28 dezembro 2009

Vapores de um outrora como chave do 'hoje'...


Cala-se o freio dum comboio que deixou de calcinar e desbravar o ferro sólido dos carris…
Aquela noite não escutará qualquer outro zumbido da velha locomotiva.
Nem aquela nem outra…
Era o fim à vista duma história centenária… Sem lenha para continuar a arder.

Despedimo-nos a vapor…
O vapor que nos faz viver…
Segundo a segundo…
Numa respiração ofegante, deixamo-nos para trás e não ousamos olhar para trás, para não quebrar a promessa que fizéramos… Se olhássemos… Era certo que iria doer muito mais.
E éramos demasiado orgulhosos para nos deixarmos tentar por esse efeito…
Todos os dias se separa… a noite do dia… um minuto do seguinte… um momento do seguinte… um amor do seguinte… a vida da seguinte… a morte da seguinte…
Por quantas noites vou afastar o meu corpo do teu?
Quantos minutos terei?
Quantos momentos serão plenos?
Quanto amor teremos a menos?
Existirá vida depois de um ‘nós’ amalgamado?
Quantas vezes terei que morrer para te matar?
Quantos dias existirei sem ti?
É dessa ausência constante que tenho medo.
A quem interessa este meu segredo?
Ao silêncio que me basta.
À solidão que me ultrapassa.
A este definhar enfadonho…
A este ardil… de carícias fugidias…
A este volte face de sensações intransigentes e persecutórias…
À constelação de dramas tão universais…
Que vão de encontro a um… Coração. O meu.

Beijo-te…
Conforme beijo este Inverno infernal…
E sofro o sabor aguado… dum calor que se perde no acaso…
Pois nunca há maneira de o prever nem de o intuir dentro de mim…
Faltarão vínculos?
Ou lenha por queimar?
Que velha locomotiva esta…
Que com o tempo mais e mais… Se vai habituando a agarrar-se no sono àquele travesseiro que me leva aos sonhos… em que tu figuras igual… a um amor vivo… que não se perdeu, nem se esqueceu…
Em que naquele Adeus perturbador na estação de comboios… não viramos as costas… Pois não conseguimos ser indiferentes ao que sempre existiu…
Ao que sempre vivêramos…
E que se doutra maneira fosse… poderia existir, mas que como diria o anúncio… «não seria a mesma coisa»...
A linha destes comboios dificilmente mudará… poderá parar em várias estações, poderá tocar intensidades diferentes de velocidade, mas será sempre a mesma…
Nem sempre as mudanças nos acolhem de braços abertos.
Nem sempre as nossas expectativas se concretizam…
Poder-se-á esperar por períodos certos…
Sem nome… e sem qualquer identidade para que não se submetam aos compromissos das datas.
Mas arrancaremos esses tempos certos no passado, no presente ou no futuro?
Por mais que um concerto acústico seja desafiante e, a liberdade do momento entusiasme… por mais inédita que seja a pseudo-nova criação nem sempre terá o dom soberano de agradar na íntegra… Ainda que vários elementos comuns estejam presentes, a dissonância entre o convencional e o pseudo-(re)novado… acolhe a tendência sui generis de preferir-se o original… o original tem sempre mais gosto… As réplicas nem sempre…
É por isso que me recrimino quando o não consigo ser…
Ou provavelmente… quando penso que não o fui…
Ser-se genuíno está fora de moda… O que me assusta.
Não me parece grande ideia ser-se mais do mesmo…
Muito embora ‘mais dos mesmos’ é o que mais sobra por aí…
Se calhar é mais fácil ser-se assim…
E não de outra maneira…
Diz que a tecnologia ainda não atinge a personalidade…
E apesar de se mudarem tempos e vontades…
Ser ou não ser nestas questões sugiro que definitivamente não seja posto em questão…

11 dezembro 2009

Chuva de memórias de neve...


