de nanotecnologia, apenas de valores reais como a importância dos sentimentos,
dos pequenos gestos, dos verdadeiros presentes. Mesmo assim, os petizes lá
tentam com toneladas de paciência mostrar-lhes a operacionalidade desses
objectos, que acabaram por vir a participar determinantemente no dia-a-dia e se
assumem cada vez mais capazes de promover a individualidade e, por sua vez, a
solidão.
Diz-se que os avós são pais duas
vezes. Talvez estejam em vantagem na hora de transmitir a sabedoria que vão sustentando
ao longo da vida e que é muito pouco escutada pelas novas gerações. Todas as
vidas se completam num passado que vira sempre um presente. Quantos presentes
seremos capazes de oferecer a alguém, apenas com um sorriso? E quantos
presentes conseguiremos nós oferecer-nos, justamente por sorrirmos? Que a vida
seja sempre um surpreendente presente por desembrulhar…
O Zezinho do alto dos seus nove
anos manteve-se calado, entristecido. Era o quebrar do mito mais bonito que
acalentara durante anos. Os três abraçaram-se. Após o longo abraço souberam que
o amor que nutriam entre eles era o maior e melhor presente que aquele e os
próximos Natais podiam proporcionar. Tinham-se uns aos outros para criar um
presente feliz.
Entre pausas, vagueavam silêncios
incontroláveis que acolhiam as marcas de Inverno que trazem recordações de
menino, ao esmiuçar as memórias calorosas trazidas à luz do dia. É o imaginário
que recria a beleza do Natal e são as crianças que a (des)constroem.
Naquele abraço costumeiro
expressara-se o que as palavras são incapazes de transmitir. A alma gritava
incessantemente que o melhor do Natal pode ser reproduzido na infância trémula
de estórias do ‘faz de conta’, onde tudo é possível, até mesmo o mítico senhor
das barbas brancas!