11 julho 2011

InTEMPOralidades


Nunca ninguém é perfeito nas atitudes, nas respostas ou até mesmo no sentir.
No fundo, acaba-se por ser-se comedido(a) uma vida inteira. Não quero com isto afirmar que as pessoas se devam limitar à extinção ou, por outro lado, que alguma vez tenham sido incorrectas, sem que isso tenha acontecido. É sempre preferível aceitar que ninguém é de ninguém, e que se depositarmos expectativas sobre alguém, o problema é inteiramente nosso. A nossa maior semelhança com os outros, analogamente é a diferença. Somos únicos e essa é sempre a margem de manobra subjacente a cada ser… Ser-se único é uma característica que nos assiste, nem que tenhamos irmãos gémeos, siameses, etc. etc. se pode afirmar igual…
É vulgar dizer-se que tudo tem o seu tempo de acontecer…
Talvez numa vã esperança que o tempo esvoaçasse e recolhesse a névoa obscura que embaraça os meus olhos… Procurei frases e conceitos prosaicos sobre tempo e mais tempo que ora se deixa levitar lentamente ou desassossegar…
Tentei amalgamar tudo e ser mais ou menos comedida… Acabei por tentar escrever e agregar alguma coisa que tem tanto de imprecisão, quanto de provocação. Cá vai:

DÁ TEMPO À TUA VOCAÇÃO porque O TEMPO TORNA TUDO IRREAL. Tem-se O PASSADO COMO BASE PARA O PRESENTE, tem-se O TEMPO E A VAIDADE assim como existe AMBIGUIDADE E ACÇÃO... Mas afinal, o que importa efectivamente é O VALOR DO TEMPO, NÃO O TEMPO DESPERDIÇADO POR NEGLIGÊNCIA, mas A NATUREZA SUBJECTIVA DO TEMPO.
A VELOCIDADE DO TEMPO É INFINITA. Ou seja, a HISTÓRIA E O TEMPO SÃO SEMPRE CONTINGENTES: n’O EFEITO DO TEMPO E NA MUTABILIDADE DAS COISAS.
O HOMEM NO SEU SÉCULO sofre com A TEMPORALIDADE. É NECESSÁRIO ESTAR SEMPRE EMBRIAGADO para prever O EFEITO DO AFASTAMENTO NO TEMPO.
O PRAZER E O TRABALHO, O TEMPO E O ESPÍRITO, O TEMPO E O TÉDIO, em suma, TEMPO E IDADE fazem crer que A CONTAGEM DO TEMPO PREJUDICA A CRIATIVIDADE e que O TEMPO REDUZ TUDO A NADA.
Aliás, entre O VAZIO DA PRESSA E O DINAMISMO, O MAIS INFALÍVEL VENENO É O TEMPO. O RÁPIDO PASSAR DO TEMPO É SINAL DE INACTIVIDADE… Assim como AS HORAS são O PARADOXO DO TEMPO.
TEMPO É MUDANÇA mas para que a mudança aconteça é preciso SABER DESFRUTAR TODOS OS TEMPOS e DAR SIGNIFICADO AO TEMPO.
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS VERDADES E O TEMPO, provavelmente e seguramente, NÃO HÁ NADA QUE RESISTA AO TEMPO…

[Cábula de autores]
DÁ TEMPO À TUA VOCAÇÃO Saint-Exupéry, Antoine de porque O TEMPO TORNA TUDO IRREAL Weil, Simone tem-se O PASSADO COMO BASE PARA O PRESENTE Weil, Simone tem-se O TEMPO E A VAIDADE Aires, Matias assim como a AMBIGUIDADE E ACÇÃO Hatherly, Ana... Mas afinal, o que importa efectivamente é O VALOR DO TEMPO Séneca, NÃO O TEMPO DESPERDIÇADO POR NEGLIGÊNCIA Séneca, mas A NATUREZA SUBJECTIVA DO TEMPO Hegel, Georg.
A VELOCIDADE DO TEMPO É INFINITA Séneca. Ou seja, a HISTÓRIA E O TEMPO SÃO SEMPRE CONTINGENTES Kierkegaard, Soren, n’O EFEITO DO TEMPO E NA MUTABILIDADE DAS COISAS Schopenhauer, Arthur.
O HOMEM NO SEU SÉCULO Gracián y Morales, Baltasar sofre com A TEMPORALIDADE Sartre, Jean-Paul. É NECESSÁRIO ESTAR SEMPRE EMBRIAGADO Baudelaire, Charles para prever O EFEITO DO AFASTAMENTO NO TEMPO Kierkegaard, Soren.
O PRAZER E O TRABALHO Baudelaire, Charles, O TEMPO E O ESPÍRITO Woolf, Virginia, O TEMPO E O TÉDIO Mann, Thomas, TEMPO E IDADE Schopenhauer, Arthur fazem crer que A CONTAGEM DO TEMPO PREJUDICA A CRIATIVIDADE Valéry, Paul e que O TEMPO REDUZ TUDO A NADA Schopenhauer, Arthur.
Aliás, entre O VAZIO DA PRESSA E O DINAMISMO Adorno, Theodore, O MAIS INFALÍVEL VENENO É O TEMPO Emerson, Ralph. O RÁPIDO PASSAR DO TEMPO É SINAL DE INACTIVIDADE Pavese, Cesare… Assim como AS HORAS Cunningham, Michael são O PARADOXO DO TEMPO Lichtenberg, Georg.
TEMPO É MUDANÇA Kaufmann, Walter mas para que a mudança aconteça é preciso SABER DESFRUTAR TODOS OS TEMPOS Séneca e DAR SIGNIFICADO AO TEMPO Pavese, Cesare.
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS VERDADES E O TEMPO Ortega y Gasset, José, provavelmente e seguramente, NÃO HÁ NADA QUE RESISTA AO TEMPO Torga, Miguel.

