10 dezembro 2010

Suspenso no real


Já me entreguei à astúcia do tempo, fingindo que não via essa representação simbólica da eternidade que construímos e abandonaremos um dia.
Inexorável, remeti os meus pensamentos borda fora naquele embalo marejado, porque queria afogar as mágoas no esquecimento, só que as dores, por mais que caminhe ou esbraceje não me ensinarei a apagar.
É o que acontece quando as derrotas são intransigentemente nossas e não há tempo, nem desculpas para a mais fatídica despedida.
Peço e repenso nas boas memórias impedidas da continuidade, implorando que o fim não fosse tão perverso e cínico ao ponto de me perder de ti tão rápido, com a perícia de uma vida que se esvaía entre as minhas reminiscências indolores e ávidas de amor. E que nunca mais poderei vislumbrar, nem tocar, nem partilhar esse ar de vida que se perdeu, ou que em última instância quero acreditar que se desencontrou subitamente de mim.
Seco uma lágrima e outra… e outra… e ainda mais outra… tento secar todo esse pranto que me enche os olhos de saudade… Nada me consola… A veia cava entope-se de melancolia… e tudo o que chega ao coração é um desperdício de carência da tua presença.

Do pontão avisto águas turvas e ondulações fracas… escorro-me para o rio que retém a minha água pontífice, suprema. O horizonte esconde-se atrás dum nevoeiro cerrado, pois nem ele quer ver a tristeza de alguém que se perde de outro alguém…
Apesar do Outono, é manifesto o frio, que nem a camisola de gola alta, o casaco mais quente ou o cachecol podem proteger dum icebergue colossal como o que carrego…

Embalsamo as memórias que colorimos juntos… É tudo o que de ti tenho… Parece tão pouco, quando no fundo foram fragmentos vividos de ternura, de amizade, de cumplicidade, de abrigo.

Nunca esquecerei quem partiu…

Aquilo que vejo agora são sombras encobertas pelas almas que me falam ao ouvido, e que sem cegueira e sem ensaios escuto vagarosamente, saboreando as vossas vozes que me lisonjeiam os sentidos… Fecho os olhos e deixo suspenso o momento de voltar a ver vida…

[Em memória de J. e F.]

11 novembro 2010

(Re)Conciliação...

Pouso o corpo, como se o desmantelasse, naquela areia molhada junto ao mar…
Carecia daquela paz, daquele abrigo, daquele relaxamento épico.
Carecia sentir a natureza a acalmar-me os distúrbios que me extinguem as forças.
A brisa do mar irrompia sobre a nudez que se descobria.
Enquanto um arrepio me atravessava a pele em brasa…
Não lhe reajo, mas deixo-me a apagar as nuvens do céu.
Os raios de sol da manhã intensificam-se e fixam-se nos grãos de areia que escaldam o toque.
Vagarosamente, sento-me, flectindo as pernas, entrelaçando os dedos das mãos sobre os joelhos…
Tento abrir os olhos, mas é quase tarefa impossível, uma vez que a luminosidade que se afigura não deixa avistar nitidamente a cor do sol.
O mar está brando, parece um rio sossegado ou uma lagoa paradisíaca com cores fluorescentes.
Num vaivém disciplinado, o areal cobre-se e descobre-se de águas límpidas…
Pela areia vagueiam pedras e pedrinhas de várias cores, búzios e conchas com vários trejeitos…
E uma espuma suave vai riscando várias linhas na areia ao mesmo tempo que a maré se presta a vazar…
Ouço as gaivotas esfomeadas, mendigando por peixe fresco.
E em ambiente bucólico, o tempo acaba por passar incalculavelmente.
A solidão atravessa-me o peito já habituado a viver em retiro constante.
E lembro-me de ti… Lembro-me da tua voz…
Sabes, é quando estou contigo que me reinvento, me ignoro e consumo todas as fertilidades do meu imaginário.
Dir-te-ei ainda que tropeçando nestas memórias, é impossível não curar a alma e não reconquistar a conciliação com o meu resfôlego.

10 novembro 2010

Há dias... Há noites... (que não tenho ideias livres!)

