27 dezembro 2012

Inacabado
























Nem sempre temos respostas para tudo, também nem sempre queremos ter, por não as aceitarmos como nossas. A lucidez caminha assim espaçada, num ensaio que mobiliza os segundos e desintegra as palavras. Assim é o pensamento, sempre imperfeito, caustico, casuístico.

E o que queremos dizer é sempre tão limitado que a nossa própria liberdade de expressão é de imediato posta em causa, intrinsecamente. Auto-intimidamo-nos, mutilando a vontade.

Vivemos sem verdades declaradas, porque nos anulamos de proferir o que o bom senso nos impede. Construímos muros em vez de pontes. Articulamos palavras, em vez de as entoar.

Concorremos por qualquer manifestação de imortalidade, porque os sonhos ainda estão bem vivos e seria de mau tom não os coabitar, momentaneamente que fosse…

E as dúvidas resvalam incolores. Aliás, são a única transparência directa eficaz controlável.

Imoderação nas palavras, nas mais ou nas menos apaixonadas. Exaltação do amor puro, aquele que acontece pelo perfume de rosa branco pérola que num arco-íris minimalista poderá fugir para o encarnado. Que veludo sensível em infinita fragilidade sobreposta.

Que mundo sublime o dos pensamentos que compõem histórias. Existimos, construindo um somatório de capítulos de tamanho alternado e, invariavelmente recolhemo-nos num final inacabado.

Presente Feliz!

















O Zezinho cresceu com o encantamento da presença do Pai Natal e, chegada a proximidade da época festiva, e vendo-se os seus pais na iminência de não conseguir corresponder com os tradicionais desejos embrulhados pela idade, serenamente chamaram-no e tentaram explicar-lhe quem verdadeiramente era o ‘Pai Natal’ que, ano após ano, acertava nos presentes que tanto desejava receber.

Para aqueles e outros pais, o dinheiro era pouco na carteira e os desejos dos miúdos são cada vez mais grotescos. O valor que dão a um qualquer objecto é instantâneo e o que é certo, é que mais dia, menos dia resultará obsoleto e/ou disfuncional.

Já lá vai o tempo em que se podia comprar uma oferta a custo controlado ou até mesmo por uma ‘bagatela’… Lembro-me do pai que dizia que recebia de presente de natal, uma laranja na meia que deixava junto à lareira da cozinha. Hoje, é o avô que não percebe nada de nanotecnologia, apenas de valores reais como a importância dos sentimentos, dos pequenos gestos, dos verdadeiros presentes. Mesmo assim, os petizes lá tentam com toneladas de paciência mostrar-lhes a operacionalidade desses objectos, que acabaram por vir a participar determinantemente no dia-a-dia e se assumem cada vez mais capazes de promover a individualidade e, por sua vez, a solidão.

Diz-se que os avós são pais duas vezes. Talvez estejam em vantagem na hora de transmitir a sabedoria que vão sustentando ao longo da vida e que é muito pouco escutada pelas novas gerações. Todas as vidas se completam num passado que vira sempre um presente. Quantos presentes seremos capazes de oferecer a alguém, apenas com um sorriso? E quantos presentes conseguiremos nós oferecer-nos, justamente por sorrirmos? Que a vida seja sempre um surpreendente presente por desembrulhar…

O Zezinho do alto dos seus nove anos manteve-se calado, entristecido. Era o quebrar do mito mais bonito que acalentara durante anos. Os três abraçaram-se. Após o longo abraço souberam que o amor que nutriam entre eles era o maior e melhor presente que aquele e os próximos Natais podiam proporcionar. Tinham-se uns aos outros para criar um presente feliz.

Entre pausas, vagueavam silêncios incontroláveis que acolhiam as marcas de Inverno que trazem recordações de menino, ao esmiuçar as memórias calorosas trazidas à luz do dia. É o imaginário que recria a beleza do Natal e são as crianças que a (des)constroem.

Naquele abraço costumeiro expressara-se o que as palavras são incapazes de transmitir. A alma gritava incessantemente que o melhor do Natal pode ser reproduzido na infância trémula de estórias do ‘faz de conta’, onde tudo é possível, até mesmo o mítico senhor das barbas brancas!


