16 maio 2010

Disparos de vida…


Choro cada pensamento que retenho do passado.
São memórias tão intensamente vivas…
Mas já tão amachucadas e defuntas…
Que me pergunto se ainda o são apenas para mim.
Abro o baú e ouço as melodias que sempre amei…
Que sempre guardei.
Todas me lembram um momento.
Um alguém…
Risos cúmplices que se afastaram.
Mãos que se aproximaram e desapareceram das minhas…
Vozes que escutava sem me aborrecer.
Palavras que trocava num simultâneo de vida com tantas cores…
Locais inesquecíveis… mas dispersos no meu tempo…
Tudo tem o seu tempo…
Até o relógio da vida nos levar ao corropio das lembranças mais vertiginosas e mais encantadoras…
Fixa-se um leve esgar saudoso no sorriso…
Uma expressão que muda a cada imagem, som ou tom…
Ressuscitando-me para a morte que dispara a vida…
A quantos círculos pertenceremos e em quantos realmente viveremos?
É a universalidade e eternidade da música que me faz regressar ao passado…
E que me abre as portas que julgo carcomidas pelo tempo…
E estão tão adictas ao tempo que passou…
Que jamais sendo saboreadas… voltam a perder o gosto original.

12 maio 2010

Viver-te no oculto...


É numa imagem dum sorriso desconcertado que oculto sentimentos
Me perco nos momentos… Entrosada na ruptura de coragem.

Toco-te a pele enregelada
Pelo arrepio descoberto do amor inadvertido
A tua mão na minha, a minha mão toda ela na tua…
Arrisco desejos exagerados
Depois de te cobrir de beijos…

Falha-me a voz num arrepio…
Apaga-se o vazio…
Atiça-se o incêndio em vários eixos trôpegos…
Falham verdades
Cumprem-se desvarios…
Como numa noite diferente…
Em que te encontro frente ao acaso…
Te beijo ao luar…
E te sofro ao partir.

Bebo a luz entranhada dos nossos dias, das nossas horas, dos nossos momentos no tempo…
Alcanço a supremacia da liberdade quando te amo incondicionalmente.

Num fogo desproporcional…
Numa intensidade desigual…
Que vontade com culpa.
Que amor sem desculpa,
Que te traz ao meu encontro,
Que vive no desencontro…
Depois daquela noite quente
Daquele sabor ardente…

É num incêndio de emoções que vivo…
Num calor infame…
No socorro dos teus braços que me afagam a tristeza e me preenchem de leveza…
Vivo-te mais e mais e mais…

Porta...


Olho-te e vejo rasgos de luz perdida…
Sinto que te perdeste num caminho sem saída.
Aprisionaste-te nas tentações…

Abres-me a porta, como se abrisses os braços e me aconchegasses a fadiga diária.
Reacendes o calor da magia apagada em mim.
Fechas a porta e tudo o que de mal sentia… fugia…
De todas as portas que se abrem, apenas a tua trespasso.
Como se não existissem entraves entre almas…

Entre passos, entre entradas e saídas…
Porquê cultivar portas trancadas ou semi-cerradas?
É preciso abrir a alma, ocultar-lhe as fechaduras pois já não têm razão de existir…
Se calhar nunca tiveram…

De portas abertas, dou conta de um mundo sem fronteiras, onde a minha circunstância gira em circunferência até onde o coração me levar…

18 abril 2010

Saudade de Amor, em sonho de mel...



É uma miséria translúcida.
Aquela que mata mas não morre.

Numa manhã tombada…
Não quisera levantar-se por nada deste mundo, nem do outro (?!)…
O tempo passa impune.
Às vezes parece um ontem…
Noutras uma devassa eternidade…
Estes confrontos temporais, difíceis de contornar, abatem as forças dos destemidos e acorrentam a alma de quem dela sobrevive…
Uma alma ou um corpo? Um corpo com alma? Ou uma alma num corpo? Serão apenas um só?
Quantas almas se juntam à nossa?
Quantas serão capazes de permanecer pela eternidade?
Quais as que deixarão a verdadeira saudade?
Equaciono a probabilidade de se morrer pela saudade do amor.
Pela fome dum amor que se esfumou…

É um destino inexplicável, uma alquimia estéril que vende elixires de prorrogação de vida… Na transmutação da realidade… Ou na ingestão passiva dum coração…
Não importa a cientificidade, credo ou ioga… ao que parece todos eles se formam acessoriamente… Os procedimentos e conhecimentos comutam de ser para ser… Ultrapassam vidas…
Reencarnam reclamando viver o sentimento mais universal e sinuoso… que se perde na vertigem e se ergue na vontade… da mais exânime à mais ardilosa…
Funde-se em químicas. Alcança as previsões físicas… Confronta-se com a convenção dos astros em tom de arte da filosofia, carregado de misticismo… ou de crença religiosa…
A geometria dos sentimentos não é descritiva…
Nem a medicina suficiente para deter a saudade dispersiva e austera… ou a pseudociência dos metais…
Imortais, apenas os deuses, ou talvez a história que vem nos livros e faz parte do senso comum…
É assim que vagueia a saudade manchada de esperança da história de cada um, com os fragmentos temporais comuns a várias eras…
Deixa-se tudo no palco. Que sensação prodigiosa!
Mas em quantos palcos moribundos se aniquilam sonhos prostrados em nuvens esponjosas e ocas…?
Os deuses não sangram.
Os sonhos também não.
Purificam o espírito mas deixam-no moribundo… Dependente…
Duma semente que não se explica…
Tão somente se reproduz…

23 março 2010

Palavras de homenagem...


