21 julho 2009

Descansa estrelinha...


Caem-me lágrimas comovidas… ao pensar-te… ao julgar-te… ao lembrar-te…
Não voltaremos a estar contigo. Mas marcaste cada um de nós pela excentricidade, fúria de palco, pela tua arte… Eras um verdadeiro entertainer…
Ainda mal consigo acreditar no que aconteceu.
Quando ouvi a notícia, não sei se não quis acreditar ou se estaria a delirar…
Um deus da música não morre, é um artista que deixa um legado fabuloso de memórias com ritmo, espectacularidade e sobretudo muita VIDA.
Lembro-me de há relativamente pouco tempo perguntar o que tinha sido
feito de ti?!
E obriguei-me a procurar-te… e sempre te (re)encontro.
De tantas versões que já ouvi da SMILE, apenas a tua me encanta… pela
tua magia na interpretação… (Era a tua música favorita. Seria isso?!)
A tua voz angelical…. Tão peculiar…
A Brooke disse tudo… na sua terna descrição de ti… (por esta altura)...
Imaginar-te-ei sentado num quarto crescente, com uma cana de pesca, com a ingenuidade no sorriso de um menino a pescar estrelas...
Sempre foste um menino, nunca cresceste, viveste como um anjo no teu mundo dos pequeninos, “Terra do Nunca”…
A tua projecção foi enorme… toda a gente te conhece… e tu algum dia te conheceste? Tiveste a real noção do que és… do que representas?
Ou simplesmente limitaste-te a viver-te… como o comum dos mortais?
Foste tudo… foste nada… para quem realmente ‘foste’, és e sempre serás…
Povoaste o meu corpo em vários passos de dança… Sim. Porque eras tu que entravas dentro de mim e soltavas os meus passos… cada movimento e trejeito do meu corpo… absorvia a mestria do teu talento…
Deixaste-nos. Mas não em tom de abandono…
Deixaste uma dívida que não escapa indiferente a ninguém…
A SAUDADE.
Nós é que ficamos mais pobres…
No ‘SEGREDO DOS DEUSES’… fica a pergunta… o que viria por aí…?!

06 julho 2009

Memórias de Mel...


Mel…
O doce néctar que subtraio das recordações presentes desses dias de sol intenso, sem nuvens, com um mar imenso e sorrisos… gargalhadas… e mais sorrisos…
A cada pôr-do-sol vislumbrei a gravidade dum calor incomensurável…
Não de tempo, mas do espaço que não existe quando a alma se completa…
Que mentira doce…
Que desejo inconsistente de voltar ali…
Na minha imaginação recrio persistentemente todas as memórias…
Voltarei ali todos os dias em que a lembrança me invada e o sorriso me acompanhe…
A felicidade chega a ter o dom da imprevisibilidade.
Não sei se deva sonhar um pouco mais… para variar desta realidade que conscientemente não escolhi.
Que doce mel encontrar momentos de vida perdidos por aí.
E o que fica do passado é o que volta a ser presente.
E a gente sente… sente… sente…
Como se da primeira vez se tratasse.
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Nos álbuns restam fotos, de tempos jamais esquecidos.
Imagens de rostos quentes, que aqueceram os dias mais incoerentes…
Era um grupo de crianças, que entretanto foi crescendo.
Perdi o rasto de algumas, muitas viveram somente para si…
Cada uma terá uma história para contar…
E essa será a sua história.
Houve um tempo em que a história era nossa…
Em que várias histórias se cruzavam numa comum…
Na altura só havia uma palavra capaz de definir a nossa ligação: Perfeição.
(ao que parece ela existe…)
Voltar a encontrar caras queridas, algumas esquecidas é reaproximar as nossas vidas…
Prontamente, vos espero, porque foi o acaso que nos reuniu a vontade.
Quero escutar as vossas vidas…
Saber todos os pormenores que marcaram os tempos das ausências cerradas de cumprimentos…
Vislumbrar o que o tempo nos fez…
Estaremos perto?
Estivemos perto?
Quantas viagens ficaram para trás?
O que é que essa vida fez de nós?
Quantos de nós estiveram sós?
Retomemos o que nos juntou…
A ingénua amizade da juventude.
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Tanto que não sei desta gente.
Tanto que se perdeu…
Quero regressar ao íntimo possível dum tempo que não tem que acabar…
E quiçá consolidar cada segundo que passe… porque são esses mesmos segundos que são construídos sob forma de encantamento… para a alma… enriquecendo cada um de nós…
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Reúna-se tudo o quanto é possível para que recuperemos um pouco da mística que nos encerra…

22 junho 2009

Horas vazias de alguém...