07 julho 2011

Feridas Expostas [I]

Há sempre um tempo de partida que acaba inevitavelmente numa chegada.
Há sempre liberdades pausadas. Liberdades que se pautam pela infalibilidade da vontade.
E o grito? Soa bem alto na clausura dum dia de interposto silêncio, feito eco das desbravuras de um mesmo dia lento e soturno.
O relógio conta os segundos levianamente, contando o desassossego calculista de explícitos estorvos desfeitos em réstias de vida.
As paredes que se ergueram asfixiaram memórias comedidas.
Sem portas nem janelas de vida e apenas no aconchego da sua solidão vã, uma tomada velha aquecida, liga-se à ventoinha que faz revolver o ar. A aragem não cheira a mar mas arrefece um corpo exasperado de tanto se envolver com a sepultura vulcânica instalada no seu íntimo.
As gotas salgadas brotam dos espelhos daquela alma. É a manifestação marítima mais aproximada possível…
E o grito? Faz estalar a tinta daquelas paredes caiadas de branco.
Sufoco perene, o que se concentra nas teias mais enredadas do consciente emparelhado de amarguras…
Aquele ser sofre. Aquele ser não reconhece mais a vida que já o fizera feliz e apenas agarra com toda a sua voracidade, a tristeza malfadada.
Há que cortar sempre na morte, já que a sorte é tão infiel, quanto inevitável.

06 julho 2011

Feridas Expostas


Passou mais um fim-de-semana quente de verão. Mas férias são férias e o ‘dolce fare niente’ levara Camila e o seu filho Luís até à belíssima ilha Terceira, nos Açores.
Escolheram a marina da Praia da Vitória para ali estenderem os seus corpos… A roupa colava à pele e só se estava bem com o corpo mergulhado nas águas límpidas açorianas ou com bebidas refrescantes para não desidratar. É costume o clima ser meio agreste. Por vezes até faz todas as estações num bom par de horas… A insularidade tem destas coisas… Destes encantos… Para quem os sabe apreciar!
Luís saiu da água e a vontade era recuar e ir para lá novamente. O calor estava a estalar e a tarde ia apenas a meio…
Por momentos, Camila julgara que as pedras negras vulcânicas estariam a pregar-lhe uma partida de mau gosto só para a pôr à prova naquelas férias que estavam apenas a começar. Eram tantas as catástrofes que via acontecer nos últimos anos em paraísos deslumbrantes, ou em situações inusitadas, que nem queria acreditar no que poderia eventualmente acontecer, naquele pedaço simpático de Portugal (dos pequeninos)! E tragédias não eram segredo para ela.
Rodrigo morrera num desastre de avião. Casaram na década de 90 e dum amor incontestável, nasceu Luís, a sua única razão para não abandonar a vida.
Camila era alta, serena e tinha um espírito demasiadamente derrotista. Era isso que fazia com que não fosse mais feliz. No passado, a desgraça bateu-lhe à porta e desde aí não recuperara do choque que foi ficar sem Rodrigo, o homem da sua vida… A vida tinha-lhe reservado Luís, um bonito rapaz de 21 anos, que mostrava que a adolescência e a imaturidade o preenchiam todos os dias e que, enquanto mãe, todos os dias faziam parte da aprendizagem do ser humano que tinha vindo de dentro de si e que fora desejado com todo o amor que dois seres são capazes de criar.
Todos os dias pensava em Rodrigo e em como estaria agora, bonito como sempre, imaginava. Os padrões de beleza são sempre relativos, complexos e não menos subjectivos, mas naquele caso Eros tinha sido bastante generoso! Qual deus grego, qual pedaço de vida tornado homem e seu marido.
De relance, Camila olhava Luís e o quanto ele era parecido com o pai. Ela, que não era muito crente em reencarnações, espantava-se do quanto se tinha que render às evidências…
Rodrigo e Camila conheceram-se exactamente com a idade que Luís atravessava, aos 21. Andavam na Faculdade de Belas-Artes. Rodrigo era doido pelo audiovisual e suas descobertas tecnológicas, Camila dançava e bem, para regozijo de Rodrigo. Mas nem um nem outro após concluírem os seus cursos, formalizaram as suas paixões profissionais.
Camila dançava só para Rodrigo que fazia películas caseiras e documentários enternecedores.
É o amor que sentimos pelos outros e o amor que os outros sentem por nós, que faz a felicidade de todos e de cada um.

[…]