UTWO

Num recanto de uma cidade indiferenciada…
Surge a melodia de uma canção sem números,
Numa rua,
Numa cidade,
Em numerais paralelos…
Com contornos singelos,
Com pouca idade…

Trespassam-se vidas diante dum coração rabiscado…
O preto, o vermelho, o branco…
Formam um colorido ingénuo de marca de água…
Em forma de papel timbrado…

Passam pessoas que carimbam
Presenças vividas…
E ausências sentidas…

Em que num oceano de sabores,
Se escondem gelados de múltiplas cores…

Notas gentis…
Que acompanham a atmosfera…
Quando os instrumentos acordam a magia
Quando a música se entranha...
Esquece-se que o dia vira noite...
E que a noite vira dia...

Grãos de café…
Pós… Poções…
Quentes… enregeladas…
Num misto de infusões e sensações…
(Em)Bebidas em qualidade
Numa sombra a descoberto…
Num poema sem Idade…

Atravessam-se estações…
Apura-se o tempo que teima em passar
Misturam-se seres, ilusões…
Multidões, homenagens…
Ritmos, bandas…
Onde neste espaço…
Se é “pessoa entre a multidão”…

Chama-se UTWO…
E veio cortejar Espinho com a sua arte.
Que parte, da mestria do sabor requintado…
Num acorde suave…
Em tom grave…
Num Espinho de beleza que se chama Cidade…


Elda Lopes Ferreira
Março|2010

10 março 2010

Mulheres Coragem

E quando uma Mulher abre o seu coração… Fala todos os dias a mesma coisa: no amor e na alma que deposita a cada segundo, em cada interveniente físico ou metafísico…
Nunca julga um dia perdido, rende-se a todas as suas descobertas diárias.
No seu diário regista as memórias mais ocas, mais vivas, mais dúbias e, não precisa ser Menina ou Mulher.
Fala de rosa cravada ao peito, sem espinhos cavernosos, suspirando e sugando a sua eterna beleza, fragrância, mesmo quando estes pedaços de ternura chamados flores se definham na juventude… Como defendem a brandura desta insígnia…
Oferecer o perfume… a textura… este delicado ser vivo… a uma Mulher…
É um acorde duma ode, dedilhada sobre uma harpa fantasiosa...
É um toque d’ alma… Que se perde no espelho do brilho no olhar, enternecendo a voluptuosidade do sorriso… E aquecendo o peito.
Cai a noite escura… Apagam-se as luzes fugidias… E aquela alma ainda não descansa…
Quer ser o que não é, quando já é tudo numa valente chusma multidisciplinar.
A história conta-se no feminino, pois a Mulher é a essência de qualquer vida, num submerso paraíso feito porto de abrigo…
É o poema, a rima e o verso, escondendo-se entre ritmos mais ou menos pausados.
Na tempestade afaga o medo.
E na sensibilidade é anfitriã…
Há muitos anos que o mundo reconhece uma ténue folha de papel vegetal, que de tão débil e frágil se chama Mulher…
Pega-se na pena, que se embebe na tinta e redigem-se palavras soltas que se plasmam umas nas outras folhas… em réplicas que vão perdendo nitidez até a cor se perder.
Apregoam-se chavões de igualdade, mas enquanto a cor se perde, também as vozes temem um
mesmo mundo castrador e inibidor das suas leis.
Que ‘façanhas’ tão bem escritas…
Quando é com a mesma tinta que se pinta o cenário de tantas culturas que ainda estão desencontradas com este tempo…
Quantas mãos de Mãe perdem força para carregar o seu calvário?
Quantas Mulheres ainda hoje vêem a vida por detrás dum pano esburacado?
Quantas Mulheres vividas não chegaram a viver verdadeiramente?
Qual o dorso mais bem guardado da humanidade?
Para quê continuar a carregar um meio mundo onde se apartam grandes Mulheres invisíveis?
A todas quantas deram a sua vida por um sonho…
A todas quantas se expõem na busca incessante dos seus ideais…
A todas que guardam a esperança de atingir a supremacia…
Digo-lhes…
… que a bandeira está a meia haste.
O que não quer dizer que esteja de luto, mas tão somente que está içada.
… que a vontade evoca a promessa.
E, já nos habituamos a reconhecer que não há impossíveis.
… o uníssono Feminino garantirá o Ouro pela quantidade de metas transpostas a cada dia…
Todos os dias…

15 fevereiro 2010

Escritos intemporais

A Pessoa Errada

Pensando bem
Em tudo o que a gente vê e vivência e ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa para nós
Existe uma pessoa que se você for parar para pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é para na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa
Essa pessoa vai-te fazer chorar
Mas uma hora depois vais estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar teu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer para todo o mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo é que temos que viver
Cada momento
Cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo
É só assim.
É possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: “Graças a Deus deu tudo certo”
Quando na verdade
Tudo o que ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Para que as coisas comecem realmente a funcionar direito para nós…

Luís Fernando Veríssimo


É quando nos encontramos com o passado que encontramos respostas. Se é que é suposto encontrá-las… Encontrei este texto impresso porque na altura, quando gostava imprimia as coisas… tempos idos que deixam recordações… além das palavras, dos textos… os sentimentos são intemporais…

Tolerância Zero


Permitam-me que me manifeste acerca do tema eliminação da Mutilação Genital Feminina (MGF).