O chão escorregou-se-me dos pés…
A chuva caía…
A neve derretia…
E o frio de Inverno trespassava qualquer tecido que me cobrisse o corpo.
Entrei esbarrando-me contra todos os objectos assimétricos que enchiam aquele hall de entrada…
Só pensava em aquecer o corpo… se bem que a alma estava como de costume petrificada na insensibilidade enregelada.
Neste tempo bate-me à porta a melancolia…
Ou será que és tu a bater-me à porta?
Entre aquelas paredes caiadas de cores fortes, escondiam-se segredos…
Escondia-me eu… num vácuo profundo… que me tentava conservar a esperança doentia que sempre me encarcerou os sentidos.
Chegas sempre depois de mim.
Mas naquele dia a solidão estava mais transparente que o habitual.
Não precisava de mais calor senão o que a tua presença é capaz de oferecer.
Depois de um duche quente… Acendi a lareira do quarto.
Estava farta dos aquecimentos artificiais.
Dei por mim a olhar cada labareda… quase que hipnotizada…
O que esconderá este ritual?
Madeira fêmea…
Fogo másculo…
Fazem amor descontroladamente…
Amam-se num período de tempo fugaz e efémero…
Fundem-se num só…
E acabam arrefecidos e desfeitos…
Não sobra nada… apenas as memórias mortas.
É assim, não é?!
Deixei-me envolver no calor daquele amor descontrolado e entorpecida deixei-me levar pelo sono…
Todos somos testemunhas do amor dos outros e vítimas da sua confirmação.
Sombras de luz vagueavam sobre as paredes vazias, como se as preenchessem num desenho animado…
Aquelas imagens estavam ainda tão presentes no meu inconsciente que acho que as recreei numa espécie de versão romântica… mal sucumbi ao fascinante mundo dos sonhos.
Julgara eu que escorreguei… mas foste tu que me deitaste ao chão num passo de arte e mestria tal, que tinha pensado que tinha caído sozinha…
Olho para trás e por entre a chuva que teimava em cair vejo-te sorrir, apático, enquanto a custo me levanto. Falhavam as forças e não resistia… a parar o riso... É sempre assim só nos rimos do mal, mesmo quando o cenário nos inclui.
Abri a porta da entrada e tropecei no tapete, quase caía novamente… lá fora deixava a neve, o frio e a chuva daquele dia.
Trocámos beijos apaixonados… e cúmplices…
Aquecíamos e esquecíamos aquela atmosfera gélida que ficou para trás, mal se fechou a porta!
O coração batia aceleradamente…
Estremecíamos… com o prazer do reencontro…
A nossa casa escondia o que éramos um para o outro.
Muito mais do que podíamos imaginar…
Enquanto ateavas o fogo, preparava o vinho e o sofá.
No conforto dos nossos corpos erigimos mais uma epifania luxuriosa, avar…
Invejávamos o tempo que passava incessante sem estarmos juntos e mantínhamos o orgulho ao nos omitirmos.
Caíamos na ira da paixão desenfreada…
Em formas de gula de amor eterno…
Os artifícios das nossas vidas cruzavam-se com a preguiça dos nossos períodos estivais correntes...
Nas quatro estações vingávamos pelo assalto aos sete pecados mortais.
Num fogo que se satisfazia a arder…
Diante de um calor intenso,
Os nossos corpos eram chamas imortais, que jamais dariam tréguas…
Não seria um qualquer vento ou uma qualquer vaga de frio que nos faria vacilar.
Acordei com frio. Vi-te a olhar-me enternecido…
Balbuciava gemidos tropeçando nas poucas palavras roucas que conseguia emitir.
Fez-se um silêncio em tom de pausa e calaste-me com um beijo ternurento.
Sussurraste-me docemente ao ouvido: Feliz Natal…
Não mais transparecia a solidão. Aquela divisão da casa, não estava mais ‘dividida’. Assim como o coração se enchia de amor, igualmente a casa estava preenchida…
Voltaste a acender a lareira… Tinhas mais jeito que eu, admito.
Sem subterfúgios vivíamos a vida construindo permanentemente histórias tão nossas…
Amamos num período em que o tempo é fugaz e efémero…
Fundimo-nos múltiplas vezes num só…
Restam-nos e esperam-nos complexas metas.
Arrebatas-me dia-após-dia…
Quero perder-me no contacto com a vida…
Que renasce a cada reencontro.

05 dezembro 2009

Tempo de ciúmes... II


Redigi as mais belas palavras naquele papel sinuoso…
Entre altos e baixos deixei o negro da tinta perpetuar a fome dos dias apaixonados…
Reuni os sentimentos mais densos, desenhando letra a letra o amor que me desvirtuava os dias.
O brilho no olhar era permanente como a tinta rabiscada naquelas peculiares folhas…
Abri os braços e deixei-te entrar no meu peito…
E esse foi o meu único despeito.
O ciúme vacilava a cada imagem que não querias entender…
Estendia-se o intento da imprecisão de sentir.
Curavam-se feridas tamanhas…
Ou vivia-se nessa ilusão…
Concorríamos com os males dissidentes…
Mas que se uniam no fim…
Confiamos promessas peremptórias…
Mas é um vazio de nada o que agora temos entre os dedos…
Já não te confio a voz.
Perdi a força de te avistar…
Não mais iremos conquistar a paz de outrora…
As noites… que se rendiam à aurora…
Acordávamos com sons estrépitos que não consigo decifrar…
Estar contigo…
Fazia-me perder o controlo sobre o tempo…
O nosso amor… era arrebatador e cada fragmento, sinónimo de vida…
Perdemos a confiança um no outro.
Perdeu-se tudo…
De tanto que se perdeu, destruiu-se simultaneamente tudo…
Hoje nasce um tempo presente…
O ontem esvaiu-se na escuridão de uma noite densa, pesada e sem luar…
Ontem e todos os ‘ontens’ de outrora…
O que ficou de mim…?
Perscruto nos espelhos da alma…
São imagens turvas, distantes e quase perdidas…
É como se encontrasse um emaranhado de memórias desconexas que se assemelham à aleatoriedade de um baralho de cartas não viciado…
A cada carta, uma imagem diferente, um pensamento desordenado…
E, à medida que o tempo se forma enquanto passado…
Mais dúvidas me socorrem relativamente às prioridades que de verdade o são.
Nessa teia displicente tudo parece ao acaso e as minhas intuições caem por terra.
Sem respostas. Cem respostas me (des)encontram…
E tudo continua exactamente na mesma…
Devemos fazer cedências… sem esquecer que foram feitas.
Talvez a paz que procure esteja no silêncio que me recuso a atravessar.
Faço pausas infrutíferas.
E, unicamente consigo elevar o impasse e hesitar nas horas de decisão.
Cobro as minhas inseguranças com impulsos que se revelam correctos…
Se não for mais nada… É o alento a descoberto…
Cubro-me por entre mantos de esperança,
Escondo-me na vaga de angústia que me acolhe, vivendo um tempo asfixiada na dor de respirar…
Queimam-se velas que trazem o perfume de fragrâncias debeladas…
Arde um fogo que me consome pouco a pouco as já parcas forças…
E esfuma-se a débil lembrança de ti…
Restam cinzas de ciúme.
Mágoas que me deixam imune aos corredores de chamas que percorri.
Fica uma névoa a sobrevoar o passado…
Grotescos raios de sol oriundos do presente resplendecem, anulando a angústia encoberta.
Pouco a pouco…
Redobro esperanças…
E… Sacudo esse tempo que tanto me acorrentou…
É assim que coabito com as mais insistentes e teimosas forças que a natureza me deu.
As raízes desta alma estão cada vez mais integradas num ser que se recusa a ceder às selvagens quedas de água…
Acampo no dorso da imprevisibilidade dum tempo que se vê repartido em estádios desnivelados de vida…
E a cada sopro marco encontro com todas as esperanças que julgava esquecidas nesta fraca composição de mim…
Reinvento paisagens proibidas, miragens desinibidas e viajo indiscretamente pelo teu inconsciente abrigo…
Este estado de endeusamento colhe a febre das férteis emoções…
Às quais se me assiste a dúvida apoteótica que tanto me sacode os sentidos…
Porque desaparece o tempo?
Suspeito da sua inveja pela sua constante solidão.
Puro descrédito enciumado.
Quereremos nós espantar o tempo ou estará ele continuamente a espantar-nos a nós?
No meu universo, as interrogações vão beber à fúria das ondas de mar de Inverno…
Onde as esperanças concorrem a par com as (des)venturas dos temporais…
O momento a que me obrigo é de um irreversível Carpe Diem…
Recuso-me a confiar num amanhã qualquer que apareça escoltado por uma sombra longínqua de incerteza…
E socorro-me dos fragmentos de segundo categóricos que deliberam a cada instante… o último sopro de vida...

