Peço para o mar me levar
deixo o vento partir...
As ondas vão e vêm...
Como se fossem fugir...
As cores celestiais...
Um coral, o paraíso...
Toda esta luz...
É tudo o que eu preciso...
[ ... ]
(by Elda)
30 agosto 2013
30 julho 2013
[Frágil]Idade...
8 anos…
E é aquela [(frágil)idade]… em que a
finitude se acelera…
A dúvida entala a esperança de vida que não sabemos se conseguirá replicar-se vezes e vezes sem conta...
A cada dia que passa as relações e
ligações são mais fortes…
Será essa a percepção da idade?
Seremos eternamente insatisfeitos,
mas seremos sempre a nossa base mais sólida neste mundo, tudo o resto serão peças que
vamos desconstruindo e submetendo ao nosso cosmos…
22 julho 2013
Das palavras aos números!!
Gráfico 1: Julho 2006 – Julho 2013 (De Julho de 2005 a Julho de 2006 ausência de contador de visitas!)
Gráfico 2: Visualizações de páginas por país (Via Google)
Gráfico 3: Visualizações de páginas por país (Contador de visitas!)
12 julho 2013
Viagens no tempo dos outros!
Há sempre um prazo para acontecer vida. Mas como se
pode sorrir numa circunstância tão inanimada? Laura imaginara vida onde ela já
não existia há muito tempo… Estava por um fio… Sentia-se insuportável por não
conseguir discernir mais os seus actos, mesmo os mais elementares.
“Neste testamento de cegos já não há qualquer luz que
se possa acender. Nenhuma réstia de esperança, apenas uma vontade louca, desenfreada
de morrer e nascer outra vez. E não é isso que fazemos tantas vezes e
ciclicamente? Desta vez não sei deixar-me morrer. É como se me tivesse
dispersado nas fugas criativas”, cismava.
E em meditação, achava que o céu era a alcofa das
almas, pela beleza do amontoado de nuvens doces que se insurgiam num céu cada
vez mais cinzento, que se recusava a chorar e a libertar-se. A sua imensidão
faz crer que todas as almas sejam, noutra esfera, envolvidas no algodão doce
feito nuvem. As viagens têm o dom da abstracção e da multiplicidade de planos.
Observando, os seres que com ela estavam na camioneta,
assistiu à graça de uma miúda de quatro anos que não queria “ir para o céu”, ao
passo que o autocarro subia a encosta, rumo a um miradouro, a avó
perguntara-lhe se não queria tocar nas nuvens, no céu… Ao que ela prontamente
respondeu que não, porque não queria morrer. No calor da idade tinha o
pré-conceito de que “ir para o céu” era morrer.
Um outro comentário a fez acordar da letargia de
existir. Um rapaz do grupo, Jaime, que “fazia retratos”, deliciava-se a
recolher expressões de vida nas excursões que sempre fazia questão de acompanhar.
Gervaz, um septuagenário, ao vê-lo aproximar-se disse-lhe de imediato, “tire-me
um retrato para a campa. Não tenho nenhuma”. Não se sabia se estaria a desejar
a morte ou à espera dela, foi um pedido vulnerável de rendição… Jaime foi
incapaz de negar-lhe o retrato, nunca pensou que um disparo representasse
eternidade, num outro nível, mais mórbido.
No canto, Laura sentara-se em silêncio profundo.
Tentando absorver aquelas duas realidades tão imediatas, tão seguras… Duas
franjas sensíveis de vida. Uma com todos os sonhos do mundo, o outro sem um
único. Mas não ficava por aí, cruzou-se com um diálogo ao telefone que dava
conta de uma senhora que teve uma expressão grotesca: “E não é que ‘fulana’
anda paredes meias com ‘fulano’?” – Nunca ouvira tal coisa, mas pareceu-lhe hilariante
a descrição.
Talvez seja esse o toque das viagens… Mais do que os
sítios que se avistam, as pessoas que os rodeiam. Toca-se assim no infinito,
quebrando-se com tudo o que anteriormente fora adquirido. Por momentos, Laura
abstraíra-se da sua ignóbil realidade. Sempre soubera que enquanto andasse
entretida, tudo o resto passaria ao lado. No limite, sabia que novos horizontes
seriam descobertos, através da permanente escuta dos sons captados dentro da realidade
tão plural em que vivia.
