25 junho 2014

Luz...




















E a morte não me mata mais, tantas que são as lembranças.
E o medo está cada vez mais inseguro diante de mim.
"Antes morrer livres do que em paz sujeitos"…
Toda a minha alma se contorce numa dança embalada desta terna melodia de palavras... E eis que o seu final espaçado e vagaroso a (re)pousa num recanto deste coração sedento de bem-querer…
Talvez a lua desacordada tenha intenção de desaparecer na noite rapidamente…
Nem ela suporta a intensidade das energias que me esvaziam a luz do olhar.
Talvez o sol se esqueça de brilhar, porque o seu calor já não me devolve vida…
E se o alento sustento, vem da profundidade que me trespassa o sentir…


28 maio 2014

Jorro d' Almas

Entrego-me a ti, meu desejo em fonte.
Em corpo de guitarra adormecida
Em água jorrada da alma.
Serenata oculta de música erudita,
Silêncios invertidos
Em pausas meticulosas.
Procrastinação.

Já não se soltam os versos…
Os verbos perderam os seus tempos correctos.
Canduras doutros tempos.
Rumo dos outros retorquido.
Meu não atendido.
Obstinação.

O lado de fora é o mais visível
O de dentro intangível.
Para quem passa…
Escolha de múltiplo vértice, 
Templo cúmplice, encoberto,
Dessa força, dessa raça...
Emancipação.

04 maio 2014

Este dia não voa mais…
















Era uma vez, uma pomba que jazia na pedra que coabita com a brisa do mar e a areia que a si se estende.
O pôr-do-sol seduziu-me a avistar o oceano de perto… No epicurista convite, deparei-me com o ritual que trazia e levava ondas em total desapego…
Sentei-me e fiz-lhe companhia, mas será que estaria eu a receber a companhia da silenciosa morte? Pensava eu que estaria a ser inconveniente… Inoportuna, talvez… Foram tantos os que se aproximaram junto daquele exemplar, que se a curiosidade existe, acredito que possa ser a solidariedade com aquela alma, o fio condutor… Já eu, permaneci!
Novos, velhos, ninguém lhe ficou indiferente… Nos que se aproximaram… Uns acharam que ela estava ali sossegada a meu lado, outros ficaram desiludidos pela sua quietude funesta.
Houve um senhor que há algum tempo observava, sentado, as movimentações e ‘peregrinações’ à pomba… Acabou por vir até ela, constatou a pior hipótese de perto. Comentou comigo, como aquela ave ficou ali tão sossegada. Ao longe parecia viva pela forma como estava aninhada. Achou curioso, como o macho lhe fez a corte e esteve em cima dela, em diversas investidas – Qual abutre da espécie…? Qual macho bravo primitivo? – Contemplou as anilhas que a levariam ao seu pombal… Ter-se-ia perdido dos seus? Estaria em competição?
Disse-me boa tarde e afastou-se…
Logo de seguida um ‘canito’ latia junto do seu dono, que suavemente examinava a pomba. Foi aí que vi que estava magoada junto a uma pata… Pousou-a, deixando-a à sua sorte…
Da brisa veio o vento norte furioso, que me expulsou da vigília involuntária.
Não cheguei a ver o sol a pôr-se. Aqui, nem o santo patrono das causas desesperadas e, ou perdidas interveio… Há momentos assim: “- fatais como o destino!” Como a minha mãe costuma dizer!

Amanhã será outro dia. Este, já não voa mais.


30 abril 2014

Outros voos...

















Assim como dos trapos se fizeram bonecas...
Do casulo sai e voa a borboleta...

Tem-se que penar muito para ser-se: Ser humano...


19 março 2014

SON(H)O

















É impossível que as palavras acompanhem esse amor.
Nesse arco-íris transposto em meia-lua,
Que a noite trouxe em pedaço de luz,
Sob um silêncio obstinado.

É o rouco fado da escuridão que atravessa as ruas,
Que as palavras não encobrem, diante dos dedilhados de uma guitarra lusa, a um passo de ti de distância.

Somos duas metades que se alcançam,
Duas metades que se bastam, numa imensidão de palavras que se acusam, se calam, sobrevivendo em nós.

Trouxe-te para nós,
no fogo ardente em presença e sombra que gela em ausência…
Num mar alto que descomedido avança…

Somos quimera que chora,
Amor-perfeito que floresce…
Aquela hora… nunca se esquece!

