17 fevereiro 2012

Fragilidades do 'Agora'























É frágil a vida que me abarca. Corre a passos largos. Como um mar que avista a praia e se retrai nas ondas que depressa avançam e logo recuam, amedrontadas pela vaga de secura em que se podem transformar. Será assim que a água dos mares desaparece? Dever-se-á a essa claustrofobia da espuma que delimita em múltiplos contornos a areia salgada? Ou à singela evaporação por entre os grãos sedentos de sal?

A satisfação duns e a suspeição d’ outros. Os ingratos papéis das questões absolutas no seu esplendor.

É mais fácil perpetrar no balanço das ancas que escorrem o sexo desenfreado, que assumir a aurora.
“Somos atraídos para a escuridão, como as traças pelas chamas.” [Denise Hamilton] Num misto de fascínio e mistério, sem reações conclusivas. A noite sempre atraiu todos os sôfregos que se amam. É como se se alcançassem as estrelas e se possuísse a Via Láctea. É como se se equilibrassem arranha-céus em formas aleatórias. É não ter tempo para sorver a respiração alheia. É a paixão a expandir o seu próprio veneno em gotas que se evaporam no líquido encarnado que nos socorre. É estranhar o que de tão entranhado se apoderou do profano consciente. Qual droga potencia esta envolvência sem limites?

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” [Fernando Pessoa]

São estas fragilidades que autenticam que é tempo de abandonar a tendência de ver viver os outros. Viver é outra coisa.

Por mais séria que pareça a adversidade aguentar a dor é fortalecer. Desistir é adiar a questão. É necessária muita força. A que temos e a que nunca julgamos ter. É como se alguém alguma vez tivesse determinado que tudo iria acabar assim. E, dessa forma, ofendem-nos constrangedoramente. Sabem mais do que alguma vez soubemos.

Qual a porta de acesso a essa sabedoria?

A vida.

Promova-se, então, a vida em todas as suas esferas!