17 novembro 2009

Tempo de ciúmes...


Coabito com as mais insistentes e teimosas forças que a natureza me deu.
As raízes desta alma estão cada vez mais integradas num ser que se recusa a ceder às selvagens quedas de água…
Acampo no dorso da imprevisibilidade dum tempo que se vê repartido em estádios desnivelados de vida…
E a cada sopro marco encontro com todas as esperanças que julgava esquecidas nesta fraca composição de mim…
Reinvento paisagens proibidas, miragens desinibidas e viajo indiscretamente pelo teu inconsciente abrigo…
Este estado de endeusamento colhe a febre das férteis emoções…
Às quais se me assiste a dúvida apoteótica que tanto me sacode os sentidos…
Porque desaparece o tempo?
Suspeito da sua inveja pela sua constante solidão.
Puro descrédito enciumado.
Quereremos nós espantar o tempo ou estará ele continuamente a espantar-nos a nós?
No meu universo, as interrogações vão beber à fúria das ondas de mar de Inverno…
Onde as esperanças concorrem a par com as (des)venturas dos temporais…
O momento a que me obrigo é de um irreversível Carpe Diem…
Recuso-me a confiar num amanhã qualquer que apareça escoltado por uma sombra longínqua de incerteza…
E socorro-me dos fragmentos de segundo categóricos que deliberam a cada instante… o último resfolego.

12 outubro 2009

Palavras minhas...

Há quem reaja às minhas palavras.
Dizem que para a minha ‘idade’… não devia escrever estas coisas, mas no fundo será que sabem que não serei bem eu quem escreve estas coisas?
Vejamos… Era incapaz de reescrever o que quer que fosse que para aqui anda…
O conjunto de palavras reunidas vertem almas, forças, rigorosamente autónomas.
Outro dia li que uma escritora da nossa praça a partir dos 9 anos lia coisas que não seriam de acordo com a sua idade e depois começa um percurso literário irrepreensível e não menos invejável…
Não penso que seja diferente ou tenha que ser diferente. Ou que porventura haja uma única via que caracterize quem escreve. Escreve-se e ponto! E quantos anónimos passam pela vida anónimos?
Sei que transmito uma impaciência interior, a tal ‘agonia’… que ‘alguém’ apelidou…
Gosto de traduzir essas interpretações por meros ‘sentimentos’… Sentir as minhas palavras e viajar junto delas… É como se elas fugissem de mim, em ordem a entranhar e incluir quem as lê… Uma partilha à qual está subjacente uma identificação…
Acham que falo da minha tristeza, das minhas fatalidades, das minhas misérias, dos meus descréditos, das minhas tormentas…
É certo que algo virá de mim… Mas quem escreve tem um processo de composição tão complexo quanto íntimo com a imaginação…
Como explicar palavras tão profundas? Mensagens tão eclécticas ou o ponto final que brilha certeiro?
São questões inexplicáveis. Garanto.
A todos quantos ‘me’ visitam deixo um agradecimento sentido…
Quero dizer-vos que todos temos um fado…
E sentimo-lo vida fora… é a nossa raiz mais profunda… E se do nosso fado passarmos ao fado música, sabemos o quanto este canto nos afaga o coração… E o quanto liga a nação… a todos quantos partem deste recanto tão nosso…
Além-fronteiras todos se rendem a esta sonoridade que alterna a alegria vivaz, à tristeza voraz…
Afinal o desespero das melancólicas dores da alma também se manifesta positivamente em forma de arte…
E se quiserem uma resposta para ser assim?
Também existe.
Sou Portuguesa.

02 outubro 2009

Vidas de luto...


Já não somos duas almas caídas… somos alguém que não faz sentido longe.
Demos o passo da independência múltiplas vezes e voltamos sempre a insistir na teimosia exacerbada dos egos tolos…
Já não sei que nome lhe atribuir…
Pois de tanto coleccionar vontades,
Tornei-me mendiga.
E de tanto chorar,
Fiquei sumida…
Já esqueci a felicidade de escrever histórias de amor…
As próprias letras já não se reúnem, concorrem umas com as outras avidamente.
Estou num conflito pesaroso…
E, nem os filhos da escravidão penam tanto…
Sei que são palavras sem nome… sem sentido…
Sei que sinto a solidão no meu braço esquerdo…
Porque o direito te estende sempre a mão…
Quero-te infinitamente…
E não apenas o diário de ti, que escreves superficialmente…
Morreria por ti…
Saltaria dum penhasco para te libertar a alma…
Libertaria as amarras e os laços fortes que plenamente me possuem.
Porque sempre acreditei na força que não tenho, mas que se oferece ao meu chamamento…
Acredito no gelo que me congela os gestos mais incomuns na hora certa.
Sem que o negro da noite e o escarlate do pôr-do-sol me vistam os sentidos.
Dispo-me do que não gosto em mim, visto-me num quadrante de harmonia e sensibilidade…
E apenas sinto saudades das franjas da idade…
Das orlas que para trás ficaram…
E das ondas que vieram ao meu encontro e partiram, sem nenhum revés.
O que calço… o que visto…
Apenas distrai a tristeza…
O que vejo… o que ouço…
Pouco capta a minha atenção…
Com quem falo?
Contigo… comigo?!
Talvez comigo e contigo em dialecto translúcido…
E se bebêssemos da mesma fonte de prazer…?
O meu filme abandonaria o terror e cairia na quimera do final feliz…
Seria seduzida a cada dia do ano…
E não de vez em quando…
Queria o meu inverno de calor e de amor…
Para espantar o gelo impetuoso deste verão…
Será que é preciso achar alguém para amar?
Destruir todas as fotografias?
Arrancar as memórias e as frases feitas?
Reencontrar no verde qualquer tipo de esperança?
Recusar-me a ver as barbaridades deste mundo que não escolhi para viver?
Ir para longe para saber (re)conhecer vida diferente?
Em desatino…
Em desalinho…
Em desajuste…
Conviverei comigo que é o mesmo que dizer que convivo connosco…

