
Ouviu-se um silêncio de morte.
O que se esperava?
Uma tragédia certamente.
E não estava enganado.
Era um silêncio gélido, balançante, que nem o zumbido de um insecto se ouvia.
Estava petrificado e sem saber o que fazer.
Não gesticulava com as mãos.
Não soletrava uma palavra… nem um gemido…
Era um silêncio de morte.
Tinha-me apaixonado.
E soube naquele momento.
Já não me sentia assim há muito tempo.
Adoeci.
Já não era o mesmo… fui atingido pela sua voz…
Pelo calor da sua presença.
E estava ali parado.
Saboreando a minha doce morte de vida só e pobre.
Apaixonara-me como um veneno que entra e teima em não desaparecer.
Da minha testa vertiam suores de delírio intenso…
Ela enfeitiçara-me apenas com a sua presença sublime.
Embruteci. Emudeci. Morri.
Acordara.
Tinha tido o sonho mais violento… mais desesperante…
Sentia-se perdido e confuso.
Transpirava imprecisões.
Tudo parecia demasiadamente real.
Abrira a cortina e ainda não tinha amanhecido.
Preparava-se para repousar mais um pouco.
As ideias fervilhavam em contradições.
Mas ele queria voltar a adormecer… e remar em busca das respostas do inconsciente.
Voltar àquele sonho que o deixara transtornado… enfeitiçado… preso.
Ela tinha desaparecido da sua vida, dos seus dias… dos seus sonhos…
Ele estava impaciente. Vivia obcecado com aquele sonho.
Procurava-a e não a via.
Chamava-a ela não ouvia.
Os anjos passam pelas nossas vidas, viram-nas do avesso.
E prosseguem no desfile de máscaras, impunes e alegres…
Foto tirada a 6 Janeiro 2007 @ Espinho