01 junho 2008

A(guardo-te)...


Parei o carro desajeitadamente.
Alguns rochedos e pouco areal separavam-me das ondas do mar e do seu carpir voluptuoso aliado do do vento…
Conduzi-me àquele sítio.
A meu lado erguia-se um símbolo que me habituei a suportar: - Uma cruz.
Juntamente, uma minúscula ermida.
As rochas afastavam-na do mar, que quando feroz, a salpica.
A noite já vai acometida… de horas…
Procuro estrelas, mas poucas alcanço no imenso céu.
Na rádio, um concerto em directo, duma banda dos anos 80: e “I’ll be there for You”, soava.
Ao passo que a melodia avançava, uma imensa solidão caiada de tristeza apoderou-se de mim levando-me às lágrimas.
Vários pensamentos díspares, se confundiam na minha cabeça.
A maquilhagem, posta estrategicamente, não sobreviveu ao pranto escorreito.
Também, ninguém avistava o meu rosto, cercado pela vaga de penumbra e da triste escuridão.
Em algum lugar estará alguém à minha espera, mas ali e naquele momento, estava personificado o vazio, juntamente de várias vozes difusas e mescladas, que me recordavam a beleza e a relevância que a música me ocupa.
O tempo passou… vulgar e demoníaco.
Encontrei alguma paz e parti.
Próxima paragem?
- O sono e os sonhos.

Aguardavam-me.

25 maio 2008

Pontos

Precisava marcar pontos.
Não aqueles que se ganham nos campeonatos, mas aqueles que suturam os cortes da vida ou até mesmo da alma.
Mais do que pontos, eram finais.
Pontos finais.
Só com eles suturados cicatrizados podia ter uma vida melhor e paz interior.
Comecei, assim, a somar pontos, tais quais reticências indefinidas…
Acho que o que faltava mesmo era um pontapé de saída.
E esse, parece-me que foi dado.

“A grandeza de um ideal não está em atingi-lo, mas em lutar por ele.”
Juan José Medina

21 maio 2008

ENCONTRO


Porque mal conheces o meu nome, mas conheces o meu olhar…?
Avistar a esperança com os olhos do coração é gratificante.
Igual ou maior que a solidariedade que somos capazes de oferecer!
Longe ou perto, o que interessa é o que representamos de igual para igual.
Passei uma tarde de domingo num encontro. Encontro entre mim e as palavras, não as que digo, nem as que escrevo, mas as que alguém escreveu para mim. Para todo o universo.
Retive um pensamento simpático: “Tenha a serenidade para aceitar o que não pode mudar, a coragem de mudar o que pode e, sobretudo, a sabedoria de conhecer a diferença.” pp.144 in voltar a encontrar-te, do francês Marc Levy
Acho que vai de encontro a algo, que outro dia me ocorreu, em relação à desistência de lutar pelos sonhos. “Desistir dos sonhos nunca, mas enquanto eles não chegam à noite… o próprio dia tem que (es)correr…” afirmei.
Nem que seja, ao arrancar uma página do calendário e avistar a próxima, tentando escrevê-la da maneira mais sincera.
Posso colocar também a questão, porque vou dormir se não tenho que acordar?
Se a motivação for assim tão grande, perco tempo só a pensar. Gasto palavras, que articuladas, não se gostam de encontrar.
Da estória, achei bonito identificar uma pessoa com um local.
Torna-a dona dele… e todas as recordações se afiguram mais doces… e menos voláteis…
Acontece-me várias vezes identificar, pessoas, locais, perfumes, palavras, gestos, rostos, expressões, no baú das recordações…
São essas que encontro. Sorrio. E é como se as vivesse novamente.
Quando ‘acordo’ e volto a mim sei que estive longe, mas tremendamente perto.
O meu ar pensativo demonstra a longevidade do momento.
Senti tudo como na primeira vez…
Não é à toa que Massilon escreve que “a inocência está sempre rodeada do seu próprio brilho.” Ou que: “a alegria é a coisa mais séria da vida.” (Almada Negreiros)
Se a inocência tem brilho e a alegria é séria, também a seriedade da inocência não deve ser posta em causa, assim como a alegria tem imenso brilho…

“Acreditar em algo e não o viver é desonesto.”
Gandhi

Há dúvidas?
Deste lado não.

28 abril 2008

ODE À ELENTARI

SE EU PUDESSE

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...

21 abril 2008

stretno moj prijatelj *


Apetecia-me desenhar.
Não almejava uma obra de arte, apenas um pedaço de imaginação, ou um ‘eu’ distorcido.
Comecei o esboço e um rosto tomava contornos.
Eram contornos a preto e branco, talvez cinza, para ser mais precisa, devido ao carvão.
O avanço era pouco cromático por imprecisão da expressão que queria criar no retrato.
A paleta de cores, que ainda não tinha usado estava ali para colorir…
O cavalete segurava o meu retrato, inibido de cor.
A cada traço que delineava, ia encontrando uma imagem familiar.
Eram, na verdade, os riscos que corria.
A anulação de cor era vestígio dos dias cinzentos e macambúzios que me socorriam, quando mais ninguém tinha essa capacidade.
E de repente surgia novamente a omissão da paleta:
A paleta de cores estava ali para colorir…
Optei por deixar o rosto em primeiro plano, não ousei que os cabelos encobrissem a personalidade do desenho.
A sobrancelha, esguia, alinhava-se pelo olhar; vasto, incisivo, num toque indeciso ou longínquo. Definitivamente profundo.
As horas tinham passado em flecha, ainda que sem alvo e anoitecera.
A luz da lua iluminava o meu retrato. O foco da lua cheia era suficiente para me alumiar as ideias. Faltava pouco ou provavelmente muito, para terminá-lo.
As dúvidas atormentavam-me a composição da expressão e definição dos lábios. Estava disposta a rasgar um sorriso. Podia entreabri-los para confirmar o olhar. Queria eternizar o que a morte vai levar de mim.
Mais uma vez a indefinição abeirou-se-me, pela falta de cor.
Seria um desenho inacabado?
Ou uma manifestação cinzenta duma imagem que recriei.
Não estava a ser original.
(Re) conhecia-me, não na plenitude, mas na forma.
“A paleta de cores estava ali para colorir…”
Esse alcance fazia-me contrariar a vontade de avivar, aquele ser apagado e sem vida.
E tantas vezes passamos pela vida sem pegarmos nas cores, para a colorirmos, que subitamente encontrei alguma coragem e parti, na sua direcção. (pensei: se a coragem é gratuita porque é que estamos sucessivamente a escutar a frase: “Não tenho coragem”? ou mais errado ainda, a proferi-la?)
As tintas da paleta tinham secado, por isso refresquei-a com a textura e o odor, a fresco, a renovado.
Ostracizei a minha vontade, porque nem sempre ela me cumpre.
Dei-lhe cor, como se lhe tivesse dado vida.
Deleguei ao desenho o poder de transformação que me pertence.
Era um retrato de mulher.
Único.
Meu.
A sombra desapareceu.
E, o mundo das cores reproduziu-se. Uma única paleta não admitia tamanha diversidade cromática.
Se da noite brotam estrelas, nem ela gosta do vazio, da solidão, da escuridão.
A luz que erradia a vida é, por vezes, encoberta.
Destapo-a e ela toma o meu rumo.
Enquanto vaticínio, aceito-a.
Afinal, sobejamente, dizem que ‘há sempre uma luz ao fim do túnel’.