18 dezembro 2012

Marcas de Inverno...



























Com os Melhores Desejos de Festas Felizes!!!
Um abraço solidário de Natal com muita Luz e muita Energia Positiva para 2013!!!

Elda Lopes Ferreira

17 novembro 2012

Outono de perto...




























O Outono vai caindo das árvores formando um arco-íris de folhas caídas no chão.
O mar vocifera. Escorre-lhe a ira dos pecados dos outros. Vómitos que arremessam espuma de raiva, quiçá.
Qualquer natureza se indigna quando lhe tiram o chão, quando lhe cortam os pedaços de vida.
O sol já não vai voltar a aparecer hoje. Talvez nem amanhã.
Escurece um dia que foi cinzento e brando. Arrefecido de emoções. Pouco lhe resta de vida, apenas umas horas para acabar.
Até os dias sabem quando morrem. Fica a impaciência de os viver, de os sofrer, de os agarrar…
Afastam-se as nuvens para deixar que o espectáculo comece sob o brilho que vem do quarto da lua.
Boa Noite! =)

19 outubro 2012

Ainda

Ainda.

Quem escreve assim não é ban(d)ido. Ainda.

E quando as células de oposição eclodirem, resistirão firmes as palavras cujo registo entrou no sistema. É um dom ser-se escutado sem voz e ultrapassar os anos, os séculos… E é preciso ter um talento tão audível, quanto subjugado para que a valorização seja mais atroz. É o balanço mais próximo do desequilíbrio.

Sem um caminho particular, assume-se a paranóia desatenta do desrespeito. O que importa? Nada em absoluto, dada a relatividade expressa da crítica déspota, quando o consegue ser. O ambiente hostil e moribundo atira a especialidade para fazedores de palavras que desdizem os significados, por os fragmentos monossilábicos terem deixado de significar.

Estranha-se de tanto se entranhar. Encena-se de tanto se imitar. Premeia-se a ilegitimidade inoperante das vozes que em burburinho contracenam com a vaidade do poderio, que, ensombrado se inocula, se plasma, corrosivamente.

Descaem os pára-quedas que ultimam o salto, encaminhara-se mais uma vida de filosofia, num desaguar de filosofia de vida, cujo desalinho inquieto de teorias complexas a inundaram.

Interrompe-se o medo, que é interposto entre a adrenalina de um gemido que está prestes a emergir, densamente descaracterizado. E com que direito ele se esconde? E com que incerteza se atinge?

E que choque é positivo à idiossincrasia doentia de um corpo que se verte, dormente, numa queda falaz? Prostra-se um núcleo que se areja sem vontade de viver. Peças dissociadas que nunca foram levadas a cena, porque no mundo dos sonhos, contam-se os que se perdem, os que nunca sobem ao palco da execução e os que sobrevivem às adversidades e às desistências.

Chamem lunatismo. Chamem falta de ortodoxia. Mas tudo o que não existe, persiste imaterialmente alojado num inconsciente tão visionário quanto as esferas que nos fazem mover. Ainda.

26 setembro 2012

Murmúrios...

A tarde trouxera a escuridão que se transportava para a noite que se anunciava temperada, arrefecida.

Na mente, abre-se uma brecha no tempo que a transporta pela procura. De quê? Diz-se que: “Quando procuramos descobrir o melhor nos outros, de alguma forma descobrimos o melhor que há em nós mesmos.” Descobertas à parte, a tendência é procurar ‘o melhor’ sem que se note que ‘o pior’ é descaradamente descurado, e que invariavelmente, ele lá se dispõe a aparecer! Até onde vai a admissibilidade desse ‘pior’ e quando é que ele surge? Quantos egos chocam na mais evidente imperfeição humana…

A competência para apaziguar é uma dádiva. É a quietude do espírito que ameniza qualquer distúrbio mais intempestivo que se aloja momentaneamente e se esvai sem resposta concordante, na versão mais complacente.

