19 julho 2006

Chama

Sentia o coração distante. Ele e eu tínhamo-nos perdido por momentos.
Todas as noites ficava apenas ali deliciada a contemplar a beleza dos silêncios que me acompanham. O calor era imenso.
A luz da vela iluminava as palavras que tentava ler, encobertas pela noite. Aquela chama persistia em permanecer acesa...
Aí já não sabia se era a insistência do sono ou se não as queria mesmo ver. Já era tarde.
Tarde demais para pensar com clareza e absorver o que lia. Valia a pena ler.
É na leitura que viajamos sem sairmos do sítio.
É na leitura que esquecemos o TEMPO e nos entregamos à reunião das palavras que em uníssono nos transportam, nos fixam e nos fazem acreditar na magia dos sonhos...
Eles existem para se transformarem em realidades.
E a realidade pertence ao agora.
Mesmo quando a felicidade se foi embora.
Já corria uma brisa. Tinha ficado ali a noite inteira. Aquela esteira era perfeita para abrigar o calor que se fazia sentir do outro lado da serra.
Amanhecera... Tinha sonhado muito.... Soube bem.
Apetecia-me a partir daquele momento dormir todas as noites ali... ao relento... indefinidamente...
Até que o meu corpo negasse o tempo e os sonhos se desfizessem...
Curiosamente a única que continuava de vigia era a vela... que tinha velado pelos meus sonhos, por mim, naquela noite.
O pavio não era curto.
Estava ali para durar.
Assim como a vida não se apaga ao adormecer...
Muito pelo contrário... é um constante acordar.
Não sei o que o amanhã me vai trazer.
Não aposto para o saber.
Quero viver assim...
Transcendentemente...
(In) Conscientemente....
Aqui.

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