“Se não conseguimos encontrar contentamento em nós próprios, é inútil procurá-lo noutro lado.” (La Rouchefoucauld)


stretno moj prijatelj *


* “boa sorte” em Croata

12 abril 2008

Ideias ou ideais?

A Ideia

Força é pois ir buscar outro caminho!
Lançar o arco de outra nova ponte
Por onde a alma passe – e um alto monte
Aonde se abra à luz o nosso ninho.

Se nos negam aqui o pão e o vinho,
Avante! é largo, imenso, esse horizonte…
Não, não se fecha o Mundo! e além, defronte,
E em toda a parte há luz, vida e carinho!

Avante! os mortos ficarão sepultos…
Mas os vivos que sigam, sacudindo
Como o pó da estrada os velhos cultos!

Doce e brando era o seio de Jesus…
Que importa? havemos de passar, seguindo,
Se além do seio dele houver mais luz!


Antero de Quental
N: Ponta Delgada (Açores), 18-04-1842;
M: Ponta Delgada, 11-09-1891


(A ‘ideia’ até que é boa!)

03 abril 2008

Whatever...


Não corre brisa de vento.
Acho-me no sítio onde troquei o meu primeiro beijo.
O rapaz amava-me.
Eu, queria apenas sentir um beijo, o primeiro.
Foi uma sensação estranha, mas inclassificável.
Hoje estou aqui. Sozinha.
Não há lua bonita, nem estrelas. Apenas o areal, o mar e as lufadas quentes de verão, mas fora de época.
Acabara de vir duma sala de cinema. As mensagens do filme ainda entoavam na minha cabeça, talvez tenha transposto a minha vida naquela história de aproximadamente duas horas. Já é costume.
Quando um capítulo termina, há muitos outros para viver, retive.
Os meus pensamentos conspiravam contra a minha razão dedutiva, pois por mais pontos finais que coloque, a pontuação não corresponde ao que o coração sente.
A noite já pesava, as luzes alumiavam as ruas desertas, as músicas que trazia no rádio lembravam-me fantasmas e almas penadas, como quem recorda cada momento que a saudade alcança. A cada tema calmo e melodioso, imbuía-me na paz do mar bravo ali do lado com a passividade da areia e o ardor daquele termómetro nocturno. Brotava o querer desmesurado, num ponto da vista em que sai um líquido meio apurado de sal que não posso antever se algum dia fez sentido. Sem querer, elas caíam. Uma a uma, em queda livre abismal.
Das poucas certezas que tinha, uma era vital e certeira: os pontos finais não podem ser interrogações.
Tudo passa pelo ponto da vista em que nos concentramos. Não dizem que o amor é cego?
Se formos por aí eu quero isso a que chamamos amor. A vida tratará de amalgamar os outros sentidos.
Às vezes não precisamos mais nada.
Apenas alguém que nos faça companhia e leve embora a solidão e a isso também se chama amizade…
A compreensão da simplicidade desta constatação é clara, mas de tão subtil é quase sempre errada. Como diz Lavoisier: "nada se perde tudo se transforma", e desta feita esta compreensão não foge à regra.
É por isso que a cada dia que passa enalteço o meu sofázinho, porque ele é um bom amigo! Digo-o sem ter medo de represálias. Ele tem a capacidade de perceber que uma mulher tem sentimentos, estendendo-se de imediato de braços abertos para me acolher, sem reservas e sem pensar com a ‘consciência’ que me afasta. Sim. É uma indirecta perceptível à incompreensão deliberada de qualquer ser humano de sexo masculino.
Estou a ser sexista?!
Whatever.

02 abril 2008

Mentiras no dia delas... (1 de Abril)


Quero mentiras doces.
Mentiras de amor feroz e inexplicável.
Mentiras em que o meu corpo fica despido e no teu envolvido, recrio imagens do desejo.
Mentiras pragmáticas em que renego a verdade.
Mentiras em que crucifico a minha paz pelo sabor a ti.
“A vida é curta, é sonho de um momento.” (Bernardo Guimarães)
Os sonhos acordam em mim a pessoa que sou.
Apenas existo em sonhos,
Apenas existo em momentos…
Sinto este murmúrio falacioso a cruzar-se com a minha sombra exasperada.
Quero chamar Viver a cada sonho que cumpro.
A vida é realmente curta, para quem não sonha num único momento dela.
“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.” (Fernando Pessoa)
Por isso é que os sonhos têm um tamanho incomensurável.
Correspondem à identidade e à mais fútil proximidade que temos connosco.
“Para ser grande sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa.“ (Fernando Pessoa)
Ser-se Único. Todos os dias da nossa vida… Sem temermos que cada atitude, gesto ou palavra tenha sido em vão… somente assim nos cumpriremos na íntegra.
“Integridade é fazer-se aquilo que está certo, mesmo que ninguém esteja a ver.” (Jim Stovall)
E, a humildade pode chegar a este ponto.
No fundo, a mensagem a transmitir fala de amor:
“Que eu tenha peso e medida em tudo… menos no amor.” (Balaguer)
Até porque: “A pior das prisões é um coração fechado.” (João Paulo II)
Subscrevo.
E se for mentira, dar-lhe-ei todo o crédito.

24 março 2008

One side of the story...


Chorei cada imagem que via…
E chorava compulsivamente…
Cada fragmento levava-me ao sufoco, à tortura de ver destruído o cenário do nosso amor…
Onde tantas vezes adormecemos embalados pelo som das ondas.
Era o teu ‘cantinho’…
E partilhava-lo comigo…
Vivemos o desejo…
Transpiramos o calor do nosso fogo…
Que ardia…
Fomos cúmplices do bater das ondas…
Que nos embalava na busca da entrega total àquele momento…
Gemíamos estridentemente e as nossas almas fundiam-se num só corpo…
Formara-se um eco na noite…
O eco do nosso amor…
A noite acompanha os amantes abrigando-nos…
Entregávamo-nos única e exclusivamente ao poder sobrenatural que nos unia…
Estávamos sob o capricho da paixão e do desejo…
A cada beijo que roubávamos um do outro.
Causa natural é o diagnóstico daquele avanço do mar…
Daquele óbito anunciado…
Os vários recantos onde tudo aconteceu…
Onde adormecemos…
Acordamos…
Amamos…
Nem as intempéries estão a meu favor.
Era exactamente ali…
E agora tudo ficou destruído…
O nosso ninho de amor está prestes a desaparecer…
Parece que não sobram réstias do nosso amor…
Todo o meu amor foi levado com fúria, a fúria da dissolução… de tudo.
Do amor que se fez,
Do amor que se teve e que se consumou na rebelião do calor de dois corpos mitigados de prazer… Gosto-te…
Hoje mais, amanhã mais e depois de amanhã ainda mais…
Aumentará sempre o meu sentimento por ti…
Perdi-te…eu sei…
Talvez um dia desses redescubra o amor noutros olhos e noutro sorriso…
(Aguardo que sejas Tu…)

20 março 2008

A(ti)ngida pelas palavras...


