01 agosto 2011

6º Aniversário [2005 - 2011]


A 31 de Julho de 2011, o VIVEMOS DE MOMENTOS cumpriu o seu 6º Aniversário!!
Para mim é quase, um caso improvável de longevidade!
Agradeço a passagem de todos os visitantes, desejando, claro, boas leituras... Seja nos textos já publicados, quer nos que hão-de vir...
Passem os melhores momentos neste aconchego de palavras.
E, apreciem a evolução 2005 - 2011...
[Podem acreditar que até a mim me surpreende!]

Um forte abraço,

Até sempre!

25 julho 2011

Feridas Expostas [VI]


Rafael questionava-se por diversas vezes sobre a eventualidade da saudade ter um período de tempo para começar a aparecer…
Breves segundos…? Dias…? Semanas…? Meses…? Anos…? (…)
Para o soldado da paz, a saudade não é mais que um verdadeiro “contentamento descontente”, dada a sujeição à equação de tempo sempre tão (im)previsível)! E, no seu trabalho como voluntário a experiência dirimia essa mesma imprevisibilidade, dado que assistia em catadupa a últimos espasmos, a últimas tentativas de sobrevivência, encarando sempre as mais macabras e diversas manifestações de um fim, bem como as mais diversas imperfeições que a vida engenhosamente ancora.
Da mesma forma que se sentia perdido nesta vida, todos os socorros que prestava o aliviavam. Talvez bebesse na esperança nos outros, a que estaria reservada para si.
Naquela manhã chuvosa, ele estava de folga, pois o comandante da corporação recomendara que ele descansasse mais, para que as ocorrências não lhe cambaleassem por completo o discernimento. Pelas suas recentes atitudes, Rafael demonstrava um crepúsculo de emoções ambíguas, talvez porque afinal, nem tudo o que é idealizado se trata de um ideal. As expectativas serão sempre meros sonhos que nunca ou raramente sairão do armário ou do nosso consciente mais apurado. É retórica. Óbvio que se trata de pura retórica, quando se exprimem ideias que nunca se vão vivenciar ou que serão sempre verdades inconclusivas.
O sentido altruísta que Rafael mantinha desde sempre era largamente saudado pelos colegas do quartel e seus superiores, depois de 15 anos prestando um serviço notável, o inevitável batia-lhe à porta do coração…
Eram 7 horas da manhã, quando em sobressalto o bombeiro fora chamado de urgência para socorrer um acidente de viação, uma vez que dois colegas que estariam de prevenção no quartel, adoeceram.
Rafael, Carlos e Paulo dirigiam-se para o local do sinistro. Quando se começavam a aproximar, Rafael começa a perder as suas capacidades motoras e pede a Paulo que troque com ele a condução do veículo. Os colegas preocupados com Rafael pedem reforços junto das corporações vizinhas. Algo se anunciava. Um nervosismo imenso, a castração de movimentos, um mal-estar indefinido fez com que parassem a viatura de emergência para que o socorressem primeiro. Rafael estava a braços com uma paragem cardíaca, prevendo o que o seu corpo não conseguira alcançar.
Inevitavelmente, aquela ambulância passara no local do acidente onde já outros colegas tomavam conta da ocorrência. Rafael ergueu-se levemente na passagem, sob convulsões repetidas. O seu coração estava certo, era o automóvel dos seus pais que se tinha despistado numa curva, devido ao piso molhado.
As gotas de chuva batiam no vidro, enquanto engrossavam. Aquele temporal e os quilómetros de rua que se iam galgando, deixavam para trás muito mais que meras afinidades.
Rafael pressentira que quem lhe dera o coração, estaria por aquela altura a torturá-lo, com as mais diversas interrogações e, nessa encruzilhada de pensamentos difusos, o soldado perde os sentidos, obrigando os colegas, perturbados e desprotegidos, a uma corrida contra o tempo, que objectivamente raramente se sabe quantificar…
Rafael estava na casa dos 30 anos. De estatura alta era saudável e forte. Nada o parava até àquele trágico momento em que transbordaram emoções díspares, que o afligiam de tal ordem, que ele, parte integrante da pseudo santíssima trindade familiar, parecia prestes a ceder ao infortúnio, levando consigo as suas origens e os seus pais…
São estes momentos plenos de terrorismo que abalroam mesmo uma pedra no sentir…
José e Leonor após várias tentativas de reanimação, conseguiram manter-se presos à vida… Já Rafael fez um lento percurso de regresso à vida. Talvez tenha tocado levemente o limite...
Lentamente, Rafael entreabria os olhos. José e Leonor olhavam o despertar do coma induzido do filho e sorriam para Mara, sua companheira.
O soldado da paz tinha sido resgatado da morte e, independentemente dos fenómenos paranormais, que ali poderiam estar afectos, demonstrou-se o quanto o fio condutor de vida é feito de necessidades várias entre os mais diversos intervenientes da sociedade, sejam eles os mais próximos ou inteiramente anónimos.
Mara derramou várias lágrimas, talvez de saudade transformada em felicidade… Tinha o seu homem de volta… Nunca mais queria sentir aquela angústia de quase perda… De despedida antecipada… Contudo, sabia que a vida tem reservas incalculáveis de circunstâncias imprevistas.
É nos momentos mais trágicos da vida que a saudade despoleta. Talvez tenhamos a presunção de considerar que os que nos rodeiam e os que amamos são eternos. No entanto, é na distância física ou funesta que se contabiliza o tamanho do sentimento:
SAUDADE…

22 julho 2011

Feridas Expostas [V]


26 anos depois, Luz escutava a mesma música de 1985 justamente com a mesma intensidade. Imortalizado por Mr. Mister, o tema «Broken Wings» era muito mais que um hino aos seus sonhos, múltiplas vezes, desfeitos. Às vezes dava com ela a perguntar-se:
- Será que alguém quer estas ‘Broken Wings’? São gratuitas. Mas ao que parece, nem tudo o que é ‘à borla’ as pessoas aceitam. Há ainda por aí muita gente selectiva no que é oferecido. Vai-se lá entender, porquê…!
Aquela canção murmurava as tortuosas desventuras do que de tão perto acabou por se perder. Estes momentos são de pura incompreensão pincelados de ingenuidade.
É como se quiséssemos prender o ar entre as mãos e ele rapidamente sumisse no vazio. É como tentar preservar bolinhas de sabão intactas. É como tantas outras questões que invariavelmente não se socorrem de uma única resposta.
Todos os momentos podem ser os últimos, mas não raras vezes esquecemo-nos desse indelével pormenor.
Asas que se partem e asas que já se partiram, metaforicamente, o importante será curá-las e deixá-las voltar a voar, como tão bem sabem fazer livremente.
Luz procurava na sua mão, a mão de Henrique. Um toque singelo que a protegia, protegera dos temporais e tempestades da vida. De facto, era muita responsabilidade para um ‘simples’ toque…
Deve ser proveniente daqui a expressão: "Dar uma mãozinha!" [Deve, pois!!!]
Henrique partia mais do que chegava, desassossegando a cadente Luz. A cada recomeço, que era como se gritasse reencontro, ela mantinha-se ali, sempre disponível com todo o amor que tinha para dar. Exactamente igual, transparente, cristalina…
Luz convencia-se que daquela vez seria a última, mas à medida que os anos iam passando, sentia-se envelhecer naquele misto de relação impura, insensata que só lhe trazia transtornos emocionais.
Precisava em paradoxo ganhar asas de luz forte, que queimasse e reduzisse a cinzas tudo o que sofrera em silêncio. Aquela mulher apercebera-se que passava horas e mais horas calada. O silêncio é uma marca de vida que está mais presente do que a nossa alma. E o nosso maior diálogo é connosco. Irónico!
Quando um corpo se cola noutro, abrem-se precedentes à tolerância espírita e, do sangue que se mescla, brota vida e mais vida de todas as cores do arco-íris…
Precisar de alguém pode ser tão redutor e possessivo, quanto essa ‘necessidade’ de companhia…
E depois? Asas feridas. É esta busca incessante que acaba por fechar os olhos aos menos pacientes.
Luz abria o livro do amor e não encontrava nem perguntas, nem respostas, apenas momentos de felicidade, não queria ocupar o seu livro com os sucessivos desassossegos de dor.
Além de Henrique, muitas eram as criaturas que povoavam o seu universo de vida e que ora entravam, ora saíam, sem compromisso! Ela abria as suas asas e acolhi-as igualmente no momento de embarque, de chegada, de regresso… Penitenciava-se por isso, mas sabia que era essa paz que a fazia viver interdita de tristeza. O tempo apagava tudo, ou pelo menos, as partes mais cinzentas que várias vezes feriam de sangue as suas asas, a sua alma.
Apenas as vozes angelicais a tranquilizavam. Era esposa das baladas, comovia-se com as universais palavras melódicas em verso, com que tanto se identificava e, escolhia a noite para contemplar o vazio e o silêncio que apenas ela podia preencher.

19 julho 2011

Feridas Expostas [IV]