Não são momentos estanques ou alternativos… São antes, repercussões internas, reprimidas, que se alojam numa dinâmica passiva e que ao desbarato se esbatem nas paredes da boca e regurgitam em voz displicente, quando não contida.

O julgamento será alguma vez um ponto de partida ou chegada? Não. Será ainda o grande exclusivo dos tribunais, que não sendo grande termo de comparação é o único real que subsiste!

“É preciso ouvir os apelos silenciosos que ecoam na alma da pessoa.” E o que está escrito na alma é difícil de decifrar e aquiescer. É um acesso estritamente reservado. Poucos o conseguem invadir, interpretar. São silenciosos apelos inconscientes, perturbadores, afectuosos, melindrosos, inacessíveis, alcançáveis, que se podem ousar tocar em jeito de partilha retraída.

É na visão que construía dos outros que se espelhava e se desvendava ao mundo. O que os outros viam? O que os outros pensavam? Não passavam de transcrições polissémicas. O absolutismo que se abarca detentor da sapiência máxima tem dessas coisas, ou quiçá, coisa nenhuma. É uma questão de relativizar ou suavizar os murmúrios da sabedoria sobre a essência de cada um e para isso não há limites.

24 setembro 2012

São meras palavras...


















E toco nas palavras enformando-as como um arco-íris que aparece e desaparece num ápice. Reflexão que não chega a alcançar a memória. Palavras desconstruídas que se alinham em labirinto inconsciente com a consistência natural da autenticidade.

Essa vida autónoma endemoniada segue só e (re)aparece quando a inspiração flui inqualificável, inquantificável, deserta, superlotada, ensaiando manifestações de papel e caneta ou os automatismos tecnológicos mais rebuscados.

As palavras rendem-se à vida que nelas habita, a sós, acompanhadas, precedidas, complementadas, gerando uma polissemia discreta, única.

É na transversalidade das palavras que significam que se encontra a capacidade de metamorfose, ao ritmo da inquietude das mentes que as levam… O seu dono, impávido e sereno, deixa-as voar em liberdade.

Existirá uma métrica com dono?

Como soa o protesto das palavras não usadas?

As escolhas são tão restritas quanto a ordem de um inconsciente voluntário “pseudo-amestrado”.

Escrevo, o que talvez articularia em fonia.

A voz tem o som de palavras que (en)cantam e comunicam vida. Fala do indizível, do horizonte que nasce e nunca morre perante as luzes que caem no seu leito e fazem o dia anoitecer.

É nesse naufrágio que mergulham e adormecem as palavras que folgam a magia de viver dentro de um sonho.

20 setembro 2012

A luz que se escorre na água



















Apagou-se a luz. Aquele véu de insegurança translúcida castrou-se.
O sol (im)pôs-se naquele dia, como em todos os dias em que se exibe majestoso. Foi uma imposição temporária. Também já era seu hábito.

A compleição da imperfeição tem na mãe natureza todo o seu expoente máximo. A beleza tem dessas coisas. Serve para enriquecer quem a encontra através da contemplação, assim como é nula para quem passeia cego na vida.

Talvez a versão optimista veja a graciosidade das coisas, ao passo que a pessimista se obriga a torná-las invisíveis. E o invisível é um vazio enorme que se sustenta por si só.

Criam-se vazios gigantes. Morre-se antes de viver. Incorre-se na lamúria gratuita que se esbate na sombra de quem assim quis viver e desistiu, prontamente.

Diz Shakespeare (em "Vencer se Possível, Desistir Nunca") que:

“As falhas dos Homens eternizam-se no bronze,

As suas virtudes escrevemos na água.”



06 setembro 2012

A Vida é ‘Velha’!


Duas horas de sono e aí vai ela, rumo a uma viagem que podia ser um mero passeio, mas não, tratava-se de uma excursão de jovens pertencentes idades nobres. Muito nobres.

Entre os esgares de desconfiança, contemplação ou surpresa, vinham um a um, pé ante pé, como se os ponteiros marcassem os seus ritmos, em segundos espaçados dum relógio analógico.

