11 dezembro 2009

Chuva de memórias de neve...


O chão escorregou-se-me dos pés…
A chuva caía…
A neve derretia…
E o frio de Inverno trespassava qualquer tecido que me cobrisse o corpo.
Entrei esbarrando-me contra todos os objectos assimétricos que enchiam aquele hall de entrada…
Só pensava em aquecer o corpo… se bem que a alma estava como de costume petrificada na insensibilidade enregelada.
Neste tempo bate-me à porta a melancolia…
Ou será que és tu a bater-me à porta?
Entre aquelas paredes caiadas de cores fortes, escondiam-se segredos…
Escondia-me eu… num vácuo profundo… que me tentava conservar a esperança doentia que sempre me encarcerou os sentidos.
Chegas sempre depois de mim.
Mas naquele dia a solidão estava mais transparente que o habitual.
Não precisava de mais calor senão o que a tua presença é capaz de oferecer.
Depois de um duche quente… Acendi a lareira do quarto.
Estava farta dos aquecimentos artificiais.
Dei por mim a olhar cada labareda… quase que hipnotizada…
O que esconderá este ritual?
Madeira fêmea…
Fogo másculo…
Fazem amor descontroladamente…
Amam-se num período de tempo fugaz e efémero…
Fundem-se num só…
E acabam arrefecidos e desfeitos…
Não sobra nada… apenas as memórias mortas.
É assim, não é?!
Deixei-me envolver no calor daquele amor descontrolado e entorpecida deixei-me levar pelo sono…
Todos somos testemunhas do amor dos outros e vítimas da sua confirmação.
Sombras de luz vagueavam sobre as paredes vazias, como se as preenchessem num desenho animado…
Aquelas imagens estavam ainda tão presentes no meu inconsciente que acho que as recreei numa espécie de versão romântica… mal sucumbi ao fascinante mundo dos sonhos.
Julgara eu que escorreguei… mas foste tu que me deitaste ao chão num passo de arte e mestria tal, que tinha pensado que tinha caído sozinha…
Olho para trás e por entre a chuva que teimava em cair vejo-te sorrir, apático, enquanto a custo me levanto. Falhavam as forças e não resistia… a parar o riso... É sempre assim só nos rimos do mal, mesmo quando o cenário nos inclui.
Abri a porta da entrada e tropecei no tapete, quase caía novamente… lá fora deixava a neve, o frio e a chuva daquele dia.
Trocámos beijos apaixonados… e cúmplices…
Aquecíamos e esquecíamos aquela atmosfera gélida que ficou para trás, mal se fechou a porta!
O coração batia aceleradamente…
Estremecíamos… com o prazer do reencontro…
A nossa casa escondia o que éramos um para o outro.
Muito mais do que podíamos imaginar…
Enquanto ateavas o fogo, preparava o vinho e o sofá.
No conforto dos nossos corpos erigimos mais uma epifania luxuriosa, avar…
Invejávamos o tempo que passava incessante sem estarmos juntos e mantínhamos o orgulho ao nos omitirmos.
Caíamos na ira da paixão desenfreada…
Em formas de gula de amor eterno…
Os artifícios das nossas vidas cruzavam-se com a preguiça dos nossos períodos estivais correntes...
Nas quatro estações vingávamos pelo assalto aos sete pecados mortais.
Num fogo que se satisfazia a arder…
Diante de um calor intenso,
Os nossos corpos eram chamas imortais, que jamais dariam tréguas…
Não seria um qualquer vento ou uma qualquer vaga de frio que nos faria vacilar.
Acordei com frio. Vi-te a olhar-me enternecido…
Balbuciava gemidos tropeçando nas poucas palavras roucas que conseguia emitir.
Fez-se um silêncio em tom de pausa e calaste-me com um beijo ternurento.
Sussurraste-me docemente ao ouvido: Feliz Natal…
Não mais transparecia a solidão. Aquela divisão da casa, não estava mais ‘dividida’. Assim como o coração se enchia de amor, igualmente a casa estava preenchida…
Voltaste a acender a lareira… Tinhas mais jeito que eu, admito.
Sem subterfúgios vivíamos a vida construindo permanentemente histórias tão nossas…
Amamos num período em que o tempo é fugaz e efémero…
Fundimo-nos múltiplas vezes num só…
Restam-nos e esperam-nos complexas metas.
Arrebatas-me dia-após-dia…
Quero perder-me no contacto com a vida…
Que renasce a cada reencontro.

6 comentários:

Anónimo disse...

amiga n sei aonde vais buscar cada palavra q introduzes mas o q sei é q escreves o q te vai na alma e no coraçao.És uma escritora promissora e vais longe acredita gosto de ler as tuas cronicas versos poemas chama lhes o q quiseres mas gosto de as ler tem sentimento por tars de cada palavra e isso sente se amiga. alice

Unknown disse...

E finalmente desvendei o mistério que tanto andei a colocar ao longo do ultimo mes.


beijoca

Carla disse...

e a vida tem outro valor quando a chama reacende
beijo

Eldazinha disse...

Alice, obrigada pelas palavras =)
Tu és um doce!!!
Há muito sentimento sem dúvida em cada palavra... É a minha paixão por elas...
beijinhos

Eldazinha disse...

Caro Dakota,
intrigou-me o teu comentário... ehehe queres explicar melhor?
Ou o desvendar do mistério apenas te caberá a ti????

beijocas***

Eldazinha disse...

Carla,

Quando se fala em fogo... há que preservar o calor!!! =)

Beijinhos