Doce espírito indomável, indelével que o vento espirra, gritando: - ‘saúde’!
Qual dualidade Yin Yang da filosofia chinesa! Só se for em versão acelerada das duas compactadas numa só, em plena interacção de forças!
Acho que as únicas caras de espanto são as dos adultos, absolutamente incrédulos ao que assistem, quando a pequena Bruna vocifera conversas de gente crescida.
- Raios partam a miúda! Bolas!
Ela é um completo desequilíbrio dinâmico de hiper-actividade. Com o Yang a ser fortemente favorecido.
Activa e luminosa, como ela só... Vem a noite e compassa-se com a passividade da noite fria, do repouso e da escuridão. (Como somos escandalosamente movidos a forças ancestrais e cabalmente opostas, hein?! Meras manifestações ou mutações de horror?!)
Aquele olhar pequenino brilhava ao passo que se hipnotizava diante duma montra repleta de gomas de todas as cores, feitios, sabores com e sem aquele ‘açúcar’ ácido celestial!
Lia-se nos olhos da pequena Bruna o salivar de desejo daquelas cores deliciosas e docinhas dentro daquela boquinha minúscula…
Vendo-a naquele êxtase, Ricardo, pede à menina da loja que embrulhe umas boas gramas de gomas para grande regalo da sua pequenina, que esboça toda a sua felicidade no rosto!
Ricardo partilhou com a filhota as guloseimas. Pareciam duas crianças, esqueciam-se idades e o amor era muito mais que um mero laço ou sentimento. Pertenciam-se.
Aquela tarde continuou entre muita brincadeira pelo parque infantil, Ricardo manifestava vontade de se incluir nos baloiços, escorregas vindos de túneis, labirintos, pirâmides, jogos de escalada, jogos de molas, ou ainda alguns jogos temáticos. Bruna sentia-se no paraíso, sempre sob o olhar atento do pai, outros pequenos acabavam por brincar com ela, no fundo todos os miúdos acabam por sentir afinidades quer para a brincadeira, quer para afastar a solidão. São bem mais genuínos e menos insidiosos.
Aproximava-se a hora do jantar, quando Ricardo chamou Bruna para irem embora, que já se fazia tarde. A mãe esperava-a. Tinha sido um fim-de-semana fantástico. Os amigos e familiares de Ricardo adoravam aquela menina encantadora. Antes mesmo de a levar à mãe, já adivinhava a tristeza de ter de deixar partir um pedaço de si.
Bruna, antes de chegar a casa da mãe e com um tom melancólico pergunta-lhe:
- Pai quanto vamos ficar todos juntos novamente?! Quando voltas para casa?! Gostava que continuasses a contar-me a história do Principezinho, que o tio deu.
Ricardo tentando conter as lágrimas e no fundo as emoções que quase o afundavam desta vida, olhou-a nos olhos e disse:
- Pequenina, deixas sempre o papá sem palavras. É complicado para ti perceberes que eu e a mamã já não gostamos um do outro, mas amamos-te muito, por isso aceitamos viver separados!
- Mas pai, eu não consigo adormecer sem ouvir as histórias que me contas, a mamã não tem tempo para isso. ‘Tá sempre a trabalhar! - Resmungava.
Ricardo pegou-a no colo e abraçou-a, até a mãe chegar.
A lei é ainda muito submissa e retrógrada para pais e filhos… Há muitos tipos de amor. E, claro está, todas as pessoas estão mais ou menos vocacionadas para serem pais, mães… Uns mais do que outros, mas sem dúvida que é uma questão extremamente complexa, que não se compra, não se vende, apenas se dá incondicionalmente.
O afecto não se compreende a normas, estará muito longe disso…
Apesar das rédeas se regerem pela exactidão, existirá ainda muito caminho por percorrer!
Muitos paradigmas por desvendar…

18 julho 2011

Feridas Expostas [III]


Marina deixou-se estar por casa. Nada como o lar acolhedor, para devolver as boas energias e as boas vibrações a um corpo, que é sempre muito mais transcendente do que um simples ‘corpo’.
Marina precisava cuidar-se mais do que nunca. Acordara, entre sonhos exagerados e exaltados… Lá fora, ecoavam barulhos, pura poluição sonora… Dava vontade de possuir uma varinha de condão, erguê-la e baixá-la em toque de mágico e colocar sons, pessoas e lugares atrás duma cortina invisível e verificar que todo aquele universo desnecessário havia simplesmente desaparecido.
Mas, se pedissem muito inverter-se-iam os papéis e era Marina quem desaparecia sem resmungar.
Como conquantas vezes é mais fácil tomar a iniciativa, ao invés de esperar que as coisas mudem à nossa condição, Marina experimentou abstrair-se dos sons que contrariavam o seu humor e fez-se levitar até a um spa caseiro…
Como sabe bem sentir as pontas dos dedos sobre a textura suave e delicada de cada poro de pele… A frescura e a leveza apoderaram-se dos que carregam o peso de ser: os pés…
Depois dum momento revigorante de água hidratante e produtos de relaxamento… É tempo de repousar do encantamento…
Marina devolve-se aos lençóis frescos e sente a paz assente no cristalino momento idílico que a trespassava… Deixou-se embalar por entre fragrâncias de jasmim e entre as sonoridades irresistíveis do “The Very Best of Diana Krall”…
Aos poucos restabelecia-se dos abismos, por que tem passado… Nem que fosse por tempo calculado em contra-relógio…
A autodestruição começa no dia em que apagamos da memória as alternativas aos nossos sinais vitais, deixando de beber os estímulos do corpo e deixando de enxergar a alma que se auto-exilia, impedindo de chegar ao tão desejado Jardim do Éden…
Que não se adie o inevitável!

15 julho 2011

Feridas Expostas [II]


É vulgar ficar encalhada em mim, em ti, como se o mundo desse voltas e mais voltas ao meu, ao teu redor… Não sei mais como que se sustenta esta relação. Se com palavras, gestos, paixão, amor, ou tudo junto ou tudo meio emparelhado.
Talvez porque o egoísmo não queira ninguém ou tenha tendência a não saber o que quer… Senão a frívola prosperidade!
Em períodos de dúvida voltam-se os arrependimentos, lembram-se as intempéries, remexe-se no sofrimento e amplia-se a melancolia. Raras vezes nos separamos do que nos fez sentir o amargo de boca. Deixamo-lo na nossa clausura interior [pseudo]inconsciente a marinar indefinidamente.
Dos erros passados brotam descobertas surpreendentes, seguram-se os laços e floresce o carácter que tem por hábito, em situações acesas, ausentar-se sem pedir.
Da personalidade angustiada, surge um radiante amanhecer. Parece-me que as noites de penumbra e de solidão já não viam a luz do dia há uns bons milhões de trevas, que não sei se diferem dos longos anos-luz!
Todos estes detalhes tornavam a missão de descoberta mais intolerante. Colhiam enganos fortuitos. E o único receio era continuar a persistir no erro. Como? Justamente persistindo.
O sabor agridoce da submissão, da passividade releva-nos para a possessividade, mesmo que nunca nada seja definitivamente nosso. Por isso desprego a bandeira branca em sinal de rendição às evidências e troco-a por mim.
Serei sempre o que quiser, poderei sempre ser medalha de troca, mas nunca conseguirei atingir na plenitude, o que só eu sou por o sentir.
Pode parar a tempestade. Pode parar o vento. Pode bem nascer o sol. Aliás, diz-se que quando ele nasce é para todos, só que nem todos o aproveitam! Deixam-no deitar-se no mar… Sem que seja avistado, da mesma forma que costuma ser o primeiro a acordar, sem testemunhas…
A temperatura é tão relativa quanto é a sua imprevisibilidade. O tempo, tal como as pessoas, faz muitas caras… Sobejamente diz-se que é independente e emancipado.
Não obstante, a dependência é comum e a emancipação lá terá rasgos de consistência.

11 julho 2011

InTEMPOralidades


Nunca ninguém é perfeito nas atitudes, nas respostas ou até mesmo no sentir.
No fundo, acaba-se por ser-se comedido(a) uma vida inteira. Não quero com isto afirmar que as pessoas se devam limitar à extinção ou, por outro lado, que alguma vez tenham sido incorrectas, sem que isso tenha acontecido. É sempre preferível aceitar que ninguém é de ninguém, e que se depositarmos expectativas sobre alguém, o problema é inteiramente nosso. A nossa maior semelhança com os outros, analogamente é a diferença. Somos únicos e essa é sempre a margem de manobra subjacente a cada ser… Ser-se único é uma característica que nos assiste, nem que tenhamos irmãos gémeos, siameses, etc. etc. se pode afirmar igual…
É vulgar dizer-se que tudo tem o seu tempo de acontecer…
Talvez numa vã esperança que o tempo esvoaçasse e recolhesse a névoa obscura que embaraça os meus olhos… Procurei frases e conceitos prosaicos sobre tempo e mais tempo que ora se deixa levitar lentamente ou desassossegar…
Tentei amalgamar tudo e ser mais ou menos comedida… Acabei por tentar escrever e agregar alguma coisa que tem tanto de imprecisão, quanto de provocação. Cá vai:

DÁ TEMPO À TUA VOCAÇÃO porque O TEMPO TORNA TUDO IRREAL. Tem-se O PASSADO COMO BASE PARA O PRESENTE, tem-se O TEMPO E A VAIDADE assim como existe AMBIGUIDADE E ACÇÃO... Mas afinal, o que importa efectivamente é O VALOR DO TEMPO, NÃO O TEMPO DESPERDIÇADO POR NEGLIGÊNCIA, mas A NATUREZA SUBJECTIVA DO TEMPO.
A VELOCIDADE DO TEMPO É INFINITA. Ou seja, a HISTÓRIA E O TEMPO SÃO SEMPRE CONTINGENTES: n’O EFEITO DO TEMPO E NA MUTABILIDADE DAS COISAS.
O HOMEM NO SEU SÉCULO sofre com A TEMPORALIDADE. É NECESSÁRIO ESTAR SEMPRE EMBRIAGADO para prever O EFEITO DO AFASTAMENTO NO TEMPO.
O PRAZER E O TRABALHO, O TEMPO E O ESPÍRITO, O TEMPO E O TÉDIO, em suma, TEMPO E IDADE fazem crer que A CONTAGEM DO TEMPO PREJUDICA A CRIATIVIDADE e que O TEMPO REDUZ TUDO A NADA.
Aliás, entre O VAZIO DA PRESSA E O DINAMISMO, O MAIS INFALÍVEL VENENO É O TEMPO. O RÁPIDO PASSAR DO TEMPO É SINAL DE INACTIVIDADE… Assim como AS HORAS são O PARADOXO DO TEMPO.
TEMPO É MUDANÇA mas para que a mudança aconteça é preciso SABER DESFRUTAR TODOS OS TEMPOS e DAR SIGNIFICADO AO TEMPO.
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS VERDADES E O TEMPO, provavelmente e seguramente, NÃO HÁ NADA QUE RESISTA AO TEMPO…

[Cábula de autores]
DÁ TEMPO À TUA VOCAÇÃO Saint-Exupéry, Antoine de porque O TEMPO TORNA TUDO IRREAL Weil, Simone tem-se O PASSADO COMO BASE PARA O PRESENTE Weil, Simone tem-se O TEMPO E A VAIDADE Aires, Matias assim como a AMBIGUIDADE E ACÇÃO Hatherly, Ana... Mas afinal, o que importa efectivamente é O VALOR DO TEMPO Séneca, NÃO O TEMPO DESPERDIÇADO POR NEGLIGÊNCIA Séneca, mas A NATUREZA SUBJECTIVA DO TEMPO Hegel, Georg.
A VELOCIDADE DO TEMPO É INFINITA Séneca. Ou seja, a HISTÓRIA E O TEMPO SÃO SEMPRE CONTINGENTES Kierkegaard, Soren, n’O EFEITO DO TEMPO E NA MUTABILIDADE DAS COISAS Schopenhauer, Arthur.
O HOMEM NO SEU SÉCULO Gracián y Morales, Baltasar sofre com A TEMPORALIDADE Sartre, Jean-Paul. É NECESSÁRIO ESTAR SEMPRE EMBRIAGADO Baudelaire, Charles para prever O EFEITO DO AFASTAMENTO NO TEMPO Kierkegaard, Soren.
O PRAZER E O TRABALHO Baudelaire, Charles, O TEMPO E O ESPÍRITO Woolf, Virginia, O TEMPO E O TÉDIO Mann, Thomas, TEMPO E IDADE Schopenhauer, Arthur fazem crer que A CONTAGEM DO TEMPO PREJUDICA A CRIATIVIDADE Valéry, Paul e que O TEMPO REDUZ TUDO A NADA Schopenhauer, Arthur.
Aliás, entre O VAZIO DA PRESSA E O DINAMISMO Adorno, Theodore, O MAIS INFALÍVEL VENENO É O TEMPO Emerson, Ralph. O RÁPIDO PASSAR DO TEMPO É SINAL DE INACTIVIDADE Pavese, Cesare… Assim como AS HORAS Cunningham, Michael são O PARADOXO DO TEMPO Lichtenberg, Georg.
TEMPO É MUDANÇA Kaufmann, Walter mas para que a mudança aconteça é preciso SABER DESFRUTAR TODOS OS TEMPOS Séneca e DAR SIGNIFICADO AO TEMPO Pavese, Cesare.
NÃO HÁ RELAÇÃO ENTRE AS VERDADES E O TEMPO Ortega y Gasset, José, provavelmente e seguramente, NÃO HÁ NADA QUE RESISTA AO TEMPO Torga, Miguel.