Conhecida por excisão dos genitais femininos, operação sunna, circuncisão feminina, corte dos genitais femininos, fanado, excisão, circuncisão faraónica, prática tradicional nefasta, ou seja, consiste na realização de diferentes tipos de cortes da vagina da menina, rapariga e/ou mulher, motivados pela religião, tradição e/ou cultura que lhes estão associadas.
Não quis ter vontade de conhecer esta transparente realidade. Não quis pensar ser possível a sua existência.
Melindrou-me ouvir de viva voz testemunhos densos, sofridos, ensombrados, acabrunhados, testemunhos denunciando uma tragédia pessoal, com acento tónico no género feminino, e quem me dera que o número fosse singular. Quem me dera ainda que a poesia da gramática fosse um adjectivo comparativo de igualdade e deixasse para trás superioridades e inferioridades, sem superlativos ocos.
140 milhões de mulheres por todo o mundo retraem-se, submetem-se a práticas seculares, a rituais intempestivos, subversivos, sem que a Carta dos Direitos Humanos seja tida em conta. Possivelmente, se lhes chegasse às mãos, também não a saberiam interpretar, quiçá por não a saberem ler.
Prosperam os monossílabos, tipificam-se as atrocidades, encolhe-se a perversidade das tenras idades, desprotegendo desde cedo as meninas mulheres. Prolongam-se práticas nefastas à saúde da mulher, bem como da criança.
Preciso de substantivos colectivos neste manifesto, adiando para sempre os irritantemente comuns, sem utopias concretas, absolutistas, quero substantivos derivados do esforço e dedicação pela erradicação deste flagelo humano.
Exijo pronomes possessivos, na tomada de posição pessoal. Pouco importa se os artigos são definidos ou indefinidos, se os sujeitos são determinados ou indeterminados, se os verbos são impessoais… Basta que existam.
Defendo a tolerância zero. Basta de reticências, impõem-se os pontos finais, sem admirações, sem prolongamentos e sem interrogações. Há que fraccionar os números, em numerais multiplicativos de vontades de assistir… apoiar… auxiliar… e denunciar…
Em Portugal, segundo o Código Penal – Artigo 144.º - Ofensa à Integridade Física Grave, é crime.
A mutilação genital feminina é uma ofensa punida pela lei portuguesa, com a particularidade de o ser mesmo quando praticada fora do território nacional.
Há que proteger destes perigos, há que denunciar numa sensibilização veloz e altamente altruísta.
Não importa o dialecto, o credo ou prática. Se é uma questão de formação, apenas importa o fim à sua privação.
Sou mulher. Sou jornalista. E deixo desta forma aqui o meu grito de indignação, o meu mero contributo.
Não se trata de recusar origens, mas de acabar com o sofrimento nefasto. Se ser-se feminista é proclamar o fim desta injustiça, assim seja, mas salvem-se estas mulheres de cicatrizes surreais de um qualquer imaginário…

04 janeiro 2010

Astro de Pérolas Cinza...

O que é que uma carta nos pode segredar ao ouvido…?
Quem tem o dom de decifrar esse murmúrio coincidente e porventura aceitável…?
Quem nos fala dum futuro não escolhido, tensamente corrompido pela vontade de alguém?
Que verdades desconhecidas se afiguram íntegras e qual a respectiva personagem mística interveniente capaz de as descodificar?
O obscuro será sempre uma indiscrição penetrada duma magia submissa à vontade dum ‘eu’, mais macambúzio e trôpego, que o pérfido perfume ignominioso dum qualquer incenso…
O que se vê nesta invasiva premissa…?
Voltam-se as cartas, em jeito de denúncia e redobra-se a atenção, indispensável, a quem não deseja ser passado para trás…
Todos os signos e sinais perecem numa exactidão tão óbvia, quanto peças de puzzle entrosadas correctamente umas nas outras…
Às vezes parece somente que falta ler e voar sem limites, porque ao que parece estes são muitas vezes transpostos, sem qualquer vaticínio.
Ao virar as cartas… vejo um emaranhado de naipes sucederem-se, vejo números e figuras pseudo-humanas… que se corrompem suavemente… ou que por seu turno se completam em tempo útil numa precisão obrigatória… Quem é realmente capaz de decifrar esta simbologia descabida?
Quem se vale de magias, que não são mais que orgias putrefactas de memórias desalinhadas, esquece-se da sua corrosão lenta… Entrando na insegurança sombria da falta de dignidade, onde a cada dia que passa, a consciência atinge uma gravidade indefesa e precária, justamente pela intensidade da perda de si igualmente por si…
As vibrações emitidas condenam-se, condensam-se e ficam a descoberto sempre que a memória se lhes entrega…
Assim como a luz do dia é passageira por altura do Inverno, a certeza da escuridão das trevas e da noite sem luar é igualmente uma certeza…
Agrava-se este vazio de luz, quando dentro do teu corpo resta uma invasora nuvem negra toldada de memórias cinzentas que foste incapaz de colorir, assombram-te penumbras de solidão escorreitas… e a exactidão da tua infelicidade e do teu infortúnio é a tua dívida para com a tua alma conspurcada e vil.
Que hedionda forma de vida.
Que ímpeto coercivo de consumo de drogas que vão muito mais além dum mundo imaginário…
Que predadora maneira de seduzir e dominar presas inofensivas…
Que transversal dependência…
Preferia que te visses defronte a dúvida letal que protela o consumo da heroína, pelo já exacerbado vício da metadona… Chamar-te-ia: paciente. Teria uma desculpa.