17 junho 2013
Intimidades...
Veio ao meu encontro sem palavras...
E, as palavras
tornam-se desnecessárias quando a intimidade se estabelece.
Foi o grito da alma que nos cruzou.
Foram duas formas de vida que se cruzaram...
A distância será sempre a mesma que nos separa... Separou...
Também, foi o mesmo silêncio que nos aproximou...
Na unívoca simplicidade viveremos à parte. Sós.
Mas trouxemo-nos um no outro ou um ao outro... pela eternidade...
Foi o grito da alma que nos cruzou.
Foram duas formas de vida que se cruzaram...
A distância será sempre a mesma que nos separa... Separou...
Também, foi o mesmo silêncio que nos aproximou...
Na unívoca simplicidade viveremos à parte. Sós.
Mas trouxemo-nos um no outro ou um ao outro... pela eternidade...
07 maio 2013
Desencantos
E este cheiro
a terra levemente molhada que exala o odor quente que as suaves gotas de chuva
tentaram esfriar… Que mistura genuína de poderes ancestrais, abafada pelo calor
dum tempo que não se define, apenas se transcreve passo a passo.
E felicidade
é isto… A percepção exacta do que os nossos sentidos alcançam e que tantas
vezes se desperdiça pelo descuido desatento de detalhes únicos…
Momentos de
evidente captura, alocados na viagem que fazemos, sempre que nos prestamos a
sentir o chão que pisamos e o ar que respiramos.
Ao passo que
trespassava para o ‘outro mundo’, aquele desacordado, desliga-se o cérebro. E,
as vidas que deixaram de existir, depressa não passarão de ténues sombras
passageiras. “A vida é uma dança na corda oscilante do inesperado”, alguém
disse, provavelmente intimidado pela presença permanente daquilo que sempre
falta. Somos seres penitentes de uma inesgotável ausência.
Esta busca e
confissão de sensações. Esta vertigem que embala os sentidos… Leva a pensar que
a vida fora daqui talvez tenha os seus desencantos.
26 abril 2013
Limbo
É a impotência da vontade que me estrangula a voz. Uma voz que de
silenciada, ecoa apenas num corpo em surdina.
Que coisa estranha é essa esganada no meu peito? É mesmo esse pedaço de
som que teima em não querer sair. Tem vontade própria e isso respeito.
Vivemos no limbo de uma única certeza incerta – a morte. Mas paralisados
andamos há muito e encobertos por uma sombra de pesar penoso que nos impede de
mover montanhas e alcançar vidas e sonhos, criando-os.
Intempestivo, o tempo é o mais severo. Passa com uma rapidez inofensiva.
E indefeso, intromete-se com vulgaridade, num relógio imparável, incontrolável…
26 março 2013
"entre o sono e o sonho" - Tomo I
Às vezes perco-me nas
brisas que me alcançam o rosto, marejadas pela proximidade de um oceano único
de candura agreste, como só ele…
Acho que foi encantamento,
o sentimento que envolveu esta longa espera que agora se consubstanciou. É menos
que uma gota de oceano, porém é uma semente que ficará plantada para sempre.
Aquilo que avisto é insignificante.
Mas o bastante, para flutuar no mundo incrível das bolhas de sabão e do algodão
doce dos sonhos, enquanto o leito me aquece e adormeço!
XXX
E foi na Antologia de Poesia Contemporânea "Entre o Sono e o Sonho" Tomo I, de II (vide imagem), editado pela Chiado Editora, que me estreei no mundo da literatura, entre mais de mil poetas, a 16 de Março de 2013. Com o poema "Na Noite..." se procurarem pelo Blog ele está algures por aqui!
Foi um Mês salpicado de momentos felizes, apesar de tudo!
26 fevereiro 2013
(Con)sentimento!
Que vida esta… Em que se
segura a vida com uma mão e se larga na outra. Existirá maior duplicidade na
vida que as nossas manifestações de liberdade?