[...]
Há dias que não tenho ideias livres.
Nem vontade.
Nem ideias.
Nem liberdade.
Nem dias.
Encarcero-me na desilusão dos dias felizes, porque o foram e já não o são.
Apagaram-se com o tempo, num silêncio rude. Impotente. Dissidente.
As imagens desbotaram, nem a cor, nem o preto e branco carimbaram a cor sépia do tempo.
E de carimbos percebo bem, aqueles que me marcam a pele em cicatrizes intempestivas.
Lembro-me bem de duas bocas acostadas, sedentas do hálito quente e sorumbático, saboreado segundo o despertar inflamado da paixão.
Como adoro estes aplausos de alma!
Serei perfeita ou imperfeita nessa livre vontade?

Viajo demasiadas vezes no tempo.
Entro e saio no carrossel… após mais uma volta e outra, e outra, e outra.
A partida e a chegada são semelhantes, diria iguais, dado o percurso incluso, se bem que as motivações são completamente diferentes. Passa-se da euforia aos pontos finais…
Pontos em que se perde…
Pontos que se cruzam…
Pontos castradores…
E, sem qualquer alternativa, voluntariamente, rendo-me e entrego os pontos.
Já não sei ser serpente, nem corromper-me com o meu próprio veneno, que outrora me deu vida e me atirava, nem que fosse aos pontapés, para o mundo.
Ninguém esquece, o quanto esse veneno é atroz e eficaz.
Em êxtase, em desespero resistir-lhe é impossível.
Que o negue, quem for capaz…!

Por esta altura, não sei muito bem qual a minha circunstância neste mundo…
O nível de desfasamento da realidade é gigantesco.
Em última instância, acho que estou por aqui a tentar remendar o sol…
Ou os pedaços de luz que me seduzem os sentidos…
Concentro-me nos sorrisos que iluminam o meu sorriso...
Penetro o olhar na beleza dos momentos parcos e incomuns.
Fecho os olhos e abraço a vida, adormecendo como uma criança depois de um longo dia de recreio.
Adormecida, espero que o teu veneno me entranhe e me arrebate, numa melodia soturna e apaixonada.
Apenas essa poção me fará viver de esperança num ritual de encantamento e de felicidade…
Há noites que não tenho ideias livres.
Apenas vontade de amar incondicionalmente.
Apenas ideias e ideais de satisfação.
Apenas liberdade para sermos felizes.
Se calhar, apenas noites,
Apenas boas noites para serem vividas e partilhadas em ambiente metafísico.

28 outubro 2010

Vozes que não esqueço!


Escuto o meu nome pelo som que proferes…
Todo ele se invoca e se perde nos teus lábios, enlevando-se para os meus sentidos…
A emoção toma conta do nó que sinto na intimidade, ao escutar esse timbre que me preenche.
Expiro todo o ar que me resta e apenas espero não desfalecer, se bem que em verdade o meu chão já não está na íntegra debaixo dos meus pés.
Qual serpente encantada sou, na vibração de cada sílaba que expeles por entre a perdição de lábios doces e ternos...

[…]

26 outubro 2010

Convite à Taxa de Mortalidade

É interessante ouvir falar sobre a desafiante indiferença que este (e outros) país(es) tem para com as gerações que se preparam para o segurar ‘de bandeja’ nas mãos…
Dão-lhes precariedade ao mais alto nível e ao que parece é preciso ser-se licenciado, para viver na precariedade mórbida! (Até nisto as maiorias ganham… é o poder da democracia!)
Dizem por aí que um licenciado tem que ganhar no mínimo, o equivalente a dois ordenados mínimos nacionais, quando se conseguirem um ordenado mínimo nacional, é sinal de emprego.
Dizem por aí ainda, que estudar e formação superior, naturalmente qualificada é uma mais valia…
Provavelmente para ter a animosidade suficiente, ou vá, o estômago suficiente, para ocultar as suas reais qualificações… para conseguir um emprego.
Fala-se que a crise é uma oportunidade e o discurso repete-se em múltiplos serões de esclarecimento e de sensibilização, o que é certo é que, esta crise parece de facto ser uma oportunidade efectivamente para os jovens caírem na enorme bancarrota do endividamento.
Pois, se várias criaturas conseguem multiplicar-se em cargos e honorários chorudos, os caríssimos jovens têm ao dispor a miserável oferta de estágios não remunerados, que findos, tem uma porta aberta: a da rua.
Após várias tentativas frustradas de estágios e mais estágios, vá, “vai-se ganhando calo” em matérias como persistência, perseverança, úlceras nervosas agravadas, depressões crónicas, horas extra não remuneradas, resistência gástrica (ou não), suicídio?!, frustração agravada, e em última instância chega-se à triste e desmazelada demência.