20 junho 2011

O deserto de Matilde e Eduardo


“Cabrão do passarinho verde!” – pensava Matilde. Invadida ainda pela paixão lembrando-se do fenómeno que estava a viver…
O beijo até que nem soube muito ao gelo daquele inverno cavernoso, que não parava de assombrar. Os amantes afastaram-se. Tinham que continuar as suas vidas ao som do tempo que não pára de avançar no relógio. Ficou um cheque em branco de carinho… Que a cada (re) encontro teria que ser usado com mimos. Muitos mimos!!!
Enfim sós… Enfim em paz (nem que esta seja especialmente transitória)…
Soam baladas, das mais badaladas nos dois corações apaixonados… Matilde ficara com ecos das palavras alegres de Eduardo murmuradas no seu ouvido… Ao fechar os olhos, ainda escutava cada sílaba, cada acentuação tónica, a sua voz…
- Bom dia!!!! – Exclamava feliz, como uma energia inesgotável…
De regresso ao trabalho, estava dentro do buraco… Os outros ‘ratos do porão’ estavam no mesmo edifício… Frente a estes vermes, nem sabia bem como agir.
Restava ainda algum tempo, por isso decidiu entreter-se com o telemóvel e escrever um sms à sua amiga do coração, Catarina: “Ainda sinto a magia daqueles beijos, daqueles lábios… Na alma... Catarina, diz-me que eu não estou louca?! Por favor!!”
E Catarina responde: “Matilde, já Fernando Pessoa dizia que «Primeiro estranha-se, depois entranha-se…» E quase que aposto pela energia deste sms que ele acertou!!! Leio isso nesse sorriso rasgado e aberto… com que fechas a mensagem!”
Catarina era testemunha do quanto a amiga procurara um amor verdadeiro. Lembrava-se de um dos seus comentários ocos: “só quero é descanso e dormir muito. Ao menos enquanto durmo, sei afastar perfeitamente a solidão.” A sua vida acabara por ser consumida por um gigantesco vazio… Para ela era mais fácil levar a vida, afastando-se de tudo e de todos. Bonita e afável como só ela, Matilde enclausurou-se no trabalho, enquanto a vida ia passando por ela…
Poucos entendiam a sua circunstância e ela, muito menos... Houve dias em que achou que a vida solitária que levava era o bastante para sobreviver. Não era desconfortável… No fundo, tinha a esperança que um dia alguém conseguisse adaptar-se ao seu estilo de vida e fazê-la feliz. Era o que mais lhe desejava.
Recordou as suas últimas palavras proferidas num crescendo de tristeza, antes de (re) encontrar o amor: “tenho 27 anos e nunca saboreei o amor, a ternura, o carinho… apenas o vazio contínuo… Gostava de partilhar a juventude, a força, a esperança, os medos, os abismos com alguém. Um dia desses morro e não vivi um amor que me absorvesse a alma… Realizei situações ‘razoáveis’… Quando para mim a razoabilidade não é nada. É um mero mecanismo de acção, de vida.”
Quem diria que isto um dia, iria fazer parte dum passado naturalmente imperfeito? Cada caso é um caso… A distância e o amor são uma boa combinação. Quando a distância se ausenta… Logo floresce o amor em reencontro… Como na primeira vez… E é com a junção de casos isolados que se combate a solidão, pelos vistos…
Eduardo mudara radicalmente. E num espaço de tempo muito curto, Matilde era incapaz de compreender aquela mudança, se bem que pouco lhe importava, ambos estavam felizes demais, pois não fazia sentido que vivessem longe um do outro. Matilde sucumbira à magia que estava a acontecer. Nunca nada é seguro. O tempo é um mísero fragmento incerto… Afinal, vive-se de momentos que se esfumam, se apagam e invariavelmente se extinguem… Perdeu-se demasiado com o tempo. Perdeu-se demasiado tempo. Talvez, porque o mundo está cada vez mais infeliz… ou repleto de infelizes, que vagueiam nas suas enormes falsidades construídas.
Muito mais que música para os seus ouvidos, tinham a força da arte de amar entre braços… Esperavam-se todas as manifestações (im) possíveis de amor que estariam por acontecer… As palavras viraram actos e o seu comprometimento contínuo! Finalmente, Matilde encontrara-se com o Amor, mesmo quando habitava o seu deserto.

21 abril 2011

Espinhos...


Talvez seja incredulidade minha, provavelmente vacilei em algum aspecto de mim sem dar conta. Tropecei no abismo e caí lentamente conforme um cego alcança a escuridão sem sequer ensaiar…E chegou a minha alegoria há muito tempo… «A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve. Os escritores e artistas trabalham nas trevas e, como cegos, tacteiam na escuridão.» [José Saramago] Identifico-me…

É essa escuridão que tantos e tantas se recusam a ver, a penetrar, por medo. A arquitectura dos meus sonos anda desordenada e o período de sono REM está agitado. Aliás, brutalmente trémulo e exaltado. (Preferiria ouvir o som dos REM nestes momentos… porque sei que Everybody Hurts… [Sometimes…] e que a cada dia que passa, perco credo… religião… [Losing My Religion – REM] e todo aquele refrão cobre-me o corpo, a alma e sinto um estado de vigília concreto, violento e sarcasticamente lento… Corroem-me as palavras:

«But that was just a dream
Try, cry, why, try?
That was just a dream
Just a dream, just a dream
Dream…»

Acordo e, mais viva e em maior estado de vigília impossível…

Henrik Ibsen diz que “O homem mais forte do mundo é o mais solitário.” Talvez por ser aquele que mais imaginação tem para criar defesas, que o impedem de cair quando o corpo já mal se ergue em cima de cascos, sem qualquer ferradura duramente lacrada.

Réstias de rosas encarnadas de textura aveludada que de tão belas, desfazem-se em Espinhos cravados no peito…