Parece que cada página da
vida foi chorada, enxugada pelo amor dos outros, que não o nosso próprio. Que engenhoso
bem querer.
A gente não manda na
vontade dos outros… Alavancamos o que nos é possível.
E como se desacorrenta esse
desassossego de sombras em estado de graça?
Apenas em murmúrios sumidos
que se calam aos ouvidos, contando histórias com letras de vidas que foram
crescendo dentro de nós. Pedaço de corpo. Pedaço de alma. Fragmentos de vida
que escrevemos na memória de quem a consente.
23 janeiro 2013
Paredes de Pedra
E guardamos para viver estímulos de
vida, que não voltam personificados em instantes mágicos.
Foram e serão sempre únicos.
Todos os dias peno pelos meus sonhos,
mas agradeço o poder de conservá-los.
Não ter sonhos é um estado de alma
enlutado.
Passo horas neste relambório de
pensamentos que desconstroem realidades longínquas… Adiadas…
Ser-nos-á ainda permitida essa faculdade
de imaginar essa indefinição tão consequente, por quanto tempo?
Alegre, comanda a vida que trouxe Gedeão
nas palavras. Cantou a mesma prosa que ajustou idades.
Pedras que duram frágeis na vida com
filosofias afiadas...
27 dezembro 2012
Inacabado
Nem sempre temos respostas para tudo, também nem sempre queremos ter, por não as aceitarmos como nossas. A lucidez caminha assim espaçada, num ensaio que
mobiliza os segundos e desintegra as palavras. Assim é o pensamento, sempre
imperfeito, caustico, casuístico.
E
o que queremos dizer é sempre tão limitado que a nossa própria liberdade de
expressão é de imediato posta em causa, intrinsecamente. Auto-intimidamo-nos,
mutilando a vontade.
Vivemos
sem verdades declaradas, porque nos anulamos de proferir o que o bom senso nos
impede. Construímos muros em vez de pontes. Articulamos palavras, em vez de as entoar.
Concorremos
por qualquer manifestação de imortalidade, porque os sonhos ainda estão bem
vivos e seria de mau tom não os coabitar, momentaneamente que fosse…
E
as dúvidas resvalam incolores. Aliás, são a única transparência directa eficaz controlável.
Imoderação
nas palavras, nas mais ou nas menos apaixonadas. Exaltação do amor puro, aquele
que acontece pelo perfume de rosa branco pérola que num arco-íris minimalista poderá
fugir para o encarnado. Que veludo sensível em infinita fragilidade sobreposta.
Que
mundo sublime o dos pensamentos que compõem histórias. Existimos, construindo
um somatório de capítulos de tamanho alternado e, invariavelmente recolhemo-nos
num final inacabado.
Presente Feliz!
O Zezinho cresceu com o
encantamento da presença do Pai Natal e, chegada a proximidade da época
festiva, e vendo-se os seus pais na iminência de não conseguir corresponder com
os tradicionais desejos embrulhados pela idade, serenamente chamaram-no e
tentaram explicar-lhe quem verdadeiramente era o ‘Pai Natal’ que, ano após ano,
acertava nos presentes que tanto desejava receber.
Para aqueles e outros pais, o
dinheiro era pouco na carteira e os desejos dos miúdos são cada vez mais
grotescos. O valor que dão a um qualquer objecto é instantâneo e o que é certo,
é que mais dia, menos dia resultará obsoleto e/ou disfuncional.
Já lá vai o tempo em que se podia
comprar uma oferta a custo controlado ou até mesmo por uma ‘bagatela’…
Lembro-me do pai que dizia que recebia de presente de natal, uma laranja na
meia que deixava junto à lareira da cozinha. Hoje, é o avô que não percebe nada
de nanotecnologia, apenas de valores reais como a importância dos sentimentos,
dos pequenos gestos, dos verdadeiros presentes. Mesmo assim, os petizes lá
tentam com toneladas de paciência mostrar-lhes a operacionalidade desses
objectos, que acabaram por vir a participar determinantemente no dia-a-dia e se
assumem cada vez mais capazes de promover a individualidade e, por sua vez, a
solidão.