Encaro as palavras como um pedaço de mim. A interpretação que delas faço vai muito mais além daquilo que o seu significado pobre e frágil transmite a ouvidos ou olhos desatentos.
Já me proibi de escrever ou tentar representar em meras palavras imbuídas de trejeitos, sensações compensatórias que em mim se desvanecem por senti-las tão veementemente.
Chamo de lúgubres, as imagens que povoam a solidão de um corpo. Fazem-me lembrar as paisagens submersas num inconsciente denso, meticuloso e escuro de incompreensão.
Uma penumbra obsessiva.
Um abismo pessoal constante.
Um absolutismo que, macambúzio, vagueia só no narcisismo inconsequente do desejo.
Tatuo máscaras duma personalidade não assumida por falta da energia e da luminosidade dum existencialismo profícuo, com tendência ao retrocesso cultivado.
Não se pode exigir o que nunca se teve.
Gosto de apagar-me a cada dia que passa para renascer entusiasticamente de seguida.
É gratificante ouvir este silêncio em tom de melodia que tem tanto de discrepante como de obtuso…
Parece que a nossa ténue existência é em vão quando o paradoxo se transforma na questão do desaparecimento.
Quais as formas da minha ausência, do meu fim?
A água cai e faz uma visita guiada pelo meu rosto perdendo-se, sem rasto, no infinito de dúvidas expiatórias.
Regresso, tolerante aos vocábulos que dou vida e que são excepcionalmente usados.
Descrevo, por exemplo, a imagem dum arco-íris prostrado num verde genuíno e eloquente…
O trivial não me interessa. Está absorto de mim…
Atinges-me?

15 março 2008

(Re)petição...


Fui aproveitar o sol e o calor que trouxe comigo.
Caminhei com a saudade, respirei a tristeza, alberguei em mim a piedade em tom de compaixão enlouquecida a vaporizar as minhas vísceras...
Não sei onde anda a força que costumava habitar-me.
O sofrimento tem-me batido à porta.
Deixo-o entrar, mas recuso-me que ele se instale confortavelmente.

Cada passo parecia um reencontro com as minhas origens.
Conhecia de cor a brisa que me batia no rosto. Era um perfume que sempre vivera junto a mim pela frequência que me levava até ele.
Do lado de lá do muro, a areia escondia-se no rastejo das réstias de ondas do mar…
Ele perdia-se na areia, submisso…
Tal como a avestruz, o mar enterrava-se na areia de cabeça e sem vacilar…
E eu? Se me escondesse como a avestruz, se me enterrasse evaporando como acontece ao mar, teria resolvido as tormentas?
A simplicidade de um ‘sim’ ou dum ‘não’ em discurso directo corrói-me os pensamentos que não quero ter, mas que sinto não poder resolver no imediato.
Que o tempo resolva por mim…
Se a chuva vier, que percorra todo o meu corpo.
Um raio de sol ou uma forte rajada de vento puros… encarregar-se-ão de me devolver à normalidade… mesmo que tenha atravessado uma revolução.
O meu corpo vai libertar os suores de enfermidade e nele submergirá a conquista.
Voltarei ao plano de Fénix.
A renovação e a revolução são uma constante em mim.

Cheguei junto do carro.
Pus o cinto. Parti.
Sentia-me atordoada, mas revigorada.
Por mais que quisesse definir o que acabara de acontecer, não conseguia.
Estava longe de pensar que os finais são como o tempo: imprevisíveis, mas necessários.

20 fevereiro 2008

Hora de embarque...




Esta noite sonhei muito. Sonhei contigo, com os amigos, com os desconhecidos que me povoam a mente…
Sonhei que os meus desejos, não passam de desejos porque ainda não foram materializados…
Sonhei que o tempo é muito curto para tudo acontecer e isso acontece tanto nos sonhos como na vida real.
Tenho bastantes insights ou dejá vus… acho que já os recriei em sonhos.
Tantos sonhos… e a realidade permanece estática.
Depois de sonhar acordo e lembro-me de todos os sonhos que não passam disso: sonhos.
Às vezes acho que não vivo num mundo real;
Que as coisas demoram tempo demasiado a acontecer.
O tempo real deve ser diferente do meu…
Páro um segundo e adormeço…
Estou prestes a embarcar no mundo dos sonhos! Espero que apanhes o mesmo barco…
Quem sabe não se iniciará a NOSSA viagem…

“O tempo é o melhor Autor. Encontra sempre o final perfeito.”

(Charles Chaplin, na interpretação da sua própria personagem "Calvero" em "Luzes da Ribalta")

Que o Sol esteja sempre presente para aquecer o meu Coração


Para que serve o coração?
Até onde é que ele nos leva?

Ele bate leve e solto…
Alegre e compassado e no sobressalto das emoções que bata sempre com fervor…
Que seja preenchido de força para continuar a viver o amor…
Que não se esgota, não se cala, não se comporta…
Não se esquece…
Mas se o coração aquece…
O nosso sorriso permanece… estampado no rosto… no sabor e no gosto de exalar a felicidade…É bom senti-la dentro do peito e murmurá-la no brilho do olhar…

Empty space...

Além, quatro paredes vazias… caiadas num branco, amarelecido pelo tempo.
A humidade também marca presença escorrendo pequenas gotas pelas paredes em dias de chuva. O tecto e o chão são revestidos de madeira. Uma janela forrada de madeira ilumina este pequeno espaço cheio de nada. Terá o passado preenchido estas quatro paredes?
Terá a lâmpada que cai do tecto alumiado réstias de vida?
Fecho a porta. E aquele sítio tão vazio já não me incomoda.
Não quero entrar no vazio… pois talvez já nele viva.