Diziam que iam essencialmente (con)viver, pois o normal é passarem pelos dias apenas existindo e lutando contra um tempo que escorre a conta-gotas. A solidão preenche-lhes o tempo dos dias, que parecem enlutados e cinzentos. E a vida, a vida é sempre mais velha. Há que preenchê-la, organizando-a suportavelmente diante do arco-íris profundo e equilibrado dos dias.

Às 6.30h em ponto, a hora marcada, chega a menina e moça que mal abre os olhos de tanto sono acumulado. Corina Maria era assistente social e juntava-se ao grupo para prestar o seu auxílio, enquanto voluntária.

O autocarro onde seguiria, já aquecia, parado. A ordem foi dada para entrar e a voluntária deixou que todos entrassem naquele autocarro, para depois ficar com algum lugar que restasse. O conforto dos acompanhantes e a sua acomodação era um desígnio. Com tão pouco tempo de sono, a menina sabia que adormeceria rapidamente, mal o autocarro se fizesse à estrada. No caminho, Portugal ficaria para trás e atravessar-se-ia para uma curta visita ao outro lado da fronteira, Espanha.

Os três autocarros abalaram. Corina abandonara-se de imediato ao sono que a cirandava. Nem uma hora decorrida de viagem e eis que é despertada para um pneu que rebenta em plena auto-estrada. Astuta e ágil saiu para ver o que se passava. Felizmente, fora um mero pneu traseiro, que não causara mossa nenhuma, a nenhum dos ocupantes. Para não se perder tempo na viagem, alguns dos passageiros foram distribuídos pelos outros dois autocarros. Ela foi também.

Dos lugares vagos, a escolha não era imensa, mas mesmo assim acomodou-se ao lado do Sr. Manuel, largado pela viuvez. Afável, como só ela, o sono havia ficado para trás, junto daquele pneu rompido. Cortando, o silêncio, o Sr. Manuel disse para um casal que ia na sua frente, “os jovens não querem ouvir os velhos”, prontamente, a ‘intrometida’ menina responde que queria! Levou de imediato com uma aula de geografia que contava os outros caminhos transversais à auto-estrada. Manuel era natural do concelho de Amares, Braga. Disse ele que nascera no rio – o Cávado – há muitos anos atrás. Confidenciou-lhe que na sua infância não saiam da água do rio e que talvez por isso, até hoje não saiba ler.

Passada a fronteira, havia uma terriola muito próxima, cuja padroeira era a Imaculada Conceição. Na igreja, houve uma pequena celebração eucarística, à qual a maior parte dos idosos não quis faltar.

No final, a Avé-Maria ecoava majestosamente naquela abadia. E, a dona Maria Odete abraça-se e dá dois beijos a Corina, pois esta tinha-a acautelado e ao marido para uns bancos que não ofereciam grande segurança, e diz-lhe: “Muito prazer, em conhecê-la”, em lágrimas. A menina comoveu-se. Num ápice, apresentou-lhe o marido. Tinha-se dado mais um enlace de amizade.

De regresso à companhia do Sr. Manuel – ele que disse que não deixava o carro partir sem Corina – e na espera pela partida, a menina escuta a incredulidade: “Ontem tocou o sino!”. – Dizia a senhora do casal que seguia na frente dos dois, enquanto tentavam achar a resposta menos óbvia possível. Enquanto a dúvida pairava equacionavam-se algumas hipóteses. “A esposa já faleceu e ele foi para o hospital, estará vivo ou morto, terá sido ele?” Não houve respostas conclusivas, no entanto, eram transparentes aquelas incertezas, conversas de quem nada espera dum tempo em ‘reduzido’ contra-relógio.

As farpelas ou roupas de ‘domingo’, os sapatos novos ou o farnel exibiam-se imodestamente. Mesmo assim, por detrás de toda essa confiança, por diversas vezes a idade impacientava-se! [E de que maneira!]

Sempre que se desloca ao estrangeiro, a assistente social, recorda sempre as palavras de desânimo do seu professor de faculdade, que uma vez numa aula tornou pública, a decepção que teve na primeira saída do país. Ao que parece, do outro lado da fronteira, era tudo mais ou menos igual. Neste caso, só se ouve falar ‘estranho’! Sorrindo, ouve quem coincidentemente lhe lera os pensamentos. “Afinal isto é igual a Portugal. Não vale a pena vir a Espanha”, disse o Sr. Manuel corroborando, a anterior tese do professor.