Hi stranger
Look at me
Face your demons…
And share your life free…
At the end of the day…
You may run out of time…
Spell your nightmares and fears…
Slow down your tears…
‘Cause you’re still alive…

A compensação transitória do esforço pela bondade, é certo que não vai além da estabilidade da paz interior que não substitui o ideal de felicidade suprema…
Tudo o que observo, absorvo e disseco… Não são mais que os meus sentidos sentidos, num treino contínuo e incessante.
Se me basto, em circunstância, o paradoxo em mim é constante, pois as minhas dúvidas prendem-se com o absolutismo de palavras que parecem não ter nada mais para dar… Esgotando-se em si mesmas… Na verdade são meros pretextos ilusórios e inquisitórios que nos impedem de voar…
Suplantam a realidade e consequente fidelidade.
Não sei compensar-me doutro jeito que não em palavras efabuladas… digo muito com poucos recursos… É essa a minha poção mágica em ebulição… ou o meu veneno crucificado…
Vira o ano e vira-se mais uma página do calendário da vida.
Que conjectura combinada de signos de tonalidade universal caustica…
Baralho todas as minhas cartas, runas, búzios, karmas, chakras e tudo quanto possa existir no campo espiritual… A minha súplica dirige-se ao cosmos num arco-celeste de representações simbólicas e platónicas que me permitam viver na utopia das verdades subjugadas aos sonhos e, submersas na minha imaginação de mera espectadora… de mera criança…

28 dezembro 2009

Vapores de um outrora como chave do 'hoje'...


Cala-se o freio dum comboio que deixou de calcinar e desbravar o ferro sólido dos carris…
Aquela noite não escutará qualquer outro zumbido da velha locomotiva.
Nem aquela nem outra…
Era o fim à vista duma história centenária… Sem lenha para continuar a arder.

Despedimo-nos a vapor…
O vapor que nos faz viver…
Segundo a segundo…
Numa respiração ofegante, deixamo-nos para trás e não ousamos olhar para trás, para não quebrar a promessa que fizéramos… Se olhássemos… Era certo que iria doer muito mais.
E éramos demasiado orgulhosos para nos deixarmos tentar por esse efeito…
Todos os dias se separa… a noite do dia… um minuto do seguinte… um momento do seguinte… um amor do seguinte… a vida da seguinte… a morte da seguinte…
Por quantas noites vou afastar o meu corpo do teu?
Quantos minutos terei?
Quantos momentos serão plenos?
Quanto amor teremos a menos?
Existirá vida depois de um ‘nós’ amalgamado?
Quantas vezes terei que morrer para te matar?
Quantos dias existirei sem ti?
É dessa ausência constante que tenho medo.
A quem interessa este meu segredo?
Ao silêncio que me basta.
À solidão que me ultrapassa.
A este definhar enfadonho…
A este ardil… de carícias fugidias…
A este volte face de sensações intransigentes e persecutórias…
À constelação de dramas tão universais…
Que vão de encontro a um… Coração. O meu.

Beijo-te…
Conforme beijo este Inverno infernal…
E sofro o sabor aguado… dum calor que se perde no acaso…
Pois nunca há maneira de o prever nem de o intuir dentro de mim…
Faltarão vínculos?
Ou lenha por queimar?
Que velha locomotiva esta…
Que com o tempo mais e mais… Se vai habituando a agarrar-se no sono àquele travesseiro que me leva aos sonhos… em que tu figuras igual… a um amor vivo… que não se perdeu, nem se esqueceu…
Em que naquele Adeus perturbador na estação de comboios… não viramos as costas… Pois não conseguimos ser indiferentes ao que sempre existiu…
Ao que sempre vivêramos…
E que se doutra maneira fosse… poderia existir, mas que como diria o anúncio… «não seria a mesma coisa»...
A linha destes comboios dificilmente mudará… poderá parar em várias estações, poderá tocar intensidades diferentes de velocidade, mas será sempre a mesma…
Nem sempre as mudanças nos acolhem de braços abertos.
Nem sempre as nossas expectativas se concretizam…
Poder-se-á esperar por períodos certos…
Sem nome… e sem qualquer identidade para que não se submetam aos compromissos das datas.
Mas arrancaremos esses tempos certos no passado, no presente ou no futuro?
Por mais que um concerto acústico seja desafiante e, a liberdade do momento entusiasme… por mais inédita que seja a pseudo-nova criação nem sempre terá o dom soberano de agradar na íntegra… Ainda que vários elementos comuns estejam presentes, a dissonância entre o convencional e o pseudo-(re)novado… acolhe a tendência sui generis de preferir-se o original… o original tem sempre mais gosto… As réplicas nem sempre…
É por isso que me recrimino quando o não consigo ser…
Ou provavelmente… quando penso que não o fui…
Ser-se genuíno está fora de moda… O que me assusta.
Não me parece grande ideia ser-se mais do mesmo…
Muito embora ‘mais dos mesmos’ é o que mais sobra por aí…
Se calhar é mais fácil ser-se assim…
E não de outra maneira…
Diz que a tecnologia ainda não atinge a personalidade…
E apesar de se mudarem tempos e vontades…
Ser ou não ser nestas questões sugiro que definitivamente não seja posto em questão…

11 dezembro 2009

Chuva de memórias de neve...