Diz-se que os avós são pais duas
vezes. Talvez estejam em vantagem na hora de transmitir a sabedoria que vão sustentando
ao longo da vida e que é muito pouco escutada pelas novas gerações. Todas as
vidas se completam num passado que vira sempre um presente. Quantos presentes
seremos capazes de oferecer a alguém, apenas com um sorriso? E quantos
presentes conseguiremos nós oferecer-nos, justamente por sorrirmos? Que a vida
seja sempre um surpreendente presente por desembrulhar…
O Zezinho do alto dos seus nove
anos manteve-se calado, entristecido. Era o quebrar do mito mais bonito que
acalentara durante anos. Os três abraçaram-se. Após o longo abraço souberam que
o amor que nutriam entre eles era o maior e melhor presente que aquele e os
próximos Natais podiam proporcionar. Tinham-se uns aos outros para criar um
presente feliz.
Entre pausas, vagueavam silêncios
incontroláveis que acolhiam as marcas de Inverno que trazem recordações de
menino, ao esmiuçar as memórias calorosas trazidas à luz do dia. É o imaginário
que recria a beleza do Natal e são as crianças que a (des)constroem.
Naquele abraço costumeiro
expressara-se o que as palavras são incapazes de transmitir. A alma gritava
incessantemente que o melhor do Natal pode ser reproduzido na infância trémula
de estórias do ‘faz de conta’, onde tudo é possível, até mesmo o mítico senhor
das barbas brancas!
18 dezembro 2012
Marcas de Inverno...
Com os Melhores Desejos
de Festas Felizes!!!
Um abraço solidário
de Natal com muita Luz e muita Energia Positiva para 2013!!!
Elda Lopes Ferreira
Elda Lopes Ferreira
17 novembro 2012
Outono de perto...
O mar vocifera. Escorre-lhe a ira dos pecados dos outros. Vómitos
que arremessam espuma de raiva, quiçá.
Qualquer natureza se indigna quando lhe tiram o chão, quando
lhe cortam os pedaços de vida.
O sol já não vai voltar a aparecer hoje. Talvez nem amanhã.
Escurece um dia que foi cinzento e brando. Arrefecido de
emoções. Pouco lhe resta de vida, apenas umas horas para acabar.
Até os dias sabem quando morrem. Fica a impaciência de os
viver, de os sofrer, de os agarrar…
Afastam-se as nuvens para deixar que o espectáculo comece
sob o brilho que vem do quarto da lua.
Boa Noite! =)
19 outubro 2012
Ainda
Ainda.
Quem escreve assim não é ban(d)ido. Ainda.
E quando as células de oposição eclodirem, resistirão firmes as palavras cujo registo entrou no sistema. É um dom ser-se escutado sem voz e ultrapassar os anos, os séculos… E é preciso ter um talento tão audível, quanto subjugado para que a valorização seja mais atroz. É o balanço mais próximo do desequilíbrio.
Sem um caminho particular, assume-se a paranóia desatenta do desrespeito. O que importa? Nada em absoluto, dada a relatividade expressa da crítica déspota, quando o consegue ser. O ambiente hostil e moribundo atira a especialidade para fazedores de palavras que desdizem os significados, por os fragmentos monossilábicos terem deixado de significar.
Estranha-se de tanto se entranhar. Encena-se de tanto se imitar. Premeia-se a ilegitimidade inoperante das vozes que em burburinho contracenam com a vaidade do poderio, que, ensombrado se inocula, se plasma, corrosivamente.
Descaem os pára-quedas que ultimam o salto, encaminhara-se mais uma vida de filosofia, num desaguar de filosofia de vida, cujo desalinho inquieto de teorias complexas a inundaram.
Interrompe-se o medo, que é interposto entre a adrenalina de um gemido que está prestes a emergir, densamente descaracterizado. E com que direito ele se esconde? E com que incerteza se atinge?