Algema de Ponteiros

O tempo não tinha esquinas, degraus de tropeçar, fechaduras de segredo.
O tempo não magoava, o tempo não traía, o tempo nunca feria o medo de não o ter.
Não era preciso fazer durar o tempo; o tempo já era a duração de si próprio.

Naquele tempo, a voz não tinha pressa, cada passo falava com a terra, cada dia era um dia, e não o antes da noite.

Encosto-me num recanto da cidade, observo, em pasmo, o correr cinzento das gentes, e dou por mim, virado criança, a andar lentamente pela berma do passeio.

Que é feito do tempo de ter tempo?
Que é feito do beijo das horas?
Onde está o mel da demora que barrava o pão de cada dia?
“O homem é dono do tempo”, disse alguém.
Mas quantos são os donos do tempo?

Tive poucos relógios em toda a minha vida.
Não gosto de sentir no pulso uma algema de ponteiros.

Autor: Emanuel Jorge Botelho

31 maio 2009

Crepúsculo...


Tenho sempre a mais ténue lágrima para ti…
Brotando num lusco-fusco que a mim confias…

Tens habitado em mim solenemente…
E entre rasgos de recordações…
Gotejam esperanças lânguidas…
De memórias destruídas…
Que me impedem de abandonar-te…

Já não distingo as realidades proporcionadas pelo meu alter-ego.
Estará ele tão distante de mim?
Planeará ressuscitar-me para o que existe?
Será mero acaso do esquecimento?
Ou serão tons agudos de dor silenciosa?

Apetecia-me deter as dúvidas,
no teu rosto e nas tuas palavras…
Queria que o manifesto fosse proferido através da mais profunda expressividade que jamais poderei ler…
Se a fatalidade me contestasse,
Voltaria a amanhecer…

Queria a ausência de sentir…
Queria ser como o vento…
Queria tentar omitir…
Este sábio lamento…

Não incomodo mais a tua alma
…que descansa por aí…
Não te grito mais…
…experimenta ouvir os meus ecos.

Sentencia tudo o que sentes…
Sentencia a tua vontade…
E admira a tua verdade….

24 maio 2009

É assim... fora de tempo...




Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido
Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido.

(…)

Ivan Lins e Victor Martins, Começar de Novo

02 maio 2009

Na noite...


Esvoaça estoicamente a melancolia…
Acresce a vontade de te embalsamar num sonho…
Sem estratagemas redutores.

Acabou-se o vício de te sofrer.

Parto em busca dos laços…
Alcanço os teus braços…
Reclamo a saudade já tão cega de tão muda…

Criaram-se espaços…
Esmagadoramente vazios…
Em magia austera…
Em encantamento sombrio…

Preciso dissolver o pensamento
Aquecer o momento
Quebrar com a insatisfação…

Serei o que fizer de mim…
Serei alma na escuridão…

Dedilho palavras que pressinto,
Uso pertinentes labirintos…
Nunca me confesso.
Prefiro evadir-me nos meus inesgotáveis silêncios…

25 abril 2009

«E depois de nós?»



Paulo de Carvalho - E depois do Adeus
Música: José Calvário Letra: José Niza
(vencedora do festival da canção de 1974)

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…

E depois do amor
E depois de nós
O adeus

O ficarmos sós

Nota: Esta canção serviu de senha de início da revolução de 25 de Abril de 1974 e serve de inspiração!

05 abril 2009

Resfolego...