O chão escorregou-se-me dos pés…
A chuva caía…
A neve derretia…
E o frio de Inverno trespassava qualquer tecido que me cobrisse o corpo.
Entrei esbarrando-me contra todos os objectos assimétricos que enchiam aquele hall de entrada…
Só pensava em aquecer o corpo… se bem que a alma estava como de costume petrificada na insensibilidade enregelada.
Neste tempo bate-me à porta a melancolia…
Ou será que és tu a bater-me à porta?
Entre aquelas paredes caiadas de cores fortes, escondiam-se segredos…
Escondia-me eu… num vácuo profundo… que me tentava conservar a esperança doentia que sempre me encarcerou os sentidos.
Chegas sempre depois de mim.
Mas naquele dia a solidão estava mais transparente que o habitual.
Não precisava de mais calor senão o que a tua presença é capaz de oferecer.
Depois de um duche quente… Acendi a lareira do quarto.
Estava farta dos aquecimentos artificiais.
Dei por mim a olhar cada labareda… quase que hipnotizada…
O que esconderá este ritual?
Madeira fêmea…
Fogo másculo…
Fazem amor descontroladamente…
Amam-se num período de tempo fugaz e efémero…
Fundem-se num só…
E acabam arrefecidos e desfeitos…
Não sobra nada… apenas as memórias mortas.
É assim, não é?!
Deixei-me envolver no calor daquele amor descontrolado e entorpecida deixei-me levar pelo sono…
Todos somos testemunhas do amor dos outros e vítimas da sua confirmação.
Sombras de luz vagueavam sobre as paredes vazias, como se as preenchessem num desenho animado…
Aquelas imagens estavam ainda tão presentes no meu inconsciente que acho que as recreei numa espécie de versão romântica… mal sucumbi ao fascinante mundo dos sonhos.
Julgara eu que escorreguei… mas foste tu que me deitaste ao chão num passo de arte e mestria tal, que tinha pensado que tinha caído sozinha…
Olho para trás e por entre a chuva que teimava em cair vejo-te sorrir, apático, enquanto a custo me levanto. Falhavam as forças e não resistia… a parar o riso... É sempre assim só nos rimos do mal, mesmo quando o cenário nos inclui.
Abri a porta da entrada e tropecei no tapete, quase caía novamente… lá fora deixava a neve, o frio e a chuva daquele dia.
Trocámos beijos apaixonados… e cúmplices…
Aquecíamos e esquecíamos aquela atmosfera gélida que ficou para trás, mal se fechou a porta!
O coração batia aceleradamente…
Estremecíamos… com o prazer do reencontro…
A nossa casa escondia o que éramos um para o outro.
Muito mais do que podíamos imaginar…
Enquanto ateavas o fogo, preparava o vinho e o sofá.
No conforto dos nossos corpos erigimos mais uma epifania luxuriosa, avar…
Invejávamos o tempo que passava incessante sem estarmos juntos e mantínhamos o orgulho ao nos omitirmos.
Caíamos na ira da paixão desenfreada…
Em formas de gula de amor eterno…
Os artifícios das nossas vidas cruzavam-se com a preguiça dos nossos períodos estivais correntes...
Nas quatro estações vingávamos pelo assalto aos sete pecados mortais.
Num fogo que se satisfazia a arder…
Diante de um calor intenso,
Os nossos corpos eram chamas imortais, que jamais dariam tréguas…
Não seria um qualquer vento ou uma qualquer vaga de frio que nos faria vacilar.
Acordei com frio. Vi-te a olhar-me enternecido…
Balbuciava gemidos tropeçando nas poucas palavras roucas que conseguia emitir.
Fez-se um silêncio em tom de pausa e calaste-me com um beijo ternurento.
Sussurraste-me docemente ao ouvido: Feliz Natal…
Não mais transparecia a solidão. Aquela divisão da casa, não estava mais ‘dividida’. Assim como o coração se enchia de amor, igualmente a casa estava preenchida…
Voltaste a acender a lareira… Tinhas mais jeito que eu, admito.
Sem subterfúgios vivíamos a vida construindo permanentemente histórias tão nossas…
Amamos num período em que o tempo é fugaz e efémero…
Fundimo-nos múltiplas vezes num só…
Restam-nos e esperam-nos complexas metas.
Arrebatas-me dia-após-dia…
Quero perder-me no contacto com a vida…
Que renasce a cada reencontro.