Ora, grão a grão vai-se extorquindo até ao tutano estas criaturas, que quiseram investir na formação quer dos filhos, quer dos próprios!!! Resultado?! Não é muito difícil adivinhar. Acabam por se resignar e tomar como garantido um emprego qualquer, para assegurar aquilo com que se paga os melões…
Bem, para não dizerem que não sei daquilo que estou a falar, e como diria alguém da hasta pública ‘é só fazer as contas’, e uma vez que a matemática nunca me foi infiel…
Vejamos, se somos a geração dos 500 euros, ganhamos mais 25 euros que o salário mínimo nacional e menos 450 euros, equivalente a um ordenado de um licenciado. Sinceramente entre ganhar +25 euros e -450 euros, ora ‘que grande gaita’, como dizia o professor Gusmão de matemática de 5º ano, do ensino preparatório. (E e é que nem como nos filmes é, em que “qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência…”)
É o SAQUE! O ROUBO! A LADROAGEM! Dum imaculado rigor, surpreendente…
Portanto, São as diferenças… se bem que receber 500 euros em nada se compara a receber zero euros, estando na rua desempregado.
Numa ginástica orçamental, 500 euros tem que servir para pagar água, luz, telefone, gás, géneros alimentícios, prestação do carro, prestação da casa, escola dos filhos e despesas que tratam de aparecer desavindas do além?!… (cônjuge desempregado, as SCUTS, o IVA a subir… e vários etc’ s.)
(Acho que encontro um pervertido elo de comparação entre geração rasca e geração dos 500 euros… ou quiçá um círculo vicioso… apelidado: geração enrascada!)
E o pessoal ainda incentiva à natalidade… como se as pessoas não tivessem o mínimo de massa encefálica… (vá lá que essa ‘massa’ ainda vai existindo) para saber que se não têm oportunidade de garantir dignidade de vida às crianças, para que as vão ter? Para passarem necessidade? Para a lei não proteger devidamente as mulheres? E a que algibeira se vai recorrer?

Passemos aos idosos, que recebem por mais de 40 anos de trabalho uma desgraça franciscana… (e há quem fale em dignidade na velhice… mas até aí o ostracismo reina!)
Vamos ao sostras deste país que se vingam no rendimento mínimo de inserção social… enquanto o Zé Povinho aperta o cinto…
Vamos aos não menos sostras que acham que o fundo de desemprego vai durar para sempre… Colando-se a eles tipo lapas e não o trocando por menos!!!! Ah!!! Valentes!!!!!!!!!
Vamos ainda à questão, dos descontos para a Segurança Social que são religiosamente feitos mês a mês, e que cuja aplicação é duvidosa… Interrogo-me daqui a 30 anos se chegar à idade dela, vou viver de ar e vento e dizer: Porreiro, Pá!?

Portanto, aquilo que quero propor a um(a) senhor(a) secretário de estado, ou um(a) senhor(a) ministro(a) é tão simples quanto isto: reduza os seus rendimentos a 500 euros (essa farta quantia!) e governe-se um mês, nem que seja Fevereiro, para que a hecatombe não seja traumática. E depois explique como é possível viver com dignidade auferindo este magnânime montante!? (Parece-me que aqui a atitude vai ser de indiferença… quando todos apregoam o não à indiferença…) A propósito, existirá pior sentimento que a indiferença?

Quero um Alzheimer compulsivo… para esquecer o mundo onde vivo.
Ou então como diria o Lopes da “Sábado”, ensurdeçam-me com as vuvuzelas, para nunca mais ouvir falar de crise…
Porque se ela existe, claro está, não é para todos. É só para aqueles que sempre conheceram de perto os sintomas da dificuldade…

Este é o desafio que coloco à indiferença.
Porque não importa o género, se a igualdade é sempre tão discutível e a inclusão social não passa de mera ilusão. (Além de que sempre foi mais fácil e simples excluir do que incluir.)

Perdoem-me o vómito. Mas não compactuo com hipocrisia.
E por isso faço um religioso apelo à mortalidade:
“Ó Senhor dos Matosinhos
Ó Senhora da Boa Hora
Ensinai-nos os caminhos
P’ra sairmos daqui p’ra fora!”

Para onde?
Não sei.
Porque quem foi… Diz que nunca mais voltou…

(escrito em Julho 2010)

14 outubro 2010

Pontos...

