06 julho 2011

Feridas Expostas


Passou mais um fim-de-semana quente de verão. Mas férias são férias e o ‘dolce fare niente’ levara Camila e o seu filho Luís até à belíssima ilha Terceira, nos Açores.
Escolheram a marina da Praia da Vitória para ali estenderem os seus corpos… A roupa colava à pele e só se estava bem com o corpo mergulhado nas águas límpidas açorianas ou com bebidas refrescantes para não desidratar. É costume o clima ser meio agreste. Por vezes até faz todas as estações num bom par de horas… A insularidade tem destas coisas… Destes encantos… Para quem os sabe apreciar!
Luís saiu da água e a vontade era recuar e ir para lá novamente. O calor estava a estalar e a tarde ia apenas a meio…
Por momentos, Camila julgara que as pedras negras vulcânicas estariam a pregar-lhe uma partida de mau gosto só para a pôr à prova naquelas férias que estavam apenas a começar. Eram tantas as catástrofes que via acontecer nos últimos anos em paraísos deslumbrantes, ou em situações inusitadas, que nem queria acreditar no que poderia eventualmente acontecer, naquele pedaço simpático de Portugal (dos pequeninos)! E tragédias não eram segredo para ela.
Rodrigo morrera num desastre de avião. Casaram na década de 90 e dum amor incontestável, nasceu Luís, a sua única razão para não abandonar a vida.
Camila era alta, serena e tinha um espírito demasiadamente derrotista. Era isso que fazia com que não fosse mais feliz. No passado, a desgraça bateu-lhe à porta e desde aí não recuperara do choque que foi ficar sem Rodrigo, o homem da sua vida… A vida tinha-lhe reservado Luís, um bonito rapaz de 21 anos, que mostrava que a adolescência e a imaturidade o preenchiam todos os dias e que, enquanto mãe, todos os dias faziam parte da aprendizagem do ser humano que tinha vindo de dentro de si e que fora desejado com todo o amor que dois seres são capazes de criar.
Todos os dias pensava em Rodrigo e em como estaria agora, bonito como sempre, imaginava. Os padrões de beleza são sempre relativos, complexos e não menos subjectivos, mas naquele caso Eros tinha sido bastante generoso! Qual deus grego, qual pedaço de vida tornado homem e seu marido.
De relance, Camila olhava Luís e o quanto ele era parecido com o pai. Ela, que não era muito crente em reencarnações, espantava-se do quanto se tinha que render às evidências…
Rodrigo e Camila conheceram-se exactamente com a idade que Luís atravessava, aos 21. Andavam na Faculdade de Belas-Artes. Rodrigo era doido pelo audiovisual e suas descobertas tecnológicas, Camila dançava e bem, para regozijo de Rodrigo. Mas nem um nem outro após concluírem os seus cursos, formalizaram as suas paixões profissionais.
Camila dançava só para Rodrigo que fazia películas caseiras e documentários enternecedores.
É o amor que sentimos pelos outros e o amor que os outros sentem por nós, que faz a felicidade de todos e de cada um.

[…]

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