12 fevereiro 2008

A minha história


Como acreditar em mim, como acredito em ti?
Sei que todos os sonhos são realizáveis, pois já provei um pouco do seu sabor.
Muito tempo passa para cortarmos as metas que nós traçamos…
O tempo que fica para trás parece uma eternidade e tudo o que alcançamos parece longínquo, distante e sem valor… mas sinto que no fundo não estive inerte… que vivi.
É uma espera tenebrosa. Na mala já levo a saudade e na viagem sei que vou percorrer o caminho dos sonhos, que é como quem diz: o caminho da felicidade.
É a minha vida.
É a única certeza que tenho.
As oportunidades falam-me em partidas, em chegadas e eu apenas sei que vou a caminho de construir uma história:
- A minha.
Os laços impedem os meus movimentos, mas a verdade é que ninguém é de ninguém, apesar de eu desejar que assim não fosse para poder achar mais rapidamente o sentido do Tu e do Eu.
Custa-me dar um passo.
Quando até passo pela vida a correr…
Dizem que para tudo há um tempo certo…
Mesmo para aquilo que não vai acontecer.
Talvez por isso, me sinta feliz, me sinta bem e tenha toda a paz de espírito necessária.
Obrigada.

04 fevereiro 2008

Deriva...


São lágrimas de ausência de paz.
Não mando em nada.
Nem em mim, nem na minha alma que vagueia…
Longe do meu querer…
Porque é que a tristeza me acompanha?
Sinto-a como uma sombra que não vai embora.
É uma dor corrosiva em que a melancolia trespassa os meus dias…
O meu viver…
Queria que os pontos de intercepção fossem mais claros.
Que a distância que não tenho entre os sentidos não me asfixiasse o pensamento.
Que a intensidade de acreditar fosse gradual aos meus desejos de ser...
O que vou sendo sem ser…

31 janeiro 2008

Esquecer...


Sei que tinha que vir.
Sei que era isso o que a minha intuição me dizia para fazer…
Mas estou cansada de esperar.
Cada hora,
Cada minuto,
Tornaram-se insuportáveis…
Sei que preciso de tempo.
E que convivo com o seu desespero de passar.
Não consigo pôr as mãos no fogo, porque já tenho a alma enregelada.
Desfaleço a cada dia pela angústia que teima em me destruir.
Não domino este impasse.
Não domino esta vida.
E é tudo isso o que não quero:
Esquecer-me de mim.

24 janeiro 2008

Quem és tu?


Quantas lágrimas chorarei mais por ti?
Que também me pertences.
Quantas lágrimas se largaram e largarão daqueles rostos cada vez mais frágeis e débeis?
Que apenas tu não reparas.
Quantas vezes terei que te dizer que estás errada?
Sem que tu o percebas.
Quantos erros sucessivos cometerás sem que os que ficaram para trás te tenham servido de exemplo?
Que exemplo darás a alguém se não o és para ninguém?
O que te custa ser honesta com o teu coração?
Porque o moldas à intransigência?
O que te faz ser tão cruel?
Se nunca ninguém o foi para ti.
Porque não deixas entrar no teu coração o afecto livre e sincero?
Porquê essa pedra, em vez dum bom coração?

Quem és tu?
Desconheço-te…

17 janeiro 2008

Paz

Tantas páginas escrevi no livro da vida… sem contar as que estão para a frente, nem querer rever as que ficaram para trás…
Identifico-me com o ambiente que me rodeia e a minha circunstância.
É o que acontece quando o coração nos governa o corpo e a alma.
Desejo encontrar a tranquilidade que começa a habitar-me e pensar que cada dia pode ser sereno e pleno de sentido…
Estou mais calma, o risco vale a pena e é isso que deixa viver o meu espírito em paz.

11 janeiro 2008

Choro D'alma


Tenho procurado portas que convidem à entrada…
Tenho entrado nas portas que me deixam espreitar…
Neste entra e sai… Tenho conhecido vultos de almas desconhecidas…
Tenho-as apanhado desprevenidas…
Assim como as ondas do mar…

Correndo o risco de ser inconveniente…
Passeio e quase que vagueio pelos caminhos que também são meus por pisá-los diariamente.

Respiro o mesmo ar saudável em que esvoaçam as aves e, os salpicos do mar vêm até mim num Inverno terno, quente e delicado…

Há fins que proporcionam recomeços.
Há meios que justificam a passagem.
Longe de certos endereços…
A cada dia transito na minha viagem…

Longe de tempos de gritos,
Perto dos meus silêncios…
Percorro essa estrada…
No meio, a encruzilhada…
Em que resolvo cada nó…
Vivendo só…

Acompanhada pela vaga alma que eu deixo viver…
As tormentas… Procuro esquecer…
Porque a vida tem o sabor suave de veneno…
Que torna o mundo mais pequeno…
Que o deixa desfalecer…

Ajustando memórias,
Conto as minhas histórias…
Que sussurram ao meu pensamento
Que cada lamento,
É o peso da hora,
É o peso da demora…
Duma alma que chora.

30 dezembro 2007

Para trás ficou...


Olho sem ver e sinto um vazio.
Não apenas por os lugares do lado estarem de vago, mas por esta nuvem de solidão, que avisto antes da chuva inundar-me a tristeza…
São retratos dos meus silêncios…
Em que eu, muda, vacilo na multiplicidade de quereres e desordens dos instantes que já passaram e me fizeram imensamente feliz.
Hoje é um dia feliz.
Todos os dias o podem ser…
A saudade inunda a alma e invade os meus olhos de emoções…
Eles não mentem.
São fiéis ao meu coração…
É pena, mas há sempre algo que fica para trás sem qualquer despedida…

22 dezembro 2007

Já não...


Cheguei sem sentido.
Encontrei o que não via mas sempre conheci.
Habituei-me a estar.
Está tudo na mesma, mas eu não estou.
E, onde estarei?
Fiquei sem alma de tanto tentar viver ou sobreviver…
A chuva teima em cair.
Apesar do calor de braços.
Do cheiro do vento e de estar aqui.
Já não sei sentir.
Já não sei partir.
Já não sei fugir.
Já não sei consumir.
Fugindo não consumo a partida porque estou a senti-la demais…

05 dezembro 2007

ADEUS TRISTEZA... ATÉ DEPOIS...


Fernando Tordo : Adeus tristeza
Letra e música: Fernando Tordo In: "Adeus tristeza", 1983 Victor Almeida

Na minha vida tive palmas e fracassos
Fui amargura feita notas e compassos
Aconteceu-me estar no palco atrás do pano
Tive a promessa de um contrato por um ano
A entrevista que era boa
E o meu futuro foi aquilo que se viu

Na minha vida tive beijos e empurrões
Esqueci a fome num banquete de ilusões
Não entendi a maior parte dos amores
Só percebi que alguns deixaram muitas dores
Fiz as cantigas que afinal ninguém ouviu
E o meu futuro foi aquilo que se viu

[Refrão:]

Adeus tristeza, até depois
Chamo-te triste por sentir que entre os dois
Não há mais nada pra fazer ou conversar
Chegou a hora de acabar

Na minha vida fiz viagens de ida e volta
Cantei de tudo por ser um cantor à solta
Devagarinho num couplé pra começar
Com muita força no refrão que é popular
Mas outra vez a triste sorte não sorriu
E o meu futuro foi aquilo que se viu

[Refrão]

Na minha vida fui sempre um outro qualquer
Era tão fácil, bastava apenas escolher
Escolher-me a mim, pensei que isso era vaidade
Mas já passou, não sou melhor mas sou verdade
Não ando cá para sofrer mas para viver
E o meu futuro há-de ser o que eu quiser

[Refrão]

03 dezembro 2007

QUERO SENTIR


Parei para escutar
O bater do coração
Hesitei…. Um momento
Queria usar a razão…

Pedi desejos às estrelas
Porque queria ter-t‘a meu lado…
Entrei no sonho…
Quando devia ter acordado.