E que choque é positivo à idiossincrasia doentia de um corpo que se verte, dormente, numa queda falaz? Prostra-se um núcleo que se areja sem vontade de viver. Peças dissociadas que nunca foram levadas a cena, porque no mundo dos sonhos, contam-se os que se perdem, os que nunca sobem ao palco da execução e os que sobrevivem às adversidades e às desistências.
Chamem lunatismo. Chamem falta de ortodoxia. Mas tudo o que não existe, persiste imaterialmente alojado num inconsciente tão visionário quanto as esferas que nos fazem mover. Ainda.
26 setembro 2012
Murmúrios...
A tarde trouxera a escuridão que se transportava para a noite que se anunciava temperada, arrefecida.
Na mente, abre-se uma brecha no tempo que a transporta pela procura. De quê? Diz-se que: “Quando procuramos descobrir o melhor nos outros, de alguma forma descobrimos o melhor que há em nós mesmos.” Descobertas à parte, a tendência é procurar ‘o melhor’ sem que se note que ‘o pior’ é descaradamente descurado, e que invariavelmente, ele lá se dispõe a aparecer! Até onde vai a admissibilidade desse ‘pior’ e quando é que ele surge? Quantos egos chocam na mais evidente imperfeição humana…
A competência para apaziguar é uma dádiva. É a quietude do espírito que ameniza qualquer distúrbio mais intempestivo que se aloja momentaneamente e se esvai sem resposta concordante, na versão mais complacente.
Não são momentos estanques ou alternativos… São antes, repercussões internas, reprimidas, que se alojam numa dinâmica passiva e que ao desbarato se esbatem nas paredes da boca e regurgitam em voz displicente, quando não contida.
O julgamento será alguma vez um ponto de partida ou chegada? Não. Será ainda o grande exclusivo dos tribunais, que não sendo grande termo de comparação é o único real que subsiste!
“É preciso ouvir os apelos silenciosos que ecoam na alma da pessoa.” E o que está escrito na alma é difícil de decifrar e aquiescer. É um acesso estritamente reservado. Poucos o conseguem invadir, interpretar. São silenciosos apelos inconscientes, perturbadores, afectuosos, melindrosos, inacessíveis, alcançáveis, que se podem ousar tocar em jeito de partilha retraída.
É na visão que construía dos outros que se espelhava e se desvendava ao mundo. O que os outros viam? O que os outros pensavam? Não passavam de transcrições polissémicas. O absolutismo que se abarca detentor da sapiência máxima tem dessas coisas, ou quiçá, coisa nenhuma. É uma questão de relativizar ou suavizar os murmúrios da sabedoria sobre a essência de cada um e para isso não há limites.
24 setembro 2012
São meras palavras...
E toco nas palavras enformando-as como um arco-íris que aparece e desaparece num ápice. Reflexão que não chega a alcançar a memória. Palavras desconstruídas que se alinham em labirinto inconsciente com a consistência natural da autenticidade.
Essa vida autónoma endemoniada segue só e (re)aparece quando a inspiração flui inqualificável, inquantificável, deserta, superlotada, ensaiando manifestações de papel e caneta ou os automatismos tecnológicos mais rebuscados.
As palavras rendem-se à vida que nelas habita, a sós, acompanhadas, precedidas, complementadas, gerando uma polissemia discreta, única.
É na transversalidade das palavras que significam que se encontra a capacidade de metamorfose, ao ritmo da inquietude das mentes que as levam… O seu dono, impávido e sereno, deixa-as voar em liberdade.
Existirá uma métrica com dono?
Como soa o protesto das palavras não usadas?
As escolhas são tão restritas quanto a ordem de um inconsciente voluntário “pseudo-amestrado”.
Escrevo, o que talvez articularia em fonia.
A voz tem o som de palavras que (en)cantam e comunicam vida. Fala do indizível, do horizonte que nasce e nunca morre perante as luzes que caem no seu leito e fazem o dia anoitecer.
É nesse naufrágio que mergulham e adormecem as palavras que folgam a magia de viver dentro de um sonho.
20 setembro 2012
A luz que se escorre na água
Apagou-se a luz. Aquele véu de insegurança translúcida castrou-se.
