02 agosto 2011

Feridas Expostas [VII]


A história repetia-se. Vezes e vezes sem conta. Como se o fio condutor de uma vida fosse mais viciante, que as dependências que teimam em seduzir os humanos…
Os avanços e os consecutivos recuos eram a marca ténue de oportunidades vencidas por prazos indeterminados.
Helena era irresponsável por natureza, achava que viver no limite era sinónimo de sorte, mas largas vezes se esquecia que estava a perder pontos no caminho da felicidade.
Uma vez perguntaram-lhe se ela era feliz, e o silêncio fez-se ouvir em ecos sucessivos.
Talvez nessa altura ela se tenha apercebido que as escolhas que tem feito, a têm manifestamente atirado para um beco sem saída, onde nem tempo há para conviver com a felicidade.
À medida que o silêncio subsistia, Helena soltava uma lágrima e outra, e outra, instalando-se um mar, num rosto que se afunda.
Aquela aventura de parar para reflectir sobre si, já não tinha piada. Nem sempre as pessoas se dão conta que os vazios, os desaires são provocados ironicamente por quem os pratica involuntariamente.
Todos querem a felicidade e se se observar a realidade, sabe-se que a felicidade existe sempre, só que com picos e frequências. Há alturas em que o sentimento se recolhe, mas porque também ele necessita de se abstrair do que provoca…
Aquele mar que lhe escorria pelo rosto era de um dia tempestuoso, bravio, aterrador. São necessárias efemérides imprevistas para que se acorde dos sonhos, que afinal se tratam de simples pesadelos mascarados de ilusões…
Poucos são os que se deixam tocar pelas verdades da vida. É mais fácil escapar-lhes a sete pés...!
O auto-domínio prevalece imune a qualquer inversão de movimentações ou estilos de vida.
Mas, até quando? Até ao dia em que as ignóbeis verdades se desfizerem diante dos olhos e, por vezes, já sem salvação possível.
Helena ancorou-se no caos de vida que promovera. Aliás, é recorrente o facto das pessoas se agarrarem a qualquer coisa, por mais minúscula que seja…
O conceito de felicidade atinge desproporcionais variações…
Não obstante, há momentos de felicidade que se destacam da facilidade de existir…
Daí que se coloque muitas vezes a sorte em pé de igualdade com a felicidade…

Imagem: Pensamento de Fernando Pessoa

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