08 setembro 2011

Feridas Expostas [VIII]


















Chico Buarque cantou “a dor da gente não vem no jornal”. Acrescentaria: “nem estampada no rosto”. E por mais pistas que sejam dadas distraidamente, os enigmas são mais que muitos a desterrar.
Em alternativa, leva-se todo o padecimento para o derradeiro leito. Não se desfazem os sorumbáticos e ocultos mistérios de uma vida já excedida, de uma vida vagarosamente sentida...
Subsistem as memórias felizes, porque como o próprio nome indica, são as únicas capazes de sobreviver, pois lembram momentos de amor.
E, no amor é tudo parvo. Inconsistente. Doentio. Perverso. Infantil. Abnegado. Nos mais variados moldes de o sofrer!
Aliás, na travessia dos excessos que se praticam, não há limites. É mesmo assim. E se doutra forma fosse, não teria o mesmo impacto d’ alma, essa profunda fonte de luz.
Todos os estádios percorridos, trá-los no peito… Mesmo os dos socalcos intempestivos.
As feridas da vida são duros golpes quase sempre transponíveis.
A menos que se enraízem no corpo e sejam incapazes de quebrar a invencibilidade.
Há algumas que têm nomes esquisitos, mas grosso modo são uma praga, uma peste…
O silêncio distancia as dores. Acolhe a mágoa. Tempera a alma. Equilibra a balança dos dias…
E não Chico, isso não vem nos jornais. Apenas permanece em segredo. No segredo mais discreto possível. Também de que adianta partilhar se essa dor não desvanece?
Cair na permissividade de um lamento, é passar a vida de joelhos, frente a quem o escuta. Em contrapartida, se se demonstra controlo, o fenómeno será mais humilhante, as visitas passam a precisar de apoio e, o paciente a erguer duas cruzes!
Tudo o que vem em potência faz melhor a ultrapassagem.
E, as sucessivas ultrapassagens da vida tornam-nos um caminho mais maduro, recto, coeso e aprumado!
E Chico, também esta parte continua sem voz nas páginas do jornal…
Sem sombra de visibilidade. Sem cor na imagem. Sem uma única palavra refém de tinta cravada em papel reciclado…

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