07 julho 2011

Feridas Expostas [I]

Há sempre um tempo de partida que acaba inevitavelmente numa chegada.
Há sempre liberdades pausadas. Liberdades que se pautam pela infalibilidade da vontade.
E o grito? Soa bem alto na clausura dum dia de interposto silêncio, feito eco das desbravuras de um mesmo dia lento e soturno.
O relógio conta os segundos levianamente, contando o desassossego calculista de explícitos estorvos desfeitos em réstias de vida.
As paredes que se ergueram asfixiaram memórias comedidas.
Sem portas nem janelas de vida e apenas no aconchego da sua solidão vã, uma tomada velha aquecida, liga-se à ventoinha que faz revolver o ar. A aragem não cheira a mar mas arrefece um corpo exasperado de tanto se envolver com a sepultura vulcânica instalada no seu íntimo.
As gotas salgadas brotam dos espelhos daquela alma. É a manifestação marítima mais aproximada possível…
E o grito? Faz estalar a tinta daquelas paredes caiadas de branco.
Sufoco perene, o que se concentra nas teias mais enredadas do consciente emparelhado de amarguras…
Aquele ser sofre. Aquele ser não reconhece mais a vida que já o fizera feliz e apenas agarra com toda a sua voracidade, a tristeza malfadada.
Há que cortar sempre na morte, já que a sorte é tão infiel, quanto inevitável.

06 julho 2011

Feridas Expostas


Passou mais um fim-de-semana quente de verão. Mas férias são férias e o ‘dolce fare niente’ levara Camila e o seu filho Luís até à belíssima ilha Terceira, nos Açores.
Escolheram a marina da Praia da Vitória para ali estenderem os seus corpos… A roupa colava à pele e só se estava bem com o corpo mergulhado nas águas límpidas açorianas ou com bebidas refrescantes para não desidratar. É costume o clima ser meio agreste. Por vezes até faz todas as estações num bom par de horas… A insularidade tem destas coisas… Destes encantos… Para quem os sabe apreciar!
Luís saiu da água e a vontade era recuar e ir para lá novamente. O calor estava a estalar e a tarde ia apenas a meio…
Por momentos, Camila julgara que as pedras negras vulcânicas estariam a pregar-lhe uma partida de mau gosto só para a pôr à prova naquelas férias que estavam apenas a começar. Eram tantas as catástrofes que via acontecer nos últimos anos em paraísos deslumbrantes, ou em situações inusitadas, que nem queria acreditar no que poderia eventualmente acontecer, naquele pedaço simpático de Portugal (dos pequeninos)! E tragédias não eram segredo para ela.
Rodrigo morrera num desastre de avião. Casaram na década de 90 e dum amor incontestável, nasceu Luís, a sua única razão para não abandonar a vida.
Camila era alta, serena e tinha um espírito demasiadamente derrotista. Era isso que fazia com que não fosse mais feliz. No passado, a desgraça bateu-lhe à porta e desde aí não recuperara do choque que foi ficar sem Rodrigo, o homem da sua vida… A vida tinha-lhe reservado Luís, um bonito rapaz de 21 anos, que mostrava que a adolescência e a imaturidade o preenchiam todos os dias e que, enquanto mãe, todos os dias faziam parte da aprendizagem do ser humano que tinha vindo de dentro de si e que fora desejado com todo o amor que dois seres são capazes de criar.
Todos os dias pensava em Rodrigo e em como estaria agora, bonito como sempre, imaginava. Os padrões de beleza são sempre relativos, complexos e não menos subjectivos, mas naquele caso Eros tinha sido bastante generoso! Qual deus grego, qual pedaço de vida tornado homem e seu marido.
De relance, Camila olhava Luís e o quanto ele era parecido com o pai. Ela, que não era muito crente em reencarnações, espantava-se do quanto se tinha que render às evidências…
Rodrigo e Camila conheceram-se exactamente com a idade que Luís atravessava, aos 21. Andavam na Faculdade de Belas-Artes. Rodrigo era doido pelo audiovisual e suas descobertas tecnológicas, Camila dançava e bem, para regozijo de Rodrigo. Mas nem um nem outro após concluírem os seus cursos, formalizaram as suas paixões profissionais.
Camila dançava só para Rodrigo que fazia películas caseiras e documentários enternecedores.
É o amor que sentimos pelos outros e o amor que os outros sentem por nós, que faz a felicidade de todos e de cada um.

[…]

20 junho 2011

O deserto de Matilde e Eduardo


“Cabrão do passarinho verde!” – pensava Matilde. Invadida ainda pela paixão lembrando-se do fenómeno que estava a viver…
O beijo até que nem soube muito ao gelo daquele inverno cavernoso, que não parava de assombrar. Os amantes afastaram-se. Tinham que continuar as suas vidas ao som do tempo que não pára de avançar no relógio. Ficou um cheque em branco de carinho… Que a cada (re) encontro teria que ser usado com mimos. Muitos mimos!!!
Enfim sós… Enfim em paz (nem que esta seja especialmente transitória)…
Soam baladas, das mais badaladas nos dois corações apaixonados… Matilde ficara com ecos das palavras alegres de Eduardo murmuradas no seu ouvido… Ao fechar os olhos, ainda escutava cada sílaba, cada acentuação tónica, a sua voz…
- Bom dia!!!! – Exclamava feliz, como uma energia inesgotável…
De regresso ao trabalho, estava dentro do buraco… Os outros ‘ratos do porão’ estavam no mesmo edifício… Frente a estes vermes, nem sabia bem como agir.
Restava ainda algum tempo, por isso decidiu entreter-se com o telemóvel e escrever um sms à sua amiga do coração, Catarina: “Ainda sinto a magia daqueles beijos, daqueles lábios… Na alma... Catarina, diz-me que eu não estou louca?! Por favor!!”
E Catarina responde: “Matilde, já Fernando Pessoa dizia que «Primeiro estranha-se, depois entranha-se…» E quase que aposto pela energia deste sms que ele acertou!!! Leio isso nesse sorriso rasgado e aberto… com que fechas a mensagem!”
Catarina era testemunha do quanto a amiga procurara um amor verdadeiro. Lembrava-se de um dos seus comentários ocos: “só quero é descanso e dormir muito. Ao menos enquanto durmo, sei afastar perfeitamente a solidão.” A sua vida acabara por ser consumida por um gigantesco vazio… Para ela era mais fácil levar a vida, afastando-se de tudo e de todos. Bonita e afável como só ela, Matilde enclausurou-se no trabalho, enquanto a vida ia passando por ela…
Poucos entendiam a sua circunstância e ela, muito menos... Houve dias em que achou que a vida solitária que levava era o bastante para sobreviver. Não era desconfortável… No fundo, tinha a esperança que um dia alguém conseguisse adaptar-se ao seu estilo de vida e fazê-la feliz. Era o que mais lhe desejava.
Recordou as suas últimas palavras proferidas num crescendo de tristeza, antes de (re) encontrar o amor: “tenho 27 anos e nunca saboreei o amor, a ternura, o carinho… apenas o vazio contínuo… Gostava de partilhar a juventude, a força, a esperança, os medos, os abismos com alguém. Um dia desses morro e não vivi um amor que me absorvesse a alma… Realizei situações ‘razoáveis’… Quando para mim a razoabilidade não é nada. É um mero mecanismo de acção, de vida.”
Quem diria que isto um dia, iria fazer parte dum passado naturalmente imperfeito? Cada caso é um caso… A distância e o amor são uma boa combinação. Quando a distância se ausenta… Logo floresce o amor em reencontro… Como na primeira vez… E é com a junção de casos isolados que se combate a solidão, pelos vistos…
Eduardo mudara radicalmente. E num espaço de tempo muito curto, Matilde era incapaz de compreender aquela mudança, se bem que pouco lhe importava, ambos estavam felizes demais, pois não fazia sentido que vivessem longe um do outro. Matilde sucumbira à magia que estava a acontecer. Nunca nada é seguro. O tempo é um mísero fragmento incerto… Afinal, vive-se de momentos que se esfumam, se apagam e invariavelmente se extinguem… Perdeu-se demasiado com o tempo. Perdeu-se demasiado tempo. Talvez, porque o mundo está cada vez mais infeliz… ou repleto de infelizes, que vagueiam nas suas enormes falsidades construídas.
Muito mais que música para os seus ouvidos, tinham a força da arte de amar entre braços… Esperavam-se todas as manifestações (im) possíveis de amor que estariam por acontecer… As palavras viraram actos e o seu comprometimento contínuo! Finalmente, Matilde encontrara-se com o Amor, mesmo quando habitava o seu deserto.

21 abril 2011

Espinhos...