01 abril 2011

ORIGENS


Foram necessários anos e anos, atrever-me-ia a dizer décadas, para que me apercebesse quais as cores que formam o meu arco-íris…
Ia tendo luzes, saboreando momentos… Subindo às nuvens com um amor incondicional que me abandonaria a chamar de paixão…
Talvez porque acho que são as paixões que nos movem… E as únicas capazes de mover montanhas, provocar hecatombes… De nos oferecer a inspiração e a energia necessária no nosso mais recôndito limite…
Muitas são as vezes em que me sinto incapaz.
Muitas são as vezes em que não me julgo com forças suficientes para aguentar o leme de um barco que sou apenas eu. Quiçá, uma bússola me desequilibra por a não saber ler em profundidade, da mesma forma que as rotas residirão no segredo dos deuses… Todos os meus pontos cardeais estão adulterados ou a caminho disso mesmo. Em suma, presto-me a ‘ser’ um vulto andante não identificado, que se vai abstraindo das sombras que se cruzam a cada passo do percurso que escolho pisar…
Curiosamente, o comando da televisão é bem mais auto-suficiente que um comum mortal…
Duram até acabar a(s) pilha(s), mas facilmente se consegue contrariar e remendar o assunto…
Os vários botões disponíveis possibilitam que acedamos a diferentes mundos…
Em breves instantes… Contam-se histórias. Expõem-se as mais diversas realidades sejam elas científicas, fictícias ou reais demais para se assumirem enquanto verdades.
Num surrealismo de personagens, identifico-me com vários percursos de vida, emociono-me com imagens destorcidas de maldades, de meros desencontros bacocos ou de atrocidades desavindas…
É nas descobertas, encobertas pelo tempo ou na pureza das memórias esquecidas, que encontro respostas tendencialmente minhas…
Afinal somos feitos dum passado, dum presente e dum futuro.
O que descubro? Relações que equacionadas fazem sentido, ou não fosse a matemática uma ciência exacta! Chegando a números em processo de catarse ou metamorfose… que deixaram chagas marcadas num tempo passado, mas que na encruzilhada de momentos vividos, fazem hoje parte dum universo sempre em vias de extinção…
Cada dia é de preservar, mas mais do que isso, é o tempo certo de marcarmos vincada e definitivamente a nossa atitude perante esta vida que se nos apresenta, enquanto este mundo existe... Direi aproveitar ao máximo a passagem, a oportunidade que nos foi concedida de respirarmos o ar que lentamente se vai asfixiando…
Talvez nesse sentido Saramago tenha escrito que «A eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e o universo não saberá que nós existimos.»
Descobrir origens não é mais que nos completarmos mais um pouco…
Descobrirmo-nos é uma eterna incógnita, mas no que respeita aos nossos verdadeiros talentos, há que provocá-los ao máximo, para que os enxerguemos nitidamente.
Nem sempre os outros conseguem prever as nossas potencialidades, se não as expusermos um pouco… Levantar o véu… É partir para um infindável universo de fertilidade.

23 março 2011

Tempo de Orar…


Ontem falamos. Foi um diálogo espiritual.
Falaste que estavas feliz. E eu nada sei de ti, nem do teu paradeiro para ser mais concreta.
Às vezes falo com o vazio à espera de respostas, mas é nessas alturas que encalho com a mítica frase de Séneca: "Não há ventos favoráveis para o barco que não conhece o rumo."
Estranho tudo e o rumo acaba por ser uma vasta linha de horizonte, que ninguém alcança, nem mesmo do outro lado do mundo [do outro lado do meu mundo?!].
Disseste, esboçando um sorriso que ‘não mais deveria chorar’.
Mas sou Mulher, sabes?
Se é desculpa ou não, não sei… Mas sinto a fragilidade sensível da saudade que por ti se rende.
Onde quer que estejas, e se me vês, digo-te desde já que estás numa posição privilegiada.
Poucos sabem de mim.
E tu encontras-me sempre, pelos mais indiferenciados meios…
Não entendo porque te escondes tanto, quando este é o teu tempo, o nosso tempo… O incalculável tempo de sentir!
Falta-me a passagem, para a outra margem, mas o barco não tem motor e para os remos já não há força… Resta-me flutuar neste mar imenso, denso, intempestivo.
Tu bem sabes como são os meus dias: eternos recomeços, que mais parecem quaresmas num só dia, em que me converto a práticas de jejum, esmolas e orações…
Fiel aos meus ideais, estes dias não passam de penitências vãs…
Pois a minha meditação é tão ou mais desproporcional dos anseios que julgo perdidos…
Qual o reino que me aguarda depois de tanta caridade coerciva, exasperante e irremediavelmente extenuante?
Que luta desbravo? Que justiça me ergue? Que paz me acompanha? Como o amor poderá construir e estender-se à Humanidade?
Abandono-me à reflexão oca, porque tudo em que acreditava tem os dias contados…
A minha economia entrou em colapso.
E, no ajuste de contas, somo contas subtraídas, multiplicadas por divisões complexas...

15 fevereiro 2011

Sinais Vitais


Estou a arder em fogo, em chamas voluptuosas. O fumo deixa um odor trémulo de paixão...
Acho que amor é amar-te cegamente… e, avistar-te em todos os horizontes que me preenchem de vida. A beleza deste amor não tem identidade, mas todas as suas emoções interferem no bom funcionamento de um corpo em labaredas vivas.
Sem qualquer sinal de lume brando, observo todos os sinais que me encaminham a puras cinzas.
Pensei que as palavras fossem incapazes de ganhar autonomia na altura de serem proferidas ou, que a voz falhasse nesse preciso momento.
Esperava que se ouvissem ecos internos, para que não se balbuciassem palavras falhadas que de tão mal articuladas transmitissem o eco oposto…
Aguardava mais a(s) resposta(s), do que propriamente a pronunciação de vocábulos que se assemelhassem a sentenças, se bem que nessas questões, a clareza seja escassa em todo o seu esplendor…
Não acreditava que dois seres combinassem e se completassem tanto, ao ponto da adaptação ter sido conseguida ao ritmo de duas vidas tão distantes!
O cenário comum era de destruição. Devastador. Indigno de reposição de controlo. – Diria eu. Céptica em relação a tudo quanto ao que aos sentimentos bons, possa dizer respeito.
Vivemos momentos de «papel»...
Papel, que se dissolve pelas gotas de chuva que teimam em cair... Desmesuradamente...
Papel que não sei se resistirá à reciclagem dos tempos...
Vivemos de apontamentos, de breves anotações falidas...
De rascunhos sempre inacabados...
De sinais vitais que se esfumaçam sem qualquer longevidade...

20 janeiro 2011

(Des)Encontros?!


