13 setembro 2011

Feridas Expostas [IX]


São mágoas coercivas, aquelas que avistava naqueles olhos esverdeados e incisivos. Eles já não emanavam a beleza de outrora, apenas um sentimento pobre de afeição pelo tempo, pela saudade da vida.
Todas as suas forças haviam estagnado. Tudo o que a fizera feliz tinha terminado. Perguntava-se por diversas vezes, como se deixara entregar às teias absurdas da incompreensão, da letargia e da sórdida apatia?
Já não havia por que se martirizar com tantos equívocos… Mas continuara indefinidamente… Aqueles que ousaram estender-lhe uma mão amiga foram poucos. Sentiam-na uma perfeita desconhecida. E, concretamente, sentiam saudades do ‘antigamente’!
O passado tem destas iniquidades. O que éramos, pesar-nos-á sempre, quer nos pontos fortes, quer nos mais fracos. Por mais que gritemos aos quatro ventos que tudo mudou, a essência de cada um é provocadoramente uma patente certificada!
Desajeitadamente, erguias-te com fraca destreza. Tinhas passado bastante tempo sem alimento, sem uma gota de água que hidratasse o corpo. Sentias-te a afastar do mundo real. Os ansiolíticos não contornavam as dores da alma e já pouco faltava, para prever que se ninguém te acolhesse, deixavas-te levar nessa maré turva em que te enredaste…
Assim como existem necessidades vitais que devem ser alimentadas, estas também são passíveis de serem criadas. Se assim não fosse, o futuro do marketing e da publicidade estaria seriamente comprometido.
Arrancaras o fio do telefone, para que não tocasse. O telemóvel deixaste-o perdido até perder a bateria. Trancaste as portas. A TV permanecia em silêncio... A internet e tudo o que advém desse contacto à globalização tinhas ignorado em absoluto! Para quê tentar ajudar quem não quer ser amparado?
A história da vida lembra que todos têm telhados de vidro. Uns mais inquebráveis que outros (talvez fruto do carácter ou da personalidade impressa ao longo da vida). Mas lembra também que quando estalam fendas, próximo se estará de grandes palpitações. A hierarquia das fendas nunca é singular, muito pelo contrário é plural e desastrada. Falta saber quando vai começar a inquietação.
Assume-se sempre o controlo passível de ser tomado, simplesmente, por vezes, não é o devido… Não é à toa que vulgarmente se diz que ‘todo o cuidado é pouco’… Sem dúvida que há imensas variáveis capazes de promover a autodestruição, sem que vivalma dê conta!
Portanto, observe-se delicadamente as pessoas que dependem de nós, sem que saibamos. Diz que com o tempo se apura este sentido protector de quem realmente se traz no coração.
Hoje, já fez algum verdadeiro amigo sorrir?
Reconfortou nas suas asas alguém ou, precisa ser reconfortado?
Se é do último caso que padece, faça-se ouvir sem medo de falsas interpretações. Todos os ‘passos’ são válidos no caminho da auto-salvação!
Sim, é de partilha sem tempo nem espaço para censuras, aquilo a que me refiro…

Imagem: Pensamento de Fernando Pessoa