O dia estava tão cinzento, que as gotas de S. Pedro acabaram por cair… Mas mal se ouviam. A banda sonora do autocarro tinha música! A banda sonora tinha um ritmo de canção popular portuguesa! Com interpretação feminina. Instrumentos principais: acordeão e pandeireta. Podia dizer-se que como presente estava o cantor Nelo Silva, que a música pertencia à filha Cristiana, mas Corina, não quis pertencer ao grupo da ‘má língua’, por um lado porque não sabe se a filha ainda canta e por outro, porque não reconhecia o reportório da criatura nem de fio nem a pavio! O Sr. Manuel ainda comentou se não seria a Mónica Sintra a cantar, mas a dúvida ficou no ar, mesmo tendo a mesma cassete ou CD rodado pelo menos três vezes.

Pelas amplas janelas via-se a baía de Vigo, qual cenário idílico de paraíso que se avistava! O tempo tinha aberto. Vigo continuava em forma.

Chegou a hora do almoço, já em Portugal, numa Quinta, em Vila Praia de Âncora. A confraternização ia durar, além da comida que ia sendo servida. Em simultâneo, havia música para ‘bailar’. Corina teve vários convites para dançar, mas não aceitou nenhum para ninguém ficar triste. Eram muitos candidatos! E o ‘peso’ do sono, ainda nela pesava, passe a redundância.

Quando foi conhecer a quinta, o ar puro trouxe-lhe um dejecto de ave… Não se percebe muito bem porque é que os passarinhos se aviam com tanta liberdade e quem anda cá por baixo está sempre a jeito e sujeito!

O convívio durou até ao entardecer e era evidente a satisfação que não se consegue esconder, por mais que se queira, aqueles diálogos imprevistos, as conversas tontas, as histórias que se reencontravam e ganhavam de novo vida nas suas vozes, as dores da alma que se esvaziavam. E os sorrisos no rosto gritavam liberdade, depois da opressão de sabe-se lá quantos dias ou meses de isolamento… (E, quantos mais viriam?!)

“Um sorriso é a curva mais bonita no corpo de qualquer pessoa.” Ali, a tese pôde comprovar-se! Um dia admirável, para aquela menina que subiu as escadas do autocarro a correr para se despedir do Sr. Manuel. Iam regressar a casa. E ela já podia voltar no autocarro que inicialmente lhe estava destinado. Já estava arranjado. E sim, o Sr. Manuel não ia deixar o motorista partir, sem ela.

31 agosto 2012

Luzes de Amor...


E é quando a noite se acalma e abranda o ritmo dos sonhos, dos que ainda se dedicam a colorir o sono… Que sopra lá fora em deleite único, aquela lua em que cada uma das suas fases se enche de luz, para iluminar a escuridão encrespada e dissimulada da solidão.

As sombras formam a violência dos gritos inflamados de vozes que já há muito deixaram de ser ouvidas.

Hoje são meros vultos de gemidos de mulher, encostados na rua, alguns sem vida ou sorte, que é como quem diz, alternativa.

Aperta-me a evidência da desigualdade. Faz-me agradecer todos os dias todo o amor que me consola as lágrimas das dores, que sempre julgamos as maiores.

Qualquer lamento é vadio, só, puro... Chega de chorar as águas da incompreensão. Voltarei tolerante. Transeunte de uma alma que quero viver e respeitar, enquanto chave mestra das respostas mais dúbias… Mais verdadeiras... Mas sempre sinceras.

31 julho 2012

7 Anos em Imagens de Palavras!!

Passam hoje 7 anos de palavras e imagens que transbordam uma alma de pássaro...
Que grande 31 (de Julho)!!! 
Desde 2005 a criar... 
A todos quantos me acompanham neste recanto: 
Um majestoso Obrigada!!!