Talvez seja incredulidade minha, provavelmente vacilei em algum aspecto de mim sem dar conta. Tropecei no abismo e caí lentamente conforme um cego alcança a escuridão sem sequer ensaiar…E chegou a minha alegoria há muito tempo… «A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve. Os escritores e artistas trabalham nas trevas e, como cegos, tacteiam na escuridão.» [José Saramago] Identifico-me…

É essa escuridão que tantos e tantas se recusam a ver, a penetrar, por medo. A arquitectura dos meus sonos anda desordenada e o período de sono REM está agitado. Aliás, brutalmente trémulo e exaltado. (Preferiria ouvir o som dos REM nestes momentos… porque sei que Everybody Hurts… [Sometimes…] e que a cada dia que passa, perco credo… religião… [Losing My Religion – REM] e todo aquele refrão cobre-me o corpo, a alma e sinto um estado de vigília concreto, violento e sarcasticamente lento… Corroem-me as palavras:

«But that was just a dream
Try, cry, why, try?
That was just a dream
Just a dream, just a dream
Dream…»

Acordo e, mais viva e em maior estado de vigília impossível…

Henrik Ibsen diz que “O homem mais forte do mundo é o mais solitário.” Talvez por ser aquele que mais imaginação tem para criar defesas, que o impedem de cair quando o corpo já mal se ergue em cima de cascos, sem qualquer ferradura duramente lacrada.

Réstias de rosas encarnadas de textura aveludada que de tão belas, desfazem-se em Espinhos cravados no peito…

01 abril 2011

ORIGENS


Foram necessários anos e anos, atrever-me-ia a dizer décadas, para que me apercebesse quais as cores que formam o meu arco-íris…
Ia tendo luzes, saboreando momentos… Subindo às nuvens com um amor incondicional que me abandonaria a chamar de paixão…
Talvez porque acho que são as paixões que nos movem… E as únicas capazes de mover montanhas, provocar hecatombes… De nos oferecer a inspiração e a energia necessária no nosso mais recôndito limite…
Muitas são as vezes em que me sinto incapaz.
Muitas são as vezes em que não me julgo com forças suficientes para aguentar o leme de um barco que sou apenas eu. Quiçá, uma bússola me desequilibra por a não saber ler em profundidade, da mesma forma que as rotas residirão no segredo dos deuses… Todos os meus pontos cardeais estão adulterados ou a caminho disso mesmo. Em suma, presto-me a ‘ser’ um vulto andante não identificado, que se vai abstraindo das sombras que se cruzam a cada passo do percurso que escolho pisar…
Curiosamente, o comando da televisão é bem mais auto-suficiente que um comum mortal…
Duram até acabar a(s) pilha(s), mas facilmente se consegue contrariar e remendar o assunto…
Os vários botões disponíveis possibilitam que acedamos a diferentes mundos…
Em breves instantes… Contam-se histórias. Expõem-se as mais diversas realidades sejam elas científicas, fictícias ou reais demais para se assumirem enquanto verdades.
Num surrealismo de personagens, identifico-me com vários percursos de vida, emociono-me com imagens destorcidas de maldades, de meros desencontros bacocos ou de atrocidades desavindas…
É nas descobertas, encobertas pelo tempo ou na pureza das memórias esquecidas, que encontro respostas tendencialmente minhas…
Afinal somos feitos dum passado, dum presente e dum futuro.
O que descubro? Relações que equacionadas fazem sentido, ou não fosse a matemática uma ciência exacta! Chegando a números em processo de catarse ou metamorfose… que deixaram chagas marcadas num tempo passado, mas que na encruzilhada de momentos vividos, fazem hoje parte dum universo sempre em vias de extinção…
Cada dia é de preservar, mas mais do que isso, é o tempo certo de marcarmos vincada e definitivamente a nossa atitude perante esta vida que se nos apresenta, enquanto este mundo existe... Direi aproveitar ao máximo a passagem, a oportunidade que nos foi concedida de respirarmos o ar que lentamente se vai asfixiando…
Talvez nesse sentido Saramago tenha escrito que «A eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e o universo não saberá que nós existimos.»
Descobrir origens não é mais que nos completarmos mais um pouco…
Descobrirmo-nos é uma eterna incógnita, mas no que respeita aos nossos verdadeiros talentos, há que provocá-los ao máximo, para que os enxerguemos nitidamente.
Nem sempre os outros conseguem prever as nossas potencialidades, se não as expusermos um pouco… Levantar o véu… É partir para um infindável universo de fertilidade.

23 março 2011

Tempo de Orar…


Ontem falamos. Foi um diálogo espiritual.
Falaste que estavas feliz. E eu nada sei de ti, nem do teu paradeiro para ser mais concreta.
Às vezes falo com o vazio à espera de respostas, mas é nessas alturas que encalho com a mítica frase de Séneca: "Não há ventos favoráveis para o barco que não conhece o rumo."
Estranho tudo e o rumo acaba por ser uma vasta linha de horizonte, que ninguém alcança, nem mesmo do outro lado do mundo [do outro lado do meu mundo?!].
Disseste, esboçando um sorriso que ‘não mais deveria chorar’.
Mas sou Mulher, sabes?
Se é desculpa ou não, não sei… Mas sinto a fragilidade sensível da saudade que por ti se rende.
Onde quer que estejas, e se me vês, digo-te desde já que estás numa posição privilegiada.
Poucos sabem de mim.
E tu encontras-me sempre, pelos mais indiferenciados meios…
Não entendo porque te escondes tanto, quando este é o teu tempo, o nosso tempo… O incalculável tempo de sentir!
Falta-me a passagem, para a outra margem, mas o barco não tem motor e para os remos já não há força… Resta-me flutuar neste mar imenso, denso, intempestivo.
Tu bem sabes como são os meus dias: eternos recomeços, que mais parecem quaresmas num só dia, em que me converto a práticas de jejum, esmolas e orações…
Fiel aos meus ideais, estes dias não passam de penitências vãs…
Pois a minha meditação é tão ou mais desproporcional dos anseios que julgo perdidos…
Qual o reino que me aguarda depois de tanta caridade coerciva, exasperante e irremediavelmente extenuante?
Que luta desbravo? Que justiça me ergue? Que paz me acompanha? Como o amor poderá construir e estender-se à Humanidade?
Abandono-me à reflexão oca, porque tudo em que acreditava tem os dias contados…
A minha economia entrou em colapso.
E, no ajuste de contas, somo contas subtraídas, multiplicadas por divisões complexas...

15 fevereiro 2011

Sinais Vitais


Estou a arder em fogo, em chamas voluptuosas. O fumo deixa um odor trémulo de paixão...
Acho que amor é amar-te cegamente… e, avistar-te em todos os horizontes que me preenchem de vida. A beleza deste amor não tem identidade, mas todas as suas emoções interferem no bom funcionamento de um corpo em labaredas vivas.
Sem qualquer sinal de lume brando, observo todos os sinais que me encaminham a puras cinzas.
Pensei que as palavras fossem incapazes de ganhar autonomia na altura de serem proferidas ou, que a voz falhasse nesse preciso momento.
Esperava que se ouvissem ecos internos, para que não se balbuciassem palavras falhadas que de tão mal articuladas transmitissem o eco oposto…
Aguardava mais a(s) resposta(s), do que propriamente a pronunciação de vocábulos que se assemelhassem a sentenças, se bem que nessas questões, a clareza seja escassa em todo o seu esplendor…
Não acreditava que dois seres combinassem e se completassem tanto, ao ponto da adaptação ter sido conseguida ao ritmo de duas vidas tão distantes!
O cenário comum era de destruição. Devastador. Indigno de reposição de controlo. – Diria eu. Céptica em relação a tudo quanto ao que aos sentimentos bons, possa dizer respeito.
Vivemos momentos de «papel»...
Papel, que se dissolve pelas gotas de chuva que teimam em cair... Desmesuradamente...
Papel que não sei se resistirá à reciclagem dos tempos...
Vivemos de apontamentos, de breves anotações falidas...
De rascunhos sempre inacabados...
De sinais vitais que se esfumaçam sem qualquer longevidade...

20 janeiro 2011

(Des)Encontros?!


Vou cravando os lábios entre dentes, em tom de êxtase pela tua presença inerte e encantada…
A tua surpresa é como a névoa que jorra em fracções de segundo, todas as memórias que escavei em ti.
O que desconhecemos uns dos outros? Uma infinidade de pensamentos tão clandestinos, quanto aquilo que o nosso próprio inconsciente esconde. E do qual temos uma vaga ideia! Igualmente, se doutra forma fosse, estou certa de que iríamos acumular imensos detalhes difusos… As vulgares enxaquecas, converter-se-iam ordinariamente numa ‘vulgaridade’ absurda.
Não esqueço o teu rosto. E aquelas palavras que disseste. Talvez fossem palavras predefinidas ou preconcebidas, mas recordo uma a uma: «Ligo-te no olhar, desligo-te no paladar! Ligo-te quando estranhas, desligo-te quando esperas! Desligo-te agora. Ligo-te já…» ‘Coisas’ de homens ou coisa que o valha. Dizem estas coisas, mas são independentes da conformidade. A ‘pseudoignorância’ e a ‘pseudo-auto-consciência’ não têm limites… A presunção do auto-controlo e da auto-sapiência é invulgarmente deliciosa! Mas só o que existe, é desejado realmente…
Carecia de tempo real, porque meia dúzia de minutos tem sido muito pouco…
“Para quem diz não ter tempo, que tenha tempo, de no tempo encontrar o tempo.” Ai, Paulo T. Fonseca, e encontrar-me neste tempo?
Tenho abraçado a vida de forma incondicional, mas o ar tem vindo a asfixiar-me ferozmente. Tem estado turvo, tal como a minha visão tem estado intransigente e apagada. Todos enganamos a morte ou vamos enganando… num período inconstante e indefinido.
Identifico-me com o abandono da (ou à) sorte, sem o teu cheiro, sem o murmurinho calando palavras doces no meu ouvido, sem o teu corpo atracado ao meu.
Se me amas conduz-me, que sinto-me a vaguear no espaço e o universo parece-me muito acanhado, diminuído e minúsculo.
Tenho saudades de te ver no meu jardim d’ alma, ‘amor-perfeito’.
Colorido, mas discreto.
Personificado, mas concreto.
Quando escuto que “a solidão não é mais que um sentimento egoísta que nos faz pensar que estamos sós, quando na verdade estamos rodeados de tudo o que nos ama” atinjo a minha imperfeição enquanto ser.