O sol (im)pôs-se naquele dia, como em todos os dias em que se exibe majestoso. Foi uma imposição temporária. Também já era seu hábito.
A compleição da imperfeição tem na mãe natureza todo o seu expoente máximo. A beleza tem dessas coisas. Serve para enriquecer quem a encontra através da contemplação, assim como é nula para quem passeia cego na vida.
Talvez a versão optimista veja a graciosidade das coisas, ao passo que a pessimista se obriga a torná-las invisíveis. E o invisível é um vazio enorme que se sustenta por si só.
Criam-se vazios gigantes. Morre-se antes de viver. Incorre-se na lamúria gratuita que se esbate na sombra de quem assim quis viver e desistiu, prontamente.
Diz Shakespeare (em "Vencer se Possível, Desistir Nunca") que:
“As falhas dos Homens eternizam-se no bronze,
As suas virtudes escrevemos na água.”
06 setembro 2012
A Vida é ‘Velha’!
Duas horas de sono e aí vai ela, rumo a uma viagem que podia ser um mero passeio, mas não, tratava-se de uma excursão de jovens pertencentes idades nobres. Muito nobres.
Entre os esgares de desconfiança, contemplação ou surpresa, vinham um a um, pé ante pé, como se os ponteiros marcassem os seus ritmos, em segundos espaçados dum relógio analógico.
Diziam que iam essencialmente (con)viver, pois o normal é passarem pelos dias apenas existindo e lutando contra um tempo que escorre a conta-gotas. A solidão preenche-lhes o tempo dos dias, que parecem enlutados e cinzentos. E a vida, a vida é sempre mais velha. Há que preenchê-la, organizando-a suportavelmente diante do arco-íris profundo e equilibrado dos dias.
Às 6.30h em ponto, a hora marcada, chega a menina e moça que mal abre os olhos de tanto sono acumulado. Corina Maria era assistente social e juntava-se ao grupo para prestar o seu auxílio, enquanto voluntária.
O autocarro onde seguiria, já aquecia, parado. A ordem foi dada para entrar e a voluntária deixou que todos entrassem naquele autocarro, para depois ficar com algum lugar que restasse. O conforto dos acompanhantes e a sua acomodação era um desígnio. Com tão pouco tempo de sono, a menina sabia que adormeceria rapidamente, mal o autocarro se fizesse à estrada. No caminho, Portugal ficaria para trás e atravessar-se-ia para uma curta visita ao outro lado da fronteira, Espanha.
Os três autocarros abalaram. Corina abandonara-se de imediato ao sono que a cirandava. Nem uma hora decorrida de viagem e eis que é despertada para um pneu que rebenta em plena auto-estrada. Astuta e ágil saiu para ver o que se passava. Felizmente, fora um mero pneu traseiro, que não causara mossa nenhuma, a nenhum dos ocupantes. Para não se perder tempo na viagem, alguns dos passageiros foram distribuídos pelos outros dois autocarros. Ela foi também.
Dos lugares vagos, a escolha não era imensa, mas mesmo assim acomodou-se ao lado do Sr. Manuel, largado pela viuvez. Afável, como só ela, o sono havia ficado para trás, junto daquele pneu rompido. Cortando, o silêncio, o Sr. Manuel disse para um casal que ia na sua frente, “os jovens não querem ouvir os velhos”, prontamente, a ‘intrometida’ menina responde que queria! Levou de imediato com uma aula de geografia que contava os outros caminhos transversais à auto-estrada. Manuel era natural do concelho de Amares, Braga. Disse ele que nascera no rio – o Cávado – há muitos anos atrás. Confidenciou-lhe que na sua infância não saiam da água do rio e que talvez por isso, até hoje não saiba ler.
Passada a fronteira, havia uma terriola muito próxima, cuja padroeira era a Imaculada Conceição. Na igreja, houve uma pequena celebração eucarística, à qual a maior parte dos idosos não quis faltar.
No final, a Avé-Maria ecoava majestosamente naquela abadia. E, a dona Maria Odete abraça-se e dá dois beijos a Corina, pois esta tinha-a acautelado e ao marido para uns bancos que não ofereciam grande segurança, e diz-lhe: “Muito prazer, em conhecê-la”, em lágrimas. A menina comoveu-se. Num ápice, apresentou-lhe o marido. Tinha-se dado mais um enlace de amizade.