Canso-me da minha vassalagem às letras miudinhas, que reunidas, poucos lêem e que apenas eu, justifico.
Intrometo-me em demasia com a introspecção de notas soltas que se abrigam no meu inconsciente tolo e imprudente.
Palavras são só palavras quando significam, ao contrário, são apenas meros vocábulos expelidos… vociferados por bestas desenfreadas que pelos uivos de cães são amaldiçoados pelo vil cheiro e aproximação da morte.
Morte às palavras. Morte ao enormíssimo desacordo ortográfico instituído.
Morte aos pontos que já não são nem de admiração, nem de interrogação…
São apenas pontos. Ou indeléveis golpes, nos pontos de vista.

20 setembro 2010

Ar de vida...

Há recantos capazes de nos aproximar ao nosso mais íntimo mar, sem que nos percamos no emaranhado de linhas do horizonte.
Recantos onde se estabelece o encontro sempre que os momentos de diálogo precisam ser restabelecidos.
Era uma espécie de esconderijo com uma vista surpreendente e privilegiada para o mar.
De entre rochedos, vislumbravam-se estrelas que vagueavam no céu e experimentava os salpicos salgados das ondas mais intrusas…
Na mais perfeita miragem deixo-me levar e conduzo-te nesta delicada invenção.
Prostramo-nos num banco de madeira a contemplar as dádivas da natureza...
Vais desviando a atenção entre a frontalidade do mar e a invulgar luz das estrelas cadentes que num ápice desaparecem.
Mal dá tempo para pedir um desejo…
Mas ao ouvido, sussurras-me desejos que esperas ver cumpridos...
Escuto, atenta... E vagarosamente deixo-me levar pela respiração que arfa no meu ouvido e que escorre pelo pescoço...
Os lábios tocam-se com a mesma brandura dum véu singelo que cobre um corpo despido. Mergulhamos num beijo de intensidades obtusas…
Os braços entrelaçaram-se num laço eterno...
Como se estivéssemos a embrulhar aquela noite no nosso presente.
A intranquilidade do momento restabelecia o sossego em duas almas abandonadas.
O nosso ar fundia-se em vida.
Se existia, estaria desfasada e ainda mais perdida de nós.
A avidez do momento fez esquecer todas as imagens de rostos incapazes de resistir às melindrosas paredes duma casa com fissuras e brumas enterradas numa atmosfera gélida e desabitada.
O êxtase do momento recriava um acordar em que o ar que se respira é o mesmo…
Num calor indescritível. Sentimos o ar transplantar-se entre nós. O teu ar era o meu ar…
Finalmente respirava.

10 setembro 2010

Este meu desassossego...

Estranho cada pluma que se enroscou no meu peito.
Estranho a cor, o cheiro, o brilho.
E não lhe atribuo qualquer significado...
As camadas de brilhantina no cabelo fazem escorrer ou viajar o tempo.
As sombras nos olhos, o rímel negro poderoso, as maçãs do rosto rosadas…
O vestido marca uma silhueta feminina uniforme…
Cobre a pele como se de uma segunda se tratasse…
Os saltos fazem crescer a voluptuosidade do momento…
Sobem-se as escadas e diante de desconhecidos rostos…
Abre-se o pano, acendem-se as luzes, dando lugar o espectáculo…
A sombra está ao meu lado no palco.
É a única que não me olha com falsas esperanças.
No texto do guião murmuro em monólogo:
Já não tenho palavras que a ti se dirijam… estás longe do meu presente.
E ainda mais do meu pretérito mais que perfeito.
De amores-perfeitos sei pouco, até porque duram pouco…
Erguem-se majestosos até que o tempo os leva à condição.
O que me leva a crer, que mesmo os efectivamente perfeitos, não sejam eternos.
Provavelmente duram uma estação.
Provavelmente a semente não prevê a sua cor.
Provavelmente não sabem que fim é suposto esperar…
Vento, chuva, mão criminosa?
Mão que não deixa a ligação com a natureza perdurar…
Rouba-se uma vida…
Acaba-se com ela.
É esta injustiça que me destrói e me aniquila a alma que me resta.
Assassino de almas.
Assassino de mim…
Num melodrama perverso, morro em palavras e caio matando a minha própria sombra do alto palco.
Espero que o pano feche.
Quero ouvir o burburinho, que me espera esta performance tão intensa, sempre inacabada.
Numa confusão de cenário, som e luzes elevo-me do chão.
Olho o público, confusa e surge uma imensidão de palmas e de ‘bravos’…
Aplaudem-me de pé e sorrio.
Hoje, por mais que queira vou dormir com aquele sorrisinho parvo.
Aquele que verdadeiramente me escalda o peito e me aconchega a alma.
A emoção toma parte pelo olhar…
Choro e rio…
E revejo cada som de aplauso bem como a luz que desponta daqueles rostos iluminados.
Já posso morrer porque já vivi este meu desassossego.

