29 março 2012

A (com)paixão


























"Não costumo acreditar muito nos sonhos... porque de todos se acorda." [Florbela Espanca] Se bem que o senhor Walt Disney também dizia que se eles [os sonhos] existem é porque podem tornar-se realidade. Mesmo assim, dou-lhe razão Florbela, invariavelmente há sempre um toque perverso nas expectativas que são mais valorizadas do que os momentos de encantamento da experiência de um sonho. Existirá sempre essa contrariedade para nos destituir do que poderia ter apenas uma leitura, a mais doce.
Esvaziam-se as réstias de força, procuram-se caminhos directos e respostas afirmativas.
Em uníssono abraçam-se as forças até que elas se fundam na alma.
O véu que a encobre precisa de uma mutação de cor. O negro fúnebre soturno tem que ser despido de vez.
A luz clara da manhã de sol, aquecia-lhe o corpo inanimado e vertido no chão…
Quem lhe sacode as réstias de vida? Quem lhe diz que se deixou adormecer e que o que viveu foram meras ilusões dum sonho mau?
Acerque-se o instante libertador que ecoa paz e tréguas com a vida, para que se equilibre os sonhos nesta realidade, sem contágios.
Quantos nos olham e não nos vêem?
Quantos nos tocam e não nos sentem?
Quantas relações apavoram duas pessoas que se isolam em si?
Qual o tempo do amor? Apenas no sabor dos sonhos se degustam as boas memórias?
Há tanto de inexplicável que talvez seja mesmo esse o magnetismo da sua essência. Um coração pode até ser quebrado, mas ele continuará a bater do mesmo jeito. Ao que se chega, não é?
A rendição vai para o equilíbrio díspar de trocas de dádivas, onde se partilham os sonhos que nos fazem sentir um contágio perene por essa ‘poção mágica’: a (com)paixão pelo amor.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
António Gedeão - Pedra Filosofal.

Pedro Fonseca
www.Prosador.blogspot.com