Quero sentir
Que estou em ti
Para sempre…

Se partir
Vais comigo
Eternamente…

Vou ouvir a melodia
Que te traz ao meu encontro
E sentir dia-após-dia
Esse amor quase louco…

No aconchego do teu calor
Adormeço… Desperto…
A beleza dum amor
Que nunca esteve perto…

Esperei pelo sorriso
E devolvi-m’a paz
Esse beijo indeciso
O teu jeito incapaz…

27 novembro 2007

Não estaremos todos?


Testar limites.
Testar os nossos limites.
Não saber o que o amanhã nos reserva…
Acreditar nas capacidades que temos…
Tentar não falhar nas solicitações…
Encontrar respostas para ser feliz…
Ter alguém por perto para devolver um sorriso…
Fazer da incerteza a maneira mais gratificante de respirar cada segundo como se fosse o último…
Sinto demais… tudo o que encontro e faz parte do meu mundo…
Todos os dias são bons dias para sermos honestos connosco e responder aos devaneios da vida que quero consumir sem pressa para poder saboreá-los momento a momento…
A perfeição não existe?!
Temos que ir buscá-la e respirá-la…
A cada dia tudo pode ser mais e mais perfeito!

23 novembro 2007

Importante...



“O importante não é o momento em que conhecemos as pessoas, e sim, o momento em que elas passam a ser importantes para nós.”

Conheço muitas pessoas importantes… é verdade.
Mas as mais importantes são aquelas que me fazem sentir que estou viva!
São aquelas indissociáveis da minha alma por qualquer motivo.
Sei que há várias passageiras, mas que na sua passagem me inundam de esperança, felicidade, alegria e vida…
Capto as suas mensagens e deixo-as partir livres… porque absorvi e aprendi alguma coisa com elas…
Ter ouvido e olho atento para aprender é um dom…
A resolução dos enigmas das mensagens transcendentes ecoa em mim e eu sei disso…
Continuo na busca pelo meu lugar ao sol…
O tempo, o espaço, o ritmo… pouco valor têm…
A cada passo que dou sinto que vou ficando mais perto…

09 novembro 2007

Eu Condeno...


Condenemos as palavras…
Mas nunca o nosso olhar….
Ele despe e entrega todo o nosso corpo, toda a nossa alma…
Todo o nosso ser…

Condenemos os sentimentos…
Porque os sentimos mesmo sem querer.
Talvez essa injustiça traga agradáveis surpresas…
Agarro-me a essa esperança porque sentir é a forma mais bonita de viver…

06 novembro 2007

Aos momentos inoportunos...



É na imperfeição de algumas palavras, tristes, cabisbaixas que te encontro no abismo…
Trôpego, vociferando as incongruências de um sofrer grande e custoso.
Não sei o que te dizer, não sei como te alcançar e qual toque escolher para tornar o teu sofrimento bem menos doloroso…
Estou muito perto de ti mas não consigo soletrar uma única palavra, porque aquilo que vejo é uma imagem cruel demais… para ser descrita.
‘Ele morreu enquanto estava vivo’ (Paulo Coelho – Sou Como O Rio Que Flui)
E tantas vezes é essa a experiência deprimente que fazemos da nossa vida.
Carpe Diem… para sempre é o que desejo imbuir no teu ser…
Mas é esta a parte em que eu digo que ‘não sei’ (como) e a minha ignorância alcança.


Acho que “aconteceu tudo o que tinha de acontecer, e não aconteceu nada.” (idem) E basta esse nada para me encher de esperança em ti...

30 outubro 2007

Provérbio grego!


Há um provérbio grego que diz “começar já é metade de toda a acção”.
É nele que me concentro quando o desatino é o caminho mais fácil de seguir...
Sou capaz de tudo se a minha voz interior quiser acreditar nessas palavras.
Falham-me as forças, sem raciocínio.
Aguardo momentos de réstias de inteligência.
Domino a minha vontade de tentar desistir, porque esse nunca foi o meu destino.

Parei de olhar para trás, apesar de não saber os passos certos para seguir em frente.
O rasgo do teu olhar é mais forte, seguro e ampara-me. Talvez ele saiba guiar-me nas fraquezas que me encontram...

O dom de Amar...


Amo tanto que mal sei evadir-me do sentimento que me preenche a vida.
Amar é um dom.
Amar torna tudo diferente.
Mostra as cores mais bonitas duma pessoa e deixa para trás a tristeza de um viver só...
Amo todos os dias com um simples olhar qualquer coisa.
Persigo o amor e deixo-me prender a ele...
É uma busca que me dá toda a estabilidade necessária para viver.
É um sentir que me enche de vida e me faz acreditar que amar a vida, amar a família, amar um amigo, amar algo ou alguém é contruir uma ponte com várias artérias e vias que chegue a vários corações...

20 outubro 2007

Where Are You?



Entrego-te o meu sentir.
Se é que já não o sentes…
Sussurro-te memórias esquecidas,
Sentidas…
Que ainda não preenches.

Fujo da intensidade de te ver
Controlo o instinto que me persegue
Construo-te sem saber
Mas não sossego.

Vivo sem nada saber de ti…
Contorno a tua imagem…
Talvez um dia surjas na minha vida…
Ou talvez na minha viagem…

Qual o brilho dos teus olhos?
Qual a cor do teu sorriso?
Quais as tuas feições?

Ofusca-me a memória...
O tempo é impreciso...

Encontra-me na tua história...


"Sê a mudança que queres ver no mundo."

Mahatma Ghandi


20 setembro 2007

Missão Corvo!


Acabou de passar um bando de Gaivotas.
O mar está calmo e convida ao banho.
Passo e avisto-o do alto para não me tentar...
Entre o barulho das ondas a bater contra os rochedos vulcânicos, delicio-me com esta banda compassada em que o mar é o instrumento musical e as gaivotas, as cantoras de serviço!
O maestro dispensa-se pela espontaneidade de sons...

Estou na Ilha do Corvo, a ilha mais pequenina do arquipélago dos Açores, há quem diga até que é a mascote pelo seu tamanho!
Não nego que estava curiosa por ver de perto se a ideia de que o tamanho importa aqui se podia subscrever.
Tal como nas pessoas a primeira impressão é a que conta para mim... E a imagem que fiquei era verde de esperança pintada com um amontoado branco e tranquilo do casario da vila.