03 setembro 2010

Metade do meu céu...

Sombria a tarde cai, delegando na noite a obscuridade plena…
Uma gota de orvalho percorre a janela vagarosamente deixando para trás um rasto que seca por si.
Lá fora, os meus olhos apagam a focagem das luzes que se perdem no horizonte…
O silêncio é interrompido pelos sons do mundo que acalmam o sossego que ali se prostra.
Longe vai a vontade indefesa de cair no esquecimento das palavras de um livro, que me libertam as emoções…
Uma vela solta o calor de uma qualquer fragrância doce e frutada, iluminando o abecedário cruzado daquelas páginas romanceadas.
O instante remete-me a um embalo de tempo pesaroso.
Semicerram-se as pálpebras e, os contornos da história atravessam o meu inconsciente…
Reinvento personagens, procuro um espaço e um tempo coincidentes…
Atraio palavras para diálogos apaixonados…
Seduzo a natureza a tornar-se a mais harmoniosa…
Crio o tempo das possibilidades sem sombra de interdição.
Mobilizo os afectos… numa chusma de incapacidades para amar.
Com sentidos tão surreais quanto dispersos, que ficam no livro de apontamentos, para as notas de rodapé.
A árvore genealógica não tem raízes, tem inúmeras cicatrizes em relevo…
Entrelaçadas por rancos floridos de esperança e frutos cor de pecado…
As ervas daninhas formam relvados de jardins imprevistos, numa natureza viva e em absoluta comunhão…
O amor incorre na dúvida de se reflectir na vida dos personagens, como se necessário fosse um argumento ou contrato para amar… Nos encontros e desencontros que uma vida vivida é capaz de proporcionar…
A noite cai na perversidade da madrugada e acordo…
Acho que sonhei muito… ou passei por várias imagens fotográficas de intensidade variável…
Nem sempre nos abrimos ao exterior, aos impulsos e desejos mais encobertos…
A vergonha, a negligência, a culpabilidade compensa-nos os sentidos, anestesiando o que deixa de ser a nossa verdade…
Cedo à vulgaridade da letargia do sono e uma vez mais intensifico a disponibilidade para sentir…
No céu, desfaço um aglomerado de nuvens e escrevo o meu nome…
E no limite, aguardo que se complete… a outra metade do ‘meu’ céu...

05 agosto 2010

5 ANOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


A 31 de Julho de 2010 o VIVEMOS DE MOMENTOS comemorou 5 aninhos!!!
É incrível como o tempo passa...
Como se costuma dizer... as estatísticas valem o que valem...
Contudo, é bom ver que em 4 anos tive 32.368 visitas, uma vez que o contador de visitas só após o primeiro ano apareceu...

Obrigada a todos pelo carinho e pelos mimos!
Regularmente marcaremos encontro por AQUI...!

Até ao próximo encontro...
Vivam momentos e não esqueçam de vivê-los com a máxima intensidade…

23 julho 2010

Saudades. São apenas Saudades...


Não sei se é dor, mas sei que sinto algo.
É costume tentar definir-se tudo ao ínfimo pormenor…
Mas será que a ciência consegue explicar o transcendente mundo das emoções?
Escuto uma voz sem qualquer som.
Que faz eco não sei de onde ou de quê…
Entranha-se-me e não me liberta enquanto não me dispuser a ouvi-la.
Povoa-me a mente de uma forma absoluta.
Desconcentra-me. Desconcerta-me.
Arbitrariamente envia-me para um estado de pura incoerência.
Apenas aquele pensamento me move.
Apenas aquela dor (?!) se sente.
Apenas aquele pensamento me possui e me perverte…
Dói.
Dói de mais perder-me de mim por ti.
Que dor avassaladoramente incontrolável.
Que cenário inabalável.
Que vida coberta de sombras mascaradas de fantasmas correntes.
Que névoa forte que me inutiliza a visão.
Que luto dormente inaudível.
Que saudades de ti.