05 dezembro 2009

Tempo de ciúmes... II


Redigi as mais belas palavras naquele papel sinuoso…
Entre altos e baixos deixei o negro da tinta perpetuar a fome dos dias apaixonados…
Reuni os sentimentos mais densos, desenhando letra a letra o amor que me desvirtuava os dias.
O brilho no olhar era permanente como a tinta rabiscada naquelas peculiares folhas…
Abri os braços e deixei-te entrar no meu peito…
E esse foi o meu único despeito.
O ciúme vacilava a cada imagem que não querias entender…
Estendia-se o intento da imprecisão de sentir.
Curavam-se feridas tamanhas…
Ou vivia-se nessa ilusão…
Concorríamos com os males dissidentes…
Mas que se uniam no fim…
Confiamos promessas peremptórias…
Mas é um vazio de nada o que agora temos entre os dedos…
Já não te confio a voz.
Perdi a força de te avistar…
Não mais iremos conquistar a paz de outrora…
As noites… que se rendiam à aurora…
Acordávamos com sons estrépitos que não consigo decifrar…
Estar contigo…
Fazia-me perder o controlo sobre o tempo…
O nosso amor… era arrebatador e cada fragmento, sinónimo de vida…
Perdemos a confiança um no outro.
Perdeu-se tudo…
De tanto que se perdeu, destruiu-se simultaneamente tudo…
Hoje nasce um tempo presente…
O ontem esvaiu-se na escuridão de uma noite densa, pesada e sem luar…
Ontem e todos os ‘ontens’ de outrora…
O que ficou de mim…?
Perscruto nos espelhos da alma…
São imagens turvas, distantes e quase perdidas…
É como se encontrasse um emaranhado de memórias desconexas que se assemelham à aleatoriedade de um baralho de cartas não viciado…
A cada carta, uma imagem diferente, um pensamento desordenado…
E, à medida que o tempo se forma enquanto passado…
Mais dúvidas me socorrem relativamente às prioridades que de verdade o são.
Nessa teia displicente tudo parece ao acaso e as minhas intuições caem por terra.
Sem respostas. Cem respostas me (des)encontram…
E tudo continua exactamente na mesma…
Devemos fazer cedências… sem esquecer que foram feitas.
Talvez a paz que procure esteja no silêncio que me recuso a atravessar.
Faço pausas infrutíferas.
E, unicamente consigo elevar o impasse e hesitar nas horas de decisão.
Cobro as minhas inseguranças com impulsos que se revelam correctos…
Se não for mais nada… É o alento a descoberto…
Cubro-me por entre mantos de esperança,
Escondo-me na vaga de angústia que me acolhe, vivendo um tempo asfixiada na dor de respirar…
Queimam-se velas que trazem o perfume de fragrâncias debeladas…
Arde um fogo que me consome pouco a pouco as já parcas forças…
E esfuma-se a débil lembrança de ti…
Restam cinzas de ciúme.
Mágoas que me deixam imune aos corredores de chamas que percorri.
Fica uma névoa a sobrevoar o passado…
Grotescos raios de sol oriundos do presente resplendecem, anulando a angústia encoberta.
Pouco a pouco…
Redobro esperanças…
E… Sacudo esse tempo que tanto me acorrentou…
É assim que coabito com as mais insistentes e teimosas forças que a natureza me deu.
As raízes desta alma estão cada vez mais integradas num ser que se recusa a ceder às selvagens quedas de água…
Acampo no dorso da imprevisibilidade dum tempo que se vê repartido em estádios desnivelados de vida…
E a cada sopro marco encontro com todas as esperanças que julgava esquecidas nesta fraca composição de mim…
Reinvento paisagens proibidas, miragens desinibidas e viajo indiscretamente pelo teu inconsciente abrigo…
Este estado de endeusamento colhe a febre das férteis emoções…
Às quais se me assiste a dúvida apoteótica que tanto me sacode os sentidos…
Porque desaparece o tempo?
Suspeito da sua inveja pela sua constante solidão.
Puro descrédito enciumado.
Quereremos nós espantar o tempo ou estará ele continuamente a espantar-nos a nós?
No meu universo, as interrogações vão beber à fúria das ondas de mar de Inverno…
Onde as esperanças concorrem a par com as (des)venturas dos temporais…
O momento a que me obrigo é de um irreversível Carpe Diem…
Recuso-me a confiar num amanhã qualquer que apareça escoltado por uma sombra longínqua de incerteza…
E socorro-me dos fragmentos de segundo categóricos que deliberam a cada instante… o último sopro de vida...

17 novembro 2009

Tempo de ciúmes...


Coabito com as mais insistentes e teimosas forças que a natureza me deu.
As raízes desta alma estão cada vez mais integradas num ser que se recusa a ceder às selvagens quedas de água…
Acampo no dorso da imprevisibilidade dum tempo que se vê repartido em estádios desnivelados de vida…
E a cada sopro marco encontro com todas as esperanças que julgava esquecidas nesta fraca composição de mim…
Reinvento paisagens proibidas, miragens desinibidas e viajo indiscretamente pelo teu inconsciente abrigo…
Este estado de endeusamento colhe a febre das férteis emoções…
Às quais se me assiste a dúvida apoteótica que tanto me sacode os sentidos…
Porque desaparece o tempo?
Suspeito da sua inveja pela sua constante solidão.
Puro descrédito enciumado.
Quereremos nós espantar o tempo ou estará ele continuamente a espantar-nos a nós?
No meu universo, as interrogações vão beber à fúria das ondas de mar de Inverno…
Onde as esperanças concorrem a par com as (des)venturas dos temporais…
O momento a que me obrigo é de um irreversível Carpe Diem…
Recuso-me a confiar num amanhã qualquer que apareça escoltado por uma sombra longínqua de incerteza…
E socorro-me dos fragmentos de segundo categóricos que deliberam a cada instante… o último resfolego.

12 outubro 2009

Palavras minhas...