De regresso à companhia do Sr. Manuel – ele que disse que não deixava o carro partir sem Corina – e na espera pela partida, a menina escuta a incredulidade: “Ontem tocou o sino!”. – Dizia a senhora do casal que seguia na frente dos dois, enquanto tentavam achar a resposta menos óbvia possível. Enquanto a dúvida pairava equacionavam-se algumas hipóteses. “A esposa já faleceu e ele foi para o hospital, estará vivo ou morto, terá sido ele?” Não houve respostas conclusivas, no entanto, eram transparentes aquelas incertezas, conversas de quem nada espera dum tempo em ‘reduzido’ contra-relógio.
As farpelas ou roupas de ‘domingo’, os sapatos novos ou o farnel exibiam-se imodestamente. Mesmo assim, por detrás de toda essa confiança, por diversas vezes a idade impacientava-se! [E de que maneira!]
Sempre que se desloca ao estrangeiro, a assistente social, recorda sempre as palavras de desânimo do seu professor de faculdade, que uma vez numa aula tornou pública, a decepção que teve na primeira saída do país. Ao que parece, do outro lado da fronteira, era tudo mais ou menos igual. Neste caso, só se ouve falar ‘estranho’! Sorrindo, ouve quem coincidentemente lhe lera os pensamentos. “Afinal isto é igual a Portugal. Não vale a pena vir a Espanha”, disse o Sr. Manuel corroborando, a anterior tese do professor.
O dia estava tão cinzento, que as gotas de S. Pedro acabaram por cair… Mas mal se ouviam. A banda sonora do autocarro tinha música! A banda sonora tinha um ritmo de canção popular portuguesa! Com interpretação feminina. Instrumentos principais: acordeão e pandeireta. Podia dizer-se que como presente estava o cantor Nelo Silva, que a música pertencia à filha Cristiana, mas Corina, não quis pertencer ao grupo da ‘má língua’, por um lado porque não sabe se a filha ainda canta e por outro, porque não reconhecia o reportório da criatura nem de fio nem a pavio! O Sr. Manuel ainda comentou se não seria a Mónica Sintra a cantar, mas a dúvida ficou no ar, mesmo tendo a mesma cassete ou CD rodado pelo menos três vezes.
Pelas amplas janelas via-se a baía de Vigo, qual cenário idílico de paraíso que se avistava! O tempo tinha aberto. Vigo continuava em forma.
Chegou a hora do almoço, já em Portugal, numa Quinta, em Vila Praia de Âncora. A confraternização ia durar, além da comida que ia sendo servida. Em simultâneo, havia música para ‘bailar’. Corina teve vários convites para dançar, mas não aceitou nenhum para ninguém ficar triste. Eram muitos candidatos! E o ‘peso’ do sono, ainda nela pesava, passe a redundância.
Quando foi conhecer a quinta, o ar puro trouxe-lhe um dejecto de ave… Não se percebe muito bem porque é que os passarinhos se aviam com tanta liberdade e quem anda cá por baixo está sempre a jeito e sujeito!
O convívio durou até ao entardecer e era evidente a satisfação que não se consegue esconder, por mais que se queira, aqueles diálogos imprevistos, as conversas tontas, as histórias que se reencontravam e ganhavam de novo vida nas suas vozes, as dores da alma que se esvaziavam. E os sorrisos no rosto gritavam liberdade, depois da opressão de sabe-se lá quantos dias ou meses de isolamento… (E, quantos mais viriam?!)
“Um sorriso é a curva mais bonita no corpo de qualquer pessoa.” Ali, a tese pôde comprovar-se! Um dia admirável, para aquela menina que subiu as escadas do autocarro a correr para se despedir do Sr. Manuel. Iam regressar a casa. E ela já podia voltar no autocarro que inicialmente lhe estava destinado. Já estava arranjado. E sim, o Sr. Manuel não ia deixar o motorista partir, sem ela.
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