10 dezembro 2010

Suspenso no real


Já me entreguei à astúcia do tempo, fingindo que não via essa representação simbólica da eternidade que construímos e abandonaremos um dia.
Inexorável, remeti os meus pensamentos borda fora naquele embalo marejado, porque queria afogar as mágoas no esquecimento, só que as dores, por mais que caminhe ou esbraceje não me ensinarei a apagar.
É o que acontece quando as derrotas são intransigentemente nossas e não há tempo, nem desculpas para a mais fatídica despedida.
Peço e repenso nas boas memórias impedidas da continuidade, implorando que o fim não fosse tão perverso e cínico ao ponto de me perder de ti tão rápido, com a perícia de uma vida que se esvaía entre as minhas reminiscências indolores e ávidas de amor. E que nunca mais poderei vislumbrar, nem tocar, nem partilhar esse ar de vida que se perdeu, ou que em última instância quero acreditar que se desencontrou subitamente de mim.
Seco uma lágrima e outra… e outra… e ainda mais outra… tento secar todo esse pranto que me enche os olhos de saudade… Nada me consola… A veia cava entope-se de melancolia… e tudo o que chega ao coração é um desperdício de carência da tua presença.

Do pontão avisto águas turvas e ondulações fracas… escorro-me para o rio que retém a minha água pontífice, suprema. O horizonte esconde-se atrás dum nevoeiro cerrado, pois nem ele quer ver a tristeza de alguém que se perde de outro alguém…
Apesar do Outono, é manifesto o frio, que nem a camisola de gola alta, o casaco mais quente ou o cachecol podem proteger dum icebergue colossal como o que carrego…

Embalsamo as memórias que colorimos juntos… É tudo o que de ti tenho… Parece tão pouco, quando no fundo foram fragmentos vividos de ternura, de amizade, de cumplicidade, de abrigo.

Nunca esquecerei quem partiu…

Aquilo que vejo agora são sombras encobertas pelas almas que me falam ao ouvido, e que sem cegueira e sem ensaios escuto vagarosamente, saboreando as vossas vozes que me lisonjeiam os sentidos… Fecho os olhos e deixo suspenso o momento de voltar a ver vida…

[Em memória de J. e F.]

11 novembro 2010

(Re)Conciliação...

Pouso o corpo, como se o desmantelasse, naquela areia molhada junto ao mar…
Carecia daquela paz, daquele abrigo, daquele relaxamento épico.
Carecia sentir a natureza a acalmar-me os distúrbios que me extinguem as forças.
A brisa do mar irrompia sobre a nudez que se descobria.
Enquanto um arrepio me atravessava a pele em brasa…
Não lhe reajo, mas deixo-me a apagar as nuvens do céu.
Os raios de sol da manhã intensificam-se e fixam-se nos grãos de areia que escaldam o toque.
Vagarosamente, sento-me, flectindo as pernas, entrelaçando os dedos das mãos sobre os joelhos…
Tento abrir os olhos, mas é quase tarefa impossível, uma vez que a luminosidade que se afigura não deixa avistar nitidamente a cor do sol.
O mar está brando, parece um rio sossegado ou uma lagoa paradisíaca com cores fluorescentes.
Num vaivém disciplinado, o areal cobre-se e descobre-se de águas límpidas…
Pela areia vagueiam pedras e pedrinhas de várias cores, búzios e conchas com vários trejeitos…
E uma espuma suave vai riscando várias linhas na areia ao mesmo tempo que a maré se presta a vazar…
Ouço as gaivotas esfomeadas, mendigando por peixe fresco.
E em ambiente bucólico, o tempo acaba por passar incalculavelmente.
A solidão atravessa-me o peito já habituado a viver em retiro constante.
E lembro-me de ti… Lembro-me da tua voz…
Sabes, é quando estou contigo que me reinvento, me ignoro e consumo todas as fertilidades do meu imaginário.
Dir-te-ei ainda que tropeçando nestas memórias, é impossível não curar a alma e não reconquistar a conciliação com o meu resfôlego.

10 novembro 2010

Há dias... Há noites... (que não tenho ideias livres!)

[...]
Há dias que não tenho ideias livres.
Nem vontade.
Nem ideias.
Nem liberdade.
Nem dias.
Encarcero-me na desilusão dos dias felizes, porque o foram e já não o são.
Apagaram-se com o tempo, num silêncio rude. Impotente. Dissidente.
As imagens desbotaram, nem a cor, nem o preto e branco carimbaram a cor sépia do tempo.
E de carimbos percebo bem, aqueles que me marcam a pele em cicatrizes intempestivas.
Lembro-me bem de duas bocas acostadas, sedentas do hálito quente e sorumbático, saboreado segundo o despertar inflamado da paixão.
Como adoro estes aplausos de alma!
Serei perfeita ou imperfeita nessa livre vontade?

Viajo demasiadas vezes no tempo.
Entro e saio no carrossel… após mais uma volta e outra, e outra, e outra.
A partida e a chegada são semelhantes, diria iguais, dado o percurso incluso, se bem que as motivações são completamente diferentes. Passa-se da euforia aos pontos finais…
Pontos em que se perde…
Pontos que se cruzam…
Pontos castradores…
E, sem qualquer alternativa, voluntariamente, rendo-me e entrego os pontos.
Já não sei ser serpente, nem corromper-me com o meu próprio veneno, que outrora me deu vida e me atirava, nem que fosse aos pontapés, para o mundo.
Ninguém esquece, o quanto esse veneno é atroz e eficaz.
Em êxtase, em desespero resistir-lhe é impossível.
Que o negue, quem for capaz…!

Por esta altura, não sei muito bem qual a minha circunstância neste mundo…
O nível de desfasamento da realidade é gigantesco.
Em última instância, acho que estou por aqui a tentar remendar o sol…
Ou os pedaços de luz que me seduzem os sentidos…
Concentro-me nos sorrisos que iluminam o meu sorriso...
Penetro o olhar na beleza dos momentos parcos e incomuns.
Fecho os olhos e abraço a vida, adormecendo como uma criança depois de um longo dia de recreio.
Adormecida, espero que o teu veneno me entranhe e me arrebate, numa melodia soturna e apaixonada.
Apenas essa poção me fará viver de esperança num ritual de encantamento e de felicidade…
Há noites que não tenho ideias livres.
Apenas vontade de amar incondicionalmente.
Apenas ideias e ideais de satisfação.
Apenas liberdade para sermos felizes.
Se calhar, apenas noites,
Apenas boas noites para serem vividas e partilhadas em ambiente metafísico.

28 outubro 2010

Vozes que não esqueço!


Escuto o meu nome pelo som que proferes…
Todo ele se invoca e se perde nos teus lábios, enlevando-se para os meus sentidos…
A emoção toma conta do nó que sinto na intimidade, ao escutar esse timbre que me preenche.
Expiro todo o ar que me resta e apenas espero não desfalecer, se bem que em verdade o meu chão já não está na íntegra debaixo dos meus pés.
Qual serpente encantada sou, na vibração de cada sílaba que expeles por entre a perdição de lábios doces e ternos...

[…]

26 outubro 2010

Convite à Taxa de Mortalidade

É interessante ouvir falar sobre a desafiante indiferença que este (e outros) país(es) tem para com as gerações que se preparam para o segurar ‘de bandeja’ nas mãos…
Dão-lhes precariedade ao mais alto nível e ao que parece é preciso ser-se licenciado, para viver na precariedade mórbida! (Até nisto as maiorias ganham… é o poder da democracia!)
Dizem por aí que um licenciado tem que ganhar no mínimo, o equivalente a dois ordenados mínimos nacionais, quando se conseguirem um ordenado mínimo nacional, é sinal de emprego.
Dizem por aí ainda, que estudar e formação superior, naturalmente qualificada é uma mais valia…
Provavelmente para ter a animosidade suficiente, ou vá, o estômago suficiente, para ocultar as suas reais qualificações… para conseguir um emprego.
Fala-se que a crise é uma oportunidade e o discurso repete-se em múltiplos serões de esclarecimento e de sensibilização, o que é certo é que, esta crise parece de facto ser uma oportunidade efectivamente para os jovens caírem na enorme bancarrota do endividamento.
Pois, se várias criaturas conseguem multiplicar-se em cargos e honorários chorudos, os caríssimos jovens têm ao dispor a miserável oferta de estágios não remunerados, que findos, tem uma porta aberta: a da rua.
Após várias tentativas frustradas de estágios e mais estágios, vá, “vai-se ganhando calo” em matérias como persistência, perseverança, úlceras nervosas agravadas, depressões crónicas, horas extra não remuneradas, resistência gástrica (ou não), suicídio?!, frustração agravada, e em última instância chega-se à triste e desmazelada demência.

Ora, grão a grão vai-se extorquindo até ao tutano estas criaturas, que quiseram investir na formação quer dos filhos, quer dos próprios!!! Resultado?! Não é muito difícil adivinhar. Acabam por se resignar e tomar como garantido um emprego qualquer, para assegurar aquilo com que se paga os melões…
Bem, para não dizerem que não sei daquilo que estou a falar, e como diria alguém da hasta pública ‘é só fazer as contas’, e uma vez que a matemática nunca me foi infiel…
Vejamos, se somos a geração dos 500 euros, ganhamos mais 25 euros que o salário mínimo nacional e menos 450 euros, equivalente a um ordenado de um licenciado. Sinceramente entre ganhar +25 euros e -450 euros, ora ‘que grande gaita’, como dizia o professor Gusmão de matemática de 5º ano, do ensino preparatório. (E e é que nem como nos filmes é, em que “qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência…”)
É o SAQUE! O ROUBO! A LADROAGEM! Dum imaculado rigor, surpreendente…
Portanto, São as diferenças… se bem que receber 500 euros em nada se compara a receber zero euros, estando na rua desempregado.
Numa ginástica orçamental, 500 euros tem que servir para pagar água, luz, telefone, gás, géneros alimentícios, prestação do carro, prestação da casa, escola dos filhos e despesas que tratam de aparecer desavindas do além?!… (cônjuge desempregado, as SCUTS, o IVA a subir… e vários etc’ s.)
(Acho que encontro um pervertido elo de comparação entre geração rasca e geração dos 500 euros… ou quiçá um círculo vicioso… apelidado: geração enrascada!)
E o pessoal ainda incentiva à natalidade… como se as pessoas não tivessem o mínimo de massa encefálica… (vá lá que essa ‘massa’ ainda vai existindo) para saber que se não têm oportunidade de garantir dignidade de vida às crianças, para que as vão ter? Para passarem necessidade? Para a lei não proteger devidamente as mulheres? E a que algibeira se vai recorrer?