30 setembro 2009

4º (Quarto)...


E passa a hora do sono…
E acordo e adormeço…
Ébria, desacordada?!
Esqueço sonhos ou pesadelos?!
Serão movimentações de sombras do meu inconsciente curioso e impaciente?!
Quantos fantasmas me assolaram?
Quantas almas me trespassaram a vida?
Transpiro o terror de uma noite infernal…
Há noites mal dormidas.
Há noites desavindas.
Há noites sem qualquer ponto cardeal…
Apenas com ventos que sopram…
Estou desnorteada…
É a noite que chega,
É o dia que já se apagou.
É a falta do calor do sol…
É o arrefecimento do corpo que já não tem nada mais para desbravar naquele dia e se entusiasma com os arrepios do silêncio.
A temperatura sobe com o calor dos aconchegos...
Mas o vazio continua ali fechado entre quatro paredes.

28 setembro 2009

Quanto vale uma vida?


Um adeus será mesmo para sempre?

É tempo de revisitar o presente, com um jeito de compaixão. Já não perdoo a tua ausência. Apregoo-a… junto da rosa-dos-ventos…
Tantas nuvens… no meu céu. Avizinha-se uma tempestade tão redutora quanto renovadora do espírito. Diz-se que “depois da tempestade vem a bonança”…
Gentilmente aguardo um raio de sol sobre o meu rosto que me induza no calor da vida esquecida que tem partido ininterruptamente.
Pensei que tudo se endireitava num curto espaço de tempo, mas à medida que o tempo passa, as dívidas do contrato com o tempo da saudade fartam-se de crescer, mesmo quando recordo as artimanhas dos nossos sorrisos coniventes…
Os meus olhos cospem lágrimas de desolação…
O que me leva a ti?
Todas as palavras que não consigo vociferar…
Palavras ocas.
Palavras dolorosas.
Palavras sem capacidade para serem proferidas de tantas feridas reterem…
Aí, voltamos ao tempo... que se encarrega de mostrar os caminhos suturadores da vida.
E, num circuito vicioso… fazem-se contas ao tempo imperfeito de um imprevisível adeus…

22 setembro 2009

Contas sem exactidão...



Quantos suores frios…
Quantas fissuras no âmago de um ser desprotegido e frágil…
Quantos ‘nãos’, não quis admitir…?
Quantos ‘adeus’ quis protelar…?

Quantos momentos julguei impossíveis e imprevisivelmente ocorreram e coloriram a minha vida?
Quantas lágrimas de felicidade escorreram de amor…?
Quantos planos replaneei…?

Quantas vezes temi o esforço para alcançar o limite do meu céu?
Quanto tempo passou sem que me apercebesse do amor que me acolhe…?
Quantas vezes olhei um oceano de prata para me afastar do que já se tinha esgotado e era apenas eu que não o havia alcançado…?
Quantas vezes as minhas lágrimas se perderam no seu leito?
Quantas vezes a imensidão do céu pareceu cair sobre mim?

Quantas vezes as minhas criações se decompuseram…?
Quantas vezes a minha voz se cala e foge das palavras e dos sons?
Quantas vezes as minhas mãos tocaram o céu e o chão?
Quantas vezes o desequilíbrio me manteve de pé?

Quantas vezes multiplicarei sorrisos?
Quantas vezes aguentarei a fúria de um olhar penetrante?
Quantas vezes terei de repensar o que fazer comigo?
Quanto tempo terei para:
Somar…
Multiplicar…
Dividir…
Subtrair…
E… (r)escrever histórias…?

21 setembro 2009

Mais um... Até Sempre...


Não te vejo em cores
Não te conto em versos…
Não te sei perto…
Faz-me falta sentir que estás vivo.

Vejo somente uma escuridão imensa…
Uma névoa de recordações prazeirosas…
Um dia sem cor…
Um nevoeiro constante que me impede de te tocar, por não te ver.

Sei que te tenho no peito
Guardado em tom de alegria…
Sempre me fizeste feliz…
Essa era a tua magia…

A cada instante a ternura…
Nos abraços…
Nos sorrisos…
As tão delicadas cumplicidades…

Ensinaste-me a ser feliz…
Deixaste um pedaço do teu coração no meu…
E por isso sou mais feliz…

Dá-me a tua mão e guia-me…
Sê uma inspiração como sempre foste…
Sorri. E afaga-me os cabelos nos teus braços…
Leva-me pela mão…
E faz com que o caminho que eu percorra seja o sonho que sonhaste para mim.

Posso fazer-te um pedido?

Embeleza este momento caiado de sombras ocultas…
Traz-te p’ra mim… Agora.
Para Sempre…

Sinto a TUA falta…

... sempre que te procuro... as lágrimas são mais autónomas que eu!!!

15 setembro 2009

Solta-se a tampa...??