Vazaram-se-me as palavras recônditas.
Trocaram-se-me as voltas do mundo que me assiste…
Deixei de usar o tempo.
Para que me use a mim.

O sossego interno necessário, inquieta qualquer ser que o busca.
A calma da tranquilidade é imprecisa.
O espírito treme no temor do passado.
Que não passou dum tumor esquecido.
Já não há sangue que verta o infame.
Um dia tinha que expirar a última gota.

Sem reservas…
Sei que não sou mais algema do tempo.
Deixo-o passar por mim,
Deixo-o ficar em mim,
Deixo-o viver em livre arbítrio.
Limito-me a prever os seus passos…
E, que enorme prazer isso me concede…
Sou a sua maior testemunha diante cada resfolego…

Atenta,
Tento alhear-me da má sorte.
Ausentar-me do desaire…
Tratam-se de meras ilusões temporárias.
Nada disto é real.

E… como eu preciso de verdades!!!
Tanto quanto preciso de invariáveis certezas…

16 março 2009

Sentido Figurado...


Amo-te.
Deliberadamente.
Amo-te.
E porque a palavra só se gasta quando deixa de existir, amo-te…
E é com todos os meus sentidos que te prevejo…
Te Pressinto…
Te amo.
Qual sentimento é mais forte que o amor?
Qual sentimento é mais imprevisível, mais passível de gerar um conflito antagónico de emoções?
Acho que te vivo em eufemismo…
Te encontro numa antítese…
E todo o meu amor não passa duma hipérbole…
As hipérboles de amor são cada vez mais necessárias.
Ser hipérbole no amor é ser calor de vulcão e tocar gentilmente com os lábios no gelo íntimo de um iceberg…
Habito uma gruta em constante erosão…
Escorrem gotas de água que se auto-reproduzem…
Que se renovam e que ganham vida própria…
Como é que a transparência de uma lágrima pode ser discutível?
Quanta verdade oculta inclusa…
Resta saber se se eternizam, ausentes de vontade.
Ou quiçá… Se se revestem de pedra maciça…
Intocável…
Inquebrável…
E sem vida…
Em quantas grutas existiremos sós?
Por que razão… existem leves paraísos escondidos nelas?
Apenas o toque do amor é auto-suficiente.
Como é que a solidão é tão plural?
Porque é que o silêncio é tão violento?
Acho que posso chamar violência à solidão… ao silêncio...
“Tudo o que se vê é temporário…
Mas o invisível é eterno…”
E esta será a melhor tradução da palavra: SAUDADE.

Será que somos a personificação do Amor…
ou melhor... “o Amor em figura de gente”…?

12 março 2009

Palavras da Mafalda =)


«IMORTAIS» Mafalda Veiga

Por mais que a vida nos agarre assim

Nos troque planos sem sequer pedir

Sem perguntar a que é que tem direito

Sem lhe importar o que nos faz sentir


Eu sei que ainda somos imortais

Se nos olhamos tão fundo de frente

Se o meu caminho for para onde vais

A encher de luz os meus lugares ausentes


É que eu quero-te tanto

Não saberia não te ter

É que eu quero-te tanto

É sempre mais do que eu te sei dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer


Por mais que a vida nos agarre assim

Nos dê em troca do que nos roubou

Às vezes fogo e mar, loucura e chão

Às vezes só a cinza do que sobrou


Eu sei que ainda somos muito mais

Se nos olhamos tão fundo de frente

Se a minha vida for por onde vais

A encher de luz os meus lugares ausentes


É que eu quero-te tanto

Não saberia não te ter

É que eu quero-te tanto

É sempre mais do que eu sei te dizer

Mil vezes mais do que eu te sei dizer


(Mil vezes mais... do que estas palavras te possam dizer...)

03 março 2009

White Flag...


Vou vestir-me de morte.
E morrer junto das memórias trémulas de tantos dias cinzentos.
Acho que passei os dias mais frios e gélidos da minha vida.
Eu e o tempo… caminhamos juntos…
Estivemos juntos demais…
Até hoje, não sei quem desaparece primeiro, se ele… se eu…?!
Ele passa por mim todos os dias… às vezes nem como garantido o tenho.
O caminho, percorro…
No luto, morro…
São finais de mim.

