07 julho 2011

Feridas Expostas [I]

Há sempre um tempo de partida que acaba inevitavelmente numa chegada.
Há sempre liberdades pausadas. Liberdades que se pautam pela infalibilidade da vontade.
E o grito? Soa bem alto na clausura dum dia de interposto silêncio, feito eco das desbravuras de um mesmo dia lento e soturno.
O relógio conta os segundos levianamente, contando o desassossego calculista de explícitos estorvos desfeitos em réstias de vida.
As paredes que se ergueram asfixiaram memórias comedidas.
Sem portas nem janelas de vida e apenas no aconchego da sua solidão vã, uma tomada velha aquecida, liga-se à ventoinha que faz revolver o ar. A aragem não cheira a mar mas arrefece um corpo exasperado de tanto se envolver com a sepultura vulcânica instalada no seu íntimo.
As gotas salgadas brotam dos espelhos daquela alma. É a manifestação marítima mais aproximada possível…
E o grito? Faz estalar a tinta daquelas paredes caiadas de branco.
Sufoco perene, o que se concentra nas teias mais enredadas do consciente emparelhado de amarguras…
Aquele ser sofre. Aquele ser não reconhece mais a vida que já o fizera feliz e apenas agarra com toda a sua voracidade, a tristeza malfadada.
Há que cortar sempre na morte, já que a sorte é tão infiel, quanto inevitável.

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