08 junho 2012

Pacífico oceano despido




























Trazes no olhar uma noite de mar de tormentas, talvez o oceano que sendo o maior, se chama pacífico e, que em profundidade, te atravessa até à mais íntima e peculiar partícula de vida que deixas resistir. Um desassossego que te envolve o espírito em asas díspares de anjos negros, miscigenados de serenidade. Nestas noites, a ansiedade que te perturba encolhe-te a alma que se asfixia na cor que os dias trazem sempre que o sol arde na tua pele imaculada e nua.

Mas os teus olhos apenas têm o lacrimejar do atlântico, um défice que atinge menos de metade de um pacífico. Nunca os olhos choram as mesmas lágrimas, nem em igual proporção. A exactidão da matemática confirma isso. Se bem que já não são tão passíveis de controlo as variáveis que se podem manipular. E entre a indefinição em potência e os números absolutos, escorrem rios para mares nunca antes navegados, mas onde se impõe a descoberta.

Os acordes da melancolia de temas que versam estórias, retrucam melodias que acolhem passados, autênticos museus da memória que introduzimos voluntariamente e revisitamos vezes sem conta, quando o medo – em segredo – é mais subtil e não menos preterido de ser assumido.

Entoam laivos de murmúrios entre espécies complementares. Não são mais do que refúgios trasvestidos, asilos elementares. As palavras adormecem em gemidos que anoitecem na vaga luz que se apaga. As ondas repousam penetrando a insónia pré-estabelecida. Na noite, enleiam-se os sonhos que despertam a vida por viver.

O futuro existe. Falta apenas reconhecer…

Se a vida que este mundo tem, acolhe a quimera e a faz crescer.

30 maio 2012

Terrenos (in)fertéis?!

É perigoso viver de ilusões. É um terreno (in)fértil. Temeroso. Se se pisa sem cuidado, qual mina disparada em potência destrutiva…

Sempre gostei de corações verdadeiros. Daqueles que num piscar de olhos nos arrebatam a alma e nos prendem para sempre. E em jeito de contraditório sei que quando os meus braços não alcançam as pessoas que estão dentro do meu coração, as abraço, as acarinho, afagando-lhes os fios de cabelo no pensamento. E quantas recordações acordam e me aquecem a vontade de as reviver como se da primeira vez se tratasse?

Nos teus olhos vejo a (in)quietude da enfermidade. A Madre Teresa dizia que a maior enfermidade que podia existir era não ser ninguém, para ninguém… Será isso alguma vez possível? Existirá solidão tamanha capaz de uma tão vil rejeição? Que crueza!

Mas tu existes. Enfermo. Mas existes. Desligas-te das vozes que já nada te dizem, mas elas ainda ecoam vulgarmente, dispersas, aturdidas. Encontram-te exasperado e sem sujeito e sem predicado. Chamam-lhes ataques de ‘falsa bandeira’. Têm tanto de acessíveis quanto de demagogos.

A guerra prepara as armas. Mas és tu que estás na mira. O campo de batalha é um fardo que carregas. Peso que a inoperância adversária provocou. O conflito instala-se.

Silêncio. Queres ouvir o respirar do inimigo que te persegue o espírito. Aos sentidos apenas te socorre o suave perfume do jasmim em plena ocidental praia lusitana, em versão camoniana.

Rosa-dos-ventos. Nome de fêmea. Só podia soprar-te ao ouvido a beleza e a essência de jasmim, em ritual de encantamento. Impune, desligas todos os sentidos e rendes-te ao que te traz Kama, o deus do amor (indiano): setas atiradas com flores de jasmim.

Quanta candura estoica.
Quanta brandura irreversível.
Quanta paixão elencada na sublimação elementar da vida [o sonho].
Quantas esperanças ilusórias.
Suadas e contrafeitas…
São as feridas cicatrizadas que constroem vitórias.