Acabou o Entrudo…
Restam as cinzas da folia…
Mas só agora descobri a minha fantasia…

Vou disfarçar-me de morte…
Quero que me olhem e sintam as profundezas gélidas de um corpo sem vida…
Quero que morram comigo num olhar que já nada avista.
Quero que se esqueçam do meu sorriso, pois ele deixou de existir.
Dizem que “a vida é o intervalo da morte”…
Ou “que a vida são as férias da morte”…
Mas na realidade…
Quantas partes de nós morrem em nós, antes de morrermos?

Vou mascarar-me de vez de morte.
Na sombria e derradeira estadia.

Existimos desassossegados, introspectivos…
(às vezes nem isso…)
Amalgamados… pouco interventivos…
Intrinsecamente defensivos.
A autocensura da liberdade é arguta.
A pura petulância de creditá-la, tantas vezes tolerante…
Já não imagino vida fora das amarras…
Adversas, mas tão consonantes e constantes.
Criaram-se raízes fundas,
Tão profundamente superficiais…

Qual conflito de emoções?
Qual tornado de ilusões?
Quantas mais decepções?
Vivemos num mundo de meras intenções…

Quero estar junto de mim em silêncio,
Para libertar-me dos danos instalados…
Das deficiências que só uma vida vivida pode ter.
Quero esquecer-me do retiro do medo…
Quero a debandada satisfeita…
… o refúgio expedito…
… a utopia…
… o mito.

Além do real, quero o sabor preciso da surrealidade conivente dos sonhos….
E num último sopro majestoso…
Caiar-me de expressões introspectivas como nas derradeiras cenas de um personagem na tela do cinema…
Se em verdade somos actores sociais,
que caia o pano…
que o público se manifeste…
O pesaroso silêncio,
A passiva revolta interna,
Sem rostos…
… gerará consenso.

12 fevereiro 2009

Personificação


A minha vida tem sido assim:
um corropio e uma tentativa.
O melhor de mim?
Sê-lo, enquanto pessoa....
Vivo no limite, quando choro, quando rio, quando respiro.
Conheço a validade da minha capacidade… Por isso avanço sem medo.
Inseguranças???... Que risco apetecível!!!
Tento realizar-me… Quem dera que essa vontade dependesse inteiramente de mim...
Sigo o meu caminho da felicidade.
Vou tendo momentos felizes... que será o mesmo que dizer vou sendo feliz todos os dias.
Na incerteza,
Na luta,
No melhor e no pior.
A inconformidade preenche-me o ser.
Tenho que fazer algo por mim, nisso sempre fui sozinha!
Não posso consentir que a vida me passe, me ultrapasse.
A insatisfação confere-me mais do que a existência: a vida.
Sinto demais.
Sinto muito.
Lamento ou talvez não...
É um sentir contínuo.
A suspeição de afecto nunca será vã…
Pessoas, lugares paralisam-me o enfoque dos sentidos.
Se tiver que partir, ficarei inerte em lágrimas ocultas…
Quantos pensamentos de saudade em cruzamento à sensibilidade individual se aproximam…?!
De todas as drogas…
Prefiro consumir vida…
Que seja um prazer mútuo.
Uma dádiva.
Ao meu mundo dedico o que escrevo…
A cada vocábulo que a minha mente grita…
… que a minha imaginação recria
… sempre que o meu coração se agita…
Manchem os meus dias de revoluções…
Porque querer por querer…
Decido viver…
Num transbordo infinito de emoções…

10 fevereiro 2009

Come away with me...

«Se não existe vida fora da terra, então o universo é um grande desperdício de
espaço.»