Este coração obriga-se a estar vazio.
Despojado de alma… De corpo que já não sente…
Um pavio que já não se quer queimar… porque a essência já se perdeu…
É uma cera neutral… sem odor… que se limita a aquecer e a dissipar-se…
Será que algum dia despertará para a vida que o espera?
Ou dormitará etereamente…?
Seguirá exclusivamente o caminho do mundo dos sonhos, beijando lábios… e abraçando almas…? Conseguirá dissociar-se dos ‘outros’?
Inevitavelmente atesta-se um veredicto recorrente e cúmplice…
Quantas vezes se foge… para não se comprometer o espírito…?
Tudo o que é fácil não demonstra grandes desafios, mas vale-se pela segurança que afiança.
Estes pressupostos são tão desajustados, quanto erróneos…
A perfeita dúvida existencial da escolha que nem sempre é a mais correcta…
A sabedoria empírica é sempre tão desajustada.
Sempre tão pragmática.
E não menos imprevisível.
Vamos fazer caretas ao amor?
E ser marionetas do coração que não se predispõe a obedecer-nos?
Pode ser???

A tampa que salte…
Os macacos do sótão que entrem em época estival…
E que toda essa euforia resulte em felicidade…
Até porque sorrir a tempo inteiro, vai mostrar como um letreiro:
Reflexos de amor sem idade…

13 agosto 2009

Give me hope...


Alguém escreveu que as cartas de amor são ridículas, mas mais patético é descrever sentimentos de amor para alguém que não existe (ou será tudo isto uma confusão de vontades, de pensamentos e de pessoas?!), mas que podia fazer parte da nossa vida. Ser o nosso mais valioso presente. Será que não era assim que devia ser?
As pessoas perdem muito tempo a tentar ser felizes quando o podem ser tão livremente… tão prontamente…
Quantas palavras de amor já te escrevi? Quantas 'cartas'?
Deixo-te mais uma…

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Há sempre algo que me leva a ti.
Sempre com uma energia invulgar…
Sem que passe muito tempo.
Acho que te conheço o suficiente para te deixar habitar os meus sonhos.
E mesmo que não deixe, lá acabas por aparecer…
Preenches-me tanto na tua ausência e tão pouco com a tua presença.
Quantas ambiguidades terei de testar, para sentir o calor do teu abraço outra vez…?!
E quantas mais vezes irão soar as notas daquele piano melancólico e excessivamente dramático… Não te quantifico, porque prefiro a imprevisibilidade de notas fiéis ao batimento dum coração pseudo desajustado…
Quanto mais te vivo, mais te tenho em mim.
E constato que talvez seja mais frágil do que pensaria.
No teu olhar encontro-me…
Tão… inexplicavelmente segura.
As tuas palavras salvam-me as fraquezas do ser…
Levemente inspiro e expiro momentos de felicidade quando estou contigo.
Não preciso ser nada mais nem nada menos do que verdadeiramente sou…
Quanto tomamos vida em sonhos, tudo é possível e tudo parece estupidamente real.
As pausas dos nossos resfôlegos…
Os silêncios das nossas vozes…
Os passos descompassados…
Os risos descompensados…
Tantos momentos de amor avassaladoramente acelerados…
Talvez sejas tão ou mais frágil que eu…
E confesso que não suporto ver-te cair como uma folha em pleno Outono incapaz de viver…
Sei que isto é muito mais que um mero vínculo adiposo…
É não conseguir reagir ao veneno que me entranha os sentidos.
E mos faz perder lentamente…
Era assim que sonhava o amor.
E… podia vivê-lo contigo.

10 agosto 2009

Is just my imagination...


Há coisas que só vemos na imaginação. Essa doce e sublime viagem que fazemos ao que há de mais distante de nós, sem que um qualquer livro tenha alguma vez escrito esse capítulo, sem que um filme alguma vez tenha recriado essa cena…
São imagens muito fiéis, são vontades íntimas, que não sei se algum dia acontecerão, num cenário mais ou menos aproximado da realidade dos meus delírios (se é que existe uma definição concreta que descreva pensamentos dissonantes).
Às vezes sinto tão veemente os meus pensamentos que temo pensar se são eles que vivem de mim, se vivem em mim ou se sou eu que vivo deles… E quando não tenho respostas reporto-me aos meus silêncios ou simplesmente resguardo-me nestas imagens de realidade que me atraem e despertam para a vida que existe em mim e nem sempre é manifestada.
O que é que vivi? O que faltará viver? O que é que simplesmente nunca será realidade?
Existirá uma fórmula matemática capaz de equacionar o que o tempo que me resta me vai proporcionar? Poderei potenciar momentos de alegria divididos com o meu mundo?
As cores das interrogações, por tudo o que elas poderão representar, fascinam-me. E… bem que costumo ter respostas, incisivas e rápidas.
No meu ideário de fantasia coabitam vários personagens, locais… Ao meu redor poderia constituir várias peças de teatro, vários filmes, vários livros… Poderia segmentar as minhas estórias e adorná-las em forma de arte por aí…
Quem sabe um dia…
Já vi tantos sonhos materializados… (Sim. Aqueles sonhos que temos durante a noite… em que avisto respostas para incompreensões inconscientes que me vagueiam o sono ou, por outro lado, me confundem mais. Chamar-se-á dormir comigo?)
Várias situações já tomaram forma na vida real e com os olhos bem abertos… é por aí que às vezes explico os meus ‘dejá vus’… (Será pelo menos a explicação mais razoável que encontro.)
De olhos bem abertos, acerco-me de momentos sonhados (tanto de carácter de sonho como de pesadelo… afinal, um pesadelo não deixa de ser um sonho…)
Reajo a estímulos dedutíveis… Questiono-me inúmeras vezes onde começa e onde acaba a realidade… e se o meu ‘quinto andar’ se encontra devidamente arrumado.
A imaginação flui…É fértil em investidas de diagramas de emoções que sinto sem sentir, já sentindo… Quantas vezes sorrio…? Já perdi a conta.
Para quem a solidão e a saudade estão tão presentes, serão estas as melhores alturas de viver ou quiçá as possíveis…
Pensar que as minhas “desordens” são comuns a tantas almas que pairam por aí…
Condenar-me por elas, quando são elas que me instigam o ser…
Acho-me em excessos e em extremos de mim…
Calculo que não sou nem mais nem menos que isto.
Subtraio apenas as equações do futuro, porque não conseguirei sobreviver à linha do infinito…

21 julho 2009

Descansa estrelinha...