Não era a única curiosa, pois por onde passava e ainda passo não deixo ninguém indiferente até porque acabo por ser uma ‘novidade’...
Aqui as pessoas retraem-se no seu canto, pois têm medos fundados de trapaças de um passado recente.

Para primeiro dia explorei quase a ilha toda. (Não é difícil!!!) O cansaço era algum e o tempo também começou a mudar. Mais oportunidades hão-de acontecer e andarei à descoberta, não digo que será de mapa e bússola na mão, porque perderia muito tempo a achar-me, mas irei passo-a-passo até onde as pernas me levarem. Eu gosto de caminhar.

Bastou uma semana para lentamente ir conhecendo as pessoas que lideram a ilha. Vi muitos mais rostos, e a pouco e pouco vou decorando os seus nomes. Nesta semana consegui, entre outras coisas, ter um pedacinho de tempo para calcorrear os locais mais pitorescos e turísticos. Apesar de já ter visto muita coisa acho que existirão sempre muitos sítios a explorar. Basta o tempo mudar e encontro outra paisagem no mesmo sítio...

Sinto as nuvens chamando entre sussurros a chuva. O clima das ilhas acaba por ter esta magia de mostrar todas as estações no mesmo dia ou até mesmo em algumas horas. E tem tendência a apanhar-me sempre desprevenida.

Viagens e voltinhas à parte....
Lá no alto voei para chegar cá.
As milhas que percorri levaram junto do vento e das nuvens os pensamentos mais desajustados.
Baralhou-os e mergulhou-os nas ondas do mar…
Tornaram-se segredos preciosos fechados nas ostras como as pérolas…
Foram momentos descompensados de tempo…
Mas enriquecedores da alma…

Fica uma frase que me tem acompanhado aqui: “Amanhã à mesma hora!”

14 setembro 2007

I am what I am....


“Whether we write or speak or do but look
We are even unapparent.
What we are,
Cannot be transfused into words or book.
Our soul from us is infinitely far.
However much we give our thoughts the will to be our soul and gesture it abroad,
Our hearts are incommunicable still.
In what we show ourselves we are ignored.
The abyss from soul cannot be bridged by any skill of thought or trick of seeming.
Unto our very selfs we are abridged when we would utter to our thought our being.
We are our dreams of ourselves, soul by gleams, and each to each other dreams of other dreams…”
Enviaram-me por sms e eu guardei... partilho porque gostei!

11 setembro 2007

Cheguei...


Voei até cá chegar…
Atravessei muitas adversidades e agora estou aqui.
Vejo o colorido desta flor e mais adiante a minha nova casa…
Cheguei à nova casa e senti-me bem.
Ainda bem que os braços se abrem quando outros se fecham.
Ainda bem que as portas e janelas se abrem quando se julga que elas já nem existem.
Estou no meu gabinete e avisto e ouço as ondas do mar…
São estas portas e travessas que entusiasmam o meu viver.
Estou cá de corpo e até de alma….
Acordo ao som das ondas e adormeço com a mesma melodia.
Todos os dias podem ser meus.
Desde que eu queira.
Vale a pena tentar…
Nem que seja sempre:
SÓ MAIS UMA VEZ!

31 agosto 2007

Entre marés...

Cada minuto devia ter 100 segundos…
Para uns seria demasiado tempo, para outros seria ainda muito pouco para concluir as tarefas a que se propõem.
Nesta comparação ambígua de falar de tempo…
O que preciso é que ele passe rápido ou tão rápido quanto possível para não haver pausas para pensar…
No que existe,
No que existiu
Ou até mesmo no que deixou de existir.
Acolho todas as novidades como uma presença necessária.



Como se congela um sorriso?
Acho que apenas na minha memória os congelei.
Os meus, os teus…
Os nossos… cúmplices…
Guardo com saudade.
Guardo com todo o amor que nos une.
Guardo a imagem, o sorriso, a felicidade…
da tua presença toda ela sorrindo (para mim)!
São estas as memórias de ti que me fazem sempre feliz.

Pressa




Pressa.
Apenas pressa é o que cada vez mais temos que conviver…
Para quê tanta pressa se a vida se consome tão depressa?
Há que saboreá-la a cada grão de areia que se pisa…
Vale mais viver pouco,
Mas viver de tudo um pouco.
Com dignidade suprema.

“Tanto o optimista como o pessimista acabam por morrer. Mas os dois aproveitaram a vida de maneiras completamente diferentes.”


Shimon Peres in ‘Sou como o Rio que Flui’ de Paulo Coelho

Existe?!


Sou um livro aberto.
Não sei quantas páginas terei…
Ainda não escrevi o FIM.
Não sei se tenho medo de adormecer ou de acordar.
A cada dia que passa prefiro a minha solidão como companhia.
Acho que estou cansada da vida.
E triste por a conhecer.
Tento desligar o botão das amarguras,
Tento devolver sorrisos…
Mas ser altruísta não compensa.
Junto de estranhos chego ao cúmulo do sorriso mútuo que é muito mais que solidário…
Preciso da Epifania…
Desejo-a para tentar encontrar-me…
De uma vez por todas acho que preciso da manifestação de carinho que sei que existe.
Sinto-me exausta da vida…
É essa a revelação…

Afinal, nem sempre há um depois…

23 agosto 2007

VOAR... nas asas da vontade de...


Enquanto conduzia uma música veio ao meu encontro… “Learning To Fly” dos Pink Floyd…
As mensagens que recebemos todos os dias na maior parte das vezes passam bem despercebidas, mas garanto que andam por aí é só prestar atenção.
Quando mais ninguém, se não nós conseguimos dar respostas às nossas inquietações há que não ser imune aos sinais enviados do além…
XXX
Nisto sou capaz de repetir para mim própria: “Nada.” Exactamente por não se passar nada. E, talvez seja isso que me incomoda.
Misturo o querer, a obrigação e intrinsecamente já estava ligada a esse passo de crescer… Não dei conta, não deste conta… Fui-me deixando levar…
Vejo a sensibilidade em debandada permanente…
Rendo-me às evidências…
E recolho-me no meu quarto. Vou deixar embalar-me pelo cansaço do corpo. E entrar no mundo dos sonhos, que espero que sejam deliciosos, com sabor a algodão doce…
Espero encontrar-te lá. E a todos os que me fazem feliz…
Sei que nos sonhos tudo é perfeito ou passa lá perto.
E assim caio no realismo surreal da minha vida.

21 agosto 2007

Estaremos inocentes no sentir?


Encontraremo-nos...