Passemos aos idosos, que recebem por mais de 40 anos de trabalho uma desgraça franciscana… (e há quem fale em dignidade na velhice… mas até aí o ostracismo reina!)
Vamos ao sostras deste país que se vingam no rendimento mínimo de inserção social… enquanto o Zé Povinho aperta o cinto…
Vamos aos não menos sostras que acham que o fundo de desemprego vai durar para sempre… Colando-se a eles tipo lapas e não o trocando por menos!!!! Ah!!! Valentes!!!!!!!!!
Vamos ainda à questão, dos descontos para a Segurança Social que são religiosamente feitos mês a mês, e que cuja aplicação é duvidosa… Interrogo-me daqui a 30 anos se chegar à idade dela, vou viver de ar e vento e dizer: Porreiro, Pá!?

Portanto, aquilo que quero propor a um(a) senhor(a) secretário de estado, ou um(a) senhor(a) ministro(a) é tão simples quanto isto: reduza os seus rendimentos a 500 euros (essa farta quantia!) e governe-se um mês, nem que seja Fevereiro, para que a hecatombe não seja traumática. E depois explique como é possível viver com dignidade auferindo este magnânime montante!? (Parece-me que aqui a atitude vai ser de indiferença… quando todos apregoam o não à indiferença…) A propósito, existirá pior sentimento que a indiferença?

Quero um Alzheimer compulsivo… para esquecer o mundo onde vivo.
Ou então como diria o Lopes da “Sábado”, ensurdeçam-me com as vuvuzelas, para nunca mais ouvir falar de crise…
Porque se ela existe, claro está, não é para todos. É só para aqueles que sempre conheceram de perto os sintomas da dificuldade…

Este é o desafio que coloco à indiferença.
Porque não importa o género, se a igualdade é sempre tão discutível e a inclusão social não passa de mera ilusão. (Além de que sempre foi mais fácil e simples excluir do que incluir.)

Perdoem-me o vómito. Mas não compactuo com hipocrisia.
E por isso faço um religioso apelo à mortalidade:
“Ó Senhor dos Matosinhos
Ó Senhora da Boa Hora
Ensinai-nos os caminhos
P’ra sairmos daqui p’ra fora!”

Para onde?
Não sei.
Porque quem foi… Diz que nunca mais voltou…

(escrito em Julho 2010)

14 outubro 2010

Pontos...

Canso-me da minha vassalagem às letras miudinhas, que reunidas, poucos lêem e que apenas eu, justifico.
Intrometo-me em demasia com a introspecção de notas soltas que se abrigam no meu inconsciente tolo e imprudente.
Palavras são só palavras quando significam, ao contrário, são apenas meros vocábulos expelidos… vociferados por bestas desenfreadas que pelos uivos de cães são amaldiçoados pelo vil cheiro e aproximação da morte.
Morte às palavras. Morte ao enormíssimo desacordo ortográfico instituído.
Morte aos pontos que já não são nem de admiração, nem de interrogação…
São apenas pontos. Ou indeléveis golpes, nos pontos de vista.

20 setembro 2010

Ar de vida...

Há recantos capazes de nos aproximar ao nosso mais íntimo mar, sem que nos percamos no emaranhado de linhas do horizonte.
Recantos onde se estabelece o encontro sempre que os momentos de diálogo precisam ser restabelecidos.
Era uma espécie de esconderijo com uma vista surpreendente e privilegiada para o mar.
De entre rochedos, vislumbravam-se estrelas que vagueavam no céu e experimentava os salpicos salgados das ondas mais intrusas…
Na mais perfeita miragem deixo-me levar e conduzo-te nesta delicada invenção.
Prostramo-nos num banco de madeira a contemplar as dádivas da natureza...
Vais desviando a atenção entre a frontalidade do mar e a invulgar luz das estrelas cadentes que num ápice desaparecem.
Mal dá tempo para pedir um desejo…
Mas ao ouvido, sussurras-me desejos que esperas ver cumpridos...
Escuto, atenta... E vagarosamente deixo-me levar pela respiração que arfa no meu ouvido e que escorre pelo pescoço...
Os lábios tocam-se com a mesma brandura dum véu singelo que cobre um corpo despido. Mergulhamos num beijo de intensidades obtusas…
Os braços entrelaçaram-se num laço eterno...
Como se estivéssemos a embrulhar aquela noite no nosso presente.
A intranquilidade do momento restabelecia o sossego em duas almas abandonadas.
O nosso ar fundia-se em vida.
Se existia, estaria desfasada e ainda mais perdida de nós.
A avidez do momento fez esquecer todas as imagens de rostos incapazes de resistir às melindrosas paredes duma casa com fissuras e brumas enterradas numa atmosfera gélida e desabitada.
O êxtase do momento recriava um acordar em que o ar que se respira é o mesmo…
Num calor indescritível. Sentimos o ar transplantar-se entre nós. O teu ar era o meu ar…
Finalmente respirava.

10 setembro 2010

Este meu desassossego...

Estranho cada pluma que se enroscou no meu peito.
Estranho a cor, o cheiro, o brilho.
E não lhe atribuo qualquer significado...
As camadas de brilhantina no cabelo fazem escorrer ou viajar o tempo.
As sombras nos olhos, o rímel negro poderoso, as maçãs do rosto rosadas…
O vestido marca uma silhueta feminina uniforme…
Cobre a pele como se de uma segunda se tratasse…
Os saltos fazem crescer a voluptuosidade do momento…
Sobem-se as escadas e diante de desconhecidos rostos…
Abre-se o pano, acendem-se as luzes, dando lugar o espectáculo…
A sombra está ao meu lado no palco.
É a única que não me olha com falsas esperanças.
No texto do guião murmuro em monólogo:
Já não tenho palavras que a ti se dirijam… estás longe do meu presente.
E ainda mais do meu pretérito mais que perfeito.
De amores-perfeitos sei pouco, até porque duram pouco…
Erguem-se majestosos até que o tempo os leva à condição.
O que me leva a crer, que mesmo os efectivamente perfeitos, não sejam eternos.
Provavelmente duram uma estação.
Provavelmente a semente não prevê a sua cor.
Provavelmente não sabem que fim é suposto esperar…
Vento, chuva, mão criminosa?
Mão que não deixa a ligação com a natureza perdurar…
Rouba-se uma vida…
Acaba-se com ela.
É esta injustiça que me destrói e me aniquila a alma que me resta.
Assassino de almas.
Assassino de mim…
Num melodrama perverso, morro em palavras e caio matando a minha própria sombra do alto palco.
Espero que o pano feche.
Quero ouvir o burburinho, que me espera esta performance tão intensa, sempre inacabada.
Numa confusão de cenário, som e luzes elevo-me do chão.
Olho o público, confusa e surge uma imensidão de palmas e de ‘bravos’…
Aplaudem-me de pé e sorrio.
Hoje, por mais que queira vou dormir com aquele sorrisinho parvo.
Aquele que verdadeiramente me escalda o peito e me aconchega a alma.
A emoção toma parte pelo olhar…
Choro e rio…
E revejo cada som de aplauso bem como a luz que desponta daqueles rostos iluminados.
Já posso morrer porque já vivi este meu desassossego.

03 setembro 2010

Metade do meu céu...

Sombria a tarde cai, delegando na noite a obscuridade plena…
Uma gota de orvalho percorre a janela vagarosamente deixando para trás um rasto que seca por si.
Lá fora, os meus olhos apagam a focagem das luzes que se perdem no horizonte…
O silêncio é interrompido pelos sons do mundo que acalmam o sossego que ali se prostra.
Longe vai a vontade indefesa de cair no esquecimento das palavras de um livro, que me libertam as emoções…
Uma vela solta o calor de uma qualquer fragrância doce e frutada, iluminando o abecedário cruzado daquelas páginas romanceadas.
O instante remete-me a um embalo de tempo pesaroso.
Semicerram-se as pálpebras e, os contornos da história atravessam o meu inconsciente…
Reinvento personagens, procuro um espaço e um tempo coincidentes…
Atraio palavras para diálogos apaixonados…
Seduzo a natureza a tornar-se a mais harmoniosa…
Crio o tempo das possibilidades sem sombra de interdição.
Mobilizo os afectos… numa chusma de incapacidades para amar.
Com sentidos tão surreais quanto dispersos, que ficam no livro de apontamentos, para as notas de rodapé.
A árvore genealógica não tem raízes, tem inúmeras cicatrizes em relevo…
Entrelaçadas por rancos floridos de esperança e frutos cor de pecado…
As ervas daninhas formam relvados de jardins imprevistos, numa natureza viva e em absoluta comunhão…
O amor incorre na dúvida de se reflectir na vida dos personagens, como se necessário fosse um argumento ou contrato para amar… Nos encontros e desencontros que uma vida vivida é capaz de proporcionar…
A noite cai na perversidade da madrugada e acordo…
Acho que sonhei muito… ou passei por várias imagens fotográficas de intensidade variável…
Nem sempre nos abrimos ao exterior, aos impulsos e desejos mais encobertos…
A vergonha, a negligência, a culpabilidade compensa-nos os sentidos, anestesiando o que deixa de ser a nossa verdade…
Cedo à vulgaridade da letargia do sono e uma vez mais intensifico a disponibilidade para sentir…
No céu, desfaço um aglomerado de nuvens e escrevo o meu nome…
E no limite, aguardo que se complete… a outra metade do ‘meu’ céu...

05 agosto 2010

5 ANOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


A 31 de Julho de 2010 o VIVEMOS DE MOMENTOS comemorou 5 aninhos!!!
É incrível como o tempo passa...
Como se costuma dizer... as estatísticas valem o que valem...
Contudo, é bom ver que em 4 anos tive 32.368 visitas, uma vez que o contador de visitas só após o primeiro ano apareceu...

Obrigada a todos pelo carinho e pelos mimos!
Regularmente marcaremos encontro por AQUI...!

Até ao próximo encontro...
Vivam momentos e não esqueçam de vivê-los com a máxima intensidade…

23 julho 2010

Saudades. São apenas Saudades...


Não sei se é dor, mas sei que sinto algo.
É costume tentar definir-se tudo ao ínfimo pormenor…
Mas será que a ciência consegue explicar o transcendente mundo das emoções?
Escuto uma voz sem qualquer som.
Que faz eco não sei de onde ou de quê…
Entranha-se-me e não me liberta enquanto não me dispuser a ouvi-la.
Povoa-me a mente de uma forma absoluta.
Desconcentra-me. Desconcerta-me.
Arbitrariamente envia-me para um estado de pura incoerência.
Apenas aquele pensamento me move.
Apenas aquela dor (?!) se sente.
Apenas aquele pensamento me possui e me perverte…
Dói.
Dói de mais perder-me de mim por ti.
Que dor avassaladoramente incontrolável.
Que cenário inabalável.
Que vida coberta de sombras mascaradas de fantasmas correntes.
Que névoa forte que me inutiliza a visão.
Que luto dormente inaudível.
Que saudades de ti.