A melancolia tem vidas.
A vida tem incertezas.
Privações movidas de tristeza.

Sinto cada vez mais a falta da noite,
Apenas ela me leva a ti, num vagaroso son(h)o…
Daqueles… Felizes!

Os Judeus dizem: Bendito é Deus que muda as horas!
Malditos ‘agoras’!
Infelizes…


12 fevereiro 2014

Saudade






















Como esquecer a saudade,
que se entrelaça com o esvaziar da luz do luar?
Essa mesma que amanhece em mim todos os dias,
querendo apenas me tomar…

A distância nunca foi tão próxima…
A dor nunca se fez tão célere…

Escurece a tua sombra em mim…
Anoitece a fúria da revolta…
Essa dor que permanece…
…que vai, mas que volta…

Os meus sonhos só me (des)compensam (d)as noites frias,
em que adormeço para na tua ausência te encontrar…

É nessa anestesia de amor,
que te cubro e descubro…
É nessa afasia de cor,
que te idealizar é tão somente amor… amor…

O teu perfume, o teu retrato…
Estão no quarto de lua que me resiste,
Tecida a saudade…

Olha a lua desse lado,
Que em pranto recado persiste…
Sem termo, sem idade…


02 fevereiro 2014

Instinto de Sobrevivência



























A memória é assim veloz e transitória, enquanto instinto de sobrevivência…
Queria desligar da corrente… Ou, em última instância, libertar-me das correntes que me aprisionam a alma e que não me deixam viver livremente, que é como quem diz, inconscientemente…
Nos arcos da vida, que todos sejam de “triunfo”, já que o arco-íris é efémero demais para ser um caminho a seguir…
O brilho das cores deste fenómeno natural triunfam em arte pura, mas são impossíveis de tocar, alcançar… 
Os seus extremos vagueiam imediatos e perdidos. Eu também…

Inverno


O vento encarregou-se de me fechar a porta do carro... 
É só mais uma que se fecha... 
Mas a fechar-se, estava mais um dia... 
Chovia... Arrefecia... Escurecia... 
O mar que me via... Ouvia-se no seu desassossego... 
As intempéries destroem, mas adormecem... 

19 janeiro 2014

Complexidades



Traduzo gestos que observo.
Sem análise, com intuição.
Um dia este servo…
Não terá mais que pedir compaixão.

As teimosias despertas,
Vivas, de tanta encruzilhada volvida…
Foram portas abertas,
Quantas vezes despedidas…

Deste-me vida… Deste-me alma…
Cobriste os meus sonhos de realidade…
Apenas esqueci de dizer que quero sempre mais…

Busco o que me quer acolher.
Vivo do imediato, sem perseverança.
Entrego-me às resistências que teimam em aparecer.

A vida é esperança…
Respirar é (sobre)viver,
Tudo aquilo que o meu ser alcança…
Ou se vive ou se deixa morrer.

25 dezembro 2013

Festas Felizes!!



As maneiras de dizer adeus, não existem. Acontecem espontaneamente. Neste Natal, todos aquelas folhas caídas de árvore genealógica e as flores que fizeram questão de nascer connosco e que cedo partiram, que sejam luz, alegria e esperança... Foram Vidas de perene aprendizagem. Caminhos que só cada um de nós pode percorrer. Palavras que apenas nós reconhecemos. Lágrimas e gargalhadas que juntos trocamos em cumplicidade e reciprocidade. A finitude traz a saudade. O amor ficará sempre alojado no coração. [Texto: ELF]

12 novembro 2013

Despedida. Até à Próxima...



