"Ninguém avança pela vida em linha recta. Muitas vezes, não paramos nas estações indicadas no horário. Por vezes, saímos dos trilhos. Por vezes, perdemo-nos, ou levantamos voo e desaparecemos como pó. As viagens mais incríveis fazem-se às vezes sem se sair do mesmo lugar. No espaço de alguns minutos, certos indivíduos vivem aquilo que um mortal comum levaria toda a sua vida a viver. Alguns gastam um sem número de vidas no decurso da sua estadia cá em baixo. Alguns crescem como cogumelos, enquanto outros ficam inelutavelmente para trás, atolados no caminho. Aquilo que, momento a momento, se passa na vida de um homem é para sempre insondável. É absolutamente impossível que alguém conte a história toda, por muito limitado que seja o fragmento da nossa vida que decidamos tratar."

By Henry Miller, in "O Mundo do Sexo"

20 agosto 2007

Bem Hajam!


Muitos são aqueles que continuam a fazer acontecer...
Mulheres e homens sem rosto que são a prova da força da vontade de viver...
Parecem esquecidos e vagueiam num corropio dia após dia...
Fazendo o mundo girar...

A todos os Desconhecidos esquecidos (ou não) passo a mensagem:

«Somos todos protagonistas da nossa existência e, muitas vezes, são os
heróis anónimos que deixam as marcas mais duradouras.»


in "Ser Como o Rio que Flui" de Paulo Coelho

«Às Vezes»



"Às vezes tenho ideias felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto?
Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?..."



"Às Vezes" de Álvaro de Campos

Trouxe-te comigo....




“Somente

a Lua dos poetas

e os Olhos dos

apaixonados

brilham mais do

que o Sol...”

Autor desconhecido

15 agosto 2007

A...........


Quero prender-me a ti…
Com as algemas da alma…
Quero sorver cada momento que respiras.
Extrair de ti tudo o que me faz feliz…
A tua presença,
A tua demência,
O teu toque,
O calor dos teus braços entrelaçados no meu tronco na sombra de me ver fraquejar…
Sinto que és tudo para mim, quando ninguém é de ninguém…
Acalmas-me…
Afagas-me…
Entusiasmas o meu simples viver…
Adormecido e sempre desperto e descoberto por ti…
As palavras que uso recolhem a essência do medo de algum dia te perder e não haver nada mais para contar…
Existes para mim porque vives em mim…
Desde o dia em que te conheci…
És autêntico…
Adorável…
Intenso…
Denso…
Profundo…
És.
Existes.
E isso é o suficiente para a minha vida fazer sentido…
E multiplicar tudo o que de bom há em mim…
Talvez lentamente te dispa esse disfarce que não consegues abandonar…
E te faça sentir todo o colorido da vida…
A...........

02 agosto 2007

Histórias e Encontros com a realidade...




Tempo de Mudança…

Outro dia, em conversa com o meu pai percebi o porquê deste tempo estranho e indeciso…
Segundo a minha avó e a sua sabedoria popular, ela dizia qualquer coisa como: Deus disse que quando o homem pensasse saber mais do que Ele, que lhe trocava os tempos!
Parece que é o que está a acontecer… as estações confundem-se… como muitas outras coisas…
Vivemos o caos discreto duma sociedade que não se impõe por regras, mas por delírios evasivos cujas respostas e regras são ditadas por recalcamentos que já não fazem sentido…





«Os outros»

Tinha quatro anos e meio e referia-se a eles como os ‘outros’. Era ainda uma criança, mas já tinha sofrido a tristeza de ter sido abandonado pelos pais biológicos (‘os outros’)…
Depois da adopção reconheceu as palavras pai e mãe e ainda os afectos da avó que se entregou de corpo e alma àquela dádiva. Àquela bênção.
Tão tenra idade e já sabia quem o fazia feliz…
Essas pessoas tinham nomes.
Tinha entrado numa verdadeira família… apenas não esquecia os avós da parte ‘dos outros’… que lhe foram afastados pelos ‘outros’.
São estes os dons das crianças…
Criam laços…
Junto do Amor que lhes é dado!





Almas caídas…

São vultos, almas, esqueletos até…
Parecem esquecidos à margem de tudo.
Caminham, rastejam, vivem num outro mundo…
São velhos ou estarão velhos?
O seu espírito estará mais perto ou mais longe da realidade?
Vivem num outro mundo.
Um mundo qualquer…
Já pouco ouvem as vozes da vida…
Cambaleiam… magros, gordos, senis, trôpegos, com idade ou sem idade…
Já não se chamam velhos do Restelo, pois já não têm voz para gritar o que a idade lhes deu: inconformidade e melancolia.
São os loucos de amanhã…
E dão os primeiros passos hoje.





Filha única

Lígia era filha única. Tinha pouca idade mas já falava como ‘gente grande’.
Trazia um vestido azul bebé com uma boneca enorme.
A bolsa a tiracolo, o cabelo negro curto e os óculos em arame preto davam-lhe a suavidade doce, duma miúda encantadora.
No rosto tinha a expressão habituada da solidão.
Chegou junto a mim retraída.
O seu pai deixara-a ao pé de mim e dos meus bonecos.
Alguns viriam a ser seus, mais para a frente.
Disse que me queria ajudar a vender, porque gostava de ajudar os outros.
Predispus-me a ouvi-la e ela contou-me tudo o que conseguiu dizer nos instantes em que o pai se ausentara.
Era tímida, mas bastou pô-la à vontade para me contar o mundo que a acolhia dia-a-dia.
Confessou que adorava ter uma irmã para poder brincar e ensinar-lhe muitas coisas…
Ouvi-a com a satisfação de ver uma criança feliz, dei-lhe toda a minha atenção. E isso bastava-lhe.
Era vulgar Lígia aguardar o pai, enquanto ele trabalhava.
Uma rotina que a deixava aborrecida.
O pai da pequena Lígia regressou.
Logo quando ela estava apegada à minha companhia.
Era tempo da despedida.
Agarrou-se ao meu pescoço e deu-me dois beijos.
Tinha ganho uma pequena nova amiga…
O pai ficara surpreso por aquela atitude espontânea.