Caem-me lágrimas comovidas… ao pensar-te… ao julgar-te… ao lembrar-te…
Não voltaremos a estar contigo. Mas marcaste cada um de nós pela excentricidade, fúria de palco, pela tua arte… Eras um verdadeiro entertainer…
Ainda mal consigo acreditar no que aconteceu.
Quando ouvi a notícia, não sei se não quis acreditar ou se estaria a delirar…
Um deus da música não morre, é um artista que deixa um legado fabuloso de memórias com ritmo, espectacularidade e sobretudo muita VIDA.
Lembro-me de há relativamente pouco tempo perguntar o que tinha sido
feito de ti?!
E obriguei-me a procurar-te… e sempre te (re)encontro.
De tantas versões que já ouvi da SMILE, apenas a tua me encanta… pela
tua magia na interpretação… (Era a tua música favorita. Seria isso?!)
A tua voz angelical…. Tão peculiar…
A Brooke disse tudo… na sua terna descrição de ti… (por esta altura)...
Imaginar-te-ei sentado num quarto crescente, com uma cana de pesca, com a ingenuidade no sorriso de um menino a pescar estrelas...
Sempre foste um menino, nunca cresceste, viveste como um anjo no teu mundo dos pequeninos, “Terra do Nunca”…
A tua projecção foi enorme… toda a gente te conhece… e tu algum dia te conheceste? Tiveste a real noção do que és… do que representas?
Ou simplesmente limitaste-te a viver-te… como o comum dos mortais?
Foste tudo… foste nada… para quem realmente ‘foste’, és e sempre serás…
Povoaste o meu corpo em vários passos de dança… Sim. Porque eras tu que entravas dentro de mim e soltavas os meus passos… cada movimento e trejeito do meu corpo… absorvia a mestria do teu talento…
Deixaste-nos. Mas não em tom de abandono…
Deixaste uma dívida que não escapa indiferente a ninguém…
A SAUDADE.
Nós é que ficamos mais pobres…
No ‘SEGREDO DOS DEUSES’… fica a pergunta… o que viria por aí…?!

06 julho 2009

Memórias de Mel...


Mel…
O doce néctar que subtraio das recordações presentes desses dias de sol intenso, sem nuvens, com um mar imenso e sorrisos… gargalhadas… e mais sorrisos…
A cada pôr-do-sol vislumbrei a gravidade dum calor incomensurável…
Não de tempo, mas do espaço que não existe quando a alma se completa…
Que mentira doce…
Que desejo inconsistente de voltar ali…
Na minha imaginação recrio persistentemente todas as memórias…
Voltarei ali todos os dias em que a lembrança me invada e o sorriso me acompanhe…
A felicidade chega a ter o dom da imprevisibilidade.
Não sei se deva sonhar um pouco mais… para variar desta realidade que conscientemente não escolhi.
Que doce mel encontrar momentos de vida perdidos por aí.
E o que fica do passado é o que volta a ser presente.
E a gente sente… sente… sente…
Como se da primeira vez se tratasse.
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Nos álbuns restam fotos, de tempos jamais esquecidos.
Imagens de rostos quentes, que aqueceram os dias mais incoerentes…
Era um grupo de crianças, que entretanto foi crescendo.
Perdi o rasto de algumas, muitas viveram somente para si…
Cada uma terá uma história para contar…
E essa será a sua história.
Houve um tempo em que a história era nossa…
Em que várias histórias se cruzavam numa comum…
Na altura só havia uma palavra capaz de definir a nossa ligação: Perfeição.
(ao que parece ela existe…)
Voltar a encontrar caras queridas, algumas esquecidas é reaproximar as nossas vidas…
Prontamente, vos espero, porque foi o acaso que nos reuniu a vontade.
Quero escutar as vossas vidas…
Saber todos os pormenores que marcaram os tempos das ausências cerradas de cumprimentos…
Vislumbrar o que o tempo nos fez…
Estaremos perto?
Estivemos perto?
Quantas viagens ficaram para trás?
O que é que essa vida fez de nós?
Quantos de nós estiveram sós?
Retomemos o que nos juntou…
A ingénua amizade da juventude.
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Tanto que não sei desta gente.
Tanto que se perdeu…
Quero regressar ao íntimo possível dum tempo que não tem que acabar…
E quiçá consolidar cada segundo que passe… porque são esses mesmos segundos que são construídos sob forma de encantamento… para a alma… enriquecendo cada um de nós…
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Reúna-se tudo o quanto é possível para que recuperemos um pouco da mística que nos encerra…

22 junho 2009

Horas vazias de alguém...


Algema de Ponteiros

O tempo não tinha esquinas, degraus de tropeçar, fechaduras de segredo.
O tempo não magoava, o tempo não traía, o tempo nunca feria o medo de não o ter.
Não era preciso fazer durar o tempo; o tempo já era a duração de si próprio.

Naquele tempo, a voz não tinha pressa, cada passo falava com a terra, cada dia era um dia, e não o antes da noite.

Encosto-me num recanto da cidade, observo, em pasmo, o correr cinzento das gentes, e dou por mim, virado criança, a andar lentamente pela berma do passeio.

Que é feito do tempo de ter tempo?
Que é feito do beijo das horas?
Onde está o mel da demora que barrava o pão de cada dia?
“O homem é dono do tempo”, disse alguém.
Mas quantos são os donos do tempo?