23 junho 2010

Verto sons de água...


Acredito nos sinais desesperados que se atropelam no meu (in)consciente.
É na vã esperança que um dia o BEM dê tréguas ao MAL, ou vice-versa, que já se me ultrapassa o que julgo serem as verdades universais…
Um simbólico aperto de mão, tenho a leve impressão que bastaria!
Atrapalha-me a presunção desconexa com a realidade, pela qual criaturas seduzidas por desfechos oportunos se deixam perverter…
Os excessos maltratam qualquer dissidente convicto.
No dilúvio de hipóteses que se me depredam, apregoam-se-me gritos abafados de vozes que de tão menores já não conseguem chegar a lado nenhum.
Longe, aumenta-se a voz dum piano rouco que me converte os sentidos em lágrimas…
A cada nota o entusiasmo envolve-me num estado letárgico em que alcanço o silêncio, mesmo entre notas de uma gravidade efémera…
O mesmo silêncio que desejaria não recuperar enquanto o mundo estivesse tão desavindo.
A meio de um processo criativo a filosofia das minhas estirpes são tão díspares, que me interrogo sobre a identidade do meu ser...
Já não sei se sou, sendo…
Se respiro, se vivo… vivendo…
Ou se alguma vez fui…
(emendo).

19 junho 2010

Adeus amigo das palavras soltas!



Se me lançasse a um ‘convento’ escreveria um ‘memorial’…
Nele constaria uma viagem, onde pegaria numa ‘jangada de pedra’ e partiria a Lanzarote… para viver o silêncio e não o vazio de uma vida que por ‘intermitências da morte’… deixou de respirar…

Partiu com a poesia das palavras incompleta…
Encontrava-se traduzido em 45 línguas…
Num ‘ensaio sobre a cegueira’ (portuguesa)…
Fez da palavra portuguesa Prémio Nobel de Literatura.
Limitava-se apenas a deixar a pontuação para o leitor aplicar na sua liberdade criativa…

87 anos chegaram para encontrar a paz…
Ou talvez para percorrer ‘a viagem do elefante’…
2010 não é ‘O ano da morte de Ricardo Reis’... mas da sua voz - José Saramago…

No último romance Caim, a amizade escreveu-me: «Lembra-te que a leitura de um bom livro é um diálogo constante em que o livro fala e alma responde…»
É nesta analogia que te escrevo e que me deixo entranhar na tua obra.
É da ‘caverna’ que presto esta singela homenagem ao ‘homem duplicado’…

E ‘Levantad(a) do chão’…
Digo-te: Até sempre amigo das palavras!

14 junho 2010

Mortes de alma...


E o tempo passou, mais célere que o habitual.
Bem longe das promessas que um dia foram proferidas…
Mataste a minha oportunidade de brilhar a teu lado e sermos um porto de luz…
Quem não morre, mata. Mas tu morreste e mataste a certeza que um dia apenas tu construíste.
Estava longe dum desfecho destes… Passando da vida real, à ficção…
São os filmes mais enigmáticos, aqueles que realçam as dúvidas que questionamos em silêncio.
E tu serás uma eterna dúvida, porque ao que parece alcançaste a vida eterna…
A chama imensa… E queimaste o amor que trazias no peito…
A ambição tem desses constrangimentos… Pode ser mulher…
Morres por um ser feminino sem vida, indiferente, triste, demente… com um rigor desmedido.
Poucas são as vezes que acerto no horário do amor.
O meu fuso horário está cada vez mais ultrapassado.
O ‘tic’ e o ‘tac’ já não dão as mesmas pancadas taxativas e pragmáticas.
É um badalo seco. Cansado. Abafado.
Morreste feliz ou contrafeito?
Será possível averiguar esse estado a instantes do fim?
Morrer é morrer. É o mais coerente ponto final incalculado.
É preciso morrer primeiro para te matar de vez.
Como se fosse preciso morrer para matar.
Entre enterrar um defunto e deixá-lo definhar-se até carcomer-se de vermes…
Prefiro queimar-me noutros fogos…
E renascer das cinzas…

08 junho 2010

Clã de amores da Lua


Oh Lua… que te fizeste mãe e mulher de todas as noites…
Oh lua… cheia… de graça…
Traz-me de volta o calor e a explosão de metamorfoses de mim…
Calibra-me as energias que de tão desfeitas não têm qualquer lado… positivo ou negativo…
Que a minha vida se ainda o é, é um ninho de nada…
(Gosto do dramatismo destas desconexas palavras trôpegas e autodestrutivas.)
Gostos dos eixos enquanto extremos latentes duma personalidade infame e desproporcional, filha da demência dum dia-a-dia, sem dia, sem noite, sem fio de claridade diurna de tão adormecidas que andam as pupilas… por trás de uma invisibilidade qualquer que visa aumentar a qualidade da visão.
- Mas de que visão falas?
- Daquela que conquantas vezes nada se enxerga… e a que a argúcia de um cego não falha…
Lua cheia de mim…
Lua cheia de vaidade…
Que as tuas fases não mais me dominem as vontades…
Que a culpa tem que pertencer a alguém.
Se mingas… minguo eu também… nas forças que se perdem de mim…
Se és nova… renovas-te… a cada dia, como se fosses capaz de renascer… todos os meses… cada vez mais bela… e intensa…
Esse ritual não te incomoda? Vens e vais… e voltas sempre…
És imensamente fiel…
Tens a tua fase crescente, resplandecente…
Em que a cada proporção te inundas de perfeição.
Quanta luz irradias?
Quantos incapazes acompanhas?
(Ooops… Acho que pensei um pouco alto ou a voz transformou-se em palavras gritadas…)
Quanta clarividência trazes às mentes mais despertas pela solidão da noite?
Quantas almofadas percorres, num transtorno de insónias?
Será que dormes à noite comigo ou te deixas conspurcar por todos os leitos…?
O meu ciúme será por ti contabilizado?
Acho que a nossa cumplicidade se perdeu…
Devolve-ma… Na omnipotência que te preenche de luz…
Que se faz escorrer pela escuridão de tantas noites densas…
Já vai alta a noite.
Já não tenho horas que se assemelhem a uma noite bem dormida…
Vou viajar pelos sonhos… se ainda tiver alguns por sonhar…
Espero encontrar a graça ou a desgraça de uma lua cheia de sonhos ou de um sonho singular desconcertante... (mas no bom sentido!)

07 junho 2010

Rostos caídos...


São rostos caídos.
Rebaixados.
Encolhendo a vergonha dum passado presente.
Como dar a volta por cima desta tentação que se julgou superior à vida?
Quando já se chora sem lágrimas, indagando o auxílio voluntário de quem vendeu a alma por troca de nada.
Passa-se por privações e provações mesmo quando a única liberdade se chama prisão.
Como reaver a dignidade e a força para viver?
Como encarar de novo um mundo que julga apenas em crucifixo os erros humanos?
Como elevar um ego destroçado?
Precisamos sempre de alguém para encontrarmos as nossas verdades e as nossas realidades.
Valorizando o amor de quem nos cuida e nos serve de suporte à alma.
O reencontro dum amor imprevisto e cuidado:
O amor próprio.
Afastando os vazios, recuperando as perdas e reabilitando o ser com a coragem da força de acreditar…
Mãos nas mãos, a esperança de um recomeço.
Em liberdade?
Em cativeiro?
Há que promover o ser, numa cooperação de vidas livres, numa integração plena de autonomia.

16 maio 2010

Disparos de vida…


Choro cada pensamento que retenho do passado.
São memórias tão intensamente vivas…
Mas já tão amachucadas e defuntas…
Que me pergunto se ainda o são apenas para mim.
Abro o baú e ouço as melodias que sempre amei…
Que sempre guardei.
Todas me lembram um momento.
Um alguém…
Risos cúmplices que se afastaram.
Mãos que se aproximaram e desapareceram das minhas…
Vozes que escutava sem me aborrecer.
Palavras que trocava num simultâneo de vida com tantas cores…
Locais inesquecíveis… mas dispersos no meu tempo…
Tudo tem o seu tempo…
Até o relógio da vida nos levar ao corropio das lembranças mais vertiginosas e mais encantadoras…
Fixa-se um leve esgar saudoso no sorriso…
Uma expressão que muda a cada imagem, som ou tom…
Ressuscitando-me para a morte que dispara a vida…
A quantos círculos pertenceremos e em quantos realmente viveremos?
É a universalidade e eternidade da música que me faz regressar ao passado…
E que me abre as portas que julgo carcomidas pelo tempo…
E estão tão adictas ao tempo que passou…
Que jamais sendo saboreadas… voltam a perder o gosto original.

12 maio 2010

Viver-te no oculto...


É numa imagem dum sorriso desconcertado que oculto sentimentos
Me perco nos momentos… Entrosada na ruptura de coragem.

Toco-te a pele enregelada
Pelo arrepio descoberto do amor inadvertido
A tua mão na minha, a minha mão toda ela na tua…
Arrisco desejos exagerados
Depois de te cobrir de beijos…

Falha-me a voz num arrepio…
Apaga-se o vazio…
Atiça-se o incêndio em vários eixos trôpegos…
Falham verdades
Cumprem-se desvarios…
Como numa noite diferente…
Em que te encontro frente ao acaso…
Te beijo ao luar…
E te sofro ao partir.

Bebo a luz entranhada dos nossos dias, das nossas horas, dos nossos momentos no tempo…
Alcanço a supremacia da liberdade quando te amo incondicionalmente.

Num fogo desproporcional…
Numa intensidade desigual…
Que vontade com culpa.
Que amor sem desculpa,
Que te traz ao meu encontro,
Que vive no desencontro…
Depois daquela noite quente
Daquele sabor ardente…

É num incêndio de emoções que vivo…
Num calor infame…
No socorro dos teus braços que me afagam a tristeza e me preenchem de leveza…
Vivo-te mais e mais e mais…

Porta...


Olho-te e vejo rasgos de luz perdida…
Sinto que te perdeste num caminho sem saída.
Aprisionaste-te nas tentações…

Abres-me a porta, como se abrisses os braços e me aconchegasses a fadiga diária.
Reacendes o calor da magia apagada em mim.
Fechas a porta e tudo o que de mal sentia… fugia…
De todas as portas que se abrem, apenas a tua trespasso.
Como se não existissem entraves entre almas…

Entre passos, entre entradas e saídas…
Porquê cultivar portas trancadas ou semi-cerradas?
É preciso abrir a alma, ocultar-lhe as fechaduras pois já não têm razão de existir…
Se calhar nunca tiveram…

De portas abertas, dou conta de um mundo sem fronteiras, onde a minha circunstância gira em circunferência até onde o coração me levar…

18 abril 2010

Saudade de Amor, em sonho de mel...