Vou cravando os lábios entre dentes, em tom de êxtase pela tua presença inerte e encantada…
A tua surpresa é como a névoa que jorra em fracções de segundo, todas as memórias que escavei em ti.
O que desconhecemos uns dos outros? Uma infinidade de pensamentos tão clandestinos, quanto aquilo que o nosso próprio inconsciente esconde. E do qual temos uma vaga ideia! Igualmente, se doutra forma fosse, estou certa de que iríamos acumular imensos detalhes difusos… As vulgares enxaquecas, converter-se-iam ordinariamente numa ‘vulgaridade’ absurda.
Não esqueço o teu rosto. E aquelas palavras que disseste. Talvez fossem palavras predefinidas ou preconcebidas, mas recordo uma a uma: «Ligo-te no olhar, desligo-te no paladar! Ligo-te quando estranhas, desligo-te quando esperas! Desligo-te agora. Ligo-te já…» ‘Coisas’ de homens ou coisa que o valha. Dizem estas coisas, mas são independentes da conformidade. A ‘pseudoignorância’ e a ‘pseudo-auto-consciência’ não têm limites… A presunção do auto-controlo e da auto-sapiência é invulgarmente deliciosa! Mas só o que existe, é desejado realmente…
Carecia de tempo real, porque meia dúzia de minutos tem sido muito pouco…
“Para quem diz não ter tempo, que tenha tempo, de no tempo encontrar o tempo.” Ai, Paulo T. Fonseca, e encontrar-me neste tempo?
Tenho abraçado a vida de forma incondicional, mas o ar tem vindo a asfixiar-me ferozmente. Tem estado turvo, tal como a minha visão tem estado intransigente e apagada. Todos enganamos a morte ou vamos enganando… num período inconstante e indefinido.
Identifico-me com o abandono da (ou à) sorte, sem o teu cheiro, sem o murmurinho calando palavras doces no meu ouvido, sem o teu corpo atracado ao meu.
Se me amas conduz-me, que sinto-me a vaguear no espaço e o universo parece-me muito acanhado, diminuído e minúsculo.
Tenho saudades de te ver no meu jardim d’ alma, ‘amor-perfeito’.
Colorido, mas discreto.
Personificado, mas concreto.
Quando escuto que “a solidão não é mais que um sentimento egoísta que nos faz pensar que estamos sós, quando na verdade estamos rodeados de tudo o que nos ama” atinjo a minha imperfeição enquanto ser.

10 dezembro 2010

Suspenso no real


Já me entreguei à astúcia do tempo, fingindo que não via essa representação simbólica da eternidade que construímos e abandonaremos um dia.
Inexorável, remeti os meus pensamentos borda fora naquele embalo marejado, porque queria afogar as mágoas no esquecimento, só que as dores, por mais que caminhe ou esbraceje não me ensinarei a apagar.
É o que acontece quando as derrotas são intransigentemente nossas e não há tempo, nem desculpas para a mais fatídica despedida.
Peço e repenso nas boas memórias impedidas da continuidade, implorando que o fim não fosse tão perverso e cínico ao ponto de me perder de ti tão rápido, com a perícia de uma vida que se esvaía entre as minhas reminiscências indolores e ávidas de amor. E que nunca mais poderei vislumbrar, nem tocar, nem partilhar esse ar de vida que se perdeu, ou que em última instância quero acreditar que se desencontrou subitamente de mim.
Seco uma lágrima e outra… e outra… e ainda mais outra… tento secar todo esse pranto que me enche os olhos de saudade… Nada me consola… A veia cava entope-se de melancolia… e tudo o que chega ao coração é um desperdício de carência da tua presença.

Do pontão avisto águas turvas e ondulações fracas… escorro-me para o rio que retém a minha água pontífice, suprema. O horizonte esconde-se atrás dum nevoeiro cerrado, pois nem ele quer ver a tristeza de alguém que se perde de outro alguém…
Apesar do Outono, é manifesto o frio, que nem a camisola de gola alta, o casaco mais quente ou o cachecol podem proteger dum icebergue colossal como o que carrego…

Embalsamo as memórias que colorimos juntos… É tudo o que de ti tenho… Parece tão pouco, quando no fundo foram fragmentos vividos de ternura, de amizade, de cumplicidade, de abrigo.

Nunca esquecerei quem partiu…

Aquilo que vejo agora são sombras encobertas pelas almas que me falam ao ouvido, e que sem cegueira e sem ensaios escuto vagarosamente, saboreando as vossas vozes que me lisonjeiam os sentidos… Fecho os olhos e deixo suspenso o momento de voltar a ver vida…

[Em memória de J. e F.]

11 novembro 2010

(Re)Conciliação...

Pouso o corpo, como se o desmantelasse, naquela areia molhada junto ao mar…
Carecia daquela paz, daquele abrigo, daquele relaxamento épico.
Carecia sentir a natureza a acalmar-me os distúrbios que me extinguem as forças.
A brisa do mar irrompia sobre a nudez que se descobria.
Enquanto um arrepio me atravessava a pele em brasa…
Não lhe reajo, mas deixo-me a apagar as nuvens do céu.
Os raios de sol da manhã intensificam-se e fixam-se nos grãos de areia que escaldam o toque.
Vagarosamente, sento-me, flectindo as pernas, entrelaçando os dedos das mãos sobre os joelhos…
Tento abrir os olhos, mas é quase tarefa impossível, uma vez que a luminosidade que se afigura não deixa avistar nitidamente a cor do sol.
O mar está brando, parece um rio sossegado ou uma lagoa paradisíaca com cores fluorescentes.
Num vaivém disciplinado, o areal cobre-se e descobre-se de águas límpidas…
Pela areia vagueiam pedras e pedrinhas de várias cores, búzios e conchas com vários trejeitos…
E uma espuma suave vai riscando várias linhas na areia ao mesmo tempo que a maré se presta a vazar…
Ouço as gaivotas esfomeadas, mendigando por peixe fresco.
E em ambiente bucólico, o tempo acaba por passar incalculavelmente.
A solidão atravessa-me o peito já habituado a viver em retiro constante.
E lembro-me de ti… Lembro-me da tua voz…
Sabes, é quando estou contigo que me reinvento, me ignoro e consumo todas as fertilidades do meu imaginário.
Dir-te-ei ainda que tropeçando nestas memórias, é impossível não curar a alma e não reconquistar a conciliação com o meu resfôlego.