Que mal me pergunte... Será que reconheço (enquanto empatia) uma sensação vazia com sabor a tristeza?
Qual obsessão caprichosa a de apenas sentir uma falta incólume de vida, um resquício de felicidade?!
Preciso do meu anjo da guarda mais do que o costume…
E por inerência, o porto de abrigo que me dá guarida…
Quero estar protegida pelo calor da tua presença, que a cada dia que passa avassala a minha alma.
Se dúvidas existiam em relação a amar-te…
Dissipam-se a cada recordação que tenho tua…
Estima-me... Estimem-me…
Preciso mais e mais dos braços, que não são mais que laços do carinho que me unem a este mundo…
Como é difícil saber o que vai na alma dos outros.
Será que algum dia te alcançarei?
Um bom começo seria encontrar-me na plenitude...
Boas palavras, puras dúvidas…
Que me destroem a paciência.
Quero a noite... ou... simplesmente adormecer...
Enquanto durmo, o relógio avança.
Boa noite... e bons sonhos…
Daqueles…
Sinceros…
Inocentes…
Sublimes...
... e intensamente acolhedores!


«A humanidade possui duas asas:
Uma é a mulher, a outra é o
homem.
Enquanto as asas não forem encaradas com a mesma dignidade que cada
uma merece,
A Humanidade não poderá voar.»

18 janeiro 2009

Amor Perfeito...?!


«Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.»
"Elogio ao amor" - Miguel Esteves Cardoso
in Expresso, 2005

24 dezembro 2008

O mundo nas nossas vozes



A pequena Joana diz que quer «bolinhas de sabão» para brincar… mas não sei se resistem ao frio… talvez lhe sugira as bolas de neve… depois de a equipar toda para o gelo que está lá fora.
É um manto branco de tranquilidade invernal… o que avisto…
Da janela, a paisagem é serena… Floco por floco a “colori-la”... Afinal o branco é capaz de colorir… Ninguém diria…
Tenho uma imagem muito poética desta época… Pena circunscrever-se apenas a um fraco fragmento temporal…
Sinto uma paz no coração e, curiosamente, um ligeiro e vertiginoso desassossego impotente…
Será possível o amor a longo prazo, sempre seguindo o mesmo ritmo, a mesma violência?
Seremos capazes de preservar o que nos aquece o coração e liberta a alma das amarras inconsistentes?
Seremos capazes de fingir sentimentos, dissociando-nos do plano meramente representativo ou, viveremos num constante e contínuo plano de representação?
E por falar nas representações, que significado atribuiremos às imagens, cores e odores do Natal?
O presépio será uma encenação ou um símbolo?
Fantasmas, deuses, assombrações, mágicas ou anjos?
Como alguém disse: “Tudo o que existe faz falta.” E não é que faz mesmo???
Talvez a proximidade com o final de mais um ciclo me convença que tudo muda…
Ao mesmo tempo que crescemos, apercebemo-nos que as esperanças que depositam, em nós (crianças), não se coadunam com a realidade que vamos sustentando e alcançando… Como um “toc na cuca”, o 28 da Avenida da Estrela trazia estampado uma frase sui generis, que me paralisou e concentrou toda a atenção. Retive a ideia. “Só existimos nos dias em que fazemos, nos dias em que não fazemos, apenas duramos”…
Fazer perdurar uma existência exige biliões de minutos que se esperam, no mínimo, únicos. Estaremos à altura de os atingir na perfeição e sem desvelo? A tentação entre a vontade e a verdade será promíscua?
Quero minutos, quero momentos, quero vidas, quero extremos, quero exceder-me, quero atropelar o meu ser de vivências que me façam sentir… Se errar, se encontrar dificuldades, se toda uma existência se esvair, acreditarei no meu poder de renovação. Somos seres faseados, cíclicos, mas sempre perenes nos nossos pequenos mundos. No seu último livro, Rodrigo Guedes de Carvalho, questiona: “Para onde vão os amores que foram um dia?” Sejam eles quais forem, se são ou foram amores, não morrem, poderão eventualmente ficar mais apagados, a chama pode até ter diminuído a sua intensidade, mas enquanto o pavio se mantiver presente, muitas emoções soprarão o coração com o rigor com que chega e parte um furacão. Aquela luz não se apaga com um gentil sopro, somente com um vendaval. Para quê esquecer como castigo, o que um dia nos facultou um grande sorriso? Não faz sentido ser-se severo com o tempo, nem com o sentimento. Se é que não me contradigo…!?
Vejo a alegria estampada no rosto da Joana, ao ver as luzes da quadra. Ela vibra com os vários rostos de Pai Natal, acompanhados pelas suas barbinhas… ela quer abraçar todos… Eu não resisto a deixá-la, mas sem lhe tirar a vista de cima… Quero reter cada momento de felicidade dela… mesmo que com o brilho ao canto do olho.
Sinto-me a sonhar… apesar de estar tão perto… transporto-me à distância que trará a felicidade destes momentos… Surreal e única.
“Um sonho é apenas um sonho, mas uma vida é tudo o que sonhamos...” Será que a vida será assim tão linear? Passará pelo o que sonhamos ou pelo o que escolhemos?
Estaremos fadados a reconhecer a ilusão de que escolhemos o traço do nosso caminho?
Perseguiremos a nossa própria estrela guia?
De braços abertos, a menina corre na minha direcção como se não houvesse amanhã.
Eis que a desafio ao encontro com o novo. Ela nunca viu nevar.
Estará pronta para mais uma descoberta?
Nestas idades tudo parece ter mais encanto. Nem o frio, nem nada… os detém.
Mais do mesmo?
Certamente. Novidades atrás de novidades, o importante é provar o maior número de sabores na vida. E ter a capacidade de sair dela, muito próximo da perfeição existencial por nós proposta. Alugando algumas palavras proferidas por alguém, a vida pode não ser a festa que se espera, mas enquanto estivermos nela, deveremos aproveitar para dançar, para festejar cada instante, cada respirar… Afinal será isso que nos fará sobreviver da selva que nos acolhe a cada dia que passa.
Navego num eterno diálogo contigo, meu anjo… Para quê fugir do tempo? Isto de ficar sem ti, faz-me acreditar que sempre vamos querer uma vida só para nós, independentemente de nos multiplicarmos e resistirmos a provações assoladoras.
Que amor é este que suporta tanta contrariedade? Tenho muito amor para dar, por isso sempre terás o melhor de mim. Se a palavra “amor” é mesmo universal, deixemo-nos contagiar por ela, este Natal.
- Boa noite querida Joana. Dorme bem.
Sussurro, sabendo que já vagueia no mundo pequenino dos sonhos. Amanhã nascerá mais um dia alegre, sei que a sua vivacidade e alegria me farão eternamente feliz…
A propósito, o que pedirá ela ao Pai Natal este ano?