Tive poucos relógios em toda a minha vida.
Não gosto de sentir no pulso uma algema de ponteiros.

Autor: Emanuel Jorge Botelho

31 maio 2009

Crepúsculo...


Tenho sempre a mais ténue lágrima para ti…
Brotando num lusco-fusco que a mim confias…

Tens habitado em mim solenemente…
E entre rasgos de recordações…
Gotejam esperanças lânguidas…
De memórias destruídas…
Que me impedem de abandonar-te…

Já não distingo as realidades proporcionadas pelo meu alter-ego.
Estará ele tão distante de mim?
Planeará ressuscitar-me para o que existe?
Será mero acaso do esquecimento?
Ou serão tons agudos de dor silenciosa?

Apetecia-me deter as dúvidas,
no teu rosto e nas tuas palavras…
Queria que o manifesto fosse proferido através da mais profunda expressividade que jamais poderei ler…
Se a fatalidade me contestasse,
Voltaria a amanhecer…

Queria a ausência de sentir…
Queria ser como o vento…
Queria tentar omitir…
Este sábio lamento…

Não incomodo mais a tua alma
…que descansa por aí…
Não te grito mais…
…experimenta ouvir os meus ecos.

Sentencia tudo o que sentes…
Sentencia a tua vontade…
E admira a tua verdade….

24 maio 2009

É assim... fora de tempo...




Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido
Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido.

(…)

Ivan Lins e Victor Martins, Começar de Novo

02 maio 2009

Na noite...


Esvoaça estoicamente a melancolia…
Acresce a vontade de te embalsamar num sonho…
Sem estratagemas redutores.

Acabou-se o vício de te sofrer.

Parto em busca dos laços…
Alcanço os teus braços…
Reclamo a saudade já tão cega de tão muda…

Criaram-se espaços…
Esmagadoramente vazios…
Em magia austera…
Em encantamento sombrio…

Preciso dissolver o pensamento
Aquecer o momento
Quebrar com a insatisfação…

Serei o que fizer de mim…
Serei alma na escuridão…

Dedilho palavras que pressinto,
Uso pertinentes labirintos…
Nunca me confesso.
Prefiro evadir-me nos meus inesgotáveis silêncios…

25 abril 2009

«E depois de nós?»



Paulo de Carvalho - E depois do Adeus
Música: José Calvário Letra: José Niza
(vencedora do festival da canção de 1974)

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…

E depois do amor
E depois de nós
O adeus

O ficarmos sós

Nota: Esta canção serviu de senha de início da revolução de 25 de Abril de 1974 e serve de inspiração!

05 abril 2009

Resfolego...


Vazaram-se-me as palavras recônditas.
Trocaram-se-me as voltas do mundo que me assiste…
Deixei de usar o tempo.
Para que me use a mim.

O sossego interno necessário, inquieta qualquer ser que o busca.
A calma da tranquilidade é imprecisa.
O espírito treme no temor do passado.
Que não passou dum tumor esquecido.
Já não há sangue que verta o infame.
Um dia tinha que expirar a última gota.

Sem reservas…
Sei que não sou mais algema do tempo.
Deixo-o passar por mim,
Deixo-o ficar em mim,
Deixo-o viver em livre arbítrio.
Limito-me a prever os seus passos…
E, que enorme prazer isso me concede…
Sou a sua maior testemunha diante cada resfolego…

Atenta,
Tento alhear-me da má sorte.
Ausentar-me do desaire…
Tratam-se de meras ilusões temporárias.
Nada disto é real.

E… como eu preciso de verdades!!!
Tanto quanto preciso de invariáveis certezas…

16 março 2009

Sentido Figurado...


Amo-te.
Deliberadamente.
Amo-te.
E porque a palavra só se gasta quando deixa de existir, amo-te…
E é com todos os meus sentidos que te prevejo…
Te Pressinto…
Te amo.
Qual sentimento é mais forte que o amor?
Qual sentimento é mais imprevisível, mais passível de gerar um conflito antagónico de emoções?
Acho que te vivo em eufemismo…
Te encontro numa antítese…
E todo o meu amor não passa duma hipérbole…
As hipérboles de amor são cada vez mais necessárias.
Ser hipérbole no amor é ser calor de vulcão e tocar gentilmente com os lábios no gelo íntimo de um iceberg…
Habito uma gruta em constante erosão…
Escorrem gotas de água que se auto-reproduzem…
Que se renovam e que ganham vida própria…
Como é que a transparência de uma lágrima pode ser discutível?
Quanta verdade oculta inclusa…
Resta saber se se eternizam, ausentes de vontade.
Ou quiçá… Se se revestem de pedra maciça…
Intocável…
Inquebrável…
E sem vida…
Em quantas grutas existiremos sós?
Por que razão… existem leves paraísos escondidos nelas?
Apenas o toque do amor é auto-suficiente.
Como é que a solidão é tão plural?
Porque é que o silêncio é tão violento?
Acho que posso chamar violência à solidão… ao silêncio...
“Tudo o que se vê é temporário…
Mas o invisível é eterno…”
E esta será a melhor tradução da palavra: SAUDADE.

Será que somos a personificação do Amor…
ou melhor... “o Amor em figura de gente”…?

12 março 2009

Palavras da Mafalda =)


«IMORTAIS» Mafalda Veiga

Por mais que a vida nos agarre assim

Nos troque planos sem sequer pedir

Sem perguntar a que é que tem direito

Sem lhe importar o que nos faz sentir


Eu sei que ainda somos imortais

Se nos olhamos tão fundo de frente

Se o meu caminho for para onde vais

A encher de luz os meus lugares ausentes


É que eu quero-te tanto

Não saberia não te ter

É que eu quero-te tanto

É sempre mais do que eu te sei dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer


Por mais que a vida nos agarre assim

Nos dê em troca do que nos roubou

Às vezes fogo e mar, loucura e chão

Às vezes só a cinza do que sobrou


Eu sei que ainda somos muito mais

Se nos olhamos tão fundo de frente

Se a minha vida for por onde vais

A encher de luz os meus lugares ausentes


É que eu quero-te tanto

Não saberia não te ter

É que eu quero-te tanto

É sempre mais do que eu sei te dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer


(Mil vezes mais... do que estas palavras te possam dizer...)