30 abril 2012

29 março 2012

A (com)paixão


























"Não costumo acreditar muito nos sonhos... porque de todos se acorda." [Florbela Espanca] Se bem que o senhor Walt Disney também dizia que se eles [os sonhos] existem é porque podem tornar-se realidade. Mesmo assim, dou-lhe razão Florbela, invariavelmente há sempre um toque perverso nas expectativas que são mais valorizadas do que os momentos de encantamento da experiência de um sonho. Existirá sempre essa contrariedade para nos destituir do que poderia ter apenas uma leitura, a mais doce.
Esvaziam-se as réstias de força, procuram-se caminhos directos e respostas afirmativas.
Em uníssono abraçam-se as forças até que elas se fundam na alma.
O véu que a encobre precisa de uma mutação de cor. O negro fúnebre soturno tem que ser despido de vez.
A luz clara da manhã de sol, aquecia-lhe o corpo inanimado e vertido no chão…
Quem lhe sacode as réstias de vida? Quem lhe diz que se deixou adormecer e que o que viveu foram meras ilusões dum sonho mau?
Acerque-se o instante libertador que ecoa paz e tréguas com a vida, para que se equilibre os sonhos nesta realidade, sem contágios.
Quantos nos olham e não nos vêem?
Quantos nos tocam e não nos sentem?
Quantas relações apavoram duas pessoas que se isolam em si?
Qual o tempo do amor? Apenas no sabor dos sonhos se degustam as boas memórias?
Há tanto de inexplicável que talvez seja mesmo esse o magnetismo da sua essência. Um coração pode até ser quebrado, mas ele continuará a bater do mesmo jeito. Ao que se chega, não é?
A rendição vai para o equilíbrio díspar de trocas de dádivas, onde se partilham os sonhos que nos fazem sentir um contágio perene por essa ‘poção mágica’: a (com)paixão pelo amor.

12 março 2012

Literatura sem cordel











Acomode-se na estante o livro humano que se esgotou no tempo e, que com esse mesmo tempo multiplicado, se acabou por criar o hábito de o ignorar. É tal a estranheza que se cria em torno de um submundo que se apagou?! Mas num breve acto disse-se adeus. Foi rápido.
Lá se foram aquelas mensagens que emaranhavam palavras e vidas.
O surreal de cada existência não é mais que a realidade que atravessa cada um. Inventam-se amores, que nascem como flores primaveris na bagunça de pensamentos que adormecem e abruptamente irrompem, sem a vassalagem de um guarda-portão.
Apetecia-me tomar a liberdade de pedir uma mentira bonita para voltar a sonhar. Quanto atrevimento…
Mensageiros de paz. Vozes ocas e omnipresentes. Presenças transparentes e invisíveis.
Não tenho tido tempo para vós, admito. Como almejo conhecer-vos nas vossas palavras?!
A quem escrevem quando choram? Ainda se escrevem cartas de amor?
Se nascemos sozinhos, se vivemos sozinhos, o que conhecemos mais de perto é a sombra da solidão. Portanto, desate-se a berrar para dentro até se encontrar um eco disponível, em surto de impaciência… Afinal, no teatro do poder todos são formandos em artes cínicas. Esquecem-se indefinidamente que “palavra é igual a oração. Tem que ser inteira, se não perde a força”. [Fernanda Mello] E, nestas paixões, já não há tempo para amar em silêncio, nem gosto.
“Tropeço de ternura por ti.” Dizes em tom de vassalagem sobre o desejo que preenche o brilho do olhar… Como é que se rouba o brilho das estrelas e este se plasma nos teus olhos?
Puro enxovalho, em que me excluo de sentir, sentindo.
Que massacre. Sinto. Não sinto. Sinto, pois! Mas é um sentir de retaguarda (anulada). Silencioso. Em jeito de fuga austera!
Ai, esta névoa que me encerra os sentidos. Que propicia a intolerância de tudo quanto me desperta para a vida e que tenho que ocultar, sob a pena de sentir duas vezes. Não farei mais cálculos. Um conselho, nunca olhe para trás, sem antes virar o pescoço!

17 fevereiro 2012

Fragilidades do 'Agora'























É frágil a vida que me abarca. Corre a passos largos. Como um mar que avista a praia e se retrai nas ondas que depressa avançam e logo recuam, amedrontadas pela vaga de secura em que se podem transformar. Será assim que a água dos mares desaparece? Dever-se-á a essa claustrofobia da espuma que delimita em múltiplos contornos a areia salgada? Ou à singela evaporação por entre os grãos sedentos de sal?