Há quem reaja às minhas palavras.
Dizem que para a minha ‘idade’… não devia escrever estas coisas, mas no fundo será que sabem que não serei bem eu quem escreve estas coisas?
Vejamos… Era incapaz de reescrever o que quer que fosse que para aqui anda…
O conjunto de palavras reunidas vertem almas, forças, rigorosamente autónomas.
Outro dia li que uma escritora da nossa praça a partir dos 9 anos lia coisas que não seriam de acordo com a sua idade e depois começa um percurso literário irrepreensível e não menos invejável…
Não penso que seja diferente ou tenha que ser diferente. Ou que porventura haja uma única via que caracterize quem escreve. Escreve-se e ponto! E quantos anónimos passam pela vida anónimos?
Sei que transmito uma impaciência interior, a tal ‘agonia’… que ‘alguém’ apelidou…
Gosto de traduzir essas interpretações por meros ‘sentimentos’… Sentir as minhas palavras e viajar junto delas… É como se elas fugissem de mim, em ordem a entranhar e incluir quem as lê… Uma partilha à qual está subjacente uma identificação…
Acham que falo da minha tristeza, das minhas fatalidades, das minhas misérias, dos meus descréditos, das minhas tormentas…
É certo que algo virá de mim… Mas quem escreve tem um processo de composição tão complexo quanto íntimo com a imaginação…
Como explicar palavras tão profundas? Mensagens tão eclécticas ou o ponto final que brilha certeiro?
São questões inexplicáveis. Garanto.
A todos quantos ‘me’ visitam deixo um agradecimento sentido…
Quero dizer-vos que todos temos um fado…
E sentimo-lo vida fora… é a nossa raiz mais profunda… E se do nosso fado passarmos ao fado música, sabemos o quanto este canto nos afaga o coração… E o quanto liga a nação… a todos quantos partem deste recanto tão nosso…
Além-fronteiras todos se rendem a esta sonoridade que alterna a alegria vivaz, à tristeza voraz…
Afinal o desespero das melancólicas dores da alma também se manifesta positivamente em forma de arte…
E se quiserem uma resposta para ser assim?
Também existe.
Sou Portuguesa.

02 outubro 2009

Vidas de luto...


Já não somos duas almas caídas… somos alguém que não faz sentido longe.
Demos o passo da independência múltiplas vezes e voltamos sempre a insistir na teimosia exacerbada dos egos tolos…
Já não sei que nome lhe atribuir…
Pois de tanto coleccionar vontades,
Tornei-me mendiga.
E de tanto chorar,
Fiquei sumida…
Já esqueci a felicidade de escrever histórias de amor…
As próprias letras já não se reúnem, concorrem umas com as outras avidamente.
Estou num conflito pesaroso…
E, nem os filhos da escravidão penam tanto…
Sei que são palavras sem nome… sem sentido…
Sei que sinto a solidão no meu braço esquerdo…
Porque o direito te estende sempre a mão…
Quero-te infinitamente…
E não apenas o diário de ti, que escreves superficialmente…
Morreria por ti…
Saltaria dum penhasco para te libertar a alma…
Libertaria as amarras e os laços fortes que plenamente me possuem.
Porque sempre acreditei na força que não tenho, mas que se oferece ao meu chamamento…
Acredito no gelo que me congela os gestos mais incomuns na hora certa.
Sem que o negro da noite e o escarlate do pôr-do-sol me vistam os sentidos.
Dispo-me do que não gosto em mim, visto-me num quadrante de harmonia e sensibilidade…
E apenas sinto saudades das franjas da idade…
Das orlas que para trás ficaram…
E das ondas que vieram ao meu encontro e partiram, sem nenhum revés.
O que calço… o que visto…
Apenas distrai a tristeza…
O que vejo… o que ouço…
Pouco capta a minha atenção…
Com quem falo?
Contigo… comigo?!
Talvez comigo e contigo em dialecto translúcido…
E se bebêssemos da mesma fonte de prazer…?
O meu filme abandonaria o terror e cairia na quimera do final feliz…
Seria seduzida a cada dia do ano…
E não de vez em quando…
Queria o meu inverno de calor e de amor…
Para espantar o gelo impetuoso deste verão…
Será que é preciso achar alguém para amar?
Destruir todas as fotografias?
Arrancar as memórias e as frases feitas?
Reencontrar no verde qualquer tipo de esperança?
Recusar-me a ver as barbaridades deste mundo que não escolhi para viver?
Ir para longe para saber (re)conhecer vida diferente?
Em desatino…
Em desalinho…
Em desajuste…
Conviverei comigo que é o mesmo que dizer que convivo connosco…

30 setembro 2009

4º (Quarto)...


E passa a hora do sono…
E acordo e adormeço…
Ébria, desacordada?!
Esqueço sonhos ou pesadelos?!
Serão movimentações de sombras do meu inconsciente curioso e impaciente?!
Quantos fantasmas me assolaram?
Quantas almas me trespassaram a vida?
Transpiro o terror de uma noite infernal…
Há noites mal dormidas.
Há noites desavindas.
Há noites sem qualquer ponto cardeal…
Apenas com ventos que sopram…
Estou desnorteada…
É a noite que chega,
É o dia que já se apagou.
É a falta do calor do sol…
É o arrefecimento do corpo que já não tem nada mais para desbravar naquele dia e se entusiasma com os arrepios do silêncio.
A temperatura sobe com o calor dos aconchegos...
Mas o vazio continua ali fechado entre quatro paredes.