10 novembro 2010

Há dias... Há noites... (que não tenho ideias livres!)

[...]
Há dias que não tenho ideias livres.
Nem vontade.
Nem ideias.
Nem liberdade.
Nem dias.
Encarcero-me na desilusão dos dias felizes, porque o foram e já não o são.
Apagaram-se com o tempo, num silêncio rude. Impotente. Dissidente.
As imagens desbotaram, nem a cor, nem o preto e branco carimbaram a cor sépia do tempo.
E de carimbos percebo bem, aqueles que me marcam a pele em cicatrizes intempestivas.
Lembro-me bem de duas bocas acostadas, sedentas do hálito quente e sorumbático, saboreado segundo o despertar inflamado da paixão.
Como adoro estes aplausos de alma!
Serei perfeita ou imperfeita nessa livre vontade?

Viajo demasiadas vezes no tempo.
Entro e saio no carrossel… após mais uma volta e outra, e outra, e outra.
A partida e a chegada são semelhantes, diria iguais, dado o percurso incluso, se bem que as motivações são completamente diferentes. Passa-se da euforia aos pontos finais…
Pontos em que se perde…
Pontos que se cruzam…
Pontos castradores…
E, sem qualquer alternativa, voluntariamente, rendo-me e entrego os pontos.
Já não sei ser serpente, nem corromper-me com o meu próprio veneno, que outrora me deu vida e me atirava, nem que fosse aos pontapés, para o mundo.
Ninguém esquece, o quanto esse veneno é atroz e eficaz.
Em êxtase, em desespero resistir-lhe é impossível.
Que o negue, quem for capaz…!

Por esta altura, não sei muito bem qual a minha circunstância neste mundo…
O nível de desfasamento da realidade é gigantesco.
Em última instância, acho que estou por aqui a tentar remendar o sol…
Ou os pedaços de luz que me seduzem os sentidos…
Concentro-me nos sorrisos que iluminam o meu sorriso...
Penetro o olhar na beleza dos momentos parcos e incomuns.
Fecho os olhos e abraço a vida, adormecendo como uma criança depois de um longo dia de recreio.
Adormecida, espero que o teu veneno me entranhe e me arrebate, numa melodia soturna e apaixonada.
Apenas essa poção me fará viver de esperança num ritual de encantamento e de felicidade…
Há noites que não tenho ideias livres.
Apenas vontade de amar incondicionalmente.
Apenas ideias e ideais de satisfação.
Apenas liberdade para sermos felizes.
Se calhar, apenas noites,
Apenas boas noites para serem vividas e partilhadas em ambiente metafísico.

28 outubro 2010

Vozes que não esqueço!


Escuto o meu nome pelo som que proferes…
Todo ele se invoca e se perde nos teus lábios, enlevando-se para os meus sentidos…
A emoção toma conta do nó que sinto na intimidade, ao escutar esse timbre que me preenche.
Expiro todo o ar que me resta e apenas espero não desfalecer, se bem que em verdade o meu chão já não está na íntegra debaixo dos meus pés.
Qual serpente encantada sou, na vibração de cada sílaba que expeles por entre a perdição de lábios doces e ternos...

[…]

26 outubro 2010

Convite à Taxa de Mortalidade

É interessante ouvir falar sobre a desafiante indiferença que este (e outros) país(es) tem para com as gerações que se preparam para o segurar ‘de bandeja’ nas mãos…
Dão-lhes precariedade ao mais alto nível e ao que parece é preciso ser-se licenciado, para viver na precariedade mórbida! (Até nisto as maiorias ganham… é o poder da democracia!)
Dizem por aí que um licenciado tem que ganhar no mínimo, o equivalente a dois ordenados mínimos nacionais, quando se conseguirem um ordenado mínimo nacional, é sinal de emprego.
Dizem por aí ainda, que estudar e formação superior, naturalmente qualificada é uma mais valia…
Provavelmente para ter a animosidade suficiente, ou vá, o estômago suficiente, para ocultar as suas reais qualificações… para conseguir um emprego.
Fala-se que a crise é uma oportunidade e o discurso repete-se em múltiplos serões de esclarecimento e de sensibilização, o que é certo é que, esta crise parece de facto ser uma oportunidade efectivamente para os jovens caírem na enorme bancarrota do endividamento.
Pois, se várias criaturas conseguem multiplicar-se em cargos e honorários chorudos, os caríssimos jovens têm ao dispor a miserável oferta de estágios não remunerados, que findos, tem uma porta aberta: a da rua.
Após várias tentativas frustradas de estágios e mais estágios, vá, “vai-se ganhando calo” em matérias como persistência, perseverança, úlceras nervosas agravadas, depressões crónicas, horas extra não remuneradas, resistência gástrica (ou não), suicídio?!, frustração agravada, e em última instância chega-se à triste e desmazelada demência.