26 novembro 2008

Viva la vita colorata...


Estou desfasada desta fase da vida. Boa aliteração!
É mesmo isso.
Uma repetição intensa dos meus ritmos em “efeito sonoro significativo”…
Efeitos sonoros?
Ouço um silêncio: o das lágrimas a verter…
Ao corar… envergonho-me de veres que a tristeza me preenche e me invade…
Deixem-me viver estes fragmentos severos renovadores.
As ruas exalam aquele suave perfume a lenha queimada….
Preciso do calor duma lareira… que a minha existência anda arrefecida.
E tu? Continuas frio, invernal… esfumado como as cinzas e faúlhas que caem soltas das chaminés no fim do Outono?
E no baú das recordações, ainda guardas as doces jornadas junto do fogo que se ateava em tom de brincadeira? Aqueles em que aquecíamos o ambiente e o coração?...
Na verdade, enchíamos o mundo de cores tão quentes, quanto o manto da alegria nos preenchia o espírito.
Lembro-me que numa dessas noites, acordei febril. Balbuciava palavras… que já não lembro… se tivesse um papel tê-las-ia anotado. Eram palavras com vida própria como todas as que as minhas mãos escrevem.
É um imediato irreflectido, que posteriormente absorvo como verdades irrefutáveis.
Como se explica o inexplicável?
Como se aplica o desconhecimento nas palavras que (d)escrevo?
Como falo do que nunca existiu como se fosse a minha circunstância?
Porque se cruzam pensamentos demasiadamente reais que me confundem?
Aquilo que fica gravado além da retina é o que dificilmente se esquece.
Que doces memórias vou construindo da vida.
Vi com «estes» olhos a paixão… ela existe tão exacerbada… Tão franca…
Que nem sei para onde fugir com o olhar…
Esse tão feroz e involuntário instinto distintivo.
E por mais que tente desviar, vai sempre ter à direcção incorrecta.
Que mania de andar com os olhos em contra-mão.
É por isso que digo que o «não ter» é relativo e o «querer» decisivo.
Vou parar…
Vou adormecer e esquecer-me de mim…
E… por instantes desmaio na letargia do sonho…
Preciso sonhar pra me manter acordada…
(Quiçá… Viva)…