23 junho 2010

Verto sons de água...


Acredito nos sinais desesperados que se atropelam no meu (in)consciente.
É na vã esperança que um dia o BEM dê tréguas ao MAL, ou vice-versa, que já se me ultrapassa o que julgo serem as verdades universais…
Um simbólico aperto de mão, tenho a leve impressão que bastaria!
Atrapalha-me a presunção desconexa com a realidade, pela qual criaturas seduzidas por desfechos oportunos se deixam perverter…
Os excessos maltratam qualquer dissidente convicto.
No dilúvio de hipóteses que se me depredam, apregoam-se-me gritos abafados de vozes que de tão menores já não conseguem chegar a lado nenhum.
Longe, aumenta-se a voz dum piano rouco que me converte os sentidos em lágrimas…
A cada nota o entusiasmo envolve-me num estado letárgico em que alcanço o silêncio, mesmo entre notas de uma gravidade efémera…
O mesmo silêncio que desejaria não recuperar enquanto o mundo estivesse tão desavindo.
A meio de um processo criativo a filosofia das minhas estirpes são tão díspares, que me interrogo sobre a identidade do meu ser...
Já não sei se sou, sendo…
Se respiro, se vivo… vivendo…
Ou se alguma vez fui…
(emendo).

19 junho 2010

Adeus amigo das palavras soltas!



Se me lançasse a um ‘convento’ escreveria um ‘memorial’…
Nele constaria uma viagem, onde pegaria numa ‘jangada de pedra’ e partiria a Lanzarote… para viver o silêncio e não o vazio de uma vida que por ‘intermitências da morte’… deixou de respirar…

Partiu com a poesia das palavras incompleta…
Encontrava-se traduzido em 45 línguas…
Num ‘ensaio sobre a cegueira’ (portuguesa)…
Fez da palavra portuguesa Prémio Nobel de Literatura.
Limitava-se apenas a deixar a pontuação para o leitor aplicar na sua liberdade criativa…

87 anos chegaram para encontrar a paz…
Ou talvez para percorrer ‘a viagem do elefante’…
2010 não é ‘O ano da morte de Ricardo Reis’... mas da sua voz - José Saramago…

No último romance Caim, a amizade escreveu-me: «Lembra-te que a leitura de um bom livro é um diálogo constante em que o livro fala e alma responde…»
É nesta analogia que te escrevo e que me deixo entranhar na tua obra.
É da ‘caverna’ que presto esta singela homenagem ao ‘homem duplicado’…

E ‘Levantad(a) do chão’…
Digo-te: Até sempre amigo das palavras!

14 junho 2010

Mortes de alma...


E o tempo passou, mais célere que o habitual.
Bem longe das promessas que um dia foram proferidas…
Mataste a minha oportunidade de brilhar a teu lado e sermos um porto de luz…
Quem não morre, mata. Mas tu morreste e mataste a certeza que um dia apenas tu construíste.
Estava longe dum desfecho destes… Passando da vida real, à ficção…
São os filmes mais enigmáticos, aqueles que realçam as dúvidas que questionamos em silêncio.
E tu serás uma eterna dúvida, porque ao que parece alcançaste a vida eterna…
A chama imensa… E queimaste o amor que trazias no peito…
A ambição tem desses constrangimentos… Pode ser mulher…
Morres por um ser feminino sem vida, indiferente, triste, demente… com um rigor desmedido.
Poucas são as vezes que acerto no horário do amor.
O meu fuso horário está cada vez mais ultrapassado.
O ‘tic’ e o ‘tac’ já não dão as mesmas pancadas taxativas e pragmáticas.
É um badalo seco. Cansado. Abafado.
Morreste feliz ou contrafeito?
Será possível averiguar esse estado a instantes do fim?
Morrer é morrer. É o mais coerente ponto final incalculado.
É preciso morrer primeiro para te matar de vez.
Como se fosse preciso morrer para matar.
Entre enterrar um defunto e deixá-lo definhar-se até carcomer-se de vermes…
Prefiro queimar-me noutros fogos…
E renascer das cinzas…

