12 março 2012

Literatura sem cordel











Acomode-se na estante o livro humano que se esgotou no tempo e, que com esse mesmo tempo multiplicado, se acabou por criar o hábito de o ignorar. É tal a estranheza que se cria em torno de um submundo que se apagou?! Mas num breve acto disse-se adeus. Foi rápido.
Lá se foram aquelas mensagens que emaranhavam palavras e vidas.
O surreal de cada existência não é mais que a realidade que atravessa cada um. Inventam-se amores, que nascem como flores primaveris na bagunça de pensamentos que adormecem e abruptamente irrompem, sem a vassalagem de um guarda-portão.
Apetecia-me tomar a liberdade de pedir uma mentira bonita para voltar a sonhar. Quanto atrevimento…
Mensageiros de paz. Vozes ocas e omnipresentes. Presenças transparentes e invisíveis.
Não tenho tido tempo para vós, admito. Como almejo conhecer-vos nas vossas palavras?!
A quem escrevem quando choram? Ainda se escrevem cartas de amor?
Se nascemos sozinhos, se vivemos sozinhos, o que conhecemos mais de perto é a sombra da solidão. Portanto, desate-se a berrar para dentro até se encontrar um eco disponível, em surto de impaciência… Afinal, no teatro do poder todos são formandos em artes cínicas. Esquecem-se indefinidamente que “palavra é igual a oração. Tem que ser inteira, se não perde a força”. [Fernanda Mello] E, nestas paixões, já não há tempo para amar em silêncio, nem gosto.
“Tropeço de ternura por ti.” Dizes em tom de vassalagem sobre o desejo que preenche o brilho do olhar… Como é que se rouba o brilho das estrelas e este se plasma nos teus olhos?
Puro enxovalho, em que me excluo de sentir, sentindo.
Que massacre. Sinto. Não sinto. Sinto, pois! Mas é um sentir de retaguarda (anulada). Silencioso. Em jeito de fuga austera!
Ai, esta névoa que me encerra os sentidos. Que propicia a intolerância de tudo quanto me desperta para a vida e que tenho que ocultar, sob a pena de sentir duas vezes. Não farei mais cálculos. Um conselho, nunca olhe para trás, sem antes virar o pescoço!

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