Ora, grão a grão vai-se extorquindo até ao tutano estas criaturas, que quiseram investir na formação quer dos filhos, quer dos próprios!!! Resultado?! Não é muito difícil adivinhar. Acabam por se resignar e tomar como garantido um emprego qualquer, para assegurar aquilo com que se paga os melões…
Bem, para não dizerem que não sei daquilo que estou a falar, e como diria alguém da hasta pública ‘é só fazer as contas’, e uma vez que a matemática nunca me foi infiel…
Vejamos, se somos a geração dos 500 euros, ganhamos mais 25 euros que o salário mínimo nacional e menos 450 euros, equivalente a um ordenado de um licenciado. Sinceramente entre ganhar +25 euros e -450 euros, ora ‘que grande gaita’, como dizia o professor Gusmão de matemática de 5º ano, do ensino preparatório. (E e é que nem como nos filmes é, em que “qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência…”)
É o SAQUE! O ROUBO! A LADROAGEM! Dum imaculado rigor, surpreendente…
Portanto, São as diferenças… se bem que receber 500 euros em nada se compara a receber zero euros, estando na rua desempregado.
Numa ginástica orçamental, 500 euros tem que servir para pagar água, luz, telefone, gás, géneros alimentícios, prestação do carro, prestação da casa, escola dos filhos e despesas que tratam de aparecer desavindas do além?!… (cônjuge desempregado, as SCUTS, o IVA a subir… e vários etc’ s.)
(Acho que encontro um pervertido elo de comparação entre geração rasca e geração dos 500 euros… ou quiçá um círculo vicioso… apelidado: geração enrascada!)
E o pessoal ainda incentiva à natalidade… como se as pessoas não tivessem o mínimo de massa encefálica… (vá lá que essa ‘massa’ ainda vai existindo) para saber que se não têm oportunidade de garantir dignidade de vida às crianças, para que as vão ter? Para passarem necessidade? Para a lei não proteger devidamente as mulheres? E a que algibeira se vai recorrer?

Passemos aos idosos, que recebem por mais de 40 anos de trabalho uma desgraça franciscana… (e há quem fale em dignidade na velhice… mas até aí o ostracismo reina!)
Vamos ao sostras deste país que se vingam no rendimento mínimo de inserção social… enquanto o Zé Povinho aperta o cinto…
Vamos aos não menos sostras que acham que o fundo de desemprego vai durar para sempre… Colando-se a eles tipo lapas e não o trocando por menos!!!! Ah!!! Valentes!!!!!!!!!
Vamos ainda à questão, dos descontos para a Segurança Social que são religiosamente feitos mês a mês, e que cuja aplicação é duvidosa… Interrogo-me daqui a 30 anos se chegar à idade dela, vou viver de ar e vento e dizer: Porreiro, Pá!?

Portanto, aquilo que quero propor a um(a) senhor(a) secretário de estado, ou um(a) senhor(a) ministro(a) é tão simples quanto isto: reduza os seus rendimentos a 500 euros (essa farta quantia!) e governe-se um mês, nem que seja Fevereiro, para que a hecatombe não seja traumática. E depois explique como é possível viver com dignidade auferindo este magnânime montante!? (Parece-me que aqui a atitude vai ser de indiferença… quando todos apregoam o não à indiferença…) A propósito, existirá pior sentimento que a indiferença?

Quero um Alzheimer compulsivo… para esquecer o mundo onde vivo.
Ou então como diria o Lopes da “Sábado”, ensurdeçam-me com as vuvuzelas, para nunca mais ouvir falar de crise…
Porque se ela existe, claro está, não é para todos. É só para aqueles que sempre conheceram de perto os sintomas da dificuldade…

Este é o desafio que coloco à indiferença.
Porque não importa o género, se a igualdade é sempre tão discutível e a inclusão social não passa de mera ilusão. (Além de que sempre foi mais fácil e simples excluir do que incluir.)

Perdoem-me o vómito. Mas não compactuo com hipocrisia.
E por isso faço um religioso apelo à mortalidade:
“Ó Senhor dos Matosinhos
Ó Senhora da Boa Hora
Ensinai-nos os caminhos
P’ra sairmos daqui p’ra fora!”

Para onde?
Não sei.
Porque quem foi… Diz que nunca mais voltou…

(escrito em Julho 2010)

14 outubro 2010

Pontos...

Canso-me da minha vassalagem às letras miudinhas, que reunidas, poucos lêem e que apenas eu, justifico.
Intrometo-me em demasia com a introspecção de notas soltas que se abrigam no meu inconsciente tolo e imprudente.
Palavras são só palavras quando significam, ao contrário, são apenas meros vocábulos expelidos… vociferados por bestas desenfreadas que pelos uivos de cães são amaldiçoados pelo vil cheiro e aproximação da morte.
Morte às palavras. Morte ao enormíssimo desacordo ortográfico instituído.
Morte aos pontos que já não são nem de admiração, nem de interrogação…
São apenas pontos. Ou indeléveis golpes, nos pontos de vista.

20 setembro 2010

Ar de vida...

Há recantos capazes de nos aproximar ao nosso mais íntimo mar, sem que nos percamos no emaranhado de linhas do horizonte.
Recantos onde se estabelece o encontro sempre que os momentos de diálogo precisam ser restabelecidos.
Era uma espécie de esconderijo com uma vista surpreendente e privilegiada para o mar.
De entre rochedos, vislumbravam-se estrelas que vagueavam no céu e experimentava os salpicos salgados das ondas mais intrusas…
Na mais perfeita miragem deixo-me levar e conduzo-te nesta delicada invenção.
Prostramo-nos num banco de madeira a contemplar as dádivas da natureza...
Vais desviando a atenção entre a frontalidade do mar e a invulgar luz das estrelas cadentes que num ápice desaparecem.
Mal dá tempo para pedir um desejo…
Mas ao ouvido, sussurras-me desejos que esperas ver cumpridos...
Escuto, atenta... E vagarosamente deixo-me levar pela respiração que arfa no meu ouvido e que escorre pelo pescoço...
Os lábios tocam-se com a mesma brandura dum véu singelo que cobre um corpo despido. Mergulhamos num beijo de intensidades obtusas…
Os braços entrelaçaram-se num laço eterno...
Como se estivéssemos a embrulhar aquela noite no nosso presente.
A intranquilidade do momento restabelecia o sossego em duas almas abandonadas.
O nosso ar fundia-se em vida.
Se existia, estaria desfasada e ainda mais perdida de nós.
A avidez do momento fez esquecer todas as imagens de rostos incapazes de resistir às melindrosas paredes duma casa com fissuras e brumas enterradas numa atmosfera gélida e desabitada.
O êxtase do momento recriava um acordar em que o ar que se respira é o mesmo…
Num calor indescritível. Sentimos o ar transplantar-se entre nós. O teu ar era o meu ar…
Finalmente respirava.