A satisfação duns e a suspeição d’ outros. Os ingratos papéis das questões absolutas no seu esplendor.

É mais fácil perpetrar no balanço das ancas que escorrem o sexo desenfreado, que assumir a aurora.
“Somos atraídos para a escuridão, como as traças pelas chamas.” [Denise Hamilton] Num misto de fascínio e mistério, sem reações conclusivas. A noite sempre atraiu todos os sôfregos que se amam. É como se se alcançassem as estrelas e se possuísse a Via Láctea. É como se se equilibrassem arranha-céus em formas aleatórias. É não ter tempo para sorver a respiração alheia. É a paixão a expandir o seu próprio veneno em gotas que se evaporam no líquido encarnado que nos socorre. É estranhar o que de tão entranhado se apoderou do profano consciente. Qual droga potencia esta envolvência sem limites?

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.” [Fernando Pessoa]

São estas fragilidades que autenticam que é tempo de abandonar a tendência de ver viver os outros. Viver é outra coisa.

Por mais séria que pareça a adversidade aguentar a dor é fortalecer. Desistir é adiar a questão. É necessária muita força. A que temos e a que nunca julgamos ter. É como se alguém alguma vez tivesse determinado que tudo iria acabar assim. E, dessa forma, ofendem-nos constrangedoramente. Sabem mais do que alguma vez soubemos.

Qual a porta de acesso a essa sabedoria?

A vida.

Promova-se, então, a vida em todas as suas esferas!

17 janeiro 2012

Metades do mesmo reflexo...


























E se se pegasse em palavras e se desconstruísse o mundo? Sobrariam palavras e o mundo continuaria intacto nos seus trejeitos espinhosos. E correr-se-ia o risco de ainda assim alguém se calar, mesmo neste clima de liberdade de expressão extensiva.
E, estou em crer que se se verbalizassem todos os pensamentos, encontrar-se-ia finalmente um infindável manto de verdades assumidas ‘obscuramente’.
Os avanços catapultaram a veleidade da ampliação do real. A frieza ‘a quanto obrigas’ nas mais expostas condições. Se bem que inversamente a realidade também é apetecível e coexistirá… Quanto mais nos julgamos protegidos pelas ferramentas que nos acercam, mais fragilizados penetramos na insatisfação de digerir as verdades nas quais nos apoiamos. E até quando serão as nossas verdades? Até quando recriaremos cenários que consideramos tão nossos, quanto a desordem do caos que não queremos assumir?
Os fins são invariavelmente enormes começos. Que o diga quem após grandes pontos finais se sentiu renovado pelo despejo das agonias que tanto dilaceravam a postura mais destemida e encoberta de um ser que se ocultou e se auto-excluiu de viver.
Escuta-se o som do desmantelamento da tela mais perfeita, só porque dizem que a perfeição não existe... O relativismo sempre foi tão apoteótico quanto inexistente nas mentes inconsistentes. E o temor um verdadeiro entusiasta da existência.
Perdeu-se do seu corpo ou encontrou-se com a alma? O corpo nunca se perde, já o mesmo, não se pode dizer da alma… Que se compromete ao transbordar paixões tão autênticas quanto desavindas?!
E os números? Aqueles que viram palavras que quantificam e prontificam a incomensurável relação que se subtrai sempre que se contam as pausas dos silêncios…
Acho que o frio veio para ficar… para consolar o adeus que fica.
Os silêncios aterradores são veículo de palavras descaracterizadas ou não identificadas. Passam a ser momentos tenebrosos, insuportáveis, de palpitações ofegantes em que o coração bate desajeitadamente em colapso iminente.
Perdi-me de ti. Partiste mais cedo. Fica o teu silêncio. Fica o meu pranto. Fica o Adeus, talvez distante. Até já… Até sempre…
A memória será sempre tão intensamente tua e a saudade, proporcionalmente solitária.

«Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a buscar-nos noutras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.»
Fernando Pessoa