28 maio 2014

Jorro d' Almas

Entrego-me a ti, meu desejo em fonte.
Em corpo de guitarra adormecida
Em água jorrada da alma.
Serenata oculta de música erudita,
Silêncios invertidos
Em pausas meticulosas.
Procrastinação.

Já não se soltam os versos…
Os verbos perderam os seus tempos correctos.
Canduras doutros tempos.
Rumo dos outros retorquido.
Meu não atendido.
Obstinação.

O lado de fora é o mais visível
O de dentro intangível.
Para quem passa…
Escolha de múltiplo vértice, 
Templo cúmplice, encoberto,
Dessa força, dessa raça...
Emancipação.

04 maio 2014

Este dia não voa mais…
















Era uma vez, uma pomba que jazia na pedra que coabita com a brisa do mar e a areia que a si se estende.
O pôr-do-sol seduziu-me a avistar o oceano de perto… No epicurista convite, deparei-me com o ritual que trazia e levava ondas em total desapego…
Sentei-me e fiz-lhe companhia, mas será que estaria eu a receber a companhia da silenciosa morte? Pensava eu que estaria a ser inconveniente… Inoportuna, talvez… Foram tantos os que se aproximaram junto daquele exemplar, que se a curiosidade existe, acredito que possa ser a solidariedade com aquela alma, o fio condutor… Já eu, permaneci!
Novos, velhos, ninguém lhe ficou indiferente… Nos que se aproximaram… Uns acharam que ela estava ali sossegada a meu lado, outros ficaram desiludidos pela sua quietude funesta.
Houve um senhor que há algum tempo observava, sentado, as movimentações e ‘peregrinações’ à pomba… Acabou por vir até ela, constatou a pior hipótese de perto. Comentou comigo, como aquela ave ficou ali tão sossegada. Ao longe parecia viva pela forma como estava aninhada. Achou curioso, como o macho lhe fez a corte e esteve em cima dela, em diversas investidas – Qual abutre da espécie…? Qual macho bravo primitivo? – Contemplou as anilhas que a levariam ao seu pombal… Ter-se-ia perdido dos seus? Estaria em competição?
Disse-me boa tarde e afastou-se…
Logo de seguida um ‘canito’ latia junto do seu dono, que suavemente examinava a pomba. Foi aí que vi que estava magoada junto a uma pata… Pousou-a, deixando-a à sua sorte…
Da brisa veio o vento norte furioso, que me expulsou da vigília involuntária.
Não cheguei a ver o sol a pôr-se. Aqui, nem o santo patrono das causas desesperadas e, ou perdidas interveio… Há momentos assim: “- fatais como o destino!” Como a minha mãe costuma dizer!

Amanhã será outro dia. Este, já não voa mais.