10 setembro 2010

Este meu desassossego...

Estranho cada pluma que se enroscou no meu peito.
Estranho a cor, o cheiro, o brilho.
E não lhe atribuo qualquer significado...
As camadas de brilhantina no cabelo fazem escorrer ou viajar o tempo.
As sombras nos olhos, o rímel negro poderoso, as maçãs do rosto rosadas…
O vestido marca uma silhueta feminina uniforme…
Cobre a pele como se de uma segunda se tratasse…
Os saltos fazem crescer a voluptuosidade do momento…
Sobem-se as escadas e diante de desconhecidos rostos…
Abre-se o pano, acendem-se as luzes, dando lugar o espectáculo…
A sombra está ao meu lado no palco.
É a única que não me olha com falsas esperanças.
No texto do guião murmuro em monólogo:
Já não tenho palavras que a ti se dirijam… estás longe do meu presente.
E ainda mais do meu pretérito mais que perfeito.
De amores-perfeitos sei pouco, até porque duram pouco…
Erguem-se majestosos até que o tempo os leva à condição.
O que me leva a crer, que mesmo os efectivamente perfeitos, não sejam eternos.
Provavelmente duram uma estação.
Provavelmente a semente não prevê a sua cor.
Provavelmente não sabem que fim é suposto esperar…
Vento, chuva, mão criminosa?
Mão que não deixa a ligação com a natureza perdurar…
Rouba-se uma vida…
Acaba-se com ela.
É esta injustiça que me destrói e me aniquila a alma que me resta.
Assassino de almas.
Assassino de mim…
Num melodrama perverso, morro em palavras e caio matando a minha própria sombra do alto palco.
Espero que o pano feche.
Quero ouvir o burburinho, que me espera esta performance tão intensa, sempre inacabada.
Numa confusão de cenário, som e luzes elevo-me do chão.
Olho o público, confusa e surge uma imensidão de palmas e de ‘bravos’…
Aplaudem-me de pé e sorrio.
Hoje, por mais que queira vou dormir com aquele sorrisinho parvo.
Aquele que verdadeiramente me escalda o peito e me aconchega a alma.
A emoção toma parte pelo olhar…
Choro e rio…
E revejo cada som de aplauso bem como a luz que desponta daqueles rostos iluminados.
Já posso morrer porque já vivi este meu desassossego.

03 setembro 2010

Metade do meu céu...

Sombria a tarde cai, delegando na noite a obscuridade plena…
Uma gota de orvalho percorre a janela vagarosamente deixando para trás um rasto que seca por si.
Lá fora, os meus olhos apagam a focagem das luzes que se perdem no horizonte…
O silêncio é interrompido pelos sons do mundo que acalmam o sossego que ali se prostra.
Longe vai a vontade indefesa de cair no esquecimento das palavras de um livro, que me libertam as emoções…
Uma vela solta o calor de uma qualquer fragrância doce e frutada, iluminando o abecedário cruzado daquelas páginas romanceadas.
O instante remete-me a um embalo de tempo pesaroso.
Semicerram-se as pálpebras e, os contornos da história atravessam o meu inconsciente…
Reinvento personagens, procuro um espaço e um tempo coincidentes…
Atraio palavras para diálogos apaixonados…
Seduzo a natureza a tornar-se a mais harmoniosa…
Crio o tempo das possibilidades sem sombra de interdição.
Mobilizo os afectos… numa chusma de incapacidades para amar.
Com sentidos tão surreais quanto dispersos, que ficam no livro de apontamentos, para as notas de rodapé.
A árvore genealógica não tem raízes, tem inúmeras cicatrizes em relevo…
Entrelaçadas por rancos floridos de esperança e frutos cor de pecado…
As ervas daninhas formam relvados de jardins imprevistos, numa natureza viva e em absoluta comunhão…
O amor incorre na dúvida de se reflectir na vida dos personagens, como se necessário fosse um argumento ou contrato para amar… Nos encontros e desencontros que uma vida vivida é capaz de proporcionar…
A noite cai na perversidade da madrugada e acordo…
Acho que sonhei muito… ou passei por várias imagens fotográficas de intensidade variável…
Nem sempre nos abrimos ao exterior, aos impulsos e desejos mais encobertos…
A vergonha, a negligência, a culpabilidade compensa-nos os sentidos, anestesiando o que deixa de ser a nossa verdade…
Cedo à vulgaridade da letargia do sono e uma vez mais intensifico a disponibilidade para sentir…
No céu, desfaço um aglomerado de nuvens e escrevo o meu nome…
E no limite, aguardo que se complete… a outra metade do ‘meu’ céu...

05 agosto 2010

5 ANOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


A 31 de Julho de 2010 o VIVEMOS DE MOMENTOS comemorou 5 aninhos!!!
É incrível como o tempo passa...
Como se costuma dizer... as estatísticas valem o que valem...
Contudo, é bom ver que em 4 anos tive 32.368 visitas, uma vez que o contador de visitas só após o primeiro ano apareceu...

Obrigada a todos pelo carinho e pelos mimos!
Regularmente marcaremos encontro por AQUI...!

Até ao próximo encontro...
Vivam momentos e não esqueçam de vivê-los com a máxima intensidade…