Número três inoportuno…

Maria estava desanimada.
O rumo da sua vida tinha tomado todos os rumos que nunca julgara que pudesse ser possível alcançar.
Era mais uma visita à sua filha, de 32 anos, paraplégica.
Que na sexta-feira seguinte regressava a casa…
Abeirou-se de mim…
À procura dum ombro ou até mesmo dum desabafo com alguém desconhecido. Chegou a pedir desculpa, pelas confidências…
A voz de Maria era sumida num choro contido.
Os seus olhos lacrimejavam enquanto contava o drama que a sua vida se tornara.
Esta mulher sofreu grandes perdas…
O seu karma era trágico.
O pesadelo começou quando à sua outra filha foi diagnosticado um cancro genético por parte do marido. A rapariga, com o sistema linfático minado pela doença teria um fim rápido.
O pai de Maria, médico, foi quem lhe deu a notícia que a filha tinha pouco tempo de vida. Já não havia mais nada a fazer, senão ser forte e oferecer todo o carinho possível e imaginário à jovem que viria a falecer aos 21 anos.
Não refeita da perda, três anos depois, é o marido quem a abandona abalroado pela doença vil genética. O número 3 estaria ainda presente, porque tinha falecido três dias depois da sua filha mais velha completar 27 anos. Era Natal, mas foi a infelicidade quem bateu à porta.
Maria olhava-me com tristeza da sua sorte e levara uma boneca de trapos com tranças amarelas para oferecer à sua ‘pequena’ de 32 anos…
Comentava que ia levar simbolicamente naquela boneca a irmã que já tinha partido… para lhe fazer companhia…
Maria encontrou um subterfúgio no amor aqueles que lhe restam.
Teve o pulso para pegar no leme e nunca abandonar o barco…
Pediu desculpa pelo desabafo, disse que eu não tinha nada que a estar a ouvir…
Tirei uma lição:
A tristeza e a perda são grandes demais, para a impaciência dos caprichos…
Como diz a canção: ‘A vida é tão curta… tão rara…’





Dá que pensar…

Entrou.
Estava calado.
Devia ter aproximadamente 8, 9 anos não mais.
Trazia a mochila às costas, rumo à escola.
Sentou-se no primeiro lugar disponível no autocarro.
Na paragem, enquanto aguardava o autocarro havia dito a outros passageiros que ia visitar e falar com o pai.
Algumas paragens à frente, o miúdo saiu todo satisfeito ao encontro do pai.
Apesar de toda a satisfação do menino, o pai já tinha partido, ainda jovem, há cerca de um ano devido a doença grave.
Antes das aulas, a criança passava religiosamente no cemitério para falar com o pai.
Ele dizia, que conversavam e brincavam muito… os dois.
Respiro fundo e só consigo pensar que:

A vida é mesmo como um autocarro.
“Fora o motorista, é tudo PASSAGEIRO…”
Há que aproveitar a viagem…



«A vida não é medida pelas vezes que respiramos, mas sim pelas vezes que nos tiram a respiração ...»

31 julho 2007

http://vivemosdemomentos.blogspot.com completa 2º Aniversário



É preciso saber esperar…
Calcular o tempo ao pormenor…
Ir em busca do desconhecido…
Já disse que foi por acaso que este Blog surgiu e hoje cumpre o seu segundo aniversário!
Neste último ano as fotos e textos deste blog deram origem a uma exposição de fotografia em Elvas (ver arquivo Novembro 2006)…
Sinto-me bem por partilhar histórias, momentos, desabafos, tristezas, sorrisos por isso deixo aqui uma imagem… para uns sombria… para outros duma beleza extrema….
Um luar, numa dessas noites bem perto da lua cheia…
Junto ao mar…
A minha essência é assim…
Um sorriso de lua em quarto crescente, emaranhado na noite escura de um dia menos bom…
Há um ano atrás introduzi uma novidade… um contador de visitas… e os resultados satisfazem-me plenamente… recentemente atentei nas estatísticas e fiquei maravilhada com as visitas que recebo… de todos os cantos do mundo…
E o tempo que essas mesmas visitas duram… chegam a durar mais de uma hora….
É bom sentir que chego perto…
É um aconchego sincero e mútuo (espero)!

Obrigada por estar desse lado!
É com muito gosto que LHE faço companhia!
Quero viver sempre mais e mais momentos….
Aprender…
E enriquecer a alma… expondo-a (Quiçá...)!

Até sempre!

Voltem comigo…. A cada actualização!
(Até porque já lá vão mais de duas centenas!!!)

É óptimo estar consigo!

14 julho 2007

Transparência...



“Poema musical dramático ou lírico”… assim se define ópera…
Fantasmas…
Óperas…
Quem os não tem?
Afinal aprecio este género musical mais do que o que esperava…
Não sei o que faz mais falta fantasmas com ou sem ópera… ou vice-versa.
A música está sempre presente.
São palavras incansáveis…
Esperanças renovadas…
Mensagens ambíguas…
Vozes acolhedoras…
Ritmos melancólicos…
Sons em tom de grito…
Composições inexplicáveis…
Sucessos incomparáveis…
Verdades ditas ao acaso…

Que o dramatismo da minha ópera nunca seja um fantasma…
E que o lirismo continue a fazer-me companhia.

02 julho 2007

É preciso VOAR....


As vertigens dos sonhos

São as vertigens enfadonhas que envolvem a minha vida que me deixam paralisada no tempo…
Tempo em que fui feliz e ao qual não mais posso voltar.
É um tempo passado… descoberto…
Incoerente… livre…
É o meu eu… que já viveu…
Gosto de ir por aí
Mais do que ficar por perto…
Desejo conhecer novas moradas…
Um dia encontrar-me-ei…
Acho que sou doente todos os dias…
Enquanto continuo a procurar o meu lugar ao sol…
(Talvez um dia nos cruzemos.)

Tenho o direito de querer.
Tenho direito a tudo o que quiser…
E tudo é demasiado.
Por isso quero o pouco que me faz feliz.
Prefiro a qualidade à quantidade…
Mas não chego a lugar nenhum…
Os últimos meses… dias…
Têm passado sem proveito…
Quero que passem simplesmente…
É com essa vontade que acordo todos os dias…
Preciso ajustar ideias…
Preciso bater com algumas portas de vez…
E acabar com as desilusões.

Bato a porta com força.
Venho-me embora.
E, a partir daí quem sou eu?
Mal me reconheço…
Baralham-se as ideias.
Falta a vontade de seguir…
Falta a dureza de vencer…
O sonho não pode virar pesadelo
Num simples estalar de dedos.
Sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura…
Sou assim…

Excerto...




PASSAGEM DAS HORAS

"Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(…)
Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consanguinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contactos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cómoda e feliz.
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas...
Por mais que me esforce por ter uma grande pena de mim, não choro,
Tenho a alma rachada sob o indicador curvo que lhe toca...
Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?
Correram o bobo a chicote do palácio, sem razão,
Fizeram o mendigo levantar-se do degrau onde caíra.
Bateram na criança abandonada e tiraram-lhe o pão das mãos.
Oh mágoa imensa do mundo, o que falta é agir...
Tão decadente, tão decadente, tão decadente...
Só estou bem quando ouço música, e nem então.
Jardins do século dezoito antes de 89,
Onde estais vós, que eu quero chorar de qualquer maneira?
Como um bálsamo que não consola senão pela ideia de que é um bálsamo,
A tarde de hoje e de todos os dias pouco a pouco, monótona, cai.
Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo. (…)"

Álvaro de Campos, 22-5-1916


Como se explica o sentir sem sentir?
Talvez assim… no âmago da imaginação…
Ergo os braços, aplaudo sonoramente e grito: «bravo»!
Talvez assim se faça justiça a este génio!

Obrigada pelos delírios conscientes doutras vidas!
Reconheço-me neles.