E peço ao silêncio para me tomar. Domando a infinita fúria indomável que me toma. Sim. Desculpa não conseguir consenso na amplitude do eufemismo. Tenho que admitir que nesse trecho, a minha ignorância é tremendamente atrevida.
E a voz calou-se. E o tempo parou. E a vida não quer apressar-se.
As palavras cobriram-se de nuvens e já não há lágrimas que calem o silêncio da tua ausência. Apenas o calor no coração afasta algum desse caos...
Obrigo-me a calar o amor que sinto por ti.
Flutua a inabilidade de enxugar as lágrimas que caem involuntariamente.
É esse mesmo aconchego que me abraça o rosto.
Já percebi que na minha estória, os relógios contam o silêncio e amarram-me o tempo.
Tanto que te compus em sonhos que me apareceste em formas que me habituei a estimar e honrar.
“A juventude é mesmo isso, um lugar onde o futuro é maravilhosamente totalitário”, escrevera Luís Osório.
A paz que me transmites envolve todos os encantos do universo e mais algum… Estou certa que me trarás mais uma revelação...
A minha infelicidade deve ser planeada ao pormenor pelos deuses, que em vez de loucos, me enlouquecem.
Magoa-me fraquejar ou ser fraca mesmo. O osso e a carne que me erguem nunca alcançarão a âncora que deveria ser.
Quero voar contigo. Assim como seguimos caminhos diferentes uma vez, o ‘destino’ voltou a encontrar-nos. Essas asas que voam para longe só nos sufocam, porque a distância é estéril, impessoal…
Aguardo impaciente pelo dia em que consigamos parar novamente o ponteiro dos segundos, olharmo-nos e prometer a irrelevância das palavras. Parafraseando o Luís, o amor necessita apenas do reconhecimento do olhar. Sabemo-lo bem. “Obrigada pelo tanto Futuro que me deste.” - Escreveu ele também.
Vou acatar a tua demora com um único desejo, que o regresso revigore esta saudade até à próxima despedida.

Texto e Foto: ELF

05 outubro 2013

Deixar para trás!



























Procurei o tempo mais célere, mas a velocidade deteve-me.
Coloquei as asas no vento, mas a rosa-dos-ventos nem sequer se moveu.
Construí pontes de braços que se uniram, mas as vozes enfraqueceram…
A luz ficou obstruída pela água que cai desalmadamente.
"Não se pode criar experiência, é preciso passar por ela" (Albert Gamus)
Mais ou menos encorpada? Quase como se de um lugar privilegiado se tratasse: “Prefere um lugar à janela ou no corredor"?
Invisível da rua, o lugar pode ficar à descoberta….
“A Vida deveria ter uma linha de apoio ao cliente.” Gratuita, de preferência!
Este “atelier” ensina-nos a pôr em palavras o que apenas guardamos na nossa arca de memórias ou que nunca ousáramos dizer. Sentindo-nos obrigados a calar e escutar, fazendo das palavras dos outros as nossas frases.
Avisto um terraço acolhedor, local onde digerir o fim de mais um dia seria o mais generoso que me poderia acontecer. E fico ali. Somente ali. Opto por desligar das vozes e sons e passo a meditar, mergulhando numa noite em que o sonho se manifeste real e onde as estrelas cadentes dancem no meu olhar… Iluminado pelo brilho da lua e enfeitiçado pelas ondas que vão e vêm sem precisão…
Refeita, o último a sair que apague a geometria obtusa de tudo o que pude deixar para trás.


TEXTO: ELF

24 setembro 2013

Alquimia sem Dimensões


Esculpir com alma é ser-se embaixador e alquimista dum templo de tentações que resiste ao tempo. Numa odisseia, onde é preciso encomendar com antecedência a felicidade, até garantir um oceano de sensações inteiramente nosso!

É preciso resistir ao tempo… sem saber a duração e o formato da temporalidade…

Locais inesperados fazem – no imaginário – uma mesa para dois. Quando caídos num, avistamos um avião que desenhou uma linha de fumo esbatido no céu, que parecia indicar um caminho que deveríamos seguir. 

De olhos em bico, acabamos por nos (re)encontrar… Lá, onde as mais estranhas naturezas se juntam…

Ou não fosse a rua a melhor sala de cinema dos nossos dias. São inúmeras as fitas na rua… fitas de rua… sem tempo e espaço para acontecerem. Um amplo espectáculo aberto para passageiros ou simples transeuntes, que correspondam aos estímulos de arte! A novos ‘voos’…

No rasto deste fado, o que fica?

Um manto negro. Quiçá uma ardósia, pendurada à porta duma parede velha caiada de branco, com o horário do espectáculo por definir…
De rugas pisadas no rosto, o desfecho é simples de adivinhar e, já foi concretizado em palavras, por Oscar Wilde:
«Adoro as coisas simples. Elas são o último refúgio de um espírito complexo.»

Sim… Entrámos definitivamente noutra dimensão!