03 março 2009

White Flag...


Vou vestir-me de morte.
E morrer junto das memórias trémulas de tantos dias cinzentos.
Acho que passei os dias mais frios e gélidos da minha vida.
Eu e o tempo… caminhamos juntos…
Estivemos juntos demais…
Até hoje, não sei quem desaparece primeiro, se ele… se eu…?!
Ele passa por mim todos os dias… às vezes nem como garantido o tenho.
O caminho, percorro…
No luto, morro…
São finais de mim.

Acabou o Entrudo…
Restam as cinzas da folia…
Mas só agora descobri a minha fantasia…

Vou disfarçar-me de morte…
Quero que me olhem e sintam as profundezas gélidas de um corpo sem vida…
Quero que morram comigo num olhar que já nada avista.
Quero que se esqueçam do meu sorriso, pois ele deixou de existir.
Dizem que “a vida é o intervalo da morte”…
Ou “que a vida são as férias da morte”…
Mas na realidade…
Quantas partes de nós morrem em nós, antes de morrermos?

Vou mascarar-me de vez de morte.
Na sombria e derradeira estadia.

Existimos desassossegados, introspectivos…
(às vezes nem isso…)
Amalgamados… pouco interventivos…
Intrinsecamente defensivos.
A autocensura da liberdade é arguta.
A pura petulância de creditá-la, tantas vezes tolerante…
Já não imagino vida fora das amarras…
Adversas, mas tão consonantes e constantes.
Criaram-se raízes fundas,
Tão profundamente superficiais…

Qual conflito de emoções?
Qual tornado de ilusões?
Quantas mais decepções?
Vivemos num mundo de meras intenções…

Quero estar junto de mim em silêncio,
Para libertar-me dos danos instalados…
Das deficiências que só uma vida vivida pode ter.
Quero esquecer-me do retiro do medo…
Quero a debandada satisfeita…
… o refúgio expedito…
… a utopia…
… o mito.

Além do real, quero o sabor preciso da surrealidade conivente dos sonhos….
E num último sopro majestoso…
Caiar-me de expressões introspectivas como nas derradeiras cenas de um personagem na tela do cinema…
Se em verdade somos actores sociais,
que caia o pano…
que o público se manifeste…
O pesaroso silêncio,
A passiva revolta interna,
Sem rostos…
… gerará consenso.

12 fevereiro 2009

Personificação


A minha vida tem sido assim:
um corropio e uma tentativa.
O melhor de mim?
Sê-lo, enquanto pessoa....
Vivo no limite, quando choro, quando rio, quando respiro.
Conheço a validade da minha capacidade… Por isso avanço sem medo.
Inseguranças???... Que risco apetecível!!!
Tento realizar-me… Quem dera que essa vontade dependesse inteiramente de mim...
Sigo o meu caminho da felicidade.
Vou tendo momentos felizes... que será o mesmo que dizer vou sendo feliz todos os dias.
Na incerteza,
Na luta,
No melhor e no pior.
A inconformidade preenche-me o ser.
Tenho que fazer algo por mim, nisso sempre fui sozinha!
Não posso consentir que a vida me passe, me ultrapasse.
A insatisfação confere-me mais do que a existência: a vida.
Sinto demais.
Sinto muito.
Lamento ou talvez não...
É um sentir contínuo.
A suspeição de afecto nunca será vã…
Pessoas, lugares paralisam-me o enfoque dos sentidos.
Se tiver que partir, ficarei inerte em lágrimas ocultas…
Quantos pensamentos de saudade em cruzamento à sensibilidade individual se aproximam…?!
De todas as drogas…
Prefiro consumir vida…
Que seja um prazer mútuo.
Uma dádiva.
Ao meu mundo dedico o que escrevo…
A cada vocábulo que a minha mente grita…
… que a minha imaginação recria
… sempre que o meu coração se agita…
Manchem os meus dias de revoluções…
Porque querer por querer…
Decido viver…
Num transbordo infinito de emoções…

10 fevereiro 2009

Come away with me...

«Se não existe vida fora da terra, então o universo é um grande desperdício de
espaço.»


Que mal me pergunte... Será que reconheço (enquanto empatia) uma sensação vazia com sabor a tristeza?
Qual obsessão caprichosa a de apenas sentir uma falta incólume de vida, um resquício de felicidade?!
Preciso do meu anjo da guarda mais do que o costume…
E por inerência, o porto de abrigo que me dá guarida…
Quero estar protegida pelo calor da tua presença, que a cada dia que passa avassala a minha alma.
Se dúvidas existiam em relação a amar-te…
Dissipam-se a cada recordação que tenho tua…
Estima-me... Estimem-me…
Preciso mais e mais dos braços, que não são mais que laços do carinho que me unem a este mundo…
Como é difícil saber o que vai na alma dos outros.
Será que algum dia te alcançarei?
Um bom começo seria encontrar-me na plenitude...
Boas palavras, puras dúvidas…
Que me destroem a paciência.
Quero a noite... ou... simplesmente adormecer...
Enquanto durmo, o relógio avança.
Boa noite... e bons sonhos…
Daqueles…
Sinceros…
Inocentes…
Sublimes...
... e intensamente acolhedores!


«A humanidade possui duas asas:
Uma é a mulher, a outra é o
homem.
Enquanto as asas não forem encaradas com a mesma dignidade que cada
uma merece,
A Humanidade não poderá voar.»

18 janeiro 2009

Amor Perfeito...?!


«Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.»
"Elogio ao amor" - Miguel Esteves Cardoso
in Expresso, 2005