18 julho 2011

Feridas Expostas [III]


Marina deixou-se estar por casa. Nada como o lar acolhedor, para devolver as boas energias e as boas vibrações a um corpo, que é sempre muito mais transcendente do que um simples ‘corpo’.
Marina precisava cuidar-se mais do que nunca. Acordara, entre sonhos exagerados e exaltados… Lá fora, ecoavam barulhos, pura poluição sonora… Dava vontade de possuir uma varinha de condão, erguê-la e baixá-la em toque de mágico e colocar sons, pessoas e lugares atrás duma cortina invisível e verificar que todo aquele universo desnecessário havia simplesmente desaparecido.
Mas, se pedissem muito inverter-se-iam os papéis e era Marina quem desaparecia sem resmungar.
Como conquantas vezes é mais fácil tomar a iniciativa, ao invés de esperar que as coisas mudem à nossa condição, Marina experimentou abstrair-se dos sons que contrariavam o seu humor e fez-se levitar até a um spa caseiro…
Como sabe bem sentir as pontas dos dedos sobre a textura suave e delicada de cada poro de pele… A frescura e a leveza apoderaram-se dos que carregam o peso de ser: os pés…
Depois dum momento revigorante de água hidratante e produtos de relaxamento… É tempo de repousar do encantamento…
Marina devolve-se aos lençóis frescos e sente a paz assente no cristalino momento idílico que a trespassava… Deixou-se embalar por entre fragrâncias de jasmim e entre as sonoridades irresistíveis do “The Very Best of Diana Krall”…
Aos poucos restabelecia-se dos abismos, por que tem passado… Nem que fosse por tempo calculado em contra-relógio…
A autodestruição começa no dia em que apagamos da memória as alternativas aos nossos sinais vitais, deixando de beber os estímulos do corpo e deixando de enxergar a alma que se auto-exilia, impedindo de chegar ao tão desejado Jardim do Éden…
Que não se adie o inevitável!

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