
A rebeldia da idade incapacitava-a de ver com clareza o que acontecia dia-após-dia.
Ela dizia que não precisava de usar óculos, mas também ninguém se referia a esse pormenor.
Rebelde vai ser sempre. Ver para além do ‘hoje’ é que já era difícil.
A sua maneira diferente de estar na vida fazia-a crer em mensagens como: “que a morte nos encontre vivos e a vida não nos mate.” E era bem verdade.
Além das consumições da vida, ela é consumida depressa demais para não a aproveitarmos e se possível da melhor forma…
Não gostava de relógios. Não gostava de contar o tempo que faltava. Que passou.
A espera pode ser dura, mas oca… mas também era passível de surpreender, contrariando as expectativas mais optimistas que na verdade são mais pessimistas que a tristeza dos dias cinzentos.
Apesar das conjecturas apontarem para os bons momentos, o ser humano é terrível. Prende-se à certeza e sonha com a incerteza.
Ela preferia a incerteza é mais instável e circunstancial. Circunscreve-se a uma possibilidade remota.
Fez a comparação mais parva da sua vida, quando se referia aos momentos menos bons durante uma conversa ao telefone com uma grande amiga, mas que ela achou perfeita: “na vida tudo é como uma varinha mágica… (aquela mesma da sopa…) pois PASSA TUDO!” Riram-se efusivamente. Aquela mensagem dita sem querer e na sua simplicidade tinha um misto de humor e realidade.
Temos pessoas que nos ouvem e isso é estupendo. Seja asneira ou disparate… Dizer tudo ou parte… Não interessa.
Estabelece-se o processo de comunicação. Transparece ali a ‘teoria’ do feedback, longe dos ruídos e das interferências alheias a Emissor de mensagem e consequentemente Receptor e vice-versa.
Teorias à parte… são as boas colheitas não do vinho, mas dos Amigos que se mostram tal como o voto matrimonial: para os bons e maus momentos.
E como se tropeça largas vezes nos laços tenta-se não esquecer aquela frase que diz qualquer coisa como: “never regret something that once made you smile.” À qual se acrescentaria certamente: “live life in every breath.”
Não era suposto ser introdução ou conclusão do livro de nenhuma vida. Ela ficava feliz por ser um capítulo ou até uma página de doce lembrança, na altura em que se relê. Ao longo dessa página ela e o mundo concluiam...
“A vida é tão curta e a tarefa de vivê-la é tão difícil que quando começamos a aprendê-la, já é hora de partir.”