28 setembro 2009

Quanto vale uma vida?


Um adeus será mesmo para sempre?

É tempo de revisitar o presente, com um jeito de compaixão. Já não perdoo a tua ausência. Apregoo-a… junto da rosa-dos-ventos…
Tantas nuvens… no meu céu. Avizinha-se uma tempestade tão redutora quanto renovadora do espírito. Diz-se que “depois da tempestade vem a bonança”…
Gentilmente aguardo um raio de sol sobre o meu rosto que me induza no calor da vida esquecida que tem partido ininterruptamente.
Pensei que tudo se endireitava num curto espaço de tempo, mas à medida que o tempo passa, as dívidas do contrato com o tempo da saudade fartam-se de crescer, mesmo quando recordo as artimanhas dos nossos sorrisos coniventes…
Os meus olhos cospem lágrimas de desolação…
O que me leva a ti?
Todas as palavras que não consigo vociferar…
Palavras ocas.
Palavras dolorosas.
Palavras sem capacidade para serem proferidas de tantas feridas reterem…
Aí, voltamos ao tempo... que se encarrega de mostrar os caminhos suturadores da vida.
E, num circuito vicioso… fazem-se contas ao tempo imperfeito de um imprevisível adeus…

22 setembro 2009

Contas sem exactidão...



Quantos suores frios…
Quantas fissuras no âmago de um ser desprotegido e frágil…
Quantos ‘nãos’, não quis admitir…?
Quantos ‘adeus’ quis protelar…?

Quantos momentos julguei impossíveis e imprevisivelmente ocorreram e coloriram a minha vida?
Quantas lágrimas de felicidade escorreram de amor…?
Quantos planos replaneei…?

Quantas vezes temi o esforço para alcançar o limite do meu céu?
Quanto tempo passou sem que me apercebesse do amor que me acolhe…?
Quantas vezes olhei um oceano de prata para me afastar do que já se tinha esgotado e era apenas eu que não o havia alcançado…?
Quantas vezes as minhas lágrimas se perderam no seu leito?
Quantas vezes a imensidão do céu pareceu cair sobre mim?

Quantas vezes as minhas criações se decompuseram…?
Quantas vezes a minha voz se cala e foge das palavras e dos sons?
Quantas vezes as minhas mãos tocaram o céu e o chão?
Quantas vezes o desequilíbrio me manteve de pé?

Quantas vezes multiplicarei sorrisos?
Quantas vezes aguentarei a fúria de um olhar penetrante?
Quantas vezes terei de repensar o que fazer comigo?
Quanto tempo terei para:
Somar…
Multiplicar…
Dividir…
Subtrair…
E… (r)escrever histórias…?

21 setembro 2009

Mais um... Até Sempre...


Não te vejo em cores
Não te conto em versos…
Não te sei perto…
Faz-me falta sentir que estás vivo.

Vejo somente uma escuridão imensa…
Uma névoa de recordações prazeirosas…
Um dia sem cor…
Um nevoeiro constante que me impede de te tocar, por não te ver.

Sei que te tenho no peito
Guardado em tom de alegria…
Sempre me fizeste feliz…
Essa era a tua magia…

A cada instante a ternura…
Nos abraços…
Nos sorrisos…
As tão delicadas cumplicidades…

Ensinaste-me a ser feliz…
Deixaste um pedaço do teu coração no meu…
E por isso sou mais feliz…

Dá-me a tua mão e guia-me…
Sê uma inspiração como sempre foste…
Sorri. E afaga-me os cabelos nos teus braços…
Leva-me pela mão…
E faz com que o caminho que eu percorra seja o sonho que sonhaste para mim.

Posso fazer-te um pedido?

Embeleza este momento caiado de sombras ocultas…
Traz-te p’ra mim… Agora.
Para Sempre…

Sinto a TUA falta…

... sempre que te procuro... as lágrimas são mais autónomas que eu!!!

15 setembro 2009

Solta-se a tampa...??


Este coração obriga-se a estar vazio.
Despojado de alma… De corpo que já não sente…
Um pavio que já não se quer queimar… porque a essência já se perdeu…
É uma cera neutral… sem odor… que se limita a aquecer e a dissipar-se…
Será que algum dia despertará para a vida que o espera?
Ou dormitará etereamente…?
Seguirá exclusivamente o caminho do mundo dos sonhos, beijando lábios… e abraçando almas…? Conseguirá dissociar-se dos ‘outros’?
Inevitavelmente atesta-se um veredicto recorrente e cúmplice…
Quantas vezes se foge… para não se comprometer o espírito…?
Tudo o que é fácil não demonstra grandes desafios, mas vale-se pela segurança que afiança.
Estes pressupostos são tão desajustados, quanto erróneos…
A perfeita dúvida existencial da escolha que nem sempre é a mais correcta…
A sabedoria empírica é sempre tão desajustada.
Sempre tão pragmática.
E não menos imprevisível.
Vamos fazer caretas ao amor?
E ser marionetas do coração que não se predispõe a obedecer-nos?
Pode ser???

A tampa que salte…
Os macacos do sótão que entrem em época estival…
E que toda essa euforia resulte em felicidade…
Até porque sorrir a tempo inteiro, vai mostrar como um letreiro:
Reflexos de amor sem idade…