É uma miséria translúcida.
Aquela que mata mas não morre.

Numa manhã tombada…
Não quisera levantar-se por nada deste mundo, nem do outro (?!)…
O tempo passa impune.
Às vezes parece um ontem…
Noutras uma devassa eternidade…
Estes confrontos temporais, difíceis de contornar, abatem as forças dos destemidos e acorrentam a alma de quem dela sobrevive…
Uma alma ou um corpo? Um corpo com alma? Ou uma alma num corpo? Serão apenas um só?
Quantas almas se juntam à nossa?
Quantas serão capazes de permanecer pela eternidade?
Quais as que deixarão a verdadeira saudade?
Equaciono a probabilidade de se morrer pela saudade do amor.
Pela fome dum amor que se esfumou…

É um destino inexplicável, uma alquimia estéril que vende elixires de prorrogação de vida… Na transmutação da realidade… Ou na ingestão passiva dum coração…
Não importa a cientificidade, credo ou ioga… ao que parece todos eles se formam acessoriamente… Os procedimentos e conhecimentos comutam de ser para ser… Ultrapassam vidas…
Reencarnam reclamando viver o sentimento mais universal e sinuoso… que se perde na vertigem e se ergue na vontade… da mais exânime à mais ardilosa…
Funde-se em químicas. Alcança as previsões físicas… Confronta-se com a convenção dos astros em tom de arte da filosofia, carregado de misticismo… ou de crença religiosa…
A geometria dos sentimentos não é descritiva…
Nem a medicina suficiente para deter a saudade dispersiva e austera… ou a pseudociência dos metais…
Imortais, apenas os deuses, ou talvez a história que vem nos livros e faz parte do senso comum…
É assim que vagueia a saudade manchada de esperança da história de cada um, com os fragmentos temporais comuns a várias eras…
Deixa-se tudo no palco. Que sensação prodigiosa!
Mas em quantos palcos moribundos se aniquilam sonhos prostrados em nuvens esponjosas e ocas…?
Os deuses não sangram.
Os sonhos também não.
Purificam o espírito mas deixam-no moribundo… Dependente…
Duma semente que não se explica…
Tão somente se reproduz…

23 março 2010

Palavras de homenagem...


UTWO

Num recanto de uma cidade indiferenciada…
Surge a melodia de uma canção sem números,
Numa rua,
Numa cidade,
Em numerais paralelos…
Com contornos singelos,
Com pouca idade…

Trespassam-se vidas diante dum coração rabiscado…
O preto, o vermelho, o branco…
Formam um colorido ingénuo de marca de água…
Em forma de papel timbrado…

Passam pessoas que carimbam
Presenças vividas…
E ausências sentidas…

Em que num oceano de sabores,
Se escondem gelados de múltiplas cores…

Notas gentis…
Que acompanham a atmosfera…
Quando os instrumentos acordam a magia
Quando a música se entranha...
Esquece-se que o dia vira noite...
E que a noite vira dia...

Grãos de café…
Pós… Poções…
Quentes… enregeladas…
Num misto de infusões e sensações…
(Em)Bebidas em qualidade
Numa sombra a descoberto…
Num poema sem Idade…

Atravessam-se estações…
Apura-se o tempo que teima em passar
Misturam-se seres, ilusões…
Multidões, homenagens…
Ritmos, bandas…
Onde neste espaço…
Se é “pessoa entre a multidão”…

Chama-se UTWO…
E veio cortejar Espinho com a sua arte.
Que parte, da mestria do sabor requintado…
Num acorde suave…
Em tom grave…
Num Espinho de beleza que se chama Cidade…


Elda Lopes Ferreira
Março|2010

10 março 2010

Mulheres Coragem

E quando uma Mulher abre o seu coração… Fala todos os dias a mesma coisa: no amor e na alma que deposita a cada segundo, em cada interveniente físico ou metafísico…
Nunca julga um dia perdido, rende-se a todas as suas descobertas diárias.
No seu diário regista as memórias mais ocas, mais vivas, mais dúbias e, não precisa ser Menina ou Mulher.
Fala de rosa cravada ao peito, sem espinhos cavernosos, suspirando e sugando a sua eterna beleza, fragrância, mesmo quando estes pedaços de ternura chamados flores se definham na juventude… Como defendem a brandura desta insígnia…
Oferecer o perfume… a textura… este delicado ser vivo… a uma Mulher…
É um acorde duma ode, dedilhada sobre uma harpa fantasiosa...
É um toque d’ alma… Que se perde no espelho do brilho no olhar, enternecendo a voluptuosidade do sorriso… E aquecendo o peito.
Cai a noite escura… Apagam-se as luzes fugidias… E aquela alma ainda não descansa…
Quer ser o que não é, quando já é tudo numa valente chusma multidisciplinar.
A história conta-se no feminino, pois a Mulher é a essência de qualquer vida, num submerso paraíso feito porto de abrigo…
É o poema, a rima e o verso, escondendo-se entre ritmos mais ou menos pausados.
Na tempestade afaga o medo.
E na sensibilidade é anfitriã…
Há muitos anos que o mundo reconhece uma ténue folha de papel vegetal, que de tão débil e frágil se chama Mulher…
Pega-se na pena, que se embebe na tinta e redigem-se palavras soltas que se plasmam umas nas outras folhas… em réplicas que vão perdendo nitidez até a cor se perder.
Apregoam-se chavões de igualdade, mas enquanto a cor se perde, também as vozes temem um
mesmo mundo castrador e inibidor das suas leis.
Que ‘façanhas’ tão bem escritas…
Quando é com a mesma tinta que se pinta o cenário de tantas culturas que ainda estão desencontradas com este tempo…
Quantas mãos de Mãe perdem força para carregar o seu calvário?
Quantas Mulheres ainda hoje vêem a vida por detrás dum pano esburacado?
Quantas Mulheres vividas não chegaram a viver verdadeiramente?
Qual o dorso mais bem guardado da humanidade?
Para quê continuar a carregar um meio mundo onde se apartam grandes Mulheres invisíveis?
A todas quantas deram a sua vida por um sonho…
A todas quantas se expõem na busca incessante dos seus ideais…
A todas que guardam a esperança de atingir a supremacia…
Digo-lhes…
… que a bandeira está a meia haste.
O que não quer dizer que esteja de luto, mas tão somente que está içada.
… que a vontade evoca a promessa.
E, já nos habituamos a reconhecer que não há impossíveis.
… o uníssono Feminino garantirá o Ouro pela quantidade de metas transpostas a cada dia…
Todos os dias…

15 fevereiro 2010

Escritos intemporais

A Pessoa Errada

Pensando bem
Em tudo o que a gente vê e vivência e ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa para nós
Existe uma pessoa que se você for parar para pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é para na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa
Essa pessoa vai-te fazer chorar
Mas uma hora depois vais estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar teu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer para todo o mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo é que temos que viver
Cada momento
Cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo
É só assim.
É possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: “Graças a Deus deu tudo certo”
Quando na verdade
Tudo o que ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Para que as coisas comecem realmente a funcionar direito para nós…

Luís Fernando Veríssimo


É quando nos encontramos com o passado que encontramos respostas. Se é que é suposto encontrá-las… Encontrei este texto impresso porque na altura, quando gostava imprimia as coisas… tempos idos que deixam recordações… além das palavras, dos textos… os sentimentos são intemporais…

Tolerância Zero


Permitam-me que me manifeste acerca do tema eliminação da Mutilação Genital Feminina (MGF).

Conhecida por excisão dos genitais femininos, operação sunna, circuncisão feminina, corte dos genitais femininos, fanado, excisão, circuncisão faraónica, prática tradicional nefasta, ou seja, consiste na realização de diferentes tipos de cortes da vagina da menina, rapariga e/ou mulher, motivados pela religião, tradição e/ou cultura que lhes estão associadas.
Não quis ter vontade de conhecer esta transparente realidade. Não quis pensar ser possível a sua existência.
Melindrou-me ouvir de viva voz testemunhos densos, sofridos, ensombrados, acabrunhados, testemunhos denunciando uma tragédia pessoal, com acento tónico no género feminino, e quem me dera que o número fosse singular. Quem me dera ainda que a poesia da gramática fosse um adjectivo comparativo de igualdade e deixasse para trás superioridades e inferioridades, sem superlativos ocos.
140 milhões de mulheres por todo o mundo retraem-se, submetem-se a práticas seculares, a rituais intempestivos, subversivos, sem que a Carta dos Direitos Humanos seja tida em conta. Possivelmente, se lhes chegasse às mãos, também não a saberiam interpretar, quiçá por não a saberem ler.
Prosperam os monossílabos, tipificam-se as atrocidades, encolhe-se a perversidade das tenras idades, desprotegendo desde cedo as meninas mulheres. Prolongam-se práticas nefastas à saúde da mulher, bem como da criança.
Preciso de substantivos colectivos neste manifesto, adiando para sempre os irritantemente comuns, sem utopias concretas, absolutistas, quero substantivos derivados do esforço e dedicação pela erradicação deste flagelo humano.
Exijo pronomes possessivos, na tomada de posição pessoal. Pouco importa se os artigos são definidos ou indefinidos, se os sujeitos são determinados ou indeterminados, se os verbos são impessoais… Basta que existam.
Defendo a tolerância zero. Basta de reticências, impõem-se os pontos finais, sem admirações, sem prolongamentos e sem interrogações. Há que fraccionar os números, em numerais multiplicativos de vontades de assistir… apoiar… auxiliar… e denunciar…
Em Portugal, segundo o Código Penal – Artigo 144.º - Ofensa à Integridade Física Grave, é crime.
A mutilação genital feminina é uma ofensa punida pela lei portuguesa, com a particularidade de o ser mesmo quando praticada fora do território nacional.
Há que proteger destes perigos, há que denunciar numa sensibilização veloz e altamente altruísta.
Não importa o dialecto, o credo ou prática. Se é uma questão de formação, apenas importa o fim à sua privação.
Sou mulher. Sou jornalista. E deixo desta forma aqui o meu grito de indignação, o meu mero contributo.
Não se trata de recusar origens, mas de acabar com o sofrimento nefasto. Se ser-se feminista é proclamar o fim desta injustiça, assim seja, mas salvem-se estas mulheres de cicatrizes surreais de um qualquer imaginário…