17 novembro 2008

Um juízo a(final)!


Farto-me de conviver com as palavras “Vivemos de Momentos” e também as vivo.
Têm um gosto suave, intenso e cristalino…
Atenuo as minhas fraquezas vencendo-as. Valendo-me da coragem que reconheço de vez em quando em mim…
À medida que o ontem deixou de ser presente, converto-me numa voz mais sumida que o habitual e deleito-me, saboreando cada instante passado.
Sou demasiadamente agarrada ao passado e não sei qual vai ser o meu paradeiro.
O mais garantido é ser “Nada”.
Estou ansiosa por conhecer novos passados… Como? Vivendo cada vez mais, vestindo a minha pele a cada passo. Se sou nada ou não, não tenho bem a certeza, vou-me certificando que sou tudo o que tenho podido fazer de mim… O que por si só já significa uma tarefa árdua.
A ventura da aventura…
Lançar-me aos imprevistos do previsto, mas desconhecido…
Por que não acreditar naquela linha insegura: Destino.
Sentidos sempre serão guardados sentidamente como momentos relativos de experiência.
Vale a pena viver, nem que seja justamente num último e dilacerante suspiro.
Eu não existo apenas. Eu vivo! Bem ou menos bem… pouco importa.
Ninguém é absoluto juiz.

12 novembro 2008

Estás tão perto e tão longe...


É preciso estar longe para ter a certeza de quem queremos por perto. Por certo que a pessoa com quem estava não era de todo uma dessas.
Adoro perder-me em culturas diferentes da minha para saber como é coabitar com pessoas iguais, mas que falam diferente.
Não sei se deva renunciar a falar como eles ou se aprendo a falar o mesmo dialecto.
O conhecimento fascina-me.
Na aventura, na descoberta, apercebo-me que lá longe apenas mudam rostos, porque os estilos de vida estão enraizados e sendo assim, parece-me que as fotocópias se multiplicam.
Imagens e mais imagens coloridas ou mais cinzentas que demarcam a realidade mais ou menos próxima da minha. O "estrangeiro" não é assim tão distinto...

21 outubro 2008

Blind Prison...


São modestas as palavras que tenho de ti.
Cada pensamento é como um arco-íris, que não se esgota a cada cor que em ti vislumbro…
Densos são os movimentos de cada gesto… De cada expressão…
Que as saudades já me impedem de suster.
Beijo-te os lábios em memórias afastadas pelo tempo que corre em desespero…
Esbarro-me frequentemente contra fragmentos teus.
Que satisfação perniciosa.
O que era nosso não morreu.
Simplesmente deixou de o ser.
Qual a chama que morre sem ser apagada?
Aquela que apenas desapareceu para ti…
E em mim se vai esfumando…
Já sinto as nuvens a aproximarem-se numa negritude pronta a desfazer-se em lágrimas.
Chorar faz bem. Desassossega a visibilidade, mas torna-a mais nítida e objectiva.
Estou preparada para tudo o que vem de ti, tendo em conta tudo o que já veio.
Não te desconheço, mas também não reconheço muito dos teus passos…
Ia dizer que caminhávamos na mesma direcção…
Que demente ilusão…
Ia dizer que existíamos…
Pois, as nossas almas ainda vagueiam dançando interpostas…
Porque convivemos com fantasmas e não enxergamos a presença física de alguém que está tão exageradamente próximo?
Cegueira ou pura distracção?