08 junho 2010

Clã de amores da Lua


Oh Lua… que te fizeste mãe e mulher de todas as noites…
Oh lua… cheia… de graça…
Traz-me de volta o calor e a explosão de metamorfoses de mim…
Calibra-me as energias que de tão desfeitas não têm qualquer lado… positivo ou negativo…
Que a minha vida se ainda o é, é um ninho de nada…
(Gosto do dramatismo destas desconexas palavras trôpegas e autodestrutivas.)
Gostos dos eixos enquanto extremos latentes duma personalidade infame e desproporcional, filha da demência dum dia-a-dia, sem dia, sem noite, sem fio de claridade diurna de tão adormecidas que andam as pupilas… por trás de uma invisibilidade qualquer que visa aumentar a qualidade da visão.
- Mas de que visão falas?
- Daquela que conquantas vezes nada se enxerga… e a que a argúcia de um cego não falha…
Lua cheia de mim…
Lua cheia de vaidade…
Que as tuas fases não mais me dominem as vontades…
Que a culpa tem que pertencer a alguém.
Se mingas… minguo eu também… nas forças que se perdem de mim…
Se és nova… renovas-te… a cada dia, como se fosses capaz de renascer… todos os meses… cada vez mais bela… e intensa…
Esse ritual não te incomoda? Vens e vais… e voltas sempre…
És imensamente fiel…
Tens a tua fase crescente, resplandecente…
Em que a cada proporção te inundas de perfeição.
Quanta luz irradias?
Quantos incapazes acompanhas?
(Ooops… Acho que pensei um pouco alto ou a voz transformou-se em palavras gritadas…)
Quanta clarividência trazes às mentes mais despertas pela solidão da noite?
Quantas almofadas percorres, num transtorno de insónias?
Será que dormes à noite comigo ou te deixas conspurcar por todos os leitos…?
O meu ciúme será por ti contabilizado?
Acho que a nossa cumplicidade se perdeu…
Devolve-ma… Na omnipotência que te preenche de luz…
Que se faz escorrer pela escuridão de tantas noites densas…
Já vai alta a noite.
Já não tenho horas que se assemelhem a uma noite bem dormida…
Vou viajar pelos sonhos… se ainda tiver alguns por sonhar…
Espero encontrar a graça ou a desgraça de uma lua cheia de sonhos ou de um sonho singular desconcertante... (mas no bom sentido!)

07 junho 2010

Rostos caídos...


São rostos caídos.
Rebaixados.
Encolhendo a vergonha dum passado presente.
Como dar a volta por cima desta tentação que se julgou superior à vida?
Quando já se chora sem lágrimas, indagando o auxílio voluntário de quem vendeu a alma por troca de nada.
Passa-se por privações e provações mesmo quando a única liberdade se chama prisão.
Como reaver a dignidade e a força para viver?
Como encarar de novo um mundo que julga apenas em crucifixo os erros humanos?
Como elevar um ego destroçado?
Precisamos sempre de alguém para encontrarmos as nossas verdades e as nossas realidades.
Valorizando o amor de quem nos cuida e nos serve de suporte à alma.
O reencontro dum amor imprevisto e cuidado:
O amor próprio.
Afastando os vazios, recuperando as perdas e reabilitando o ser com a coragem da força de acreditar…
Mãos nas mãos, a esperança de um recomeço.
Em liberdade?
Em cativeiro?
Há que promover o ser, numa cooperação de vidas livres, numa integração plena de autonomia.

16 maio 2010

Disparos de vida…


Choro cada pensamento que retenho do passado.
São memórias tão intensamente vivas…
Mas já tão amachucadas e defuntas…
Que me pergunto se ainda o são apenas para mim.
Abro o baú e ouço as melodias que sempre amei…
Que sempre guardei.
Todas me lembram um momento.
Um alguém…
Risos cúmplices que se afastaram.
Mãos que se aproximaram e desapareceram das minhas…
Vozes que escutava sem me aborrecer.
Palavras que trocava num simultâneo de vida com tantas cores…
Locais inesquecíveis… mas dispersos no meu tempo…
Tudo tem o seu tempo…
Até o relógio da vida nos levar ao corropio das lembranças mais vertiginosas e mais encantadoras…
Fixa-se um leve esgar saudoso no sorriso…
Uma expressão que muda a cada imagem, som ou tom…
Ressuscitando-me para a morte que dispara a vida…
A quantos círculos pertenceremos e em quantos realmente viveremos?
É a universalidade e eternidade da música que me faz regressar ao passado…
E que me abre as portas que julgo carcomidas pelo tempo…
E estão tão adictas ao tempo que passou…
Que jamais sendo saboreadas… voltam a perder o gosto original.

12 maio 2010

Viver-te no oculto...


É numa imagem dum sorriso desconcertado que oculto sentimentos
Me perco nos momentos… Entrosada na ruptura de coragem.

Toco-te a pele enregelada
Pelo arrepio descoberto do amor inadvertido
A tua mão na minha, a minha mão toda ela na tua…
Arrisco desejos exagerados
Depois de te cobrir de beijos…

Falha-me a voz num arrepio…
Apaga-se o vazio…
Atiça-se o incêndio em vários eixos trôpegos…
Falham verdades
Cumprem-se desvarios…
Como numa noite diferente…
Em que te encontro frente ao acaso…
Te beijo ao luar…
E te sofro ao partir.

Bebo a luz entranhada dos nossos dias, das nossas horas, dos nossos momentos no tempo…
Alcanço a supremacia da liberdade quando te amo incondicionalmente.

Num fogo desproporcional…
Numa intensidade desigual…
Que vontade com culpa.
Que amor sem desculpa,
Que te traz ao meu encontro,
Que vive no desencontro…
Depois daquela noite quente
Daquele sabor ardente…

É num incêndio de emoções que vivo…
Num calor infame…
No socorro dos teus braços que me afagam a tristeza e me preenchem de leveza…
Vivo-te mais e mais e mais…

Porta...


Olho-te e vejo rasgos de luz perdida…
Sinto que te perdeste num caminho sem saída.
Aprisionaste-te nas tentações…

Abres-me a porta, como se abrisses os braços e me aconchegasses a fadiga diária.
Reacendes o calor da magia apagada em mim.
Fechas a porta e tudo o que de mal sentia… fugia…
De todas as portas que se abrem, apenas a tua trespasso.
Como se não existissem entraves entre almas…

Entre passos, entre entradas e saídas…
Porquê cultivar portas trancadas ou semi-cerradas?
É preciso abrir a alma, ocultar-lhe as fechaduras pois já não têm razão de existir…
Se calhar nunca tiveram…

De portas abertas, dou conta de um mundo sem fronteiras, onde a minha circunstância gira em circunferência até onde o coração me levar…

18 abril 2010

Saudade de Amor, em sonho de mel...



É uma miséria translúcida.
Aquela que mata mas não morre.

Numa manhã tombada…
Não quisera levantar-se por nada deste mundo, nem do outro (?!)…
O tempo passa impune.
Às vezes parece um ontem…
Noutras uma devassa eternidade…
Estes confrontos temporais, difíceis de contornar, abatem as forças dos destemidos e acorrentam a alma de quem dela sobrevive…
Uma alma ou um corpo? Um corpo com alma? Ou uma alma num corpo? Serão apenas um só?
Quantas almas se juntam à nossa?
Quantas serão capazes de permanecer pela eternidade?
Quais as que deixarão a verdadeira saudade?
Equaciono a probabilidade de se morrer pela saudade do amor.
Pela fome dum amor que se esfumou…

É um destino inexplicável, uma alquimia estéril que vende elixires de prorrogação de vida… Na transmutação da realidade… Ou na ingestão passiva dum coração…
Não importa a cientificidade, credo ou ioga… ao que parece todos eles se formam acessoriamente… Os procedimentos e conhecimentos comutam de ser para ser… Ultrapassam vidas…
Reencarnam reclamando viver o sentimento mais universal e sinuoso… que se perde na vertigem e se ergue na vontade… da mais exânime à mais ardilosa…
Funde-se em químicas. Alcança as previsões físicas… Confronta-se com a convenção dos astros em tom de arte da filosofia, carregado de misticismo… ou de crença religiosa…
A geometria dos sentimentos não é descritiva…
Nem a medicina suficiente para deter a saudade dispersiva e austera… ou a pseudociência dos metais…
Imortais, apenas os deuses, ou talvez a história que vem nos livros e faz parte do senso comum…
É assim que vagueia a saudade manchada de esperança da história de cada um, com os fragmentos temporais comuns a várias eras…
Deixa-se tudo no palco. Que sensação prodigiosa!
Mas em quantos palcos moribundos se aniquilam sonhos prostrados em nuvens esponjosas e ocas…?
Os deuses não sangram.
Os sonhos também não.
Purificam o espírito mas deixam-no moribundo… Dependente…
Duma semente